Por Sonia Theodoro da Silva
“A educação, baseada numa
concepção exata da vida, transformaria a face do mundo. Suponhamos cada família
iniciada nas crenças espiritualistas sancionadas pelos fatos e incutindo-as aos
filhos (…): uma rápida transformação social operar-se-ia então sob a força
dessa dupla corrente.” (Depois da Morte, Léon Denis, cap. 54)
O eminente pensador espírita,
educador por excelência, fiel seguidor dos ensinos dos Espíritos Superiores e
participante do ideal de uma reforma social profunda e universal, resume, em
poucas palavras, os objetivos de toda uma geração: a vivência e aplicabilidade
dos ensinos de Jesus com a coerência e a lógica de uma doutrina que faria dos
homens, não meros fiéis de mais uma seita dissidente religiosa, ou adeptos de
mais um sistema filosófico sustentado em bases existencialistas niilistas, mas
portadores de um conhecimento vívido e real que lhes trouxesse esclarecimentos
e consolo. Em outro espaço (Socialismo e Espiritismo, cap. I), Denis
afirma:“Para nós o socialismo é o estudo, a pesquisa e a aplicação das leis e
meios suscetíveis de melhorar a situação material, intelectual e moral da
Humanidade.”
Não é outro o propósito da
Doutrina Espírita: sua tese, a filosofia que propõe, esclarece, elucida, pois
está intrinsecamente unida aos fatos comprovados pelo seu método investigativo
em bases científicas; sua antítese, a aparente impossibilidade de conciliar
seus conteúdos ético-morais, sem resvalar no pieguismo ou no dogmatismo das
religiões; sua síntese, Jesus, pois Ele, Espírito plenificado em bases sequer
imagináveis pelos seres humanos aproxima-se da dimensão evolutiva da Terra, e
traz, pessoalmente aos homens, a Sua mensagem, por meio de metáforas e
parábolas, absolutamente compreensíveis por todas as culturas e raças de todos
os tempos. Faz-se presente junto aos homens e com eles compartilha a existência
terrena, com eles sofre, com eles convive, legando-nos o consolo do
conhecimento das causas das dores humanas; elucida que a verdadeira
religiosidade não se faz às custas de bens materiais ou do sacrifício de vidas
humanas, mas da doação de si, num exercício constante de fraternidade e de paz,
retrato das Leis Divinas, presença de Deus em nós. E, ao despedir-se, lega à
posteridade a sua herança: a vinda de um Consolador, que acompanharia os homens
já amadurecidos pelo tempo, na transição de sua escala moral.
Há exatos 152 anos, um dos fiéis
servidores de Sua Causa retoma a roupagem carnal, e, membro atuante da Falange
do Espírito da Verdade vem referendar, nesta fase da evolução humana, os
ensinos de Jesus, porém desta vez com o acompanhamento direto de diversos
Espíritos, reencarnados ou não, mas todos condutores da realização de um
projeto educacional – ele próprio, Rivail ou Allan Kardec, educador-, que
elucidaria, em bases seguras e inquestionáveis, os aspectos da existência
humana relegados à abordagem místico-religiosa de todos os tempos, e absolutamente
apartados do desenvolvimento científico realizado pelo homem, em sua eterna
busca pelo saber.
Temas como Deus, natureza,
imortalidade da alma, vida após a morte, o porquê da existência humana, dos
sofrimentos e das dores, a desigualdade, as penas e o vazio existencial, e, nos
dias atuais, o fundamentalismo religioso que estimula guerras em nome de um
deus vingador que pensa suprir a necessidade intrínseca de justiça equânime nas
relações humanas, porém, que leva ao suicídio como alternativa de solução
dessas questões; as fugas espetaculares por meio do autocídio lento pelo álcool
e drogas que entorpecem a razão e a emoção, sempre foram temas segmentados e
fragmentados pelas religiões e pelas filosofias, na tentativa de responder ou
encaminhar o ser humano às possíveis soluções. Contudo, apesar dos esforços
empreendidos, as religiões fecharam-se no ensino daquilo que mais sabem fazer:
religião. Não encaminham o ser humano à sua espiritualidade, mas à perpetuidade
repetitiva e exaustiva dos ritos e rituais que, vazios, emudecem o raciocínio,
criando obstáculos à realização dos anseios humanos. Por outro lado, as
filosofias isoladas nas concepções fragmentárias de suas respectivas escolas, e
as ciências, pretendendo tudo atribuir aos mecanismos cerebrais, continuam
andando lentamente, e por vezes, obscuramente.
