Por Clara Lila Gonzalez de Araújo
A passagem citada, de Atos, 22:12-16, leva-nos a refletir sobre o título do presente artigo na pergunta feita por Ananias a Saulo, após impor suas mãos nos olhos do beligerante combatente do Cristianismo, restituindo-lhe a visão. Um momento de extrema grandeza para Saulo que passa a ouvir, do emissário e piedoso amigo, as notícias sobre Jesus, fazendo-o conhecer seus ensinamentos e convidando-o a seguir, sem demora, ao encontro de uma nova vida!
Paulo se tornou um arauto da Boa Nova e, por sua fé, testemunhou os mais acerbos confrontos, legando ao mundo os ilustres exemplos de perseverança e caridade!
Ao analisarmos esses períodos históricos, das lutas travadas para divulgação e implantação da mensagem do Cristo à Humanidade, guardadas as devidas proporções, percebemos a distância que existe entre as expectativas que possuímos de bem servir, sem esmorecer, à causa da evangelização em nome de Jesus e da Doutrina dos Espíritos, e as condições que amealhamos para concretização de tarefa tão nobre.
Os conhecimentos exigidos na atividade a realizar são necessários e precisamos estudá-los com profundidade para que não nos descuidemos, invalidando os esforços que porventura venhamos a despender na prática evangelizadora.
Da mesma forma, não podemos deixar de nos preparar adequadamente para lidar, de forma fraterna e caridosa, com as crianças e jovens que acolhemos, ajudando-os na busca de seu progresso maior, aplicando a nós próprios os ensinamentos que transmitimos, para nossa efetiva preparação como tarefeiros no posto de serviço em que nos situamos.
Mas, por que nos detemos? Por que não conseguimos compreender a extensão e importância do trabalho a executar, especialmente nos dias em que vivemos crucial indiferença moral, intensificando a ansiedade, a solidão e o medo daqueles que não despertaram para as luzes do Evangelho? Ao refletir sobre isso, sentimos o peso da nossa negligência em não querer reconhecer o valor significativo da evangelização espírita da criança e do jovem como portadora de imprescindível contribuição ética e espiritual no desenvolvimento do caráter e na afirmação da personalidade do ser.
O Espiritismo, explicando a anterioridade do Espírito ao corpo, a sua sobrevivência à morte física, a pluralidade das existências, destaca, sempre, que as lutas pelas mais nobres aspirações são ideais para a vida de cada ser, e ninguém progride sem as enfrentar, aceitando com resignação e coragem os insucessos que surgem em função das provas necessárias ao seu aprendizado e superando-as, quanto possível. Eis por que, e de acordo com a benfeitora Joanna de Ângelis (1997), “a religião espírita dinamiza o interesse humano pelo seu auto-aprimoramento, trabalhando-lhe o mundo íntimo, para que, consciente de si, eleve-se aos patamares superiores da existência, sem abandonar o mundo no qual se encontra em processo de renovação”, permitindo-lhe assumir, finalmente, as suas convicções de se reformar moralmente.
Afirmam alguns psicólogos: “as crenças religiosas do adolescente também tendem a refletir seu acelerado desenvolvimento cognitivo, que se torna mais abstrato e menos literal entre as idades de 12 e 18 anos. [...] As perspectivas religiosas também tornam-se mais tolerantes e menos dogmáticas, declinando a crença na importância da religião, pelo menos no seu sentido formal. [...] Os adolescentes de hoje em dia parecem enfatizar, mais do que as gerações anteriores, a religião pessoal ao invés das institucionalizadas.
Isto é, consistente com sua maior ênfase geral sobre valores e relações pessoais e sobre padrões morais individuais [...]”. Tais considerações ressaltam um aspecto a ser refletido por aqueles que estão engajados nessa tarefa singular: até que ponto as crianças e os jovens encontram, nas escolas de evangelização das casas espíritas, as condições necessárias para sua formação religiosa e a estruturação de sua identidade com a crença espírita?
Alguns pais, preocupados com a formação religiosa de seus filhos e defendendo a idéia de que “religião nunca faz mal”, matriculam-nos em instituições escolares que oferecem educação dessa natureza, ignorando que tais ensinamentos procuram consolidar os alicerces teóricos de outras religiões, esquecendo que os conteúdos ministrados não são meros detalhes, mas pressupostos fundamentais que norteiam a prática dessas religiões. Estarão os evangelizadores preparados para avaliar, em sala de aula, as diversidades e pluralidades religiosas que porventura surjam desses ensinamentos e que tanto confundem os evangelizandos?
Muitos evangelizadores, infelizmente, não se preparam adequadamente para o exercício docente da evangelização e se descuidam da verdadeira conduta espírita-cristã, aderindo aos rótulos e artifícios verbais sem extravasar um sentimento real e sincero no discurso religioso que veiculam em sala de aula.
Allan Kardec interpretou esse problema de maneira lúcida, ao se referir aos espíritas imperfeitos: “[...] Esses são os espíritas imperfeitos, alguns dos quais ficam a meio caminho ou se afastam de seus irmãos em crença, porque recuam ante a obrigação de se reformarem, ou então guardam as suas simpatias para os que lhes compartilham das fraquezas ou das prevenções. [...]
[...] Aquele que pode ser, com razão, qualificado de espírita verdadeiro e sincero, se acha em grau superior de adiantamento moral. [...] Em suma: é tocado no coração, pelo que inabalável se lhe torna a fé. [...] Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más [...]. Na busca dessa identidade, pois, o desafio consiste, para nós evangelizadores, em bem interpretar e ministrar os conteúdos pelo Currículo para as Escolas de Evangelização Espírita Infanto-Juvenil, elaborado pela Federação Espírita Brasileira, que constitui o cerne da relação entre a proposta educativa de evangelizar e os fundamentos da Doutrina Espírita.
Em razão disso, estudemos com empenho, disciplina e constância as bases filosóficas, científicas e religiosas do Espiritismo! Caso contrário, não estaremos aptos para despertar na criança e no jovem o interesse pela doutrina consoladora, estimulando-os para que se identifiquem com a sua proposta e para que se libertem dos atavismos e das paixões, que ainda os desajustam emocionalmente, e do caráter pragmático de muitas doutrinas do passado, às quais se vincularam.
Há, dessa forma, a preocupação de se organizar ações prioritárias para melhoria da evangelização espírita infanto-juvenil, no Brasil e no mundo, e, entre elas, a de capacitar evangelizadores.
É tempo, portanto, de pensarmos seriamente na melhoria do desempenho da tarefa a realizar, não nos detendo frente aos gravíssimos problemas que surgem da sociedade atual, envidando todos os esforços para bem servir à causa de amor que abraçamos, em nome de Jesus!
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