Por Paulo Oliveira
O tema desta reflexão é por demais profundo e importante, pois nos remete a nada mais nada menos do que ao grande Codificador da Doutrina dos Espíritos, cuja missão foi a de trazer para o nosso planeta Terra a doutrina consoladora, prometida por nosso senhor Jesus Cristo, já no final de sua missão terrena, quando estava reunido com seus discípulos no cenáculo, celebrando a Páscoa judaica, conforme registrado no Evangelho de João, cap. 14, dos versículos 15 a 17:
“Se me amais, guardai os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre, o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco e estará em vós”.
Com essa profecia, revela o Mestre que a construção do caminho para Deus, destinação de todos nós Espíritos criados por Ele, atingia novo patamar. A mensagem do Evangelho de amor dava seu primeiro passo junto à população espiritual da Terra. Abriam-se aí as portas para o futuro espiritual de todos nós que compomos a população encarnada e desencarnada deste planeta.
No entanto, como estamos suficientemente informados pelas instruções dos Espíritos superiores, as missões que temos a desempenhar, em sua diversidade e complexidade variadas, não necessariamente se completam em uma só existência. Muitas vezes aqui abarcamos para retomar o trabalho iniciado em encarnação precedente, com vistas a uma continuidade futura.
No caso do eminente Espírito Hippolyte Léon Denizard Rivail, que adotaria o pseudônimo de Allan Kardec, assumiu uma missão que sequer podemos divisar a sua avultada complexidade, graças ao nosso desenvolvimento espiritual ainda acanhado.
Assim, para tratarmos do tema a que nos propusemos a desenvolver, falando do planejamento da missão de Allan Kardec, vamos também salientar que uma tarefa missionária como essa não se improvisa de véspera, ou seja, não se define de um dia para o outro. Há sim uma programação estudada nos mínimos detalhes e antecipada de séculos, para que a ideia seja construída, comunicada e finalmente assimilada.
Recebemos as notícias da Terceira Revelação, a Doutrina dos Espíritos, há exatos 159 anos, e, todavia, estamos lutando para conhecer o bê-á-bá dessa mensagem de luz.
Como vimos há pouco, Jesus no Sermão do Cenáculo fala claramente que sua mensagem não era completa e que OUTRO CONSOLADOR, o Espírito Verdade, viria complementar a mensagem divina, que se iniciara com Moisés e fora aclarada e aperfeiçoada por Jesus. Lembremos que a condição necessária para essa nova revelação foi estabelecida pelo Mestre nas transparentes palavras “se me amais, guardai os meus mandamentos”, significando que esse Consolador prometido viria somente quando os seres humanos tivessem, pelo menos, registrado a mensagem do Evangelho e estivessem dispostos a observá-la, embora ainda não tão facilmente compreendida e praticada.
Essa assimilação certamente deveria levar algum tempo, até porque as novas ideias não são assimiladas de pronto, exigindo séculos de vivência e transformação. Dessa forma, no limiar do século XIX, vemos uma forte movimentação nas ciências, na filosofia, na sociologia, na política etc., que denota a busca de um anseio de abertura para novos patamares do pensamento e do conhecimento.
Vamos verificar um movimento libertário que deu margem a grandes modificações no mundo político e social de então, que foi a Revolução Francesa, marcada pela queda da Bastilha ocorrida em 14/07/1789, em Paris, França.
Nesse período, diz-nos Emmanuel em “A Caminho da Luz”, livro psicografado por Francisco C. Xavier, surge um dos enviados do Alto, cuja grandiosa missão era unificar e preparar o ambiente para a chegada da nova revelação. Seu nome, Napoleão Bonaparte, mas que, cego pela vaidade e ambição, teve seus pensamentos dominados pela volúpia do poder, desviando-se do roteiro que tinha aceitado e se comprometido.
Nessa mesma época, informa-nos Emmanuel também, sobre a vinda do Espírito que assumiria a identidade de Allan Kardec: “... assembleias numerosas se reúnem e confraternizam nos espaços, nas esferas mais próximas da Terra. Um dos mais lúcidos discípulos do Cristo baixa ao planeta, compenetrado de sua missão consoladora” (A Caminho da Luz – XXII – A REVOLUÇÃO FRANCESA – Emmanuel-Chico Xavier.)
