segunda-feira, 23 de março de 2015

O Céu e o Inferno: Um Relato de Pesquisa e Visão da Vida Vitoriosa



Por: Almir Del Prette e Eugênia Pickina

Maltratar as oportunidades é tão só um claro indício de imaturidade.

Pensemos juntos: o Espiritismo tem um caráter educativo. Não apenas porque seu fundador, Hippolyte Léon Denizard Rivail (1804–1869), depois Allan Kardec, tenha sido um respeitável educador francês, seguidor de Pestalozzi, mas porque o núcleo da filosofia espírita diz respeito a uma proposta de educação do Espírito.

Por esclarecer a ilógica do drama da queda e do pecado, o Espiritismo, respaldado no uso da razão, discorda da jornada humana como uma história de salvação, pois na realidade tudo corre conforme previsto pelo Criador, à medida que a humanidade continua a vivenciar (neste planeta) um processo educativo destinado à perfeição. Neste sentido, o Criador não poderia ter cometido um erro de planejamento grosseiro, não prevendo que as primeiras criaturas iriam, por uma curiosidade natural, desobedecê-Lo. O erro inicial da proibição absurda levaria ao erro final da salvação de poucos, especialmente pela prática da adulação?

Ademais, se lemos o Espiritismo com olhos reflexivos, nele reconhecemos com transparência o parâmetro da liberdade, pois fomos lançados livres no universo e Deus, entendido como Pai, por isso nos permite até mesmo vivenciar estações existenciais sombrias para aprendermos, por conta própria, o valor do bem e das virtudes. Ou seja, em palavras simples, o erro participa naturalmente do existir humano.

O principal ganho desta “autoeducação”, e continuada através de existências sucessivas, está implicado com o experimentar no campo íntimo que o pequeno “eu” por esforço próprio está a vencer o egoísmo, impregnando seu existir com o altruísmo, a principal qualidade a guiar sua prática futura aqui e em outras dimensões da Vida.

Se a caminhada é solidária, a transformação pessoal é uma experiência solitária, vivenciada no âmago de si mesmo. Um olhar para dentro de si, que começa nas sombras dos equívocos das distorções daquele que teme o encontro consigo mesmo até a descoberta que esse é o caminho para o autoconhecimento, a verdade e a libertação.

Ora. É um engodo, portanto, e mesmo para pretender apaziguar temas religiosos discordantes, querer conciliar um Deus de Amor – que zela pela liberdade de seus filhos e filhas – com dogmas que entendam a existência humana presa à tragicidade do pecado, submetendo em consequência o indivíduo ao ambiente das penas do inferno ou de um local aonde ele vá, depois da morte, purgar suas culpas e maldades. Não seria este um Deus do horror e do pavor?

Este ano o livro O Céu e o Inferno comemora 150 anos. Nesta obra Kardec aborda, entre inúmeros temas, céu, purgatório e inferno, afastando, com o uso da razão, a existência das penas eternas ou de um local “fixo” para o ser humano, após a morte, purgar as suas culpas, não aludindo, portanto, ao cenário dantesco.

Não. Kardec, esclarecido, tanto assegura a inexistência das penas eternas, como, apoiado na falange do Espírito de Verdade, substitui os conceitos pagãos e católicos, equivocados, pela ideia de evolução contínua pela reencarnação.

Graças, então, à prática realizada através das existências sucessivas, é sabido que o ser humano adentra de novo a “estação corpórea”, para pôr em prática seu processo autoeducativo e, ao mesmo tempo, se for necessário, purgar seus erros infelizes do passado.

Contudo, todo ser humano, sem exceção, sempre é genuinamente assistido pela Misericórdia, inspirado pelas boas presenças que assistem à sua passagem na Terra, local no qual lhe é dada a oportunidade de bem viver e desenvolver-se rumo à beleza e ao bem que estruturam os grandes Espíritos, tal como Jesus, o autêntico modelo de quem se percebe espírita e cristão.

O livro O Céu e o Inferno abre, sem ressalvas e por isso sem receio, as janelas do misterioso “transe da morte”. E longe de encontrar uma nova caixa de pandora o homem se depara com uma realidade muito mais simples e suportável do que aquela da visão condicionada pelas religiões necrófilas. A vida prossegue vitoriosa após a passagem.

É certo que o “morrer” como o “nascer” têm normas da vida comuns a todos os Espíritos, entretanto, a passagem de um lado para o outro pode ser mais ou menos “sofrida” na dependência da condição espiritual daquele que vem ou vai para a erraticidade. Quando o processo atingiu seu limite, ao contrário do que pensam alguns, o não nascer e o não morrer é que seriam traumáticos. Portanto, morrer, segundo pode ser inferido da leitura de Allan Kardec, tem uma semelhança com o nascer. Trata-se de um processo de passagem de um lado para o outro para experiências evolutivas que em alguns aspectos se aproximam e, em outros, se distanciam.

O livro O Céu e o Inferno é, também, um relato de pesquisa, que na atualidade receberia a denominação de “analítica descritiva”. Trata-se, sem dúvida, de um material muito rico que merece, por parte dos estudiosos, seguidas leituras.

sábado, 21 de março de 2015

Diante do Tempo


Contempla o mundo ao qual voltaste, através da reencarnação, para resgatar o passado e construir o futuro.

Sol que brilha, nuvem que passa, vento que ondula, terra expectante, árvore erguida, fonte que corre, fruto que alimenta e flor que perfuma utilizam a riqueza das horas para servir.

Aproveita, igualmente, os minutos, para fazeres o melhor.

*
Perdeste nobres aspirações em desenganos esmagadores: no entanto, as esperanças renascem no coração dilacerado, à maneira de rosas sobre ruínas.

Perdeste créditos valiosos na insolvência passageira que te aflige o caminho; todavia, o trabalho dar-te-á recursos multiplicados para conquistas novas.

Perdeste felizes ocasiões de prosperidade e alegria, à vista da calúnia com que te ferem, mas, no culto da tolerância, removerás a maledicência, demandando níveis mais altos.

