terça-feira, 21 de junho de 2022

A pandemia desconhecida


Por Rogério Miguez

Há três níveis de caracterização nos processos de contaminação e disseminação de doenças: pandemia, epidemia e endemia. Em suma, diferem em relação à forma e escala como se alastram as enfermidades associadas. Em relação à primeira, é generalizada, assim se classifica quando atinge o planeta como um todo, sem qualquer restrição; as outras ocorrem em menor escala, atingindo apenas determinadas regiões ou localidades.

Embora o sentido comum de emprego destas expressões se aplique de modo direto às doenças físicas, a etimologia da palavra possui um significado mais abrangente:

A palavra pandemia tem sua origem no grego pandemias, as. Significa “todo o povo”. Também representada pela junção dos elementos gregos: “pan” (todo, tudo) e “demos” (povo).1

E, é conforme esse entendimento, que conversaremos sobre uma pandemia quase totalmente desconhecida, que causou e vem causando prejuízos maiores à esta Humanidade do que causaram e causarão todas as pandemias físicas até hoje registradas na História: a obsessão espiritual.

Ciente desta realidade, quando elaborava a Doutrina dos Imortais, assim se expressou Allan Kardec:

“Pululam em torno da Terra os maus Espíritos, em consequência da inferioridade moral de seus habitantes. A ação malfazeja desses Espíritos é parte integrante dos flagelos com que a humanidade se vê a braços neste mundo. A obsessão que é um dos efeitos de semelhante ação, como as enfermidades e todas as atribulações da vida, deve, pois, ser considerada como provação ou expiação e aceita com esse caráter”.2

No início da estruturação da obra espírita, este tipo de flagelo, como bem caracterizou Allan Kardec, recebeu classificação semelhante àquela das doenças físicas, ou seja, em três níveis: simples, fascinação e subjugação, variando conforme o grau de influenciação exercido pelos obsessores sobre suas vítimas. Na primeira, como o nome já indica, há um envolvimento superficial, se intensificando, nos dois últimos. Mais tarde, através da acurada observação do Codificador nos relatos que recebia do além, incluiu, propriamente dita, a possessão.3 Esta possibilidade, no começo, foi considerada impossível de acontecer, caracterizando a obsessão, ao término da construção do edifício do conhecimento espírita, em quatro grandes modalidades, segundo o grau de atuação do Espírito desencarnado.

Vale a pena lembrar que, dependendo do envolvimento dos Espíritos no processo, sejam encarnados ou não, há cinco tipos previstos: de desencarnado em encarnado; de encarnado em desencarnado; de encarnado em encarnado; de desencarnado em desencarnado; e, por último, mas não que seja a menos importante, a pouco conhecida auto-obsessão. Neste último tipo, não há envolvidos, apenas um envolvido, somente um Espírito que, por conta de sua mente em desalinho ou mesmo viciosa, cria um cenário perturbador para si mesmo, não necessitando da ajuda de outro Espírito.

Considerando o primeiro grau deste flagelo, conveniente recordar Manoel Philomeno de Miranda, pois o autor bem caracteriza o caráter pandêmico da obsessão, quando advertiu:

“A obsessão simples é parasitose comum em quase todas as criaturas, em se considerando o natural intercurso psíquico vigente em todas as partes do Universo”.4

Não há dúvida, estas interações maléficas, desnorteadas, desequilibradas e viciosas, estabelecidas entre a população encarnada – almas -, e a desencarnada - Espíritos -, representa uma verdadeira parasitose, aliás, numericamente, de maiores proporções do que sugere o significado vulgar do vocábulo pandemia. Precisaríamos encontrar outro termo para designar este mal imaterial - mas em vários casos de consequências físicas -, pois atinge muito mais pessoas do que qualquer virose ou peste, já enfrentadas pelos habitantes da Terra, mesmo se considerarmos estas duas calamidades juntas.

Pode-se afirmar, sem nenhuma sombra de dúvidas, que a obsessão já causou mais males à Humanidade do que todas as guerras em conjunto. Esta afirmação doutrinária justifica-se, pois todos os que pelo seu: egoísmo, orgulho, ambição, ânsia pelo poder, desejo de dominação, prazer da conquista e ganância, iniciando ou incentivando os conflitos bélicos que a Humanidade já registrou e registra, sendo estes incontáveis, provocando males aos homens de toda a forma e ordem, foram e são todos obsidiados, um triste e preocupante cenário.

O elemento que está na base deste intercâmbio doentio, o catalizador do mecanismo, é o baixo nível moral dos Espíritos que ora habitam o planeta - ainda de provas e expiações -, quase na totalidade egoístas, orgulhosos e desatentos aos princípios divinos, por esta razão há tanta obsessão.

Cabe notar que este panorama não se repete em todos os mundos, pois há incontáveis orbes em diferentes estados evolutivos. À Terra, por hora, são encaminhados Espíritos que necessitam das experiências proporcionadas pelo temporário estado moral inferior do planeta. A estes, somam-se os muitos Espíritos que sempre estiveram reencarnando por aqui, mas que também não atingiram condição moral para deixar o orbe, não conseguiram ainda alcançar patamares mais altos nas próprias condutas éticas e morais, para daqui partirem em direção a outras Casas do Pai, mais harmônicas e equilibradas, em consequência, felizes.