Humberto de Campos, pela psicografia também de nosso querido Chico, no livro Cartas e Crônicas, descreve-nos essa assembleia ocorrida na noite de 31 de dezembro de 1799, nas esferas Superiores.
Relata que “legiões de Espíritos sábios e benevolentes” reúnem-se para marcar a entrada do novo século, e cita, entre outros, a presença de Sócrates, Platão, Aristóteles, Agostinho, Fénelon, Giordano Bruno, Tomás de Aquino, São Luís de França, São Vicente de Paulo, Spinoza, Erasmo, Gutenberg, Galileu, Pascal e Dante Alighieri.
Em dado momento, à frente de um grupo de Espíritos encarnados no planeta, temporariamente desdobrados de seus corpos físicos, está a figura de Napoleão Bonaparte, o qual é recebido por alguns desses Espíritos, que o saúdam e o acolhem, quando dos recantos do infinito abre-se uma estrada de luz, pela qual descem como que estrelas e que se transformam em figuras humanas nimbadas de luz celestial.
“Dentre todos, no entanto, um deles avultava em superioridade e beleza. Tiara rutilante brilhava-lhe na cabeça, como que a aureolar-lhe de bênçãos o olhar magnânimo, cheio de atração e doçura. Na destra, guardava um cetro dourado, a recamar-se de sublimes cintilações...”
Esse o Espírito que fora escolhido, pelo planejamento divino, a abrir os caminhos da nova revelação consoladora, que faria da mensagem cristã, deturpada e relegada aos cultos exteriores, ao longo dos séculos, agora revivificada e relembrada, restabelecendo todas as coisas.
Allan Kardec surge novamente no cenário planetário “dois meses antes de Napoleão Bonaparte sagrar-se imperador”, nascendo em Lyon aos 3 de outubro de 1804” (A Caminho da Luz – XXII – A REVOLUÇÃO FRANCESA.)
Mas quem é esse Espírito iluminado que veio nos trazer esse conhecimento da Verdade?
Em Mateus, cap. 17:10-13, o evangelista nos relata que, após a ocorrência da transfiguração no Monte Tabor, Jesus descia do monte com seus discípulos, quando estes lhe perguntaram:
- “Por que dizem, então, os escribas que é necessário que Elias venha primeiro? E Jesus, respondendo, disse-lhes:
- Em verdade Elias virá primeiro e restaurará todas as coisas. Mas digo-vos que Elias já veio, e não o conheceram, mas fizeram-lhe tudo o que quiseram. Assim farão eles também padecer o Filho do Homem. Então, entenderam os discípulos que Ele lhes falara de João Batista”.
Os apóstolos referiam-se à profecia feita por Malaquias que dizia: “Eis que eu vos enviarei o Profeta Elias, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor”. (Malaquias, IV, 5.)
Vemos nas palavras de Jesus uma clara mensagem que o Espírito Elias, que é considerado o mais poderoso dos profetas do Antigo Testamento, é João Batista, o maior profeta, aquele que foi o PRECURSOR DO CRISTIANISMO, e que voltava para anunciar a chegada do Messias, o maior enviado de Deus.
Nessa mesma ocasião o Divino Mestre, dando a conhecer a todos o grande Espírito que o precedera, como revelador da sua vinda, disse: “João é um profeta, muito mais que profeta, porque é da sua pessoa que está escrito: eis, aí envio ante a tua face o meu anjo, que há de preparar o teu caminho”.
Cairbar Schutel, o grande Apóstolo do Espiritismo no Brasil, em seu livro Parábolas e Ensinos de Jesus, afirma:
“Na Antiga Dispensação, Elias é o mais poderoso dos profetas; na Nova Dispensação, João Batista é o maior; na Novíssima, Allan Kardec é o elevado bom senso, a sublimação da profecia em seu mais elevado nível”.
E conclui: “Elias apelou para as águas e para o fogo; João para a água e para o sofrimento; Allan Kardec para o sentimento e para a razão, mas os três são um mesmo Espírito. Um fere e castiga, outro corrige e ensina, o último vivifica e salva!”
