“Ainda aqui no Brasil, nós tivemos um grande médium musical. Trata-se de Jorge Toledo Rizzini.
Ele recebeu dos Espíritos de compositores famosos inúmeras músicas inéditas que serviram para a publicação dos Discos: Compositores do Além, volumes 1, 2 e 3; Marchas Mediúnicas; e Músicas do Além.
Os Espíritos que lhe transmitiram essas músicas foram: Lamartine Babo, Ataulfo Alves, Ary Barroso, Francisco Alves, Noel Rosa, Verdi, Puccini, Carlos Gardel, Duke Ellington, John Philip Souza, dentre outros.
Essas músicas, com o estilo próprio de cada compositor, foram gravadas por cantores famosos da época, que reconheceram e prestaram depoimentos sobre o estilo de cada compositor.
Além disso, esse médium realizou os famosos Festivais de Música Mediúnica, que agitaram a sociedade brasileira, inclusive no famoso Teatro Municipal de São Paulo.
Quando perguntado sobre a sua formação musical, Jorge Rizzini respondia:
“Nunca estudei música. Não toco nenhum instrumento, nem de ouvido. E o pior: não canto de modo afinado.”
Ele nasceu em São Paulo-SP, em 25 de setembro de 1924, numa família espírita.
A partir de 1950, passou a ter uma participação mais ativa no Movimento Espírita.
Empregou as suas habilidades e experiências de escritor, jornalista, radialista, publicitário e médium de psicografia e música mediúnica, para propagar e defender o Espiritismo, ao lado de personalidades como Chico Xavier, Herculano Pires, Yvonne A. Pereira, Deolindo Amorim, dentre muitos outros.
Lançou o primeiro programa espírita "Em Busca da Verdade", na TV Cultura de São Paulo. Publicou a revista "Kardequinho" para o público infanto-juvenil. Produziu diversos documentários cinematográficos sobre fatos e personalidades espíritas. Escreveu livros espíritas importantes sobre Eurípedes Barsanulfo, Kardec, Irmãs Fox e outros, e Herculano Pires. Divulgou as músicas compostas por Espíritos de compositores desencarnados famosos, através de Discos, Fitas Cassete, CDs e Festivais de Música Mediúnica.
Faleceu no dia 17 de outubro de 2008, deixando um legado que desperta admiração, respeito e espírito de gratidão.” (Geziel Andrade, em artigos sobre o Espiritismo)
Buscando registrar em detalhes as contribuições valiosíssimas prestadas por Jorge Toledo Rizzini ao Movimento Espírita, divulgamos a presente entrevista com sua esposa Iracema Sapucaia Rizzini, pedagoga e escritora de livros infantis, realizada pelo escritor espírita Geziel Andrade, fundador do blog “Jorge Rizzini, Vida e Obras”, em tributo ao médium paulistano.
São recordações de acontecimentos relevantes, que movimentaram o protagonista e o colocaram em ação e em destaque no meio de muitos fatos espíritas marcantes.
Iracema Sapucaia, como participante e testemunha ocular das realizações de Jorge Rizzini, dignou-se a documentar as suas lembranças.
Nesta primeira parte da entrevista concedida a Geziel Andrade, fala sobre o afloramento e o desenvolvimento da mediunidade de Jorge Rizzini, que, com o passar do tempo e a sua dedicação ao Espiritismo, o levou a ter uma atuação impressionante no meio espírita, produzindo o legado que o notabilizou.
OS PRIMEIROS CONTATOS DE IRACEMA SAPUCAIA COM JORGE RIZZINI E O AFLORAMENTO DE SUA MEDIUNIDADE
GEZIEL: Como a senhora conheceu Jorge Toledo Rizzini?
IRACEMA SAPUCAIA: Conheci o Jorge num centro espírita que ficava na Rua da Liberdade, aqui na cidade de São Paulo. E nos casamos em dezembro de 1947.
Frequentávamos as sessões de desenvolvimento mediúnico que eram dirigidas pela senhora Esteva Quaglio. Eu a conhecera na Federação Espírita do Estado de São Paulo, através de palestras. Foi ela quem nos apresentou.
Naquela época, o Jorge morava em companhia do pai e da madrasta perto de minha residência. Haviam vindo do Rio de Janeiro, onde moravam.