Cabe ainda uma observação em relação à menção de Allan Kardec a maus Espíritos. Estas entidades, que não passam de antigos moradores do planeta, época em que estiveram encarnados, não representam uma classe especial de Espíritos voltados para todo o sempre às práticas violentas e nocivas. Estão provisoriamente sem rumo, sem respostas às suas expectativas materialistas desenvolvidas no período da vida na Terra. Mais cedo, ou mais tarde, se equilibrarão, deixando a condição de maus, pois o fatalismo é para o bem, abandonando também, desta forma, a categoria dos obsessores.

Em relação a toda pandemia ou peste, há medidas capazes de controlar, ou mesmo visando erradicar por completo as doenças. Quando algum vírus novo aparece, como agora surgiu o coronavírus, os cientistas se apressam em criar medidas para combatê-lo. E, no caso das enfermidades materiais, desenvolvem-se variadas vacinas ou medicamentos, sejam alopáticos ou homeopáticos, que são colocados ao alcance do povo.

E qual seria o melhor remédio para controlar esta especial e desconhecida parasitose – a obsessão? Existe alguma medida material com o poder de desenlaçar Espíritos em processos obsessivos, às vezes, durando dezenas de anos, obsessões que perduram ao longo de mais de uma existência, se alongando no plano etéreo?

Alguns sugerem exorcismos, contudo, estas práticas medievais não possuem qualquer ação sobre entidades desencarnadas, antes, os fazem talvez rir das palavras sacramentais, vestimentas especiais ou gestos e trejeitos, utilizados por aqueles que pretendem - às vezes de boa vontade -, interagir com o mundo espiritual, sem o devido conhecimento da complexidade da dimensão imaterial da vida.

Sem sombra de dúvida, a melhor medicação para esta modalidade de pandemia é a prática, mas do que apenas o conhecimento do Evangelho do Cristo!

E a síntese da Boa Nova se traduz por este ensino: fazer aos outros aquilo que se deseja para si mesmo.

É muito oportuno observar que esta receita sucinta, de poucas palavras - mas infalível -, para lidar com o processo obsessivo em andamento ou mesmo evitar o seu início:

- Não possui contraindicação, e não possui dosagem mínima nem máxima, quanto mais usar, melhor para ambos: vítima e obsessor;

- Jamais apresentará qualquer efeito colateral indesejado, o calcanhar de Aquiles das drogas alopáticas;

- Não sofre do problema da carestia, nem falta no mercado pelo excesso de demanda, aliás, ocorre o inverso, devido à pouca procura pela real vivência desta máxima, ela continua a existir quase desconhecida - embora ao alcance de todos -, tanto quanto a existência da pandemia obsessiva;

- Não precisa ser importada de fábricas de renome do exterior, nem se deve pagar qualquer imposto ou taxa para a sua utilização;

- pode ser encontrada com facilidade, não dependendo de consulta a especialistas médicos, tampouco visita a hospitais exemplares, contudo, alguns se apresentam como atravessadores deste produto, são os indivíduos inescrupulosos e doentes da alma, com certeza também acentuadamente obsidiados, tentando se colocar entre o doente e a cura, se arvorando em se declarar representantes de Deus na face da Terra, afirmando que tão só por eles, e mais ninguém,  pode-se alcançar o entendimento dos ensinos do Cristo. Estes, eventualmente, cobram impostos para executar seus serviços, assim o fazendo, com pesar, servem a Mamon, ao invés do Pai Criador, como em princípio creem;

- Não é encontrada nas prateleiras das farmácias, podendo ser achada e utilizada de modo direto na fonte, isto é, em O Novo Testamento, livro que registrou em detalhes como podemos implementar este processo de cura, através da atenta observação das palavras e exemplos do Cristo e, após a identificação da forma como Jesus se portou no cotidiano, tentar repetir os mesmos padrões crísticos ao longo de nossa existência, sempre que novas oportunidades se apresentaram;

- De modo a facilitar a compreensão das sublimes lições contidas em O Novo Testamento, sugere-se, sobretudo, o estudo metódico da terceira obra fundamental espírita: O Evangelho segundo o Espiritismo. A propósito, no último capítulo desta extraordinária obra, há exemplos de preces endereçadas tanto para obsidiados, quanto para obsessores.

Reflitamos detidamente nesta realidade. Não nos permitamos ser candidatos a obsessores, pela prática continuada de atitudes irresponsáveis, e, muito menos incentivemos, pelas nossas condutas imorais e antiéticas, a nos tornarmos obsidiados.

Enquanto este quadro não se modificar de maneira drástica, seremos obrigados a conviver com a pandemia das obsessões, grassando, indiscriminadamente, aguardando que nós, os imortais Espíritos, decidamos nos elevar moralmente, impedindo ou dificultando, assim agindo, os assédios oriundos do lado de lá, e, de igual modo, aqueles surgindo do lado de cá.

Referências:

1 Acesso em 05/12/2021:  pandemia

2 KARDEC, Allan. A Gênese. Tradução Guillon Ribeiro. Edição Histórica. 53ª ed. Brasília: FEB. cap. XIV - Os fluidos. Obsessões e possessões. it. 45.

3 Acesso em 05/12/2021: artigo 568

4 FRANCO, Divaldo P. Nas fronteiras da loucura. Pelo Espírito Manoel P. de Miranda.  2ª ed. Salvador: LEAL. Análise das obsessões. pág. 11.

 

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