sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Atualidades Espíritas


Os Ensinos do Cristo


Por Juvanir Borges de Souza


São de alta significação todos os ensinos de Jesus, que os evangelistas registraram em suas narrativas, ora obedecendo a uma determinada ordem da ocorrência dos fatos registrados, como se observa nos Evangelhos de Mateus, de Marcos e de Lucas, ora grupando as lições do Mestre pelas suas significações, independentemente da ocasião em que ocorreram, como está evidente nas narrativas do evangelista João.

O que podemos observar no conjunto das lições, dos ensinos variados e das exemplificações do Mestre Incomparável, é a grande importância de tudo o que dele partiu, com o objetivo de facilitar aos homens a compreensão correta das leis divinas que regem o comportamento de todos os seres que estão subordinados a elas, para que optem sempre pelo caminho do bem e evitem o do mal.

A prática do mal é uma decorrência do livre-arbítrio com o qual foram criados todos os Espíritos, opção que se interliga com a ignorância das disposições das leis divinas, inclusive no que se refere à responsabilidade pelas ações praticadas e por suas conseqüências.

Podemos constatar a suprema sabedoria com que Deus conduz todas as coisas, ao designar Jesus como Governador espiritual da Terra, desde sua formação, antes mesmo que a Humanidade começasse a habitá-la, e que o Mestre sempre enviou emissários ao nosso mundo, desde os tempos primitivos, com o objetivo de esclarecer seus habitantes, naturalmente dentro da capacidade de entendimento de cada grupo, povo ou raça.

Nos períodos históricos, temos conhecimento da presença desses missionários registrada por diversos povos e civilizações, auxiliando-os na compreensão da vida e deixando ensinamentos que se transformaram em religiões, filosofias, usos e costumes compatíveis com o grau evolutivo dos beneficiários.

Há cerca de dois mil anos, o próprio Cristo veio conviver com os homens, para transmitir-lhes ensinamentos e exemplos que ficaram registrados em seus Evangelhos, escritos por dois de seus apóstolos (Mateus e João), e por dois discípulos e seguidores (Marcos e Lucas).

Todas as lições do Cristo constituem-se em normas e padrões destinados a ser observados e vivenciados pelos homens, para que possam evoluir e se libertar das provas e expiações a que estão sujeitos, por suas ignorâncias e atrasos.

Parte Ele do amor a Deus sobre todas as coisas.

É o amor o sentimento essencial do qual derivam todas as demais qualidades morais dos indivíduos. Há nesse ensino uma coerência facilmente perceptível, por ser Deus o Criador supremo e único de tudo o que existe.

Diante dessa verdade fundamental, modificaram-se todas as crenças politeístas que subsistiram e imperaram por muitos milênios entre os povos da Antiguidade. O Deus único, revelação que viera com os hebreus, só com o Cristo se tornou crença generalizada e fundamental de todas as religiões.

Jesus sempre se referiu ao poder, à inteligência suprema, à paternidade de Deus e à submissão à sua vontade.

Ao lado do amor a Deus, como o ápice dos sentimentos que as criaturas devem cultivar, o Mestre colocou o amor ao próximo como a si mesmo, logo em seguida.

São os dois mandamentos essenciais para que o Espírito desperte da sua condição de inferioridade e consiga iluminar-se, perdoando todas as injúrias, ofensas, infamações e todas as afrontas comuns nas relações entre criaturas moralmente atrasadas.

Além disso, o ensino visa o combate permanente ao egoísmo, ao orgulho, à avareza, à inveja e a todas as inferioridades próprias das individualidades habitantes de um mundo com grandes necessidades morais.

Por isso, a redenção de todos nós pela aceitação e prática do amor a Deus e ao próximo, tal como está explícito nos dois magnos ensinamentos do Cristo, é muito difícil para os habitantes da Terra.

A evolução moral é lenta e trabalhosa, exigindo de cada criatura, além da aceitação dos princípios norteadores, sem quaisquer restrições, uma vontade firme e constante no combate às inferioridades, com o inabalável desejo de substituí-las pela prática do bem e pelo sentimento do amor.

Essa transformação é diferente em cada Espírito, de conformidade com as condições íntimas de cada um, da vontade individual de potencialidade variável e também dependendo das suas vidas passadas.

Não devemos pois estranhar que, passados dois mil anos dos ensinos e exemplos do Cristo, embora aceitos com certa facilidade, sejam de tão difícil execução e vivência. É importante compreender a necessidade de que nossa consciência esteja limpa e sem reservas inferiores, já que o amor a Deus e aos nossos semelhantes precisa ser puro e sincero.

O caminho certo para se obter uma consciência pura e livre é o recomendado por Jesus em suas prédicas constantes e resumidas na síntese: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”. (João, 14:6.) É o entendimento e a aplicação de todas as leis morais, interpretadas à luz do Consolador prometido e enviado pelo Mestre.

Seguir esse “caminho” implica em despir-se a criatura de uma série de preconceitos, tradições enganosas, futilidades, egoísmos e incompreensões, que a vida humana oferece, em contradição com as leis divinas e com os exemplos que Jesus dedicou aos que o ouviram e a toda a posteridade.

Por isso, o Espiritismo adverte que os atos e cultos exteriores não produzem os efeitos deles esperados e que somente as boas ações, praticadas com desprendimento e visando o bem, caracterizadas pelo amor e caridade, predispõem seus executores para a evolução e a caminhada para o progresso.

Segundo referência do próprio Cristo, o Espírito de Verdade não era conhecido pelos homens. Mas agora já se encontra no nosso mundo, portador de conhecimentos antes desconhecidos, e possibilitando que a Humanidade perceba fatos novos e um mais vasto horizonte, libertando-se dos dogmas impróprios, das interpretações literais e dos formalismos ilusórios. É sempre necessário extrair da letra o espírito que vivifica, sob pena de cairmos nos mesmos erros e enganos de nossos antepassados.

O Espiritismo, como revelação dos Espíritos superiores, auxilia-nos o entendimento das realidades novas, antes desconhecidas. Daí a necessidade de estudá-lo, vivenciá-lo e propagá-lo.

Jesus sentenciou: “Conhecereis a verdade e ela vos fará livres”. (João, 8:32.) A presença do Consolador, o Espiritismo, marca o início de uma Nova Era. Os grandes desvios do Cristianismo primitivo deveram-se, em grande parte, às interpretações literais dos Evangelhos.

Jesus utilizava-se das parábolas, das alegorias e comparações para fazer-se entender pelas massas populares e até por seus discípulos, em uma sociedade atrasada e influenciada por crenças que o Mestre procurou retificar.

Às explicações alegóricas, não entendidas nas suas verdadeiras significações, somaram-se os diversos interesses daqueles que se colocaram à frente do movimento renovador, daí resultando o que hoje constitui as igrejas e organizações denominadas cristãs, poderosas e influentes, mas que se distanciaram dos objetivos do Cristo, dos seus ensinos e exemplos.

Em decorrência de sua previsão do que viria acontecer, prometeu Ele pedir ao Pai a vinda de um outro Consolador, para ficar com os homens, relembrar seus ensinos e trazer o conhecimento de coisas novas.

A presença do Espiritismo no mundo, a partir dos meados do século XIX, tendo à frente o Espírito de Verdade com a colaboração de outros Espíritos instrutores, tudo coordenado pelo Missionário Allan Kardec, é a efetivação da vinda do Consolador prometido.

A nós, espíritas, compete reconhecer a orientação superior do Cristo, estudar os fatos novos e divulgar a Doutrina Consoladora, na medida de nossas forças.

As idéias novas que chegam a um mundo atrasado, como o nosso, mesmo que tenham o mérito de inovar para o bem de todos, encontram sempre a oposição e a resistência daqueles que se sentem prejudicados pelas propostas inovadoras.

Se a inovação se caracteriza por representar a verdade, assentando-se em argumentação sólida, os opositores atiram-se contra ela e contra os seus seguidores.

O que ocorreu com o Cristo, quando veio à Terra com sua mensagem renovadora para toda a Humanidade, em que a verdade transparecia em contraposição a entendimentos antigos e ultrapassados, é uma demonstração inequívoca da dificuldade de se implantar as inovações verdadeiras e retificadoras de erros aceitos e defendidos pelos homens.

O Mestre Jesus visava corrigir enganos e equívocos arraigados, substituindo-os por entendimentos novos, baseados nas leis divinas do amor a Deus e ao próximo.

O povo hebreu, que já havia sido beneficiado com os dez mandamentos recebidos por Moisés, não percebeu a grandeza e a superioridade das novas revelações trazidas pelo Cristo. O Sinédrio, representando as classes dominantes, rejeitou os ensinamentos retificadores e foi além: perseguiu e prendeu o Mestre, condenando-o à morte infamante.

Atualmente, o Espiritismo, que representa o Consolador prometido e enviado por Jesus, com o advento do Espírito de Verdade entre os homens, é também combatido e incompreendido, por representar uma nova face da verdade e da vida.

Por isso, torna-se conveniente relembrar a responsabilidade dos espíritas sinceros, que precisam estar atentos aos novos tempos, para a realização da grandiosa tarefa da regeneração deste mundo, com o aprimoramento moral da Humanidade, conforme previsão da Espiritualidade Superior.


Fonte: Reformador, julho de 2009.

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