sábado, 19 de novembro de 2011

O Uso da Mídia e os Espíritas


Fatores Implicados

Por *Éder Fávaro

Para a compreensão do desenvolvimento e da importância da mídia espírita no contexto atual, há que se entender que necessário se faz, o conhecimento de sua história e as variadas etapas do seu processo. Somente analisando e pesquisando as iniciativas, efetivamente postas em prática, é que teremos melhor condição de aproveitamento para um aprofundamento da questão. Tomando conhecimento de tudo que foi tentado antes, numa análise coerente dos caminhos da divulgação, visando o papel da mídia e seu futuro na difusão das ideias espíritas, com seus pontos fortes e dificuldades, é que poderemos dar um passo adiante com segurança e possibilidade de maior aproveitamento.

Hoje, já se discutem e se aprofundam estudos acadêmicos sobre a influência da mídia no contexto social, obedecendo o seu domínio a um alto grau de especialização, com cursos e novos conceitos nos estudos da comunicação. O avanço do conhecimento nessa área indica a necessidade de se aprofundar o estudo do assunto em nosso meio. Fomentar debates neste sentido, promover encontros específicos no movimento espírita, organizar seminários, simpósios, fóruns, além de reservar sempre na pauta dos eventos um espaço para o tema, é de capital importância.

É conveniente, no entanto, que se ofereçam também possibilidades de preparar o meio espírita para a melhoria dos recursos materiais e humanos, para aperfeiçoamento dos meios de divulgação da doutrina, fator esse que depende em maior proporção dos que dirigem os órgãos e instituições espíritas existentes, bem como de uma tomada de posição dos que atuam na mídia espírita e se auto afirmam, sejam seus divulgadores ou comunicadores. Sem dúvida, estamos em um novo tempo. Se pretendemos efetivamente competir no mercado das ideologias em curso no mundo, temos que ousar e para isso, há necessidade de aperfeiçoamento em todos os sentidos.

Com maior ou menor preparo para a disseminação das ideias espíritas, em vista dos recursos e meios existentes nas etapas de introdução da cultura espírita, apesar de não possuírem os idealistas dessa área as necessárias ferramentas para ir mais fundo, ou o conhecimento proporcionado pelas pesquisas acadêmicas sobre comunicação, que surgiram e estão hoje sendo estudadas, analisadas, discutidas e aprofundadas, com a preocupação primeira de fazê-las conhecidas, com os recursos então existentes, a doutrina espírita se popularizou. Da melhor qualidade da técnica, aplicada à divulgação do Espiritismo, é que surgirão novas propostas e iniciativas que poderão trazer concepções mais avançadas para o fortalecimento de políticas compatíveis com o pensamento espírita.

Divulgar, poderá ser o ponto de partida para comunicar algo, para expor ideias, para propôr reflexões, para gerar diálogos que levem os indivíduos a usar de sua autonomia, do seu discernimento, desenvolvendo seu espírito crítico, assimilando o conteúdo da mensagem, não se fazendo agente passivo no processo. A obtenção de resultados, no empreendimento de despertar a consciência do ser para o verdadeiro objetivo da vida, é processo lento e gradativo, e depende de muitos fatores. Na área da aquisição do conhecimento, sempre ouve e sempre haverá necessidade dos meios adequados que possibilitem ao ser um melhor preparo para alçar vôos mais altos. Hoje, temos teorias mais avançadas em todos os setores da cultura humana, elaboradas no espaço acadêmico dos países desenvolvidos, alimentadas e difundidas pelos meios técnicos existentes, propiciando ao homem uma visão mais ampla da vida e a aplicabilidade desses avanços no contexto social.

No tocante à Comunicação Social Espírita, convém considerar que, se atingimos hoje em Espiritismo um patamar mais avançado para um passo qualitativo na projeção da cultura espírita, no contexto da cultura do mundo, tivemos que contar no passado com os que nos precederam na tarefa de abrir caminhos para chegar até aqui. Ao fazer uma incursão na análise do trabalho daqueles que se dedicaram a este mister, tem-se a base para afirmar que sem seus desafios não teríamos hoje condições de aperfeiçoar e avançar o projeto de ampliação e melhoria do uso das mídias da atualidade para consecução dos nossos objetivos. Os veículos da grande mídia também ganharam melhor qualidade técnica e melhor apuro na maneira de divulgar, informar e comunicar. Há que considerar que cada coisa vem a seu tempo.

Para que a comunicação no novo conceito produzisse efeito no processo de transformação da humanidade, necessário foi que os mestres do saber se servissem dos meios disponíveis para a divulgação de suas ideias. E o processo vai continuar sendo o mesmo. Quando se discutia nas Listas de ABRADE, na gestão em que fui presidente, a questão da divulgação ou comunicação, cheguei a dar a minha opinião a respeito do assunto. A tese discutida no IV Simpósio Paulista de Divulgadores Espíritas - divulgação ou comunicação - e ainda hoje em pleno debate no ambiente espírita, deixa a impressão de que uma coisa exclui a outra, quando, na realidade, segundo o meu ponto de vista, são dois aspectos de uma mesma questão. Uma é a divulgação, que em qualquer tempo será necessária e terá que ser adequada aos meios disponíveis para melhor informar o que o Espiritismo oferece à criatura humana, e a outra é preparar o recurso humano que se dedica a oferecer ao homem a possibilidade de uma tomada de consciência para a sua transformação, tendo como norteamento os princípios da doutrina como proposta de vida.

Foi com os meios disponíveis no seu tempo - o livro, a revista e a comunicação - que Allan Kardec iniciou a difusão das ideias espíritas, isto é, divulgou para o mundo o conteúdo da doutrina inserindo, no contexto humano, a nova cultura. Quando a mensagem chegou ao nosso país, encontrou aqui espíritos encarnados conscientes, prontos para impulsionar através dos meios de comunicação existentes, os princípios e fundamentos do Espiritismo. É evidente que só podemos ressaltar o trabalho de alguns, que a história do movimento registrou, dentre outros tantos anônimos que contribuíram para que o grande projeto tivesse prosseguimento. As nossas andanças e as informações colhidas aqui ou ali, neste imenso território, mostram o valor desses tarefeiros que ajudaram na rega das sementes do que nos oferecem hoje as obras do Mestre de Lion.

Dentre aqueles conhecidos, podemos destacar os que se dedicaram ao estudo da doutrina. Um Olympio Teles de Menezes, lançando o primeiro periódico espírita na nossa terra, fato registrado por Kardec na Revista Espírita de junho de 1869. Surgem depois o Reformador, com Augusto Elias da Silva, em 1883; O Clarim, com Cairbar Schutel, Verdade e Luz, com Batuíra, Revista Internacional do Espiritismo e outros que vão pouco a pouco abrindo espaço para o avanço do desenvolvimento da mídia espírita.

Enquanto isso, o fenômeno vai se desdobrando também em outras partes do mundo. Surgem, no contínuo do processo, aqui no Brasil, no cenário do jornalismo e da literatura, comunicadores e divulgadores do mais alto nível, tais como Bezerra de Menezes, Leopoldo Machado, Júlio de Abreu, Carlos Imbassahy, Deolindo Amorim, J. Herculano Pires, Canuto de Abreu, Freitas Nobre e outros conhecidos, que trouxeram contribuição valiosa, em diferentes períodos, para o desenvolvimento da cultura espírita.

Com o tempo, dada a evolução dos meios de comunicação, com o surgimento do rádio, da televisão e da Internet, divulgadores e comunicadores espíritas passaram a buscar os espaços no desempenho de seus compromissos. Com sacrifício, vencendo barreiras difíceis (preconceitos, recursos financeiros e humanos, culturais e religiosos) pequenos espaços foram sendo conquistados, pouquíssimos, em relação ao mínimo necessário para um trabalho mais consistente na construção de uma política de ação nesta área.

No que diz respeito ao rádio, tivemos alguns avanços. Hoje já existem programas espíritas em todo o país. A maioria ainda realizada e produzida por espíritas e grupos de boa vontade, mas sem o apuro técnico mínimo para atingir um nível compatível como um veículo no mundo de hoje, para passar o conhecimento espírita para um universo de ouvintes que não é composto apenas de espíritas.

Depois de algumas iniciativas, melhor relatadas no livro "100 anos de Comunicação Espírita do Estado de São Paulo", de autoria do pesquisador Eduardo Carvalho Monteiro, em parceria com a Associação de Divulgadores do Espiritismo de São Paulo - coedição Madras Editora - destaca-se nesta área a Rede Boa Nova de Rádio (com transmissão AM em São Paulo - antena parabólica e Internet - on-line e off-line) e Rádio Rio de Janeiro, a primeira da Fundação Espírita André Luiz, e segunda da Fundação Paulo de Tarso.

Ainda com relação à radiofonia espírita, a Rádio Boa Nova e Rádio Clube de Sorocaba, promoveram em São Paulo, em 1987 e em parceria com a União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo e Conselho Regional Sul do CFN, o Encontro Regional sobre Radiodifusão Espírita, com a participação de 50 divulgadores e comunicadores da área.

Da apresentação, estudo e análise do assunto em congressos, fóruns, seminários e encontros é que surgiu o apostila Radiofonia Espírita, como contribuição para todos os que estivessem ou que viessem a se dedicar a essa atividade, dando início a uma nova fase no processo de divulgação e comunicação da doutrina.

Hoje, estamos aí com outros desafios: a ocupação com competência e qualidade no uso dos meios a ser conquistados na grande mídia, (televisão, internet etc.). Mas aí está também a necessidade de atentarmos para a verdadeira meta da doutrina espírita, na passagem do seu conteúdo com fidelidade, com bom-senso, sem fantasias, sem ufanismo, apontando o objetivo dessa doutrina libertadora, que é melhorar o homem para que o homem, interagindo com a sociedade, possa melhorar o mundo.



(*)Éder Favaro é presidente da EDE-SP -Associação dos Divulgadores do Espiritismo de São Paulo. A ADE-SP é uma associação que reúne espíritas e não espíritas, para realizar atividades com o objetivo de contribuir para o aperfeiçoamento da comunicação social espírita.

Fonte: ADE-SP

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