sábado, 16 de novembro de 2019

Literatura Mediúnica e Literatura Espírita


Vamos considerar literatura mediúnica o conjunto de textos atribuído a espíritos desencarnados que se comunicaram através de um médium psicógrafo consciente ou inconsciente. A literatura que chamamos espírita é aquela, mediúnica ou não, que possui um compromisso claro com a divulgação dos fenômenos espíritas ou da Doutrina Codificada por Allan Kardec em seu tríplice aspecto: filosófico, científico e religioso.

Há uma vasta produção literária obtida através da escrita automática. Este material pode ser dividido em duas partes: os textos de autores espirituais anônimos e os que foram assinados por um escritor conhecido, mas desencarnado.

No primeiro caso, o escritor-médium escreve em estado de transe todo um romance e, ao final não reconhece o texto como seu. Este foi o caso da escritora americana Harriet Beecher Stowe ( 