Considerada a 2ª competição mais importante do mundo, atrás apenas das Olimpíadas, é um evento que ocorre a cada 4 anos, desde 1951, do qual participam várias bandeiras, cada qual com as cores representativas de seu país.
Pan – 42 países, 34 esportes, 5.500 atletas.
Parapan – 26 países, 10 esportes, 1.300 atletas.
É um desfile de caracteres, de expressões, de culturas, de etnias, que nos leva a acreditar que o mundo é uma aldeia e nós somos cidadãos do mundo.
Fiz parte dessa festa como voluntária, e estive ciente da importância de meu trabalho, no sentido de garantir o sucesso desse marco para nosso país.
Fiquei locada pelo Comitê Olímpico para trabalhar no Pan, junto ao expectador no vôlei (Maracanãzinho), e, no Parapan, de suporte ao atleta no atletismo (Ginásio João Havelange – Engenhão).
O mascote, representado pelo sol, foi escolhido, também para representar a igualdade, traduzido pelo dito popular “o Sol nasce para todos”, e recebeu o nome de Cauê, derivado da saudação tupi Auê, que quer dizer “Salve”!
O Pan e Parapan que vi!
É valoroso podermos falar de nossas próprias experiências, por isso gostaria de falar do Pan, Parapan, relacionado ao Egoísmo (competição, vaidades), tema de nossa palestra.
A competição saudável ”hoje ser melhor de que ontem e amanhã melhor do que hoje”, se faz pelo esforço, pela dedicação, pela renúncia... O atleta aprende a renunciar, pois a idade das competições, onde se consegue o melhor tempo, é na fase da juventude... e opções precisam ser feitas, ao invés de sair e beber, dorme-se, descansa-se, para que no dia seguinte se encontre no esplender do físico.
E o atleta que não tem uma perna, um braço ou os dois, é cego, com deficiência, ou ter só o tronco (até o umbigo)... O que será que o faz se expor e provar aos nossos olhos que ele é normal, igualzinho a nós, ao invés de ficar em casa se lastimando, reclamando de quanto a vida foi ingrata com ele?
Olhei em seus olhos, e percebi que ele, no fundo de seu coração, aceita a justiça divina e sabe que nada é por acaso!... se assim ele não pensasse, ele não seria um guerreiro da luz.
Vi beleza física, inclusive sensualidade... vi uma moça linda, cuja perna direita se resumia num “toco”, até o meio da coxa – no entanto ela estava competindo e ficou treinando a manhã inteira (meus olhos a acompanhavam)... correndo com uma perna de corrida, de titânio, que lhe dava elegância e leveza nos passos, que ora corriam, pulavam, saltavam, intercalava passos, corria lateralmente, esticava, dobrava... incansavelmente num sol de 35º...
Que prótese linda! Como a capacidade tecnológica humana está sempre se superando, como ela mesma se autossuperava... testando... obtendo dados para novas e melhores próteses.
Como a tecnologia é maravilhosa! Como a razão é nossa realidade hoje! Como os Espíritos estão se superando em virtudes, como coragem, paciência etc.!
Não vi egoísmo.
Garanto que vi brilho nos olhares, mesmo naqueles que tinham a pálpebra fechada, como no caso daquele, que além da cegueira, tinha uma deformidade severa no rosto, com marcas de inúmeras cirurgias... Não perguntei, mas com certeza foi acidente, pois vi seu corpo saudável, forte, com os músculos bem trabalhados, no entanto, os olhos brilhavam... mas, não tinha olhos!
O que será que vi brilhar?
Sim, só podem ser os olhos da alma!!!
Vi benevolência, tolerância, perdão, para consigo mesmo e para com o mundo “perfeito” que estava ao redor.
O atleta, daqui para frente, quando falar “atleta”, já não o estou separando... eles me mostraram que só existe um Pan e só um atleta. (Antigamente o Parapan era realizado em outra época diferente da realização do Pan; hoje é realizado a seguir ao término do Pan, e com certeza, amanhã, serão no mesmo momento: o Pan e Parapan, e se chamará apenas Pan.)
O atleta que vi?
Vi abraçar com carinho o adversário que levou a medalha de ouro e ele próprio não.
