sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Yvonne do Amaral Pereira na visão de um dos seus mais importantes Biógrafos



Nosso entrevistado nasceu e mora em Salvador-BA. Bacharel em Direito, advogado, professor universitário e mestrando em Direito Público pela UFBA, é espírita desde a adolescência. Diretor financeiro e coordenador do Departamento de Juventude do Núcleo Espírita Telles de Menezes, na mesma cidade, quatro livros publicados – dois da própria lavra, um organizado e outro psicodigitado – Pedro tornou-se muito conhecido pelo trabalho de pesquisa e divulgação em torno da obra memorável produzida pela médium Yvonne do Amaral Pereira. Percorrendo o país com sua lucidez doutrinária e vibrante oratória, tornou-se um dos maiores disseminadores do conteúdo doutrinário da respeitável médium, ainda desconhecido de muitos espíritas. Suas motivadoras respostas destacam o trabalho da querida Yvonne.

RIE - Por que o interesse na divulgação da obra literária de Yvonne do Amaral Pereira?
Pedro Camilo de Figueiredo Neto - O interesse pelo trabalho da médium Yvonne Pereira surgiu no início de 1999, quando fazia estudos sobre a mediunidade na adolescência. A descobri no livro de meu conterrâneo, Carlos Bernardo Loureiro, intitulado As mulheres médiuns, e desde então me encantei pela sua vida e por sua obra, que me pareceram ricas de bons ensinamentos.

RIE - E o que mais lhe chama a atenção em toda a obra produzida pela médium?
Pedro - Creio que sua fidelidade ao pensamento de Kardec. Yvonne demonstra, em escritos e atitudes, como conhecia bem as bases do Espiritismo e pautava toda a sua produção por essa compreensão. Além disso, suas obras mediúnicas, sobretudo os romances, são verdadeiras pérolas literárias, a ponto de conseguir, com Bezerra de Menezes e Camilo Castelo Branco, por exemplo, a tradução de seus estilos.

RIE- E você considera que este e outros aspectos trazem contribuição para a formação do espírita mais consciente? De que forma?
Pedro - Primeiro, lembrando a necessidade de termos “consciência” de que tudo o que produzimos produz efeitos. Assim, somente nos devemos arrojar naquilo que edifique a coletividade. Depois, pela cautela que possuía, sobretudo com suas próprias produções. Yvonne guardou Memórias de um suicida por 30 anos antes de publicá-lo, o que aconteceu com outros livros, que ficaram guardados cerca de 40 anos. Um motivo só ela possuía: cuidado! Quantos médiuns, na atualidade, precisam aprender com seu exemplo?

RIE - Amplie seus comentários sobre o Memórias de Um Suicida. Quando foi lançado?
Pedro - O livro foi lançado em 1956, trinta anos depois do início de sua recepção. Trata-se de uma obra sem igual, que mereceu elogios vigorosos de Chico Xavier e de André Luiz. Encerra o relato das experiências vividas pelo escritor português Camilo Castelo Branco após seu suicídio, no Portugal de 1890. Além desses relatos, Yvonne Pereira revela que a obra possui a colaboração do Espírito Léon Denis. Segundo ela, Camilo não possuía conhecimentos doutrinários suficientes para as abordagens que o livro requeria. Face a isso, Léon Denis fez a complementação necessária, devendo, com razão, ser considerado um dos seus autores.

RIE - A riqueza da produção literária de Yvonne gerou outras obras, de pesquisa e de referências biográficas, inclusive de sua autoria. Em sua visão pessoal, como você percebe e avalia isso?
Pedro - Avalio como extremamente positivo, por resgatar sua vida e obra para os espíritas da atualidade. Sobre sua vida, temos as obras “Yvonne do Amaral Pereira – o voo de uma alma”, de Augusto M. Freitas, e “Yvonne: a médium iluminada”, de Gérson Sestini, pessoas que a conheceram e contribuem para o resgate de sua vida. De minha parte, escrevi “Yvonne Pereira: uma heroína silenciosa”, um estudo biográfico; “Devassando a mediunidade”, um estudo a partir de conceitos e experiências da médium; e organizei “Pelos caminhos da mediunidade serena”, com entrevistas e outros textos de Yvonne. Creio que é possível produzir mais, graças à fecundidade dos escritos de Yvonne, os mediúnicos e os pessoais.

RIE - Em toda a obra de Yvonne, que detalhe fundamental você destaca para o estudioso espírita?
Pedro - Destacaria a sua dedicação à mediunidade e ao problema da obsessão, que sempre lhe mereceu uma atenção especial. Yvonne se queixava muito que os espíritas não queriam se habilitar para a tarefa de desobsessão, que, em sua opinião, é a tarefa espírita por excelência. Também seu amor pelos suicidas e empenho em sua prevenção. Yvonne fora suicida em outra encarnação e, por esse motivo, trazia esse grave compromisso consigo.

RIE - Para o leitor que nada conhece da médium ou mesmo para quem se aproxima agora do Espiritismo, que livros você indica ao leitor?
Pedro - Para um conhecimento geral, recomendo meu livro, “Yvonne Pereira: uma heroína silenciosa” (risos). Na sequência, “Devassando o invisível” e “Recordações da mediunidade”, para maiores estudos, e “Nas Voragens do Pecado”, “O Cavaleiro de Numiers”, “O drama da Bretanha” e “Amor e ódio” para quem desejar belíssimos romances. As demais obras serão conhecidas à medida das leituras.

