sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Evangelização da Criança: Razões e Finalidades


Por Astolfo Olegário de Oliveira Filho (Londrina)

É conhecida a posição de Kardec, o Codificador do Espiritismo, com relação ao ensino moral contido no Evangelho: "Diante desse código divino, a própria incredulidade se curva. É o terreno em que todos os cultos podem encontrar-se, a bandeira sob a qual todos podem abrigar-se, por mais diferentes que sejam as suas crenças. Porque nunca foi objeto de disputas religiosas, sempre e por toda parte provocadas pelos dogmas. Se o discutissem, as seitas teriam, aliás, encontrado nele a sua própria condenação, porque a maioria delas se apegou mais à parte mística do que à parte moral, que exige a reforma de cada um. Para os homens, em particular, é uma regra de conduta, que abrange todas as circunstâncias da vida privada e pública, o princípio de todas as relações sociais fundadas na mais rigorosa justiça. É, por fim, e acima de tudo, o caminho infalível da felicidade a conquistar, uma ponta do véu erguida sobre a vida futura" (O Evangelho segundo o Espiritismo, Introdução, item I).

Aí está, pois, a resposta à pergunta que dá título a este artigo. Evangelizar uma pessoa é ensinar-lhe o caminho que leva à paz, à harmonia e à felicidade possível no mundo em que vivemos. Mas... se é isto que nos ensina o Espiritismo, quando tal tarefa deve começar? A resposta a esta dúvida é também por demais conhecida: na infância, esse período da existência corpórea assim conceituado por Emmanuel: "A juventude pode ser comparada a esperançosa saída de um barco para uma longa viagem. A velhice será a chegada ao porto. A infância é a preparação".

Os Espíritos Superiores nos ensinam que, encarnando-se com o objetivo de se aperfeiçoar, o Espírito, durante a infância, “é mais acessível às impressões que recebe, capazes de lhe auxiliarem o adiantamento, para o que devem contribuir os incumbidos de educá-lo". (O Livro dos Espíritos, item 383.) Mais adiante, aduzem eles que "as crianças são os seres que Deus manda a novas existências. Para que não lhes possam imputar excessiva seriedade, dá-lhes todos os aspectos da inocência. Julgando os seus filhos bons e dóceis, os pais lhes dedicam toda a afeição e os cercam dos mais minuciosos cuidados. A delicadeza da idade infantil os torna brandos, acessíveis aos conselhos da experiência e dos que devem fazê-los progredir. É na fase infantil que se lhes pode reformar o caráter e reprimir as suas más tendências. Esse é o dever que Deus confiou aos pais, missão sagrada pela qual terão de responder" (L.E., item 385).

Reportando-se ao assunto, Emmanuel adverte: "O período infantil é o mais sério e o mais propício à assimilação dos princípios educativos. Até os sete anos, o Espírito ainda se encontra em fase de adaptação para a nova existência. Ainda não existe uma integração perfeita entre ele e a matéria orgânica. Suas recordações do plano espiritual são, por isto, mais vivas, tornando-se mais suscetível de renovar o caráter e estabelecer novo caminho. Passada a época infantil, atingida a maioridade, só o processo das provas rudes, no mundo, pode renovar o pensamento e a concepção das criaturas, porquanto a alma encarnada terá retomado o seu patrimônio nocivo do pretérito e reincidirá nas mesmas quedas, se lhe faltou a luz interior dos sagrados princípios educativos" ("O Consolador", pergunta 109). A razão é simples: é que, atingida a maioridade, o Espírito revela seu caráter real e individual, "retoma a sua natureza e se mostra qual era".

O lar será sempre, de acordo com o Espiritismo, a melhor escola para a preparação das almas encarnadas, como Santo Agostinho assevera no cap. 14, item 9, de "O Evangelho segundo o Espiritismo": "Oh! espiritistas, percebei o grande papel da Humanidade; compreendei que, quando produzis um corpo, a alma que nele se encarna vem do espaço para progredir. Cumpri com os vossos deveres e empregai o vosso amor em aproximar essa alma de Deus. Essa a missão que vos foi conferida e da qual recebereis a recompensa, se a cumprirdes fielmente", antecipando o que Emmanuel ensinaria mais tarde: "As noções religiosas, com a exemplificação dos mais altos deveres da vida, constituem a base de toda educação, no sagrado instituto da família" ("O Consolador", pergunta 108).


Trecho do artigo de autoria de Astolfo Olegário de Oliveira Filho

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