sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Dos Espíritos

"A fé necessita de uma base, e essa base é a perfeita compreensão daquilo em que se deve crer. Para crer, não basta ver, é necessário compreender."

Allan Kardec



Os Espíritos


Os Espíritos não constituem, como supõem alguns, uma classe à parte na criação: eles são as almas dos que viveram na Terra e em outros mundos, mas despojadas de seu invólucro corporal.
Os que admitem que a alma sobreviva ao corpo admitem, por isso mesmo, a existência dos Espíritos. Negá-los importa negar a alma.

Em geral se faz uma idéia muito errada do estado dos Espíritos. Não são seres vagos e indefinidos, como muitos pensam, nem chamas semelhantes aos fogos-fátuos ou fantasmas tais quais os descrevem os contos de almas do outro mundo.
São seres semelhantes a nós, com um corpo como o nosso, apenas fluídico e, normalmente, invisível.

Quando unida ao corpo, durante a vida, tem a alma um envoltório duplo: um pesado, grosseiro e destrutível – o corpo; outro leve, fluídico e indestrutível – o perispírito.

Assim, há no homem três elementos essenciais:
I - a alma ou Espírito, princípio inteligente, no qual residem o pensamento, a vontade e o senso moral;
II - o corpo, envoltório material, que põe o Espírito em relação com o mundo exterior;
III - o perispírito, envoltório fluídico, leve, imponderável, que serve de ligação e de intermediário entre o Espírito e o corpo.

Quando o envoltório exterior se acha usado e não pode mais funcionar, cai; o Espírito o abandona, assim como a noz se despe da casca, a árvore da cortiça, a serpente da pele; numa palavra, do mesmo modo que deixamos uma roupa que não nos serve mais. A isto chamamos morte.

A morte é somente a destruição do envoltório corporal, abandonado pela alma, como a borboleta abandona a crisálida. Mas o Espírito conserva o corpo fluídico, ou perispírito.

A morte do corpo liberta o Espírito do laço que o prendia à Terra e lhe causava sofrimento. Liberto desse fardo, só lhe resta o corpo etéreo, que lhe permite percorrer os espaços e vencer distâncias com a rapidez do pensamento.

Alma, perispírito e corpo unidos constituem o homem; alma e perispírito separados do corpo constituem o ser que chamamos Espírito.

Observação: Assim, é a alma um ser simples, o Espírito um ser duplo e o homem um ser triplo. Seria mais preciso reservar o vocábulo alma para designar o princípio inteligente; espírito para o semimaterial, constituído desse princípio e do corpo fluídico. Como, porém, não é possível conceber o princípio inteligente isolado da matéria, nem o perispírito sem que esteja animado pelo princípio inteligente, alma e espírito são, em geral, empregados indistintamente: é a figura que consiste em tomar a parte pelo todo, da mesma maneira por que se diz que uma cidade é habitada por tantas almas, uma vila constituída de tantos fogos. Entretanto, filosoficamente é essencial que se faça a diferença.
Revestidos de corpos materiais, os Espíritos constituem a Humanidade, ou mundo corpóreo visível; despojados desses corpos, constituem o mundo espiritual, ou invisível; este enche o espaço. Vivemos em seu meio, sem disso nos apercebermos, assim como vivemos no mundo dos infinitamente pequenos, do qual não suspeitávamos antes que tivesse sido inventado o microscópio.

Assim, os Espíritos não são seres abstratos, vagos e indefinidos, mas concretos e circunscritos; só lhes falta a faculdade de serem vistos, para que sejam semelhantes aos homens. Disso decorre que, se de momento fosse levantado o véu que no-los oculta, constituiriam eles uma população em redor de nós.

Possuem todas as percepções que tinham na Terra, mas em grau mais alto, pois suas faculdades não se acham amortecidas pela matéria; têm sensações que desconhecemos, vêem e ouvem coisas que os nossos limitados sentidos nem vêem, nem ouvem.

Para eles não há obscuridade, salvo para os que, por castigo, se acham em trevas temporárias.

Todos os nossos pensamentos neles repercutem: lêem-nos como num livro aberto. Assim, aquilo que lhes poderíamos esconder durante a vida terrena, não mais o poderemos após a sua desencarnação.

Os Espíritos se acham em toda parte, ao nosso lado, acotovelando-nos e nos observando incessantemente. Por sua constante presença em nosso meio são agentes de vários fenômenos, representam papel importante no mundo moral e, até certo ponto, no mundo físico. Constituem, se assim podemos dizer, uma das forças da Natureza.

Admitida a sobrevivência da alma ou Espírito, é racional admitir que continuem as suas afeições. Sem isto as almas dos nossos parentes e amigos estariam totalmente perdidas para nós depois da morte. E como os Espíritos podem ir a toda parte, é também racional admitir que os que nos amaram durante a vida terrena ainda nos amem depois de mortos, venham até junto de nós e se sirvam dos meios encontrados à sua disposição. Isto é confirmado pela experiência.

Realmente, prova a experiência que os Espíritos conservam as afeições sérias que tinham na Terra, alegram-se em se aproximar dos que amaram, sobretudo quando atraídos pelos sentimentos afetuosos, ao passo que revelam indiferença pelos que se lhes mostram indiferentes.

O fim do Espiritismo é demonstrar e estudar a manifestação dos Espíritos, as suas faculdades, a sua situação feliz ou infeliz, o seu porvir. Numa palavra, a sua finalidade é o conhecimento do mundo espiritual.

Evidenciadas essas manifestações, conduzem à prova irrefragável da existência da alma, da sua sobrevivência ao corpo, da sua individualidade após a morte, isto é, da vida futura. Assim, é ele a negação das doutrinas materialistas, não só mediante o raciocínio, mas, e principalmente, pelos fatos.

Uma idéia muito generalizada entre os que desconhecem o Espiritismo é supor que, pelo simples fato de estarem desprendidos da matéria, os Espíritos tudo devem saber e estar de posse da sabedoria suprema. É um erro grave. Não passando de almas dos homens, os Espíritos não adquirem a perfeição ao deixar o envoltório terreno: seu progresso só se faz paulatinamente, à medida que se despojam de suas imperfeições e conquistam os conhecimentos que lhes faltam.

Admitir que o Espírito de um selvagem ou de um criminoso repentinamente se tornasse sábio e virtuoso seria tão ilógico quanto seria contrário à justiça de Deus admitir que continuasse eternamente na inferioridade.

Há homens em todas as gradações do saber e da ignorância, da bondade e da malvadez. O mesmo se dá com os Espíritos. Alguns destes são apenas frívolos e brincalhões; outros, mentirosos, fraudulentos, hipócritas, vingativos e maus; outros, ao contrário, possuem as mais sublimes virtudes e o saber em medida desconhecida na Terra.

Essa diversidade na situação dos Espíritos é um dos mais importantes pontos a considerar, pois que explica a natureza, boa ou má, das comunicações que se recebem. E todo cuidado deve ser posto em distingui-las.

Do livro “O Principiante Espírita”, de Allan Kardec

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