sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Atualidades Espíritas


Os Desafios da Música Espírita



O ano era 1944, e a utilização da música já dividia os espíritas. Usá-la ou não usá-la nas reuniões? Na tentativa de desfazer o impasse, entra em cena Leopoldo Machado. O pioneiro das artes e das mocidades espíritas convoca nomes de peso a opinarem sobre o tema. Deolindo Amorim, Carlos Imbassahy, Araripe de Faria, Pena Ribas, além do próprio Leopoldo, contribuem para Um Inquérito Original, publicado no periódico A Vanguarda. Uma lavada de 80% a favor do uso da música. E um marco no avanço da expressão artística mais popular entre os espíritas.

Naquela época, a música espírita não passava de uma variante do hinário católico e evangélico. Basta ouvir os famosos Hino da Alegria Cristã e Hino ao Espiritismo para ter uma ideia. Um referencial estético que ainda influencia a produção musical espírita. “O Espiritismo no Brasil adquiriu uma feição evangélica a partir da segunda gestão de Bezerra de Menezes como presidente da FEB, processo que se consolidou com Chico Xavier e Emmanuel e com o chamado ‘Pacto Áureo’, no final da década de 40. Esta é a linha predominante. Os artistas espíritas bebem nessa fonte”, explicaria Saulo Albach, fundador do Grupo de Estudos Espíritas Livre-Pensar (PR), ao jornal Abertura, em agosto de 2002. Mas assim como o espiritismo, também a música espírita se pluralizou ao longo do século XX. Hinos e exortações evangélicas ainda existem, são produzidos e apreciados pelos espíritas. Só que agora dividem espaço com a música instrumental e a de feições New Age, que ganharam espaço a partir dos anos 70, e com uma musicalidade mais jovem, que vai do pop ao rock, desenvolvida a partir dos anos 80.

E junto com a diversidade, surgem as divergências. Do publicitário ao criptografado, há todo tipo de referência ao espiritismo nas canções espíritas. E todo tipo de opinião sobre o que deve ter uma música para ser espírita. “As palestras de palestrantes espíritas são para divulgar o espiritismo, assim como as músicas dos cantores espíritas e as peças de teatro dos atores espíritas devem divulgar o espiritismo. Se não for assim não se pode definir como arte espírita”, defende Frans Beno Gadelha, do Grupo Ame (CE).

É uma concepção bastante difundida a de que a Arte só se justifica como Espírita se for “doutrinária”. Se não der margem a nenhuma dúvida sobre a fonte e o conteúdo do que quer transmitir. Por outro lado, há um movimento crescente na direção oposta: quanto mais sutil, mais eficiente a disseminação dos princípios espíritas. “Tenho ouvido muitas músicas em que o autor já não se preocupa mais em escancarar a doutrina nas mensagens, mas que deixa a marca inegável do espiritismo. Quem deve escancarar que é espírita é o autor e não a música”, propõe Maurício Keller, do Grupo Arte Nascente (GO).

Cada um a seu modo, o certo é que todos têm procurado investir na difusão e na qualificação da música espírita. Uma tendência que já rende frutos bastante vistosos. E impensáveis até bem pouco tempo atrás. “Nos últimos dez anos houve certamente grande evolução no panorama da expressão musical dos espíritas. Vimos o surgimento de muitos projetos, formação de novos grupos, registros fonográficos, culminando com o histórico registro audiovisual de um show musical do grupo Arte Nascente, com qualidade impecável”, opina Alexandre Azuma, do Alma Sonora (PR).

E o futuro? Quem já começou a construí-lo prevê grandes voos para a música espírita. O mercado fonográfico está à disposição. Mas exige, antes de tudo, a superação das próprias barreiras internas. “É preciso ter qualidade igual ou superior ao que já existe no mercado, coesão de todos os espíritas, e não só dos artistas, para que a música seja um veículo tão forte quanto são os livros, organização para dominar a cadeia fonográfica e ousadia para superar todos tabus, paradigmas, rótulos e obstáculos conservadoristas que ainda emperram a expressão artística”, arremata Maurício.



Romário Fernandes

Fonte: Arte Espírita

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