quinta-feira, 8 de março de 2012

Atualidades Espíritas


O Espírito e a Ciência

Por Pietro Peres


Em pouco mais de um século foram realizados diversos trabalhos férteis no que se refere às investigações dos fenômenos ligados ao espírito. Nesse período, eles foram amplamente enriquecidos com a dedicação de homens que se projetaram no campo científico através do valor de suas contribuições. Nomes como Camille Flammarion, Gabriel Dellane, Charles Richet, Albert de Rochas, Gustave Geley, Léon Denis, entre outros, emolduraram o despertar da doutrina consoladora visualizada na França luminosa pelo mestre Hippolite Léon Denizard Rivail, mais conhecido como Allan Kardec. Também pelo mundo existiram grandes colaboradores. Na Inglaterra, tivemos a dedicação dos vários integrantes da Sociedade de Pesquisa Psíquica, com figuras ilustres do porte de Fredrich Myers, William Crookes, Oliver Lodge, William Barrett e Staiton Moses. Destacamos ainda o russo Alexander Aksakof e os italianos Ernesto Bozzano e Cesar Lombroso.

Com o progresso da tecnologia e os recursos de importantes universidades, espalhadas tanto no Ocidente como no Oriente, chegamos a uma incontestável lista de personagens de respeito que têm desenvolvido trabalhos significativos, somando evidências à tese do espírito. Para não nos alongarmos muito, a relação é formada por nomes como Hans Bender, Leonid Vasiliev, Hans Driesch, Pascual Jordan, Emile Tizané, William Roll, Gerard Croiset, Joseph Banks Rhine, Hermut Smith, Stanley Krippner, Ian Stevenson, Hemendra Nath Banerjee, Elizabeth Rauscher, Douglas Dean e George Meek, entre outros. Também podemos incluir nessa lista o brasileiro Hernani Guimarães Andrade. No entanto, apesar de um gigantesco acervo de evidências, o espírito ainda não conquistou a aceitação de sua existência dentro dos exigentes requisitos científicos.

Considerações da Ciência

Em quase todas as áreas do conhecimento, os homens que respondem pela ciência relutam, de algum modo, em ceder caminho para que o espírito entre em suas cogitações. Porém, embora consistentes, as estruturas pragmáticas e o cristalizado conservadorismo na resistência do dogmatismo científico estão para implodir. Por incrível que pareça, é a física, a mais rigorosa das ciências, que, em uma visão mais ampla, já passou a considerar o espírito como algo inseparável dos fenômenos da natureza.

No livro O Espírito, este desconhecido, Jean Charon, ganhador de um Prêmio Nobel de Física, aborda o assunto. "Os novos gnósticos de Princeton e Pasadena guardaram, da antiga filosofia, a ideia de que aquilo que chamamos de espírito é indissociável de todos os fenômenos que vemos no universo, sejam físicos ou psíquicos. Portanto, ao menos em princípio, devemos ser capazes de ter um conhecimento ‘científico’ do espírito, isto é, de fornecer uma descrição em termos científicos, com o risco de, se necessário, renovar a própria linguagem", afirma.

Dentro dessa atual visão da física, o codificador Allan Kardec já asseverava, em meados do século passado, no livro A Gênese, que a revelação espírita se caracterizava pela sua origem divina, sua iniciativa pertencente aos espíritos e sua elaboração resultante do trabalho do homem. "Portanto, é rigorosamente exato dizer que o Espiritismo é uma ciência da observação, não o produto da imaginação. As ciências não fizeram progressos sérios senão depois que seus estudos se basearam no método experimental, mas se acreditava que esse método não poderia ser aplicado senão à matéria, ao passo que o é igualmente às coisas metafísicas", acrescentou.

No desenvolvimento deste estudo, procuraremos elucidar o modelo do espírito segundo a doutrina espírita, relacionando-o com alguns dos problemas humanos com base em enormes contribuições bem elaboradas. Preocupa-nos demonstrar que o homem não é, única e exclusivamente, esse ser biológico constituído de aparelhos e sistemas articulados por mecanismos e reações fisioquímicas. Defenderemos a tese do espírito, que, no nosso entendimento, é o que está faltando na parapsicologia para que novos desenvolvimentos e áreas de pesquisas sejam incorporados a ela, provocando a revisão de seus conceitos sobre a natureza do homem.