Perdeste familiares queridos que te largaram à solidão; no entanto, recuperá-los-ás tão logo consigas sazonar os frutos do entendimento, na esfera da própria alma.

Perdeste afetos sublimes na fronteira da morte; todavia, reaverás todos eles, um dia, quando te sentires de espírito libertado, nos planos da Grande Luz.

Perdeste dons preciosos, na enfermidade que te flagela, mas o próprio corpo físico é santuário que se refaz.

*
Observa, contudo, o que fazes do tempo e vale-te dele para instalar bondade e compreensão, discernimento e equilíbrio, em ti mesmo, porque o dia que deixas passar vazio e inútil é, realmente, um tesouro perdido que não mais voltará.


Emmanuel

Do livro Justiça Divina, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier.

quinta-feira, 19 de março de 2015

Purgatório na Visão Espírita


Por Richard Simonetti

Que se deve entender por purgatório?

Resposta: Dores físicas e morais: o tempo da expiação. Quase sempre, na Terra é que fazeis o vosso purgatório e que Deus vos obriga a expiar as vossas faltas. (O Livro dos Espíritos, Questão 1013)

O purgatório não está na Bíblia, foi criado pelo catolicismo para resolver um problema teológico: a salvação.

O purgatório para eles seria uma região no Além onde estagiam as almas que, embora arrependidas e “na graça de Deus”, ou seja, por se submeterem a sacramentos religiosos (batismo, crisma, etc.), não são suficientemente puras para elevarem-se ao Céu, nem tão ruins para merecerem o inferno. Morrem abençoadas, mas não perdoadas.

Em torno dessa ideia central criou-se toda uma mitologia, com crendices que circulou durante a Idade Média, servindo de instrumento para exploração da ingenuidade popular.

Como o catolicismo pregava que aquele que fosse para o inferno de lá não sairia mais (penas eternas), o purgatório seria a região onde os, nem tão bons e nem tão ruins, teriam a chance de serem julgados para ver se iriam para o céu ou para o inferno. E o critério para este julgamento estava nas mãos dos parentes aqui na Terra. Assim foi criado a Doutrina das Indulgências que permitia às famílias abastadas (ricas) promover a transferência de seus mortos do purgatório para o céu, mediante a doação de largas somas de dinheiro às organizações religiosas. Quem adquirisse “relíquias” (supostamente parte do corpo de um santo – osso, dente, cabelos, unhas – ou qualquer objeto que tenha usado ou que tocou seu cadáver), compradas a peso de ouro, o efeito seria mais seguro.

As “relíquias” prestavam-se a vergonhosas fraudes. Como poderiam os fiéis saber se eram autênticos pedaços da cruz onde foi sacrificado Jesus, os cabelos de Pedro, as sandálias de Paulo ou as pedras que imolaram Estevão?

No folclore religioso existe até mesmo a ideia de que é interessante pedir ajuda às almas do purgatório para resolver nossas dificuldades, pois estas estariam sempre dispostas a nos ajudar, a fim de acumularem méritos suficientes para se livrarem de suas penas.

As “penas eternas” é uma aberração teológica incompatível com a justiça e a misericórdia de Deus. Se o arrependimento no momento da morte livra o indivíduo do inferno, levando-o ao purgatório, por que Deus não perdoaria os impenitentes que encontram-se no inferno?

Afinal, a experiência demonstra que, ante sofrimentos prolongados, mesmo os indivíduos mais rebeldes acabam modificando suas disposições.

Então, o que é o purgatório para os Espíritas?

Então, nós espíritas, entendemos por purgatório, as dores físicas e morais: o tempo da expiação. Tempo onde carregamos as cruzes confeccionadas por nós ao transgredirmos as leis divinas. Quase sempre, é na Terra que fazemos o nosso purgatório, ou seja, que expiamos (resgatamos) as nossas faltas. Purgatório significa purgação, purificação. O purgante é o remédio que limpa o organismo. E as dores e aflições é o purgante que limpa a alma das transgressões à Lei Divina. Podemos dizer que, o caminho mais rápido e seguro entre o purgatório e o Céu, é “O PRÓXIMO”. Na medida em que estivermos dispostos a respeitar, ajudar, compreender e amparar aqueles que nos rodeiam, seja o familiar, o colega de serviço, o amigo, o indigente, o doente, estaremos habilitando-nos à felicidade, contribuindo para que ela se estenda sobre o Mundo. Portanto, não nos elevaremos se não tivermos dispostos a auxiliar os companheiros que conosco estagiam no purgatório terrestre.

terça-feira, 17 de março de 2015

Justiça Divina segundo o Espiritismo


A humanidade continua debatendo-se em meio ao nevoeiro denso do sofrimento, mesmo após a vinda do Cristo ainda não compreendemos o caminho que leva à Justiça do PAI, a qual estamos todos inseridos.

Dezenove séculos se passaram e DEUS em sua infinita bondade permitiu que o véu fosse rasgado em prol da humanidade perdida e assim iniciou-se uma nova investida da LUZ, para que os cegos enxergassem, para que os surdos escutassem.

Assim vimos o conhecimento da Justiça Divina atravessar os céus e por intermédio de homens de boa vontade as vozes dos espíritos espalharam-se pelos quatro cantos da abóboda azul para que o homem pudesse enxergar e compreender de forma mais perfeita.

O Espiritismo é de ordem Divina, abrandou todos os corações de boa vontade que por esforço próprio conseguiram entrever a verdade.

Desde o momento em que o Codificador Francês transcreveu a última linha da obra “O céu e o inferno” foi dado ao homem compreender com clareza os mecanismos da Justiça Divina cujo único objetivo é a glorificação do Espírito.