Com essa retumbante revelação feita pelo Bandeirante do Espiritismo no Brasil, ajuda-nos com sua análise precisa e consistente a entender que esse Espírito maravilhoso, que é Allan Kardec, caminha na estrada do Mestre há milênios, e que está comprometido com a completude de sua missão, junto a nós, habitantes da Terra, nos seus diversos planos da vida.
Muito bem, entendido um aspecto apenas do planejamento divino no tocante à implantação do amor no coração da humanidade, trabalho esse de enormes proporções e que demanda a infinita paciência e persistência de Espíritos abnegados, vamos abordar agora o início da missão terrena de Kardec.
O prof. Hippolyte-Léon-Denizard Rivail ficou sabendo sobre o fenômeno das mesas girantes no ano de 1854, através do Sr. Fortier, que era um magnetizador e que lhe trazia a notícia de que não eram somente as pessoas que se podiam magnetizar, mas também mesas que giravam e se movimentavam livremente.
De pronto isso não causou nenhum espanto ao Prof. Rivail, pois que entendia que o “fluido magnético, espécie de eletricidade, pode perfeitamente agir sobre os objetivos inertes e fazê-los movimentarem-se”. Em outra situação, o mesmo Sr. Fortier informa ao Prof. Rivail de que não só se podia magnetizar os objetos, como uma mesa, mas que esta também respondia a questões quando perguntada. A isso respondeu ele:
- “Isto agora, repliquei-lhe, é outra questão. Só acreditarei quando o vir e quando me provarem que uma mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir e que possa tornar-se sonâmbula. Até lá, permita que eu não veja no caso mais do que um conto para fazer-nos dormir em pé”.
Em maio de 1855, Kardec teve o seu primeiro contato com o fenômeno em casa de Sra. Plainemaison, quando assistiu a mesas que se movimentavam e ensaiavam respostas, de forma muito rudimentar, através de uma cesta. Kardec percebeu que ali havia mais coisa do que um simples divertimento. Havia uma lei natural que não era conhecida, a qual dedicou o resto de sua vida para pesquisar, entender e estabelecer um corpo de Doutrina.
Kardec recebe a primeira revelação de sua missão em 30/04/1856, na casa do Sr. Roustan, e o Espírito se manifesta, utilizando do médium que movia uma cesta de bico, instrumento inicialmente usado para obtenção das mensagens escritas.
No dia 12 de junho de 1856, por intermédio da srta. Aline, o Espírito Verdade lhe fala sobre sua missão como codificador do Espiritismo. Kardec não percebia o que poderia justificar nele tal graça, quando tantos outros possuíam talento e qualidades que ele não reunia. O Espírito Verdade confirmou o que alguns Espíritos já haviam dito, recomendando-lhe discrição, se quisesse se sair bem:
- "Não esqueças que podes triunfar, como podes falir", advertiu. "Neste último caso, outro te substituiria, porquanto os desígnios de Deus não assentam na cabeça de um homem."
Daí em diante, não parou mais de pesquisar e estudar os fenômenos, cujas análises e conclusões associadas com mensagens recebidas dos Espíritos responsáveis pela nova revelação ficaram registradas na Codificação Espírita, que é composta pelos cinco livros básicos: O Livro dos Espíritos (1857), O Livro dos Médiuns (1861), O Evangelho segundo o Espiritismo (1864), O Céu e o Inferno (1865) e A Gênese (1868). Também publicou outros livros e principalmente a Revista Espírita (1858-1869). Anos depois do seu desencarne veio à luz o livro Obras Póstumas (1890).
Seu lema, pelo qual pautou seu trabalho, foi sempre: “Observar, comparar e julgar, essa a regra que constantemente segui”.
Ao tempo de seu contato inicial com as comunicações espíritas, foi-lhe informado pelo Espírito Zéfiro, protetor da família Baudin, que ambos haviam vivido na Gália, atualmente região da França, no ano 58 a. C quando da invasão de Júlio Cesar a toda aquela região.
Informou-lhe que era um grande chefe druida, sacerdote do povo Celta, e que seu nome à época era Allan Kardec, nome que então assumiria para assinar toda a sua obra da codificação espírita, diferenciando-a de sua produção anterior como pensador, professor e pesquisador no campo da pedagogia e matemática, entre outras.