Jorge estava sofrendo intensamente em consequência da mediunidade que vinha aflorando de modo ostensivo. Desde os seus 17 anos, sofria constantemente a influência de espíritos obsessores. Era atormentado principalmente à noite, quando em seu quarto.
Às vezes, o seu sofrimento tornava-se insuportável. Então ele saía para a rua e procurava locais iluminados para se “proteger”.
Foi exatamente por essa razão que ele começou a frequentar o centro espírita dirigido por dona Esteva. Mas, o seu sofrimento foi também sendo amenizado depois que conheceu dois rapazes, que se tornaram seus amigos: Paulo e Nino, filhos de dona Maria Vitali, que era espírita.
Quando o Jorge saía de madrugada, tinha a permissão de dirigir-se à pé à casa desses amigos, que o recebiam bondosamente. Nessas ocasiões, rezava com dona Maria Vitali e, depois de receber um passe, recolhia-se a uma cama, de antemão “reservada” a ele!
Dona Maria Vitali era, de fato, uma espírita sincera. Devemos muito à sua generosidade.
Penso que a fase mais difícil da vida do Jorge foi essa. Pude observar que o sofrimento arrancou de seu íntimo tudo quanto ele guardava de mais nobre, mas também de doloroso e terrível.
O AFLORAMENTO E DESENVOLVIMENTO DA MEDIUNIDADE DE JORGE RIZZINI
GEZIEL: Pode-se dizer então que o afloramento e mesmo o desenvolvimento da mediunidade de Jorge Rizzini foram marcados por perturbações e sofrimentos?
IRACEMA SAPUCAIA: Não só isso. Um fato favorável foi ele ter nascido em um lar espírita. O seu pai, Joaquim de Andrade Rizzini, também era médium e trabalhava num centro espírita no subúrbio do Rio de Janeiro.
Mas a mediunidade em Jorge Rizzini floresceu cedo. A partir dos 10 anos de idade, já participava das sessões espíritas dirigidas pelo seu pai, também com a participação dos irmãos, da mãe e da avó paterna. Era uma mediunidade que se despontava com um pouco de tudo: vidência, efeitos físicos, etc., apesar de ser criança.
Mas essa mediunidade acentuou-se a partir dos 17 anos, após o falecimento de sua mãe e ter vindo para São Paulo, acompanhando seu pai e sua madrasta.
Com esse desenvolvimento progressivo da mediunidade, ele via os Espíritos, sentia-os e ouvia-os. Várias vezes, ao passar pelo corredor da casa que o levava ao quarto, os Espíritos chegavam a encostar-se contra a parede para que Rizzini pudesse passar. O assustador era que não eram Espíritos benfazejos; pelo contrário.
Em compensação a isso, preocupado com a necessidade de arrumar um emprego, aconteceu-lhe algo extraordinário, que ele mesmo narrou em seu livro “Antologia do Mais Além”:
“Às cinco horas da tarde, o sol entrando pela janela do quarto, vi, defronte à estante, minha mãe de corpo inteiro a me sorrir! Ela, que havia desencarnado aos 43 anos de idade (já faziam dois anos) e me deixara tanta saudade... Dias depois, à noite, no quarto, vi, maravilhado, uma grande bola de luz, vagando na escuridão e essa visão me trouxe muita paz, pois eu sabia ser mamãe. Papai havia casado de novo e a madrasta, infelizmente, nos trouxera grandes complicações, mas mamãe não se esquecera dos filhos...”
Foi nessa época penosa que Rizzini conheceu D. Maria Vitali, quem o encaminhou para o Centro Batuíra, localizado na Rua da Liberdade, onde dona Esteva Quaglio dirigia as sessões de desenvolvimento mediúnico.
Foi numa dessas sessões que nos conhecemos. Ele ainda estava numa fase muito difícil em relação à mediunidade. Eu, porém, o compreendi, por ter passado pelo mesmo sofrimento.
Sobre o nosso encontro, Rizzini escreveu:
“Na sessão dirigida por dona Esteva foi que conheci Iracema. Era ela médium de incorporação e vidente. Fato notável é que toda a sua família e a minha eram de Taubaté e muitos dos nossos parentes se conheciam sem que nós soubéssemos – e nos viemos a conhecer num centro espírita! E nos casamos...”.
Fontes: Jorge Rizzini, Vida e Obras e Artigos sobre o Espiritismo.
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