35 e um deles, doutor da lei, fez-lhe esta pergunta para pô-lo à prova:
36 Mestre, qual é o maior mandamento da lei?
37 Respondeu Jesus: Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma e de todo teu espírito (Dt 6,5).
38 Este é o maior e o primeiro mandamento.
39 E o segundo, semelhante a este, é: Amarás teu próximo como a ti mesmo.
(Mateus: 22, 35-39)

Antes destes dois princípios, somente a dúvida acompanhava aqueles que desejavam de alguma forma compreender como se processa a Justiça Divina, necessário se faz que o homem eleve-se acima desta vida, é preciso olhar para o passado, para as existências anteriores onde encontram-se as causas dos sofrimentos e das alegrias de hoje.

Sem o conhecimento da reencarnação jamais conseguiremos conceber um Deus soberanamente bom e justo, pois de alguma forma Ele se tornaria parcial, uma vez que alguns nascem em berço de ouro, enquanto outros em condições paupérrimas, como explicar aquele que brota saúde em frente ao que desde tenra idade demonstra fragilidade orgânica, inúmeras doenças, problemas psíquicos, famílias onde seus integrantes odeiam-se entre si, enquanto que em outras a paz reina soberana, como entender os laços que nos ligam sem levar em consideração as vidas anteriores da criatura?

Velhas concepções, já desgastadas pelo tempo, que já não atendem mais as necessidades da razão, nem o avanço da ciência, acabaram por criar uma lacuna entre o conhecimento atual e as noções do Céu, do Inferno, do sofrimento, das angustias e das alegrias. Era necessário que algo novo viesse para que pudéssemos vislumbrar com maior nitidez o Pai Amado, ao qual devemos tudo o que somos.

Causas dos Sofrimentos 


Não é possível que o PAI tenha sido injusto com aquele que sofre desde tenra idade, mesmo não sabendo por que sofreu, aquele que sofre deve ter a consciência que os tormentos porque passa é efeito, não causa.

Como pode ser assim se nenhum mal fez nesta vida? Bem, pode não ter feito nada nesta vida, mas é imprescindível considerar as vidas anteriores, deve ser considerada a individualidade, que tem na existência atual nada mais que o resultado dos desajustes cometidos em existências anteriores e que não foram reparadas. Aqui um ponto muito importante, o Divino MESTRE jamais enunciou o sofrimento como algo indispensável para que o ser humano cresça, mas a rebeldia que faz do sofrimento o último recurso para que o homem acorde do seu egoísmo e passe a modificar seu mundo mental. Segundo Emmanuel o sofrimento consegue penetrar nos escaninhos da consciência de uma forma que não podemos ainda compreender, no entanto é sempre um benefício para o renitente que não quer ver nada além de si mesmo. Com certeza a receita para o nosso crescimento não é a dor, mas sim o AMOR, algo que está no âmago de todos nós, pois somos centelhas Divinas, a nossa origem, o pano de fundo da nossa consciência é DEUS e ESTE não quer que sua criatura sofra, mas que se eduque e viva em fraternidade.

Há que se reparar também na proporcionalidade entre a falta e a pena, não podemos conceber que uma falta temporária, resultado da imperfeição do homem possa ter uma conseqüência eterna e irrevogável, se assim fosse, não haveria justiça. Se Deus é perfeito, a condenação eterna não é possível.

Todos sofrem na medida que fizeram os outros sofrerem até que se arrependam e sintam a necessidade de reparação onde então poderão enxergar um fim para situação penosa.

Há que considerar também as dificuldades que tem origem nos atos cometidos no presente, segundo André Luiz 80% dos nossos problemas atuais não tem origem no passado, mas na desordem mental a que nos entregamos. A imprevidência, o orgulho e a vaidade são algumas das causas presentes da falência dos homens na vida presente. Tendo consciência disto é muito importante nos questionarmos todos os dias a respeito do que fazemos ou deixamos de fazer e quais as causas que nos fazem tomar nossas decisões, uma análise diária de nossos atos auxilia na reconstrução dos nossos destinos.

Para que o sofrimento seja proveitoso é necessário aplicar algo que Divaldo Pereira Franco cita em uma de suas entrevistas sobre a Justiça Divina.

“Resignação dinâmica”, ou seja, aceitar o destino como processo natural para o nosso adiantamento, sem deixar por isso, de buscar a melhoria da nossa condição. Ou seja, é não revoltar-se contra DEUS pelas vicissitudes do presente e fazer o máximo possível para melhorar cada vez mais".
“Aflição de hoje, dívida de ontem”
“Merecimento de agora, crédito de amanhã”
“Cada problema que te procura é semelhante ao trabalho de análise dirigida, como a radiografar-te certas zonas do ser, de modo a verificar-lhe o equilíbrio.”
“Nossas dores respondem, assim, pelas falhas que demonstremos ou pelas culpas que contraímos”
“A Lei estabelece, porém, que as provas e as penas se reduzam, ou se extingam, sempre que o aprendiz do progresso ou o devedor da justiça se consagre às tarefas do bem, aceitando, espontaneamente, o favor de servir e o privilégio de trabalhar” (Emmanuel)


Fonte: mundoespirita.net

domingo, 15 de março de 2015

Céu



Entre os chineses de épocas venerandas, afiançávamos que a imortalidade era a absoluta integração com os antepassados.

Na Índia bramânica, admitíamos que o éden fosse a condição privilegiada de alguns eleitos, na pureza intocável dos cimos.

No Egito remoto, imaginávamos que a glória, na Esfera Espiritual, consistisse na intimidade com os deuses particulares, ainda mesmo quando se mostrassem positivamente cruéis.

Na Grécia antiga, supúnhamos que a felicidade suprema, além da morte, brilhasse no trono das honrarias domésticas.

Com gauleses e romanos, incas e astecas, possuíamos figurações especiais do paraíso e, ainda ontem, acreditávamos que o céu fosse região deleitosa, em que Deus, teologicamente transformado em caprichoso patriarca, vivesse condecorando os filhos oportunistas que evidenciassem mais ampla inteligência, no campeonato da adulação.

