sexta-feira, 8 de outubro de 2021

A consolação da Justiça Divina

 


Por Agnaldo Catharino dos Anjos Filho

Introdução

- Isso é castigo de Deus! ... - afirmam muitas pessoas diante de tragédias, desastres e flagelos.

Sem dúvida alguma, quando estamos diante de uma calamidade ou vivenciamos eventos causadores de sofrimento intenso, não é raro ouvirmos diversas exclamações como essa, resultantes do medo e do sentimento momentâneo de incapacidade que acabam assumindo o controle das nossas emoções. Mesmo o materialista, ao eleger o “acaso” como seu Deus, expressa idêntica afirmação, trocando a crença religiosa pela ideia generalista do “azar”, direcionando seu desespero e impotência ao “caos”.

Conforme CAMOLEZE (2020), a Covid-19 é o flagelo pandêmico mundial do século XXI, devido à geração de morbidade e letalidade. Esta doença causada pelo coronavírus pode causar reações como o pânico, fobias e o pavor mórbido da morte, com sequelas psicológicas indesejáveis. O citado artigo será a base da nossa reflexão, sob as luzes da Doutrina Espírita.

O consolo nas aflições

O terror psicológico é apontado por CAMOLEZE (2020) como um dos resultados do contágio. Sob a ótica espírita, torna-se necessário que sejam feitas algumas considerações, em benefício do compromisso permanente com as ações de esclarecimento e consolação, e, de acordo com o educador Hippolyte Léon Denizard Rivail, o Allan Kardec, na questão 933 de “O Livro dos Espíritos”:

[...] Como civilizado, o homem raciocina sobre a sua infelicidade e a analisa. Por isso é que esta o fere. Mas, também, lhe é facultado raciocinar sobre os meios de obter consolação e de analisá-los. Essa consolação ele a encontra no sentimento cristão, que lhe dá a esperança de melhor futuro, e no Espiritismo, que lhe dá a certeza desse futuro. (KARDEC, 1992.)

Com base nos ensinamentos da Terceira Revelação, a consolação a que se refere Kardec, na questão acima, ultrapassa aquela que vigora no senso comum e nos acontecimentos rotineiros, onde consolar é estar presente nos momentos difíceis; saber ouvir uma determinada pessoa que passa por dificuldades; e enxugar lágrimas, dentre outras atitudes bondosas.

A consolação proposta prossegue além da necessária atitude caridosa, oferecendo também o esclarecimento reconfortante que transforma e ergue o próprio ser, ajudando-o em seu desenvolvimento espiritual, particularmente quando destaca em letras marcantes: a morte não existe!

Nesse momento de autoiluminação, proporcionado pela Doutrina Espírita, constatamos que a vida espiritual é a nossa condição natural e que a situação no plano material é transitória e fugaz, sendo comparada a uma morte quando colocada ao lado da vida espiritual (KARDEC, 1991). Quer na vida espiritual, como na vida material, a coragem pode ser considerada uma virtude, localizada entre a excelência e o meio termo, conforme ensinou Aristóteles (PAKALUK, 2020). A excelência é a própria indicação da coragem como virtude, já o meio termo pode ser entendido como o equilíbrio que deve nos distanciar dos extremos negativos, como o medo.

Na Revista Espírita de 1858, Kardec já havia alertado sobre o mal do medo em nossas vidas, e a conveniência de evitá-lo. As ações do fluido magnético dirigidas pelo pensamento eivado pelo terror, pânico ou agonia, variantes do medo, são potencializados por Espíritos levianos (KARDEC, 2008). Jesus, o Messias da humanidade terrestre, nos concitou a termos coragem diante dos flagelos, ao ensinar por meio do Evangelho que: “No mundo tereis tribulações, mas tendes coragem: eu venci o mundo!”. Esta motivação esclarecedora precisa ser entendida em conformidade com os ensinamentos do Mundo Maior, a respeito de algumas tribulações constantes na questão 741 de “O Livro dos Espíritos”, onde consta a existência dos flagelos naturais e os provocados pelo próprio homem. Dentre os primeiros há a peste, a fome e as inundações, dentre outros.

Considerando nossas aflições como mecanismos ainda necessários para a remoção das nossas imperfeições, a Justiça Divina pode utilizar-se de meios dolorosos, como os flagelos, para que ocorra mais rápido o advento de um melhor estado humano, reduzindo para poucos anos o que poderia exigir séculos (KARDEC, 1992).

Diante dessas diretrizes do mais Alto, a fé raciocinada nos convida a oferecer, em nosso íntimo, toda a certeza e confiança na direção do nosso Criador, a fim de que seja feita a vontade Dele e não a nossa.

Albino Teixeira expressou o que nós, Espíritos imperfeitos, mais sofremos diante das tragédias:

O que mais sofremos no mundo: Não é a dificuldade. É o desânimo em superá-la. Não é a provação. É o desespero diante do sofrimento. Não é a doença. É o pavor de recebê-la. […] (Espíritos Diversos, 2011.)

O escudo consolador da resignação e da fé

A contabilidade divina requer o nosso arrependimento, a par da expiação necessária e da reparação adequada diante das imperfeições. A fuga dos Decretos Maiores não é possível.

De fato, a Covid-19 externa as condições para ser classificada como o flagelo pandêmico mundial do século XXI, pelos óbices observados e de acordo com o artigo que baseou nossa reflexão. Assim, o consolo proporcionado pela Doutrina Espírita é essencial para a remoção dos obstáculos que nos impedem de estabelecer o necessário enfrentamento espiritual aos seus efeitos adversos, como Espíritos imortais vinculados ao Cristo.

Saibamos, sob o escudo da resignação e da fé, compreender os desígnios da providência divina encaminhados para a correição dos nossos rumos, reconhecendo que neste mundo transitório a nossa boa vontade diante das adversidades representa a certeza de um novo alvorecer, ao lado de Jesus.

Referências:

CAMOLEZE, Edino. Covid-19: o flagelo pandêmico mundial do século XXI. 2020. Disponível em Link-1. Acesso em: 19 jan. 2020. 

ESPÍRITOS DIVERSOS. Passos da Vida. São Paulo: Instituto de Difusão Espírita, 2011.

PAKALUK, Michael. A Ética a Nicômaco: Uma chave de leitura. 1.ed. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2020.

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos: princípios da Doutrina Espírita. 72. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1992.

KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 105. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1991.

KARDEC, Allan. Revista Espírita: índice geral 1858-1869. Coordenação: Geraldo Campetti Sobrinho. Rio de Janeiro: FEB, 2008. p. 581.

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