Vemos que a divulgação da nova revelação veio ao longo tempo, sempre conduzida pelo mesmo Espírito, que assumiu a missão de construir a estrada que deveria levar-nos todos em direção de Deus, por meio dos conhecimentos adquiridos ao longo de séculos.
A filosofia religiosa dos Celtas era muito avançada. Acreditavam numa divindade única. Não admitiam templos, suas cerimônias eram realizadas ao ar livre, nos campos e florestas, debaixo de grandes carvalhos. Acreditavam na imortalidade da alma, na reencarnação, no livre-arbítrio, na lei de causa e efeito, na evolução espiritual, na inexistência de penas eternas. Criam ainda na existência de esferas espirituais evolutivas e na proteção de seres superiores.
Há várias outras informações da presença de Allan Kardec entre nós, com identidades diferentes.
Por revelação mediúnica ele viveu como o mártir Jan Huss, célebre pensador, sacerdote e reformador tcheco, nascido no ano de 1369. Suas ideias libertadoras anteciparam, em quase um século, a reforma proposta por Martinho Lutero (1517), as quais confrontavam o poder papal e da igreja católica.
Vemos, portanto, que uma tarefa como a de iluminar o espírito humano para o caminho de ascensão para Deus nunca foi uma tarefa fácil e que demandou a dedicação pessoal desse Espírito de escol que, vivenciando experiências diversas, trouxe-nos o alento, a esperança e a consolação, conforme a promessa deixada por Jesus com relação à doutrina consoladora que surgiria por meio da inspiração do Espírito Verdade.
Para encerrar esta pequena reflexão, vamos recorrer novamente à mediunidade de Chico Xavier e às informações trazidas por Humberto de Campos (Espírito), que nos descreve o momento em que o mestre lionês retorna ao plano espiritual.
Diz-nos Humberto de Campos que quando o corpo de Kardec ainda não havia baixado ao túmulo, uma multidão de Espíritos veio saldar o mestre no limiar do sepulcro. Eram antigos homens do povo, seres infelizes que ele havia consolado e redimido com suas ações prestigiosas, e, quando se entregavam às mais santas expansões afetivas, uma lâmpada maravilhosa caiu do céu sobre a grande assembleia dos humildes, iluminando-a com uma luz que, por sua vez, era formada de expressões do seu “O Evangelho segundo o Espiritismo”, ao mesmo tempo em que uma voz poderosa e suave dizia do Infinito:
- “Kardec, regozija-te com a tua obra! A luz que acendeste com os teus sacrifícios na estrada escura das descrenças humanas vem felicitar-te nos pórticos misteriosos da mortalidade... O mel suave da esperança e da fé que derramaste nos corações sofredores da Terra, reconduzindo-os para a confiança da minha misericórdia, hoje se entorna em tua própria alma, fortificando-te para a claridade maravilhosa do futuro. No céu estão guardados todos os prantos que choraste e todos os sacrifícios que empreendeste... Alegra-te no Senhor, pois teus labores não ficaram perdidos. Tua palavra será uma bênção para os infelizes e desafortunados do mundo, e ao influxo de tuas obras a Terra conhecerá o Evangelho no seu novo dia!...”.
Como uma homenagem a esse querido amigo Allan Kardec, colocamos a mensagem abaixo, recebida em 2013:
Mensageiro do Amor
No limiar de nova era,hostes celestes anunciavam,Que aqui novos tempos chegavam,Renovando toda a Terra!
Descia dos céus o doce viajante,De ternura e de amor exemplo.E a luz brilhou nesse momento,assinalando o eterno instante.
Nascia o codificador,amparado pela mão divina.Trazendo ao mundo luz cristalina:O Espiritismo Consolador!
Luta árdua e espinhosa missão,Exigiram do gentil mestre lionêsintenso esforço e lucidez,Fragilizando o dócil coração.
E após fincar em solo íngreme,da nova Doutrina o fundamento.Voa de volta, livre, ao firmamento,De Jesus, o mensageiro insigne.
Um Espírito amigo(Mensagem recebida em 23/05/2013 pelo médium Paulo Oliveira.)
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