De existência a existência, entretanto, aprendemos hoje que a vida se espraia, triunfante, em todos os domínios universais do sem-fim; que a matéria assume estados diversos de fluidez e condensação; que os mundos se multiplicam infinitamente no plano cósmico; que cada espírito permanece em determinado momento evolutivo, e que, por isso, o céu, em essência, é um estado de alma que varia conforme a visão interior de cada um.

*

É por esse motivo que Allan Kardec pergunta e responde:

–Nessa imensidade ilimitada, onde está o Céu?

“Em toda parte. Nenhum contorno especial lhe traça limites.

Os mundos superiores são as últimas estações do seu caminho, que as virtudes franqueiam e os vícios interditam.”

E foi ainda, por essa mesma razão que, prevenindo-nos para compreender as realidades da natureza, no grande porvir, ensinou-nos Jesus, claramente:

“O Reino de Deus está dentro de vós.”


Emmanuel

Do livro Justiça Divina, de Emmanuel, Por Francisco Cândido Xavier, Reunião pública de 24-4-611ª Parte, cap.III, item 18

sexta-feira, 13 de março de 2015

O Céu e o Inferno por Raul Teixeira

Trecho de palestra com o médium e orador espírita Raul Teixeira em que ele expõe sobre o tema "O Céu e o Inferno".


quarta-feira, 11 de março de 2015

O Prefácio “quase-esquecido” de “O Céu e o Inferno”. Parte II


Prefácio da Primeira Edição de Le Ciel et l’Enfer


Em 1865, quando Allan Kardec (1804-1869) publicou o livro Le Ciel et l’Enfer ou la Justice Divine selon le Spiritisme (“O Céu e o Inferno ou a Justiça Divina segundo o Espiritismo”), o fez preceder de um Préface no qual, dentre outras coisas, propõe uma revisão de algumas de suas obras e apresenta o novo livro como continuidade de seu labor de desenvolvimento da doutrina espírita.

Curiosamente, no entanto, este Préface parece ter sido esquecido pelos tradutores brasileiros da obra kardeciana. Esquecimento que só não foi total, visto que o público brasileiro dispunha de duas traduções parciais deste texto. Ambas, presentes nas traduções de Salvador Gentile e de Evandro Noleto Bezerra à Revue Spirite. No número de setembro de 1865, Kardec publicou um excerto do Prefácio na seção “Notas Bibliográficas”.

Recentemente (2009), no entanto, foi publicada pela Federação Espírita Brasileira (FEB), uma nova tradução de O Céu e o Inferno (feita por Evandro Noleto Bezerra), a qual reintegra o Prefácio a seu lugar de direito. Em nota o tradutor explica que:

Este “Prefácio” não fazia parte da 4ª edição francesa de O Céu e o Inferno – edição definitiva – que serviu de base para esta tradução. Apareceu, na 1ª edição, publicada em agosto de 1865. Ao inseri-lo aqui, tivemos em vista resgatar para as novas gerações estes escritos quase desconhecidos do Codificador do Espiritismo e oferecê-los aos estudiosos da Doutrina Espírita.

Desconheço se Kardec teria retirado o Préface apenas nesta última edição por ele revista (4ª edição de 1869), ou se já o fizera nas edições anteriores. A nota acima não oferece qualquer indicação a respeito. Igualmente desconheço os motivos pelos quais Kardec teria feito isso. No entanto, parece-me claro, os tradutores brasileiros se “esqueceram” do Préface de 1865 por que basearam suas traduções na edição de 1869.

Outro fato curioso envolvendo a obra em questão é que esta 4ª edição, assumida como definitiva, só veio a lume a 1º de Julho de 1869. Três meses, portanto, após a morte de Allan Kardec. Florentino Barrera, em seu livro Resumo Analítico das Obras de Allan Kardec [4], afirma que esta edição estabelece o texto definitivo da obra uma vez que teria sido revista pelo próprio Kardec. Informação corroborada pela Revue Spirite (Jul/1869) que a anunciou, seguida da observação:

A parte doutrinária desta nova edição, inteiramente revista e corrigida por Allan Kardec, sofreu importantes modificações. Alguns capítulos foram inteiramente refundidos e consideravelmente aumentados.

Instigado pelo que acreditava fosse uma lacuna histórica, e, portanto, sem conhecimento do trabalho de Evandro Noleto Bezerra, empreendi minha própria tradução do texto. Empreitada assumida com o apoio do amigo Vital Cruvinel (um dos editores do blog Decodificando O Livro dos Espíritos e de quem é a revisão da tradução). Nossa ideia original era a de enviar a tradução para publicação em algum periódico interessado. No entanto, diante da realidade daquela outra iniciativa, desistimos temporariamente da ideia.

Como tradutor, meu empenho foi de evitar tanto o literalismo simplista, que ignora as distâncias linguísticas e temporais entre o texto original e o esforço de tradução; quanto uma abordagem mais livre que pudesse desvirtuar o sentido original que o autor quis impingir a sua obra, ou que pudesse abrir espaço para interpretações dúbias de sua mensagem.

Depois de concluída a tradução e sua revisão, e tão logo tomamos conhecimento do trabalho realizado por Evandro Noleto Bezerra, tivemos o cuidado de cotejar as traduções em busca de possíveis equívocos de compreensão de nossa parte. E, de minha parte, fiquei satisfeito em constatar a proximidade bem como a distância pelas opções linguísticas e estilísticas assumidas. O que poderá ser facilmente percebido pelo leitor num breve exercício comparativo. Visando possibilitar tal comparação, bem como contribuir com o avanço dos estudos da obra kardeciana no Brasil, decidi, com a anuência de Vital Cruvinel, tornar público este modesto empreendimento conjunto.

segunda-feira, 9 de março de 2015

O Prefácio “quase-esquecido” de “O Céu e o Inferno”. Parte I



Por Augusto Araújo


Em 1865, quando Allan Kardec (1804-1869) publicou o livro Le Ciel et l’Enfer ou la Justice Divine selon le Spiritisme (“O Céu e o Inferno ou a Justiça Divina segundo o Espiritismo”), o fez preceder de um Préface no qual, dentre outras coisas, propõe uma revisão de algumas de suas obras e apresenta o novo livro como continuidade de seu labor de desenvolvimento da doutrina espírita.[1]

