domingo, 25 de novembro de 2018

Crescer - Uma Necessidade na Prática do Magnetismo


Os temas relacionados ao Magnetismo são fascinantes. É raro alguém ficar indiferente quando o assunto é abordado convenientemente. Ele fascina, e o motivo é bastante simples e óbvio: convida-nos a conhecer e estudar faculdades nossas e diz que podemos muito. Aliado a isto, o estudo e a prática do Magnetismo nos colocam no limiar entre a matéria e o espírito. Qualquer um, desde que conhecedor de seus princípios, pode tocar, sentir, experimentar um contato direto com o mundo imaterial que nos cerca e irá descobrir o que Jesus desejou que entendêssemos quando proclamou que o ser humano também é um deus e que pelos poderes da fé nada seria impossível.

O Barão du Potet, reproduzindo orientação de um de seus sonâmbulos, assim nos diz a cerca do assunto: “O homem, criatura celeste, não foi de tal sorte abandonado por seu criador, que não lhe tenha restado um reflexo de sua divindade. Este reflexo é o que chamamos de magnetismo. É esse ascendente que faz a vontade do homem agir sobre os sentidos, a matéria e a vontade de outro homem”.[1]

J.P.F. Deleuze enumera entre as noções gerais e princípios para magnetizar dizendo que “o homem tem a faculdade de exercer sobre seus semelhantes uma influência proveitosa, dirigindo sobre eles, por sua vontade, o princípio que nos anima e nos faz viver”, e vai além afirmando que a primeira condição para magnetizar é querer fazê-lo. Ensina ainda que “a faculdade de magnetizar existe em todos os homens; mas nem todos a possuem no mesmo grau. Esta diferença de poder magnético entre os diversos indivíduos se dá em razão de que uns são superiores aos outros por certas qualidades morais ou físicas. Na ordem moral estas qualidades são: a confiança em nossas próprias forças, a energia da vontade, a facilidade de concentrar e manter nossa atenção, o sentimento de benevolência que nos une ao ser que sofre, a força de ânimo que faz com que mantenhamos a tranquilidade e conservemos o sangue frio em meio as mais alarmantes crises, a paciência que impede que nos fatiguemos em uma luta longa e penosa, o desinteresse que nos faz esquecer de nós mesmos para ocupar-nos somente daquele a quem cuidamos e que alijemos de nós a futilidade e a curiosidade”.[2]

Estas duas citações são suficientes para que nos deparemos com um fato: qualquer um pode magnetizar, mas nem todos obterão os mesmos resultados. A diferença não é feita pelo conhecimento formal, teórico ou mesmo prático (com a perfeição dos movimentos das técnicas). O grande diferencial é dado pelo coeficiente de desenvolvimento humano de cada magnetizador, ou seja, pelo seu crescimento moral, e neste brilha cristalino a necessidade de confiar em si mesmo como filho de Deus e no poder extraordinário da vontade.

É nesta linha de ideias que Allan Kardec também conduz nosso pensamento: “O poder da fé recebe uma aplicação direta e especial na ação magnética; por ela o homem age sobre o fluido, agente universal, lhe modifica as qualidades e lhe dá uma impulsão, por assim dizer, irresistível. Por isso, aquele que, a um grande poder fluídico normal junta uma fé ardente, pode, apenas pela vontade dirigida para o bem, operar esses fenômenos estranhos de cura e outros que, outrora, passariam por prodígios e que não são senão as consequências de uma lei natural”.[3]

É sabido que o exercício da fé e da vontade que é ensinado por estes grandes pensadores não é um exercício cego, tampouco aquele tido por artigo religioso. E mesmo a espiritualidade, ampliando as noções dos magnetizadores e inserido uma visão nova sobre muitos fatos, veio nos dizer que não falava de fé sob o aspecto religioso e, sim, como a “vontade de querer, e a certeza de que essa vontade pode receber seu cumprimento.”[4]

É frequente as pessoas duvidarem de sua própria fé, exatamente por que não sabem definir este sentimento e os referenciais culturais que temos não nos servem de boa base. Em geral, são tidas como pessoas de fé aquelas que seguem seus preceitos religiosos à risca, que são capazes de fazer romarias de joelhos, que aguardam a realização de milagres. Nada disso é fé, ao menos não no sentido em que os magnetizadores, Kardec e a espiritualidade nos levam a refletir.

A melhor definição de fé que encontrei até o momento é a expressa em O Evangelho Segundo o Espiritismo, na mensagem intitulada “A fé divina e a fé humana”, assinada por um espírito que, simplesmente, se deu a conhecer como um espírito protetor. Diz-nos ele que “a fé é o sentimento inato, no homem, de sua destinação futura; é a consciência que tem das faculdades imensas cujo germe foi depositado nele, primeiro em estado latente, e que deve fazer eclodir e crescer por sua vontade ativa.”[5]

Poderíamos substituir o termo fé (tão desgastado pela incompreensão) por confiança e auto-confiança. Confiança em Deus, nas leis que regem a vida e na justiça de sua aplicação; o Espiritismo é um manancial para adquirirmos essa confiança; e, a autoconfiança, decorrente do fato de nos reconhecermos criaturas celestes com reflexos da divindade, e para tanto, o Magnetismo é um exercício vital.

É uma verdadeira academia para desenvolvimentos nos músculos da alma de fé/confiança e vontade.

Unem-se, Magnetismo e Espiritismo, em um mesmo convite aos seus trabalhadores: a autotransformação, o esforço constante em tornar-se um ser humano melhor, em empregar uma vontade ativa no próprio crescimento e daí resultam os chamados “prodígios”; eles são a mera consequência do desenvolvimento das faculdades humanas, e assim, crescer, evoluir como ser humano é uma necessidade do magnetizador.

[1] Manual do Estudante Magnetizador.
[2] Instrucción Práctica Sobre El Magnetismo, Editora Amélia Boudet, Barcelona, 1998. (tradução livre)
[3] O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XIX, item 5, IDE, Araras/SP.
[4] Idem, item 12.
[5] Idem

Jornal Vórtice ano II, n.º 06, novembro/2009

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