sexta-feira, 17 de junho de 2022

Universalismo, ecumenismo, espiritualismo e outras coisas

 


Por Marco Milani

Não é de hoje que encontramos alguns entusiastas espiritualistas que pretendem abraçar, ao mesmo tempo, diversas linhas doutrinárias sob o argumento da tolerância e respeito a todas as formas de se pensar. Nesse sentido, essas pessoas supõem estar quebrando preconceitos e posicionamentos exclusivistas para disseminar a harmonia universal, sob a alegação de que a verdade não está encerrada em uma só religião e todas podem levar a Deus. Afirmam, ainda, que querem aproveitar o que cada filosofia ou corrente “tem de bom”.

Mesmo que a união fraterna seja um objetivo entre os homens, alguns aspectos lógicos devem ser destacados para se buscar a verdadeira harmonia e a conduta equilibrada. Primeiramente, devemos reconhecer que a diversidade entre os seres humanos é um fato. Em essência, todos somos semelhantes, porém cada um de nós pode ter uma visão de mundo particular e que se diferencia de inúmeras maneiras das demais pessoas. Até aí, nada de novo.

O problema lógico ocorre quando alguém supõe ser possível aceitar, simultaneamente, pontos de vista divergentes. Uma proposição não pode ser verdadeira e falsa ao mesmo tempo. Essa condição é denominada de Princípio da Não-Contradição, pois não se conseguirá estabelecer relações de causalidade a partir de premissas antagônicas entre si. Por exemplo, não se pode aceitar e negar a reencarnação. Não se pode aceitar e negar a possibilidade de comunicação com seres desencarnados. Não se pode aceitar e negar a individualidade do espírito. Não se pode aceitar e negar que Jesus é um espírito criado por Deus. Ou se aceita uma coisa ou se nega a sua existência. A tentativa de considerar tudo válido é uma incoerência epistemológica.

Em segundo lugar, cada doutrina é estruturada sobre princípios determinados e que, necessariamente, se forem alterados desvirtuarão todo o edifício teórico construído. No Espiritismo, por exemplo, se adotam premissas, tais como: a existência de Deus (inteligência suprema e causa primária); a existência de dois elementos no universo: espírito e matéria; o estágio do princípio inteligente em diferentes corpos materiais; a sobrevivência e individualidade da alma após a morte do corpo físico; a comunicação com os espíritos; a evolução espiritual até a plena realização do ser (pureza espiritual); a impossibilidade do espírito retroagir em seu processo evolutivo; Leis naturais imutáveis; reencarnação; diferentes moradas no universo; o progresso do espírito depende de suas obras; Jesus é o espírito de maior envergadura moral que reencarnou neste planeta e nos serve de referência; a inutilidade da adoção de símbolos, paramentos ou palavras sacramentais para se entrar em comunicação com os espíritos ou para se dirigir a Deus; o fato de que os astros não possuem qualquer efeito na conduta do espírito; o amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos como ações fundamentais para a evolução espiritual; e a fé raciocinada. Obviamente esses princípios estão coerentemente inter-relacionados.

O que pensar, então, de um suposto adepto do espiritismo que também aceite outras premissas que colidam com as premissas espíritas? Ele ou ela estará, logicamente, sendo incoerente e não desenvolverá uma argumentação racional para interpretar determinado fenômeno. Ele ou ela estará em confusão conceitual.

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