O atleta que vi?
Não levar nenhuma medalha, mas aprender a chegar ao seu limite, que é sua própria vitória... que é ir até o final. Vi coragem!
Vi o público infantil (devo abrir um parêntesis e dizer que no Parapan a entrada foi grátis, e o Ginásio João Havelange, o Engenhão, maravilhoso, iluminado com seus arcos de luz, estava com suas arquibancadas ocupadas por escolas, com muitas crianças...).
As crianças que vi?
Vi numa competição de 10.000m, onde havia um atleta retardatário, que não enxergava, com seu guia, atrasado em 3 voltas na pista do ginásio, cansado, embaixo de um sol forte... numa competição solitária, pois os outros já haviam cruzado a chegada. Vi o resultado de seu preparo físico, sua luta íntima e treino físico, fazendo as longas voltas sozinho (às vezes achava que ele estava esmorecendo... mas ele continuava).
Vi que as crianças, homens do futuro, que ali aprendiam a benevolência, batiam palmas e gritavam palavras de força, e quando o corredor solitário chegou ao final, as crianças se levantaram, gritando e batendo palmas... Isso é história de vencedores!
Aprendi que perdendo ou ganhando, a vitória sobre si mesmo é que vale. Aprendi que o companheirismo não enxerga diferenças e nem resultados.
O aplauso que vi?
Vi subir a bandeira de outro país para medalha de ouro, com seu hino... e as crianças perfiladas respeitando e, após, batendo palmas ao vitorioso... Elas são vitoriosas! É assim que se aprende a ser cidadão do mundo!
O jogo que vi?
Vi o “fair play” que significa solidariedade, o “jogo leal”, que me mostrou gestos de amor, em plena competição entre adversários, o pedido de perdão se um toque foi mais pesado numa jogada mais dura... pequenos contatos físicos com grandes significados!
Percebe-se, assim, um despertamento para o “tratar seu semelhante como gostaria de ser tratado”...
E nós?
Nós também somos atletas, iguais em nossas diferenças, que temos de vencer, e como diz o Dr. Célio Costa, psiquiatra do Hospital Espírita Bom Retiro, em Curitiba, “vencer é difícil, mas mais difícil ainda é vencer-se”, e continua ele: “vencer os outros, abandonar as coisas que nos agridem, fugir daquilo que não gostamos, ou virar as costas para as pessoas que têm defeitos, que não concordamos, é fácil. Porém, grandes dificuldades temos ao enfrentar a nós próprios, engolir nossas falhas, superar nossos temores, e prosseguir lutando e vencendo”.
Digo que ser espírita me dá largueza de visão, consciência de que sou eterna aprendiz desta escola chamada Terra, onde aprendemos a tolerância, a paciência, a humildade... para fazer a leitura das Leis Divinas que estão na consciência, com a bagagem própria, e ser vitorioso, que é chegar à felicidade maior, que é a paz e a certeza de que caminhamos para o PAI... e que a dor, a companheira nesse orbe, existe para nos educar, com o papel de verdadeira justiça divina.
Vejo quanto nós já crescemos! Tem muito chão, ainda, é claro!... Mas já andamos bastante, se não, basta que lembremos os esportes na Roma antiga, os gladiadores, o enfrentamento de homens versus leões... onde a finalidade era ver sangue!...
Hoje, se alguém se machuca numa competição, há um “Óhhhh!!” – da plateia – e todos param de falar e, estáticos, esperam o atleta se levantar... e, após, soltar o corpo num alívio... Vi isso!
Assim que vi o atleta!
Assim que vi o expectador!
Vi benevolência, tolerância e perdão, verdadeiro sentido da palavra caridade!
Esse evento que vi é representativo da futura sociedade (lembrar que o mal é a ausência do bem, portanto, o bem sempre vence), numa atmosfera de amor, onde o forte realmente ajuda o fraco, onde é respeitado o limite de cada um, e lembramo-nos do que Jesus nos disse: – “Vós sois deuses!”.
Vejo também a união entre os povos, onde ninguém morre de fome... Dividem-se a comida, a cultura, numa festa de eterna fraternidade!
MARIA ÂNGELA MOREIRA
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