Pensando nos Romances Espíritas
Por Orson Peter Carrara
Vez por outra se ouve dizer sobre os chamados romances água com açúcar, em desprestígio a muitas obras lançadas no vasto e crescente mercado livreiro espírita.
É verdade que há muitos casos de precipitações, de obras que deturpam o pensamento espírita – onde ilusões e inverdades são apresentadas –, mas há que se considerar que livros, autores e leitores também estão – assim como todos nós seres humanos – em diferentes estágios de entendimento e amadurecimento intelecto-moral.
Vejam os amigos o que colhemos na preciosa obra Recordações da Mediunidade, da inolvidável Yvonne do Amaral Pereira (capítulo 6 – Testemunho):
“Muitos dos nossos leitores, ou quase que em geral os espíritas, supõem sejam os romances mediúnicos meros arranjos literários, ficções habilidosas para exposições doutrinárias. Alguns confessam mesmo não se darem ao trabalho de ler tal literatura, visto não se interessarem por obras fictícias. Não sentem nem mesmo a curiosidade, muito razoável, demonstrando zelo pela causa esposada, de observar a arte com que os romancistas espirituais tecem os seus enredos para apresentar a magnificência do Bem, que tais livros tanto exaltam, alheios, como se deixam estar, à relação dos fatos reais da vida de cada dia, que os mesmos livros expõem paralelamente com o ensinamento revelado pela Doutrina dos Espíritos. O Espírito Adolfo Bezerra de Menezes, em certa obra mediúnica a nós concedida (Dramas da Obsessão), classifica os romances espíritas de similares das parábolas messiânicas, visto serem eles extraídos da vida real do homem, enquanto as parábolas igualmente foram inspiradas ao Divino Mestre pela vida cotidiana dos galileus, dos judeus e de suas azáfamas diárias. (...)”.
E continua com sabedoria: “(...) Comumente, pois, os fatos narrados nos romances mediúnicos são extraídos das próprias vidas planetárias, remotas ou recentes, dos autores espirituais, como sabemos acontecido com as obras Há 2.000 anos e Cinquenta anos depois, ditadas por Emmanuel ao médium Chico Xavier (...)”.
E no mesmo valioso capítulo, Yvonne também cita: “(...) Também a entidade Padre Germano confia episódios de sua vida terrena à médium espanhola, Amália Domingos Soler, confidências que resultaram num dos mais belos e encantadores livros que enriquecem a bibliografia espírita: Memórias do Padre Germano. (...)”
Referido capítulo é riquíssimo em ensinamentos e direcionamos o leitor para sua leitura na íntegra, assim como para a obra toda, de um preciosismo doutrinário impecável. Move-nos, na presente abordagem, todavia, falar da importância também dos chamados romances água com açúcar, úteis para os que se aproximam da Doutrina Espírita e que gradativamente vão amadurecendo os preceitos fundamentais. Claro que tal afirmação não autoriza, de forma alguma, a publicação de uma obra só por publicar. Os critérios de seleção doutrinária hão que ser preservados, a bem da genuína divulgação espírita. O que ocorre e desejamos dizer é que os romances – embora muitos não alcancem a expressão a que se refere Yvonne no trecho acima transcrito – são úteis. Alcançam as mentes mais simples, impulsionam o interesse por outras obras e adentram lares e corações onde talvez obras clássicas não conseguiram abrir trincheiras de conquista.
Editores, autores, divulgadores, palestrantes e coordenadores devem preservar o conteúdo doutrinário com sua atenção, indicando obras sérias que auxiliem pessoas na superação de seus dramas e dificuldades e muitos romances, embora sejam considerados inexpressivos, sempre trazem algo que constrói e abre a mente para novos voos de entendimento. Se a leitura é proveitosa e digna, se não fere os princípios doutrinários, porque não divulgar?
Um comentário:
Respeitados os preceitos da Doutrina, se a mensagem for edificante, a leitura é sempre positiva, mesmo que na forma de romance :)
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