No último mês, o racismo voltou a ser tema de debates pela imprensa brasileira e mundial, depois que o jogador de futebol Daniel Alves foi alvo de atitude racista na partida de futebol entre o Barcelona e o Villarreal, recebendo uma banana atirada da torcida. De forma inteligente, o jogador ignorou a provocação, pegou a fruta e a comeu.
Iniciada pelo jogador Neymar, nas redes sociais, a campanha #somostodosmacacos teve forte adesão de esportistas, jornalistas, apresentadores de TV, artistas famosos e pessoas desconhecidas, que publicaram e compartilharam fotos com bananas em solidariedade ao jogador. O Futebol Clube Barcelona declarou que “Alves uniu o mundo do esporte contra o racismo”.
Independentemente da “chuva” de declarações de representantes de movimentos antirracistas e pessoas anônimas criticando a iniciativa – para muitos, dizer que “somos todos macacos” seria uma maneira de reforçar um estereótipo contra o qual os movimentos antirracistas travam uma batalha constante –, a discussão trouxe mais uma vez à tona o que o próprio Daniel Alves declarou, ao defender a campanha: “Somos todos humanos e iguais”, e uma atitude racista como a demonstrada no jogo não pode mais ser aceita em nossa sociedade.
A destruição dos preconceitos de cor é um dos objetivos do Espiritismo. O progresso da civilização passa, necessariamente, pelo fim de toda e qualquer forma de preconceito. Esse tipo de postura discriminatória, existente nas relações entre diferentes grupos étnicos, ao lado de diversos fatores de ordem política e econômica, tem gerado as desigualdades sociais no nosso planeta, constituindo-se num enorme obstáculo para a construção de uma sociedade mais fraterna e igualitária.
Afirmaram os espíritos a Allan Kardec que essas desigualdades um dia desaparecerão, junto à predominância do orgulho e do egoísmo, restando tão somente a desigualdade de mérito. Segundo Kardec, todos os homens são submetidos às mesmas leis naturais, todos nascem com a mesma fragilidade, estão sujeitos às mesmas dores e o corpo do rico se destrói como o do pobre. Deus não concedeu, portanto, superioridade natural a nenhum homem, nem pelo nascimento, nem pela morte. São todos iguais perante Ele.
Uma doutrina como a espírita não compactua com nenhuma ideologia que vise à discriminação racial entre os grupos sociais. À medida que a humanidade melhora em inteligência e moralidade, todas as formas de preconceito e segregação tenderão a desaparecer definitivamente. Sobre isso, Kardec comenta: “Assim, as raças que atualmente povoam a Terra desaparecerão um dia e serão substituídas por seres mais e mais perfeitos. Essas raças transformadas sucederão à atual, como esta sucedeu a outras que eram mais grosseiras.”
É dever dos espíritas, portanto, imbuídos do ideal renovador do Espiritismo, lutar por uma sociedade mais justa e igualitária, na qual o negro e todos os grupos étnicos oprimidos tenham os seus direitos garantidos e respeitados. A luta pela verdadeira democracia racial é uma luta que interessa não somente ao negro, mas a todos os setores progressistas, inclusive aos espíritas, que estejam efetivamente comprometidos com o processo de transformação intelecto-moral da sociedade. Como disse Daniel Alves diante da provocação: “Atitudes negativas devem ser combatidas com atitudes positivas.”
Folha Espírita, editorial maio de 2014.
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