De O Livro dos Espíritos, resumiremos a concepção da origem, natureza e forma do espírito comunicada a Allan Kardec, por via mediúnica, pelos próprios espíritos que trouxeram ao mundo a doutrina espírita. Originado do princípio inteligente do universo, embora de natureza não palpável, o espírito é algo que existe como individualização desse princípio. É incorpóreo. Mesmo sendo de um outro tipo de matéria quintessenciada, não pode ser percebido por nossos sentidos físicos. Ele pode existir independentemente do corpo que anima e, em sua forma, seria comparado a uma chama, um clarão, uma centelha luminosa cuja cor pode variar do escuro ao brilho do rubi. Pode penetrar e atravessar a matéria, deslocando-se ao espaço tão rapidamente quanto o pensamento. Mesmo não se dividindo, irradia-se para diferentes lados, como o sol envia seus raios para muitos lugares distantes, parecendo estar neles simultaneamente.

Nesse modelo, pelo fato do espírito ter se originado do princípio inteligente do universo e existir como uma emanação dele, fica implícita a existência dessa fonte geradora inteligente, causa primeira que o concebeu. Essa busca natural pela fonte de nossa origem também levou o físico Carlo Rubbia a considerá-la quando se referiu às suas descobertas sobre as subpartículas atômicas no projeto CERN (Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear). "As descobertas que estão sendo feitas na ciência põem em evidência o fato de que a natureza é o resultado de uma concepção única, enorme e magnífica. (...) O certo é que, quando descobrimos que todas as forças são controladas por um mesmo princípio, quando vemos que há uma ordem absolutamente infinita em tudo o que se passa na natureza, o passo é muito curto para imaginar que houve uma ‘inteligência’ que fez tudo isso", comentou o físico em 1983.

Quando o mestre Kardec pergunta sobre o que é Deus na primeira questão de O Livro dos Espíritos, recebeu como resposta que Ele "é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas". Depreendemos daí uma considerável aproximação com as idéias dos físicos modernos.Entendemos que o espírito, em sua origem como princípio inteligente do universo concebido pelo Criador e fruto de sua obra, poderia guardar em seu arcabouço, sob forma embrionária, as potencialidades que seriam progressivamente desenvolvidas no transcorrer dos tempos.

Dos laboratórios da natureza cósmica, da formação das galáxias ao aparecimento das constelações atômicas sobre a crosta terrestre, passando da evolução química para a biológica e atingindo o reino hominal, o espírito percorreu milênios e milênios, polarizando os princípios sutis da matéria em seus estados difusos, animando-a em um enriquecimento contínuo de valores e dela registrando as experiências que propriamente lhe estruturaram a individualidade.Mesmo o espírito podendo existir independentemente do corpo que anima e que lhe serve de instrumento, postula-se que interage com ele em nível molecular, exercendo mútuas e importantes trocas de experiências, impulsionadas por diretrizes programadas em um sentido crescente, evolutivo e ascensional.

A exemplo de uma semente que encerra, em sua pequenez física, o modelo de árvore condensado em domínios informacionais de natureza etérea, o espírito reúne, em seus campos intrínsecos de ação, mecanismos de forças desconhecidas, agrupadas de forma inteligente e capazes de presidir a formação dos incontáveis contingentes celulares, organizando-os e agrupando-os para o exercício das diversificadas funções, em um conjunto harmônico, complexo e de perfeita interação.

Caso o leitor amigo deseje se aprofundar nos estudos que evidenciam a natureza espiritual na dinâmica evolutiva dos reinos da natureza, sugiro que recorra às obras de Hernani Guimarães Andrade, como Morte, Renascimento e Evolução, Espírito, Perispírito e Alma e Psi Quântico – uma extensão dos conceitos quânticos e atômicos à ideia do espírito.

O Espírito

Em O Livro dos Médiuns, Allan Kardec explica que a natureza íntima do espírito propriamente dito é inteiramente desconhecida para nós. "Ele se revela a nós por seus atos e estes só podem tocar nossos sentidos por um intermediário material".

