Nossa alma tem Escaninhos onde são guardados tesouros que podem ficar ocultos.
Vivemos descuidados dos momentos felizes pelos quais passamos. Levamos a infância, a juventude e início da maturidade a receber benefícios de amizades e amores diversos. Pais, avós, irmãos, amigos nos dedicam suas atenções que para nós são coisas naturais.
Chega a um determinado ponto, aquele em que encontramos a pessoa que, nos parece, chegou para nos completar. Sonhos, pensamentos, cálculos para o futuro e tudo passa a viver em torno daquela criatura. Pode não ser bonita, mas tem um “que” a nos prender. Começam os entendimentos e surge o amor. Forte, apaixonado e a causar insônia e ciúmes. É a fase em que, por vezes, nos sentimos indignos de tão especial criatura. Mas aos poucos a gente vai criando coragem que resulta em casamento.
Há pessoas, porém, que não mantêm aquela vibração inicial. Modifica os hábitos, esquece comezinhos cuidados no trato para a companheira ou companheiro. A relação vai-se tornando insossa. Aqueles sonhos que resultavam em agrados ao cônjuge desaparecem aos poucos. E por que isso? É falta de cultivo da ternura. Esta deve estar presente a toda hora. Ternura é uma “emanação” da alma como o perfume da flor. É indescritível, mas agrada. Casamentos duradouros e felizes mantêm-se pela ternura. Diz-se que é pelo amor, mas este às vezes é violento ou possessivo e também pode ser grosseiro e despido de ternura. Portanto, o que mantém a ligação é a delicadeza da ternura.
Às vezes um dos cônjuges não demonstra ternura e nem sensibilidade aos cuidados recebidos, mas quem dá recebe intimamente, não se sabe como, um retorno agradável. Quando visitamos um ser querido doente e em coma, ele nada demonstrará, é lógico, mas ao vibrarmos ternura numa prece, ao tocá-lo suavemente, aquela emanação prazerosa volta como um agradecimento que nos comove.
Nossa alma tem escaninhos onde são guardados tesouros que podem ficar ocultos. A pessoa pode parecer cética, mas no íntimo possuir tesouros e entre eles a ternura. Mesmo estas, conseguem manter uma relação amorosa a vida toda, pois a ternura tem como resultado a compreensão e a tolerância. Têm alegria de viver e de conviver com os demais. Discutem opiniões com naturalidade. Mantêm a vida em paz. Isso é que, provavelmente, Deus espera de nós: que vivamos de modo tal que o mal não povoe nossos pensamentos. E a mansuetude deve ser o tempero de nossas relações.
Hoje, que pena! O sentimento de “executivo” domina os casais. Alegrias, baladas, festas e sexo procuram esconder o vazio d’alma. Não há mãos a medir quanto à procura do “onde irei hoje?”. Causa piedade ver a mocidade ansiosa por encontrar a paz interior. E nunca houve tantos lugares para meditar. Igrejas para todos os gostos. Mas, se não for vivida a brandura dos sonhos e a suavidade da ternura, a vida fica sem graça. Misticismo? Que seja! Mas é o que traz felicidade.
Artigo de Julio Capilé (membro-fundador da Comunhão Espírita de Brasília)
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