Curiosamente, no entanto, este Préface parece ter sido esquecido pelos tradutores brasileiros da obra kardeciana. Esquecimento que só não foi total, visto que o público brasileiro dispunha de duas traduções parciais deste texto. Ambas, presentes nas traduções de Salvador Gentile e de Evandro Noleto Bezerra à Revue Spirite. No número de setembro de 1865, Kardec publicou um excerto do Prefácio na seção “Notas Bibliográficas”.[2]

Recentemente (2009), no entanto, foi publicada pela Federação Espírita Brasileira (FEB), uma nova tradução de O Céu e o Inferno (feita por Evandro Noleto Bezerra), a qual reintegra o Prefácio a seu lugar de direito. Em nota o tradutor explica que:

Este “Prefácio” não fazia parte da 4ª edição francesa de O Céu e o Inferno – edição definitiva – que serviu de base para esta tradução. Apareceu, na 1ª edição, publicada em agosto de 1865. Ao inseri-lo aqui, tivemos em vista resgatar para as novas gerações estes escritos quase desconhecidos do Codificador do Espiritismo e oferecê-los aos estudiosos da Doutrina Espírita.[3]

Desconheço se Kardec teria retirado o Préface apenas nesta última edição por ele revista (4ª edição de 1869), ou se já o fizera nas edições anteriores. A nota acima não oferece qualquer indicação a respeito. Igualmente desconheço os motivos pelos quais Kardec teria feito isso. No entanto, parece-me claro, os tradutores brasileiros se “esqueceram” do Préface de 1865 por que basearam suas traduções na edição de 1869.

Outro fato curioso envolvendo a obra em questão é que esta 4ª edição, assumida como definitiva, só veio a lume a 1º de Julho de 1869. Três meses, portanto, após a morte de Allan Kardec. Florentino Barrera, em seu livro Resumo Analítico das Obras de Allan Kardec [4], afirma que esta edição estabelece o texto definitivo da obra uma vez que teria sido revista pelo próprio Kardec. Informação corroborada pela Revue Spirite (Jul/1869) que a anunciou, seguida da observação:

A parte doutrinária desta nova edição, inteiramente revista e corrigida por Allan Kardec, sofreu importantes modificações. Alguns capítulos foram inteiramente refundidos e consideravelmente aumentados.[5]

Instigado pelo que acreditava fosse uma lacuna histórica, e, portanto, sem conhecimento do trabalho de Evandro Noleto Bezerra, empreendi minha própria tradução do texto. Empreitada assumida com o apoio do amigo Vital Cruvinel (um dos editores do blog Decodificando O Livro dos Espíritos e de quem é a revisão da tradução). Nossa ideia original era a de enviar a tradução para publicação em algum periódico interessado. No entanto, diante da realidade daquela outra iniciativa, desistimos temporariamente da ideia.

Como tradutor, meu empenho foi de evitar tanto o literalismo simplista, que ignora as distâncias linguísticas e temporais entre o texto original e o esforço de tradução; quanto uma abordagem mais livre que pudesse desvirtuar o sentido original que o autor quis impingir a sua obra, ou que pudesse abrir espaço para interpretações dúbias de sua mensagem.

Depois de concluída a tradução e sua revisão, e tão logo tomamos conhecimento do trabalho realizado por Evandro Noleto Bezerra, tivemos o cuidado de cotejar as traduções em busca de possíveis equívocos de compreensão de nossa parte. E, de minha parte, fiquei satisfeito em constatar a proximidade bem como a distância pelas opções linguísticas e estilísticas assumidas. O que poderá ser facilmente percebido pelo leitor num breve exercício comparativo. Visando possibilitar tal comparação, bem como contribuir com o avanço dos estudos da obra kardeciana no Brasil, decidi, com a anuência de Vital Cruvinel, tornar público este modesto empreendimento conjunto.



[1] Ao contrário do que aconteceu com as demais publicações de Allan Kardec, a obra O Céu e o Inferno parece não ter obtido imediatamente um grande sucesso de vendas. Se comparado com a opus magna de Kardec – Le Livre des Esprits – a qual apenas entre 1860 (ano da publicação da 2ª e definitiva edição) e 1863 somou 9 edições (10 se contarmos a partir da 1ª edição de 1857); ou mesmo com o sucesso de La Génèse, les miracles et le predictions selon le spiritisme (“A Gênese, os milagres e as predições segundo o espiritismo”), que obteve três edições no mesmo ano de sua publicação (1868), com a diferença de apenas um mês entre elas; o penúltimo dos grandes tratados kardecianos teve desempenho bastante modesto. Segundo Florentino Barrera (2003, p. 71-78), a segunda edição de O Céu e o Inferno só veio a lume em 1868, três anos após seu lançamento, portanto. Ainda segundo Barrera, a 3ª edição data de 1868-1869; e 4ª edição 1869.

[2] KARDEC, Allan. Revista Espírita, Set/1865. Notas Bibliográficas. Rio de Janeiro: FEB, 2006. p. 377-382. (Trad.: Evandro Noleto Bezerra).

[3] BEZERRA, Evandro Noleto. Nota do Tradutor. In: KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. Ou a justiça divina segundo o espiritismo. Rio de Janeiro: FEB, 2009. p.11.

[4] BARRERA, Florentino. Resumo Analítico das Obras de Allan Kardec. São Paulo: USE/Madras, 2003. (Trad.: David Caparelli). Há uma discrepância na informação da data da publicação da 4ª edição fornecida por Barrera e o anúncio publicado na Revue Spirite de Julho de 1869. O pesquisador fala do lançamento ocorrido a 1º de Julho de 1869. A Revue, embora no número de Julho, dá como data do início das vendas da nova edição a 1º de Junho, um mês antes, portanto. Tanto Barrera pode ter se equivocado, quanto pode ter ocorrido um erro gráfico na publicação da Revue. Como não tenho subsídios para uma correta avaliação da questão, deixo-a em aberto, por enquanto.