RIE - Detalhe conteúdos desses livros que você indicou.
Pedro - Devassando o invisível e Recordações da mediunidade são obras em que a médium abre o seu baú de vivências mediúnicas e se nos apresenta em lições fantásticas! Fatos relativos ao próprio mundo espiritual, o seu relacionamento com Chopin, Bezerra de Menezes, Léon Tolstoi e Victor Hugo, sutilezas de sua psicografia para romances e muito mais pode ser encontrado naquelas páginas. A trilogia Nas voragens do pecado, O cavaleiro de Numiers e O drama da Bretanha encerra três encarnações de Yvonne. São relatos vivos de seus deslizes morais e de como a sua personalidade foi sendo construída, até se tornar a respeitável médium que conhecemos. Romances de altíssima qualidade, que os atuais estão longe de imitar. Amor e ódio é outro romance, que relata o drama de um jovem francês e que, na minha modesta opinião, é um dos livros espíritas que não se pode desencarnar sem tê-lo apreciado (risos). Todos foram publicados pela Federação Espíritas Brasileira.

RIE - Você não citou o extraordinário livro Dramas da Obsessão. Comente sobre essa obra.
Pedro - Vale citar, também, Dramas da obsessão, obra ditada pelo Espírito Bezerra de Menezes e que contém o relato de dois casos de obsessão acompanhados por ambos, médium e Espírito. Sua riqueza doutrinária é tal que, particularmente, acredito que todo aquele que lide na seara desobsessiva não pode deixar de conhecê-lo e estudá-lo longamente.

RIE - Como Yvonne alcança nível tão expressivo de fidelidade à obra da Codificação de Allan Kardec? Que parâmetros podemos usar para perceber isso?
Pedro - Ela alcança tamanha expressividade se dedicando ao estudo sério e desapaixonado de Kardec. Também as obras de León Denis, Gabriel Dellane e Ernesto Bozzano eram vastamente estudadas. Todos os seus escritos referenciam esses autores, com lucidez e bom senso. Além disso, afirmava ela, a amigos, que lia os cinco livros considerados básicos do Espiritismo pelo menos uma vez por ano. Será preciso indicar mais parâmetros?

RIE - A obra de Yvonne ainda é bastante desconhecida do movimento espírita. O que podemos dizer aos dirigentes, palestrantes e articulistas espíritas para sensibilizá-los na maior divulgação dos excelentes livros produzidos pela médium?
Pedro - Que conhecer as obras de Yvonne Pereira e divulgá-las é materializar as palavras de Emmanuel, quando afirmou que a melhor caridade que se pode fazer ao Espiritismo é divulgá-lo. Yvonne é daquelas espíritas a quem todos devemos admirar, respeitar e conhecer. Quem pretenda enveredar-se pelos labirintos da mediunidade com segurança, depois de conhecer O Livro dos Médiuns e No Invisível, este de Léon Denis, não pode dispensar as obras de Yvonne. Fora disso, qualquer estudo será incompleto.

RIE - E a ligação de Yvonne com o Esperanto, o receituário mediúnico e as correspondências para todo país?
Pedro - Yvonne foi esperantista, embora o tempo reduzido que dedicava ao seu cultivo. Correspondia-se em esperando com pessoas pelo mundo, hábito cultivado também no Brasil, na língua nacional. Pela correspondência, consolou, instruiu e se confraternizou com grande número de pessoas. Tenho, comigo, mais de noventa páginas e correspondências que ela trocou com um amigo paulista, o escritor Domério de Oliveira, ao longo de vinte anos de amizade. Aliás, essa amizade começou após o Dr. Domério, como era conhecido, publicar na RIE um artigo favorável ao livro Devassando a mediunidade. Sua dedicação à correspondência e aos amigos demonstrava a grandiosidade do seu coração.

RIE - Por favor, faça uma síntese biográfica da médium
Pedro - Yvonne Pereira nasceu em 24 de dezembro de 1900 e desencarnou em 09 de março de 1984. Médium, palestrante e escritora, nos deixou obras psicografadas, como Memórias de um suicida e Ressurreição e vida, bem como livros da própria lavra, como Devassando o invisível e Recordações da mediunidade. Dona de um discernimento singular, pautou sua vida no amor ao próximo e no atendimento espiritual, sobretudo de espíritos suicidas, de quem se compadecia imensamente. Tal a riqueza de sua mediunidade, alguns a chamavam, embora contra a sua vontade, de “Grande Dama do Espiritismo”.

RIE - Suas palavras finais.
Pedro - Quem pretenda ocupar-se seriamente do Espiritismo, não pode dispensar o estudo da mediunidade, tal como prensada e descrita por Kardec, bem como a apreciação de obras como as de Yvonne Pereira. Seguir por esse caminho é garantir, para si e para os demais, fontes seguras e a certeza de guiar-se por estradas que conduzem à iluminação e ao conhecimento verdadeiro.

Nota do entrevistador: Oportuno também sugerir ao leitor a exuberante obra À Luz do Consolador, igualmente publicada pela Federação Espírita Brasileira no final da década de 90, enfeixando artigos publicados pela médium na revista Reformador entre os anos 60 e 80, a maioria deles assinados com o pseudônimo de Frederico Francisco. Além de dados biográficos escritos pela própria Yvonne, a obra é rica doutrinariamente, com orientações claras e inúmeros exemplos da vivência mediúnica da autora. Obra altamente recomendável para a exata compreensão dos postulados espíritas.


Entrevista concedida por Pedro Camilo à Revista Internacional de Espiritismo

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