quinta-feira, 12 de junho de 2014

Transformação pela força das Ideias


Fim de ciclo evolutivo, crise ética sem precedentes, subversão da ordem social, indiferença aos valores da vida: este é o momento para que o Espiritismo se firme na sociedade como importante alternativa de mudanças sérias e profundas. Doutrina coesa, fundamentada em princípios naturais, o Espiritismo propõe uma visão de homem e de mundo jamais cogitada com a mesma amplitude, racionalidade e clareza por nenhuma outra filosofia ou religião. Daí a importância para os espíritas em utilizar um modelo próprio para disseminar esse conhecimento.

Não se pode perder de vista, nunca, a unidade doutrinária do Espiritismo(1), contudo, devido a interpretações transitórias (de indivíduos e grupos), a doutrina é aplicada no Brasil e fora dele, das maneiras mais diversas. Já que é assim, e isso parece ser uma consequência natural e incontornável da heterogeneidade humana(2), o sensato será procurar a coerência e a fidelidade, minimamente, como um fim a se atingir na conduta individual e na divulgação do ideal espírita, preservando a unidade original de princípios, toda desenhada na obra de Allan Kardec e apresentá-la ao mundo como ela é, sem repetir os erros do movimento cristão no passado.

Revolução nas ideias - O diferencial do Espiritismo está precisamente no seu conteúdo de revelação e elaboração que nenhuma outra doutrina tem. A explicação espírita da vida, do mundo, de Deus, é clara, objetiva e extremamente pedagógica, como eram os ensinos de Jesus que o homem complicou a não poder mais através do tempo. Jesus conviveu no meio do povo, mas não cedeu nos seus princípios, em momento algum. Não “adaptou” seus ensinos só para ser agradável ao poder dominante nem para ser aceito pelas correntes religiosas superadas que veio transformar.

O Espiritismo surgiu para inspirar a transformação da humanidade. Além de tornar acessíveis os ensinos de Jesus, descortinou o mundo dos Espíritos. “A descoberta do mundo dos invisíveis... é mais que uma descoberta, é uma revolução nas ideias”, disse Allan Kardec em “O que é o Espiritismo”(3). Quando esse conhecimento estiver disseminado largamente proporcionará desdobramentos incalculáveis para o progresso geral. Não há, por enquanto, nada mais completo do que isso para mudar o estado de coisas no mundo atual. Os espíritas não podem abrir mão do legado que receberam do gênio de Allan Kardec e da operosidade dos Espíritos superiores fazendo “concessões” puramente emocionais (por vezes distantes das ideias e dos ideais que defendem), sob quaisquer pretextos, e com isso perdendo a identidade de movimento restaurador e renovador, acabando por torná-lo, em alguns aspectos, parecido com correntes religiosas que prendem o homem ao invés de libertá-lo.

O tesouro dos espíritas - O grande desafio para os espíritas será compreender a importância do conhecimento aplicado do Espiritismo na promoção das mudanças necessárias e inevitáveis, e ele tem força moral suficiente para mudar atitudes e comportamentos, refletindo no todo social. Compete aos espíritas trabalhar e estudar, viver com naturalidade, longe do misticismo, felizes por carregarem na alma o “tesouro dos espíritas” a que se referiu o escritor e médium espanhol Miguel Vives y Vives (1842-1906). Para firmar a sua crença não é preciso fazer “turismo religioso”, visitar a “Meca espírita”, organizar “caravanas místicas”, idolatrar médiuns, criar símbolos, engendrar sistemas e modismos, e tantas outras invencionices que acabam por desviar e atrasar o movimento. A conduta espírita deve ser coerente com as orientações doutrinárias que se adquirem no estudo dos livros de Allan Kardec e de tantos outros autores sérios. A postura excessivamente devocional, além de contraditória, afasta o espírita do que é essencial.

Para viver a mensagem - Como “trabalhadores da última hora”(4), cabe à “geração espírita” viver e propagar esse conhecimento para a sua aplicação em massa, criando meios de influir na sociedade pela força das ideias, sem ufanismo nem excentricidades. Temos que agir segundo um novo modelo e não copiar os modelos falidos, abdicando das nossas convicções para ficarmos bem com o mundo.

Para viver a mensagem espírita não precisamos estar divididos, separados do mundo. A prática espírita, longe do preconceito e do sectarismo, propõe o convívio baseado na compreensão das diferentes opiniões, na tolerância em relação ao contrário, sem que para isso precisemos recuar das nossas posições diante das convenções religiosas e das formalidades seculares instaladas no mundo. Os espíritas devem atentar para o desenvolvimento progressivo das ideias cristãs que culminaram com o movimento dirigido pelo “Espírito de Verdade”.

Não se pede aos espíritas que sejam “diferentes”, mas que façam a diferença. Com humildade e com o conhecimento de que dispõem, podem mostrar coerentemente a aplicação do evangelho na vida prática, vivendo a filosofia espírita em profundidade. Além de pregar pública e manifestamente os princípios de liberdade, igualdade e fraternidade, mostrar que a vida tem objetivos sérios, que o tempo é matéria-prima de luxo para a nossa evolução rumo à plenitude e que não bastam alterações externas pontuais. Enfim, contribuir com a sociedade no campo das ideias, do pensamento, dando exemplo de otimismo, esperança e transformação.

Ainda há tempo - Ainda há tempo para o movimento espírita fazer a sua parte. E se não formos capazes disso, em função de profundos desvios doutrinários, inércia e capitulação às velhas ordens e ditames devocionais ainda vivos em nosso subconsciente, outros o farão. O progresso não para e em muitas circunstâncias é silencioso, nasce anônimo em muitas frentes, em pequenos grupos, em laboratórios, em universidades sérias, da cabeça de estudiosos independentes, de livres-pensadores, em todo o mundo. Mas será bom se os espíritas puderem dar sua genuína contribuição à sociedade com o substancioso alimento cultural e espiritual da terceira revelação “na grande obra da regeneração pelo Espiritismo”(5).


Cláudio Bueno da Silva



Referências:
1. Allan Kardec, “Obras Póstumas”, “Limites de ação da comissão central”, LAKE.
2. Ibidem.
3. Allan Kardec, “O que é o Espiritismo”, 2º diálogo, “Oposição da Ciência”, FEB.
4. Allan Kardec, “O Evangelho segundo o Espiritismo”, capítulo XX, item 2, LAKE.
5. Idem, item 5.

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