[5] KARDEC, Allan. Revista Espírita. Jul/1869. À Venda em 1º de Junho de 1869. Rio de Janeiro: FEB, 2005. p. 309-310. (Trad.: Evandro Noleto Bezerra). A rigor o artigo deve ter sido escrito por A. DESLIENS que, após a morte de Allan Kardec, tornou-se o secretário-gerente da Revista Espírita, cargo, na prática, equivalente ao de redator. Contudo, sigo aqui, ao fazer essa referência bibliográfica, o padrão indicado pelos dados fornecidos pela editora na ficha catalográfica do volume correspondente ao número XII da coleção da Revista Espírita.

sábado, 7 de março de 2015

A Importância do Livro “O Céu e o Inferno”

Entrevista com Milton Felipeli sobre a importância do livro “O Céu e o Inferno” esclarecendo e destacando os seus principais aspectos doutrinários e educativos.

quinta-feira, 5 de março de 2015

Parábola de Lázaro e o Rico



Por Leda Maria Flaborea


É um ensino alegórico, representativo do que se passa no plano espiritual, para afirmar que a nossa vida além-túmulo é uma consequência justa e equitativa da nossa existência na Terra.

A parábola fala do abismo entre os que livremente pautam suas escolhas no bem, no nobre e no belo, e os que, também, livremente, insistem em permanecer em atitudes de desequilíbrio, deboche e insensatez frente aos convites de mudanças propostos por Jesus.

É a escolha de cada um e, por isso mesmo, o Mestre nos fala das imutáveis leis divinas e de como o homem é o próprio criador do seu céu e do seu inferno.

Eis a parábola:

Um rico vivia luxuosamente em seu palacete, vestindo-se com finas roupas e banqueteando-se esplendidamente todos os dias. À porta de sua residência, jazia um pobre homem de nome Lázaro, coberto de feridas e com fome. Desejava catar as migalhas que caíam da mesa do rico, mas ninguém lhas dava, e ele não podia mover-se para apanhá-las.

Um dia, o pobre Lázaro morreu e foi levado pelos anjos, ao seio de Abraão. Algum tempo depois, o rico também morreu e “foi sepultado”.

O texto conta que, no inferno, o rico “levantou os olhos”, não os olhos materiais, mas os do Espírito (destaque nosso), seguindo-se estranho diálogo entre ele e Abraão – representante do mundo espiritual, das regiões mais elevadas.

No meio dos seus sofrimentos, o rico pede a Abraão que mande Lázaro refrigerar-lhe a língua com uma gota de água, para aliviar um pouco suas agonias. Abraão, porém, nega-lhe o pedido, acrescentando que há um “abismo” entre os do inferno e os das alturas, de maneira que não há possibilidade de trânsito entre os dois níveis.

Em seguida, pede que mande Lázaro à casa de seu pai, para que conte aos cinco irmãos o que está acontecendo, para que não tenham que vir para o mesmo lugar. Mais uma vez, Abraão diz que eles têm Moisés e os profetas e que se eles não conseguem ouvi-los, como escutarão alguém que já morreu?

Como todas as parábolas de Jesus, esta também tem endereço certo.

O que se faz necessário, antes de qualquer coisa, é compreender o conceito de rico, segundo o ponto de vista do Mestre, pois a parábola fala de um rico egoísta e avarento, que não sabe aplicar de forma justa a riqueza que Deus colocou, transitoriamente, em suas mãos.

Em momento algum, refere-se aos ricos que fazem com que suas fortunas sejam fonte perene de bens, e que favorecem a todos que estão ao seu redor.

E o Evangelho adverte-nos que o homem não possui de seu senão aquilo que pode levar deste mundo. O que ele encontra ao chegar e deixa ao partir, goza durante sua permanência na Terra; mas, desde que seja forçado a deixá-los, é claro que só tem deles o usufruto.

Por ser mero depositário, administrador dos bens que Deus, por misericórdia, colocou em suas mãos, terá de prestar contas de como esses bens foram empregados.

Para entender melhor essa parábola, precisamos separar seus trechos.

1 – Assim, quando Jesus narra que há um abismo entre o inferno e o céu, não se refere, certamente, à impossibilidade de uma conversão após a morte, como se os sofrimentos fossem eternos e os gozos dos habitantes celestes sem-fim.

O texto não menciona uma só palavra, algo como “conversão” do sofredor. O que o rico pede é somente alívio das penas; não se mostra arrependido. Pensa em aliviar seu mal, sem se converter da sua maldade. Continua igual a como era na vida planetária.

Segundo o ponto de vista de Jesus, o que o rico sofredor pede não é possível em face da Lei de Justiça. Enquanto a maldade perdurar no seu íntimo, o mal persistirá nos seus atos e pensamentos.

O interessante é que ele não solicita nova encarnação para a remissão dos seus enganos; não solicita que seus irmãos mudem a conduta diante de Lázaro redivivo, mas que eles não venham a sofrer o que ele está sofrendo.

Diante da solicitação, Abraão fez ver que eles não estão com vontade de se converterem, pois sequer atendem a Moisés e aos profetas.

2 – podemos perceber que a pretensa dissociação entre culpa e pena, entre causa e efeito, entre maldade e mal, é absolutamente impossível em face das leis divinas. Por isso, Abraão diz existir um grande abismo entre uns e outros.

É importante salientar que esse abismo não é criação de Deus, mas é cavado pelo próprio homem. Deus não fez nenhum céu e nenhum inferno para o homem. É o livre-arbítrio humano o responsável por eles.

Por essa razão, céu e inferno não são lugares geograficamente localizados no além-túmulo, mas, sim, estados da consciência, criações humanas que determinam sofrimentos ou bem-aventuranças.

Jesus nos disse que o Reino dos Céus está dentro de nós e o reino do inferno também pode estar. Portanto, é tolice imaginar que desencarnados tornam-se anjos, se não mudarem a mentalidade enquanto estiverem encarnados. Somos o que somos, aqui e além.