Visualizando o espírito como uma forma luminosa não percebida por nossa visão orgânica, encontramos semelhantes referências nos conceitos do físico Isaac Newton, como bem elucida Jean Charon no primeiro capítulo de O Espírito, este desconhecido. "Observemos um instante os conceitos de Newton, cujos escritos, caso sejam analisados sem se buscar ‘ver somente o que queremos’, são a comprovação de que o pai da teoria da gravidade sempre defendeu conceitos de essência espiritualista, bem longe das idéias puramente mecanicistas e positivistas que quiseram lhe atribuir.

Uma aproximação surpreendente é a que Newton faz entre espírito e luz. Escreve ele em sua ótica que ‘não seria possível que os corpos e a luz se transformem uns nos outros? E não seria possível que os corpos recebam a maior parte de seus princípios ativos das partículas de luz que entram em sua composição?’", afirma o Prêmio Nobel de Física.

Ainda em sua obra, Charon prossegue afirmando que Newton distinguia dois tipos de luz: uma fenomênica, que seria a que se entende pelo sentido comum do termo (a que vemos), e uma numênica, que seria uma luz virtual intervindo mais particularmente nos mecanismos do ser vivo e que portaria aquilo que chamamos de espírito. "Assim, durante toda a sua vida, Newton considerou o espírito como de natureza diretamente acessível à experiência e, portanto, do domínio das investigações da física", diz.Charon enfatiza que Deus está sempre presente na obra de Newton, para quem Ele intervinha na natureza por intermédio do espírito. "Essa natureza age sempre sem trégua, até o último termo, e depois cessa, pois, desde o começo, era para ele coisa certa que ela poderia se aperfeiçoar em seu curso e que chegaria, enfim, a um repouso sólido e total, ao qual ela tendia, com todo o seu poder, para este efeito", teria escrito Newton segundo Charon, esclarecendo a convicção do pai da lei da gravidade em um sentido definido da evolução do universo.

No segundo capítulo de O Espírito, este desconhecido, Jean Charon fala sobre seu trabalho. "Em resumo, meu trabalho sobre as partículas elementares em física me mostrou que algumas dessas partículas encerram um espaço e um tempo do espírito, coexistindo com o espaço e o tempo no qual toda a física, desde Aristóteles, tem se esforçado para descrever a matéria e sua evolução", explica.

Essa conclusão vem de encontro ao que responderam os espíritos nas questões 91 e 141 de O Livro dos Espíritos, considerando-se o fato de que a matéria não oferece obstáculo para os espíritos, podendo ser penetrada por eles. Além disso, a alma se irradia e se manifesta externamente ao corpo, não se encontrando nele encerrada, o que vale relacionar em seu próprio espaço e tempo, que, por sua vez, pode ser entendido como a coexistência com o espaço e o tempo das partículas atômicas que constituem este nosso corpo físico. É bastante salutar também apresentarmos as considerações a seguir, feitas pelo codificador em O Livro dos Médiuns, que consideramos bastante úteis ao nosso estudo: "O espírito, no entanto, está sempre revestido por um invólucro ou perispírito, cuja natureza se eteriza à medida que ele purifica e se eleva na hierarquia. (...) O perispírito, portanto, é parte integrante do espírito".

No final de seu livro Morte, Renascimento e Evolução, Hernani Guimarães Andrade faz uma colocação com a qual compartilho. Diz ele que "você é uma partícula da grande consciência cósmica, que iniciou seus primeiros passos na senda da vida no primitivo e tépido seio das águas do Arqueozóico, talvez sob a forma de uma núcleo-proteína, de um vírus ou de um simples co-acervado". Mais adiante, ele afirma que não há morte. "O nascer e o morrer são os pontos de inflexão da gigantesca senóide biológica que se desenvolve em alternâncias, às quais chamamos ora de vida, ora de morte. Viver e morrer são dois aspectos de um mesmo fenômeno: a vida", explica.

Essência Divina

Sendo assim, entendemos que trouxemos em nós mesmos, de forma latente e dinâmica, todas as potencialidades a serem desenvolvidas e, em um futuro à nossa frente, alcançaremos a condição luminosa através de nosso próprio esforço. De acordo com o que disse Emmanuel no livro Roteiro, isso acontecerá na medida em que, "durante séculos e séculos nos demorarmos nas esferas da luta carnal ou nas regiões que lhes são fronteiriças, purificando nossa indumentária e a embelezando, a fim de preparar, segundo o ensinamento de Jesus, nossa veste nupcial para o banquete do serviço divino".


Publicado na Revista Cristã de Espiritismo – edição 30

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