Entretanto, surgem, no dizer de
Arnold Toynbee, as minorias criativas, e, elucida o Espiritismo, estas são as
minorias preparadas para o advento da Nova Educação com bases no conhecimento
da real identidade do Espírito, imortal e interexistente em dimensões
aparentemente opostas, mas que se completam, pois ambas são parte da Escola do
Espírito. Essas minorias se espalham pelo planeta, e iluminam a Ciência com a
dose necessária de ética e espiritualidade, a Filosofia para a elucidação das
questões referentes ao Ser metafísico interexistente, a Religião que conduz o
Ser ao amor a si mesmo e ao próximo, através das suas leis presentes e
imanentes em toda a criação.
O Livro dos Espíritos é a
Filosofia que traz ressignificação para a existência humana, colocando o
Espírito em sua verdadeira estatura, como o Ser que, na linha do tempo, se
auto-educa, desenvolve as suas potencialidades latentes, aprende com a Vida e
com as dores, que são como instrumentos de despertamento para a realização
daquela meta.
O Livro dos Espíritos é a Ciência
que decodifica os fenômenos à luz da razão, do empenho intelectual que busca a
origem de todas as coisas, e o descobre, o Princípio Inteligente do Universo,
presente por trás do véu material que o enclausura na prisão dos sentidos.
O Livro dos Espíritos é a Religião
em espírito e verdade, que desmistifica e desmitifica Jesus como divindade de
um panteão mitológico inatingível porque inexistente, e o reconduz a nós, como
um exemplo vivo de plenitude e Amor e aos que lhe seguiram os passos, para a
nossa convivência, para a nossa razão e para os nossos sentimentos,
concedendo-nos a fé que pensa, que raciocina, que é indestrutível, porque
construída com sabedoria.
O Livro dos Espíritos, portanto, é
a Educação por excelência, porque reconduz o Ser ao autoconhecimento, sem
metalinguagens, sem sistemas, remodelando-o à luz do discernimento,
conscientizando-o da grande responsabilidade que lhe cabe diante da Vida, da
própria existência, e do outro, seu semelhante, seu irmão.
O Espiritismo fomenta a
fraternidade em bases racionais, reconduzindo o Ser às realizações que lhe
cabem. No dizer de Herculano Pires, é doutrina de gigantes. Aprofundar os
nossos conhecimentos através do estudo metódico e da pesquisa coerente e
realizada com seriedade, nos trará uma visão de realidade, que poderíamos
descrever como verdadeira “saída da caverna” (veja-se a alegoria da caverna, em
A República, de Platão), em busca da luz que clareia a Verdade.
Muitos são os caminhos: escolas
espiritualistas, religiões, filosofias, ciências, porém, o Espiritismo
condensa, retifica, atualiza, encaminha, educa, constrói a fé em bases lógicas
e revela ao ser humano que ele é depositário de potências a serem desenvolvidas
pelo conhecimento, pelo trabalho, pelo estudo, pelo respeito a si mesmo e ao
outro. É o caminho sem desvios, seguro e constantemente revelador de nossas
consciências. E sem Jesus e Kardec não há Espiritismo.
Artigo publicado no Spiritist Psychological Society Journal, de Londres, Ano II, No.3, março-abril 2009. Journal Psychologischer Studien – Wissenschaft, Philosophie und Religion, Periódico de Estudios Psicológicos – Ciencia, Filosofía y Religión, Giornale di Studi Psicologici – Scienza, Filosofia e Religione, Journal d´études psychologiques – Science, philosophie et religion.
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