A morte do corpo não destrói os sentimentos inferiores, negativos, que abrigamos no Espírito. Quem vivia ligado às coisas da matéria, sem se incomodar com as coisas de Deus, continuará, no plano espiritual, a ser alguém ligado à matéria e, agora, sofrendo.

Por essa razão, existe esse abismo entre os dois mundos da parábola. Então, enquanto esse homem materialista não modificar seus sentimentos, retornará ao círculo da matéria tantas vezes quantas forem necessárias, até que se modifique.

A cada nova vivência, será despertado para novos valores. “Somente um novo compreender, um novo querer, um novo viver é que podem redimir o homem de suas maldades, e, finalmente, de todos seus males.” (Huberto Rohden)

3 – A parábola do rico avarento e do pobre Lázaro encerra, ainda, outra visão:

Há quem pense que o sofrimento seja fator de redenção. Nenhum sofrimento em si redime o homem, mas, sim, a atitude do homem face ao sofrimento: desespero, revolta ou aproveitamento da lição bendita. Dois caminhos e uma escolha...

Um encara as dificuldades com otimismo, porque tem fé na Providência Divina, nos bons Espíritos e em si mesmo. Sabe que é filho de Deus com infinitas possibilidades de vencer, em cada fase evolutiva, apesar das dificuldades inerentes a ela.

O outro revolta-se ante os problemas: não aceitação, desesperança, transfere para os outros, inclusive a Deus, as responsabilidades que nos são próprias.

Com isso, acabamos por acrescentar um quadro de desequilíbrios, forjados por nós mesmos, frutos das nossas escolhas descabidas, com desejos e caprichos de todas as ordens. Com essa atitude, perde-se o fruto da bênção que poderia aliviar e até mesmo anular as penas em reencarnações vindouras.

O Mestre nos ensina, então, a entender o valor educativo das aflições. No início doem, machucam a alma, como o aluno que é reprovado. Mas, após vencer as primeiras provas, as lutas seguintes transformam-se em alimento espiritual, porque entendemos que só através do trabalho diário de renovação, contra nossas imperfeições, podemos nos melhorar.

Portanto, “o simples fato de ser rico não constitui obstáculo irremovível para os Espíritos que descem à Terra, assim como as palavras de Jesus não representam a proclamação automática da salvação dos pobres de bens materiais” (P. Alves Godoy). O “é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus” não significa o rico de bens materiais, mas o rico em orgulho, egoísmo, avareza, cobiça.

Quantos ricos há que podem ser considerados Lázaros da parábola; e quantos pobres podem ser considerados os ricos.

O sofredor da parábola não se converteu com os sofrimentos pelos quais passava. Podia querer e não o fez. A alma sem o corpo físico pode converter-se quando quiser, pois o livre-arbítrio – o direito de escolhas – é atributo do Espírito e não da matéria.

A ideia comodista e irresponsável de que “a carne é fraca” sucumbe diante dessa afirmação. A carne não é fraca; fraco é o Espírito que não luta contra as tentações.

E onde buscar a força, a coragem para essa luta? Em Jesus. Na prece sentida, acreditando que não há órfãos na Criação e que somos capazes de vencer as atribulações.

“Vinde a mim vós todos que estais atribulados e eu vos aliviarei.” Busquemos, pois, Jesus.



Bibliografia:

1. ROHDEN, Huberto. Sabedoria das Parábolas – 12ª ed., Editora Martin Claret – São Paulo/SP, 1997, p. 35.

2. GODOY, Paulo Alves. As Maravilhosas Parábolas de Jesus – 9ª ed., Edições FEESP – São Paulo/SP – 2008 – p. 74.

3. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo – Cap. V e XVI.

4. SCHUTEL, Cairbar – Ensinos e Parábolas de Jesus – 14ª ed., Casa Editora O Clarim – Matão/SP – 1997 – 1ª Parte – p. 104.

terça-feira, 3 de março de 2015

Sobre Céu e Inferno



O que os Espíritos dizem sobre O Céu e o Inferno? Em O CÉU E O INFERNO, Allan Kardec aborda este tema com profundidade.

Para se obter uma visão geral, cito O Livro dos Espíritos, Livro IV, Cap. 2, Penas e Gozos Futuros, Item IX: Paraíso, Inferno, Purgatório, Paraíso Perdido, a saber:

Questão 1011. Um lugar circunscrito no Universo está destinado às penas e aos gozos dos Espíritos, de acordo com os seus méritos?

Resposta dos Espíritos: Já respondemos a essa pergunta. As penas e os gozos são inerentes ao grau de perfeição do Espírito. Cada um traz em si mesmo o principio de sua própria felicidade ou infelicidade. E como eles estão por toda parte, nenhum lugar circunscrito ou fechado se destina a uns ou a outros. Quanto aos Espíritos encarnados, são mais ou menos felizes ou infelizes segundo o grau de evolução do mundo que habitam.

Questão 1012: De acordo com isso, o inferno e o paraíso não existiriam como os homens os representam?

Resposta dos Espíritos: Não são mais do que figuras: os Espíritos felizes e infelizes estão por toda parte. Entretanto, como já o dissemos também, os Espíritos da mesma ordem se reúnem por simpatia. Mas podem reunir-se onde quiserem, quando perfeitos.

Comentário de Kardec: A localização absoluta dos lugares de penas e de recompensas só existe na imaginação dos homens. Provém da sua tendência de materializar e circunscrever as coisas cuja natureza infinita não podem compreender.

Questão 1013. O que se deve entender por purgatório?

Resposta dos Espíritos: Dores físicas e morais: é o tempo da expiação. É quase sempre na Terra que fazeis o vosso purgatório e que Deus vos faz expiar as vossas faltas.

Comentário de Kardec: Aquilo que o homem chama purgatório é também uma figura pela qual se deve entender, não algum lugar determinado, mas o estado dos Espíritos imperfeitos que estão em expiação até a purificação completa que deve elevá-los ao plano dos Espíritos felizes. Operando-se essa purificação nas diversas encarnações, o purgatório consiste nas provas da vida corpórea.

Questão 1016. Em que sentido se deve entender a palavra Céu?

Resposta dos Espíritos: Crês que seja um lugar como os Campos Elísios dos antigos, onde todos os bons Espíritos estão aglomerados e confundidos, sem outra preocupação que a de gozar na eternidade uma felicidade passiva ? Não. E o espaço universal; são os planetas, as estrelas e todos os mundos superiores em que os Espíritos gozam de todas as suas faculdades, sem as atribulações da vida material nem as angústias inerentes à inferioridade.

Questão 1017. Disseram alguns Espíritos habitar o quarto, o quinto céu etc.; o que entendiam por isso?

Resposta dos Espíritos: Vós lhes perguntais que céu habitam, porque tendes a idéia de muitos céus sobrepostos como os andares de uma casa; então eles respondem de acordo com a vossa linguagem. Mas para eles as palavras “quarto, quinto céu ” exprimem diferentes graus de purificação e por conseguinte de felicidade. É exatamente como quando se pergunta a um Espírito se ele está no inferno. Se for infeliz dirá que sim, porque para ele inferno é sinônimo de sofrimento; mas ele sabe muito bem que não se trata de uma fornalha. Um pagão vos responderia que estava no Tártaro.

Comentário de Kardec: Acontece o mesmo com outras expressões análogas, tais como as de cidade das flores, cidade dos eleitos, segunda ou terceira esfera etc., que não são mais do que alegorias empregadas por certos Espíritos seja como figuras, seja por ignorância da realidade das coisas e mesmo das mais simples noções científicas.

Segundo a idéia restrita que outrora se fazia dos lugares de penas e de recompensas, e sobretudo de acordo com a opinião de que a Terra era o centro do Universo, que o céu formava uma abóbada na qual havia uma região de estrelas, colocava-se o céu no alto e o inferno em baixo. Dai as expressões: subir ao céu, estar no mais alto do céus, ser precipitado no inferno. Hoje que a Ciência demonstrou que a Terra não é mais do que um dos menores mundos entre tantos milhões de outros, e sem importância especial; que traçou a história da sua formação e descreveu a sua constituição, provando que o espaço é infinito, de maneira que não há nem alto nem baixo no Universo, faz-se necessário renunciar a colocar o céu acima das nuvens e o inferno nos lugares baixos. Quanto ao purgatório, nenhum lugar lhe havia sido marcado. Estava reservado ao Espiritismo dar sobre todas essas coisas a mais racional explicação, a mais grandiosa e ao mesmo tempo a mais consoladora para a Humanidade. Assim, podemos dizer que trazemos em nós mesmos o nosso inferno e o nosso paraíso e que encontramos o nosso purgatório em nossa encarnação, em nossas vidas corpóreas ou físicas.

Questão 1018. Em que sentido se devem entender as palavras do Cristo: “Meu reino não é deste mundo”?

Resposta dos Espíritos: O Cristo respondeu em sentido figurado. Queria dizer que não reina senão sobre os corações puros e desinteressados. Ele está em todos os lugares em que domine o amor do bem, mas os homens, ávidos das coisas deste mundo e ligados aos bens da Terra, não estão com ele.

Questão 1019. O reino do bem poderá um dia realizar-se na Terra?

Resposta dos Espíritos: O bem reinará na Terra quando, entre os Espíritos que a vêm habitar, os bons superarem os maus. Então eles farão reinar o amor e a justiça, que são a fonte do bem e da felicidade. É pelo progresso moral e pela prática das leis de Deus que o homem atrairá para a Terra os bons Espíritos e afastará os maus. Mas os maus só a deixarão quando o homem tiver banido daqui o orgulho e o egoísmo.

A transformação da Humanidade foi predita e chegais a esse momento em que todos os homens progressistas estão se apressando. Ela se realizará pela encarnação de Espíritos melhores, que constituirão sobre a Terra uma nova geração. Então os Espíritos dos maus, que a morte ceifa diariamente, e todos os que tendem a deter a marcha das coisas serão excluídos, porque estariam deslocados entre os homens de bem, cuja felicidade perturbariam. Irão para mundos novos, menos adiantados, cumprir missões penosas, nas quais poderão trabalhar pelo seu próprio adiantamento ao mesmo tempo que trabalharão para o adiantamento de seus irmãos ainda mais atrasados. Não vedes nessa exclusão da Terra transformada a sublime figura do Paraíso Perdido? E no homem que veio à Terra em condições semelhantes, trazendo em si os germes de suas paixões e os traços de sua inferioridade primitiva, a figura não menos sublime do pecado original ? Considerado dessa maneira, o pecado original se refere à natureza ainda imperfeita do homem que só é responsável por si mesmo e por suas próprias faltas, e não pelas dos seus pais.

Vós todos, homens de fé e de boa vontade, trabalhai, portanto, com zelo e com coragem na grande obra da regeneração, porque colhereis centuplicado o grão que tiverdes semeado. Infelizes dos que fecham os olhos à luz, pois preparam para si mesmos longos séculos de trevas e de decepções. Infelizes dos que colocam todas as suas alegrias nos bens deste mundo, porque sofrerão mais privações que os gozos que tenham tido. Infelizes sobretudo dos egoístas, porque não encontrarão ninguém para os ajudara carregar o fardo das suas misérias. (São Luís.)

domingo, 1 de março de 2015

Especial do Mês


O Manancial de Luz nesse mês homenageia os 150 anos de lançamento da quarta obra basilar da codificação espírita, O Céu e o Inferno". O especial dedica-se a postagens de artigos, textos, mensagens e vídeos que abordam o conteúdo do livro que teve dois dos seus capítulos previamente lançados por Alan Kardec na histórica Revista Espírita, consecutivamente nos meses de janeiro e março do ano de 1865.
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