sábado, 17 de outubro de 2009

O Evangelho Segundo o Espiritismo

Em abril do ano de 1864, surge a primeira edição da Imitação do Evangelho Segundo o Espiritismo, mais tarde passando a ser intitulado de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. Leia aqui, nesse artigo, como Allan Kardec em sua “Revista Espírita”, apresentou oficialmente o lançamento dessa obra:


BIBLIOGRAFIA À VENDA: IMITAÇÃO DO EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

Contendo: a explicação das máximas morais do Cristo, sua concordância com o Espiritismo, e sua aplicação às diversas posições da vida.

*Por Allan Kardec


Com esta epígrafe: "Não há fé inabalável senão aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da Humanidade."
Abstemo-nos de toda reflexão sobre esta obra, nos limitando a extrair da introdução a parte que lhe indica o objetivo.

"Podem-se dividir as matérias contidas nos Evangelhos em quatro partes: Os atos comuns da vida do Cristo, os milagres, as predições, o ensino moral. Se as três primeiras partes foram objeto de controvérsia, a última permaneceu inatacável.

Diante desse código divino, a própria incredulidade se inclina; é o terreno onde todos os cultos podem se reencontrar, a bandeira sob a qual todos podem se abrigar, quaisquer que sejam suas crenças, porque ela jamais foi o objeto de disputas religiosas, sempre e por toda a parte levantadas pelas questões de dogmas; discutindo-as, aliás, as seitas aí teriam encontrado a sua própria condenação, porque a maioria está mais ligada à parte mística, do que à parte moral que exige a reforma de si mesmo. Para os homens em particular é uma regra de conduta abarcando todas as circunstâncias da vida privada ou pública, o princípio de todas as relações sociais fundadas sobre a mais rigorosa justiça; é, enfim, e acima de tudo, a rota infalível da felicidade futura, um canto do véu levantado sobre a vida futura. É esta parte que se faz o objeto exclusivo desta obra.

'Todo o mundo admira a moral evangélica; cada um lhe proclama a sublimidade e a necessidade, mas muitos o fazem em confiança, sobre o que ouviram dizer, ou sobre a fé em algumas máximas que se tornaram proverbiais; mas poucos a conhecem a fundo, menos ainda a compreendem e sabem deduzir-lhe as conseqüências. A razão disso está em grande parte na dificuldade que apresenta a leitura do Evangelho, ininteligível para a maioria. A forma alegórica, o misticismo intencional da linguagem, fazem com que a maior parte o leiam para descargo de consciência e por dever, como lêem as preces sem compreendê-las, quer dizer, sem fruto. Os preceitos de moral, disseminados aqui e ali, confundidos na massa dos outros relatos, passam desapercebidos; torna-se, então, impossível apreender-lhe o conjunto, e dele fazer objeto de uma leitura e de uma meditação separadas.

"Fizeram-se, é verdade, tratados de moral evangélica, mas o arranjo em estilo literário moderno lhes tira a ingenuidade primitiva que, ao mesmo tempo, lhes deu o encanto e a autenticidade. Ocorre o mesmo com as máximas destacadas, reduzidas à sua mais simples expressão proverbial; não são mais, então, senão aforismos que perdem uma parte de seu valor e de seu interesse, pela ausência dos acessórios e das circunstâncias nas quais foram dadas.

"Para obviar esses inconvenientes, reunimos nesta obra os artigos que podem constituir, propriamente falando, um código de moral universal, sem distinção de culto; nas citações conservamos tudo o que era útil ao desenvolvimento do pensamento, não podando senão as coisas estranhas ao assunto. Além disso, espeitamos escrupulosamente a tradução original de Sacy, assim como a divisão por versículos.

Mais em lugar de nos prendermos a uma ordem cronológica impossível e sem vantagem real num semelhante assunto, as máximas foram agrupadas e classificadas metodicamente segundo a sua natureza, de maneira que, tanto quanto possível, se deduzam uma das outras. A chamada dos números de ordem dos capítulos e dos versículos permite_ recorrer à classificação vulgar, julgando-se oportuno.

"Não estivesse aí senão um trabalho material sozinho, não teria sido senão de uma utilidade secundária; o essencial era colocá-lo ao alcance de todos, pela explicação das passagens obscuras, e o desenvolvimento de todas as conseqüências tendo em vista a aplicação às diferentes posições da vida. Foi o que tentamos fazer com a ajuda dos bons Espíritos que nos assistem.

"Muitos pontos do Evangelho, da Bíblia e dos autores sacros em geral, não são ininteligíveis, muitos mesmo não parecem irracionais, senão por falta da chave para compreender-lhes o verdadeiro sentido; esta chave está inteiramente no Espiritismo, assim como já se puderam se convencer disso aqueles que o estudaram seriamente, e assim como se o reconhecerá melhor ainda mais tarde. O Espiritismo se encontra por toda a parte na antigüidade e em todas as épocas da Humanidade; por toda a parte dele se encontram os traços nos escritos, nas crenças, e sobre os monumentos; é por isso que, se abrem horizontes novos para o futuro, lança uma luz não menos viva sobre os mistérios do passado.

"Como complemento de cada preceito, juntamos algumas instruções escolhidas entre aquelas que nos foram ditadas pelos Espíritos em diversos países, e por intermédio de diferentes médiuns. Se essas instruções tivessem saído de uma fonte única, teriam podido sofrer uma influência pessoal ou a do meio, ao passo que a diversidade de origens prova que os Espíritos dão seus ensinos por toda a parte, e que ninguém tem privilégio sob esse aspecto.

"Esta obra é para o uso de todo o mundo; cada um pode nela haurir os meios de conformar a sua conduta à moral do Cristo. Os Espíritas nela encontrarão outras aplicações que lhes concernem mais especialmente. Graças às comunicações estabelecidas doravante de maneira permanente entre os homens e o mundo invisível, a lei evangélica ensinada em todas as nações pelos próprios Espíritos, não será mais uma letra morta, porque cada um a compreenderá, e será incessantemente solicitado a pô-la em prática, pelos conselhos de seus guias espirituais. As instruções dos Espíritos são verdadeiramente as vozes do céu que vêm esclarecer os homens, e convidá-los à imitação do Evangelho."


Revista Espírita, 7º ano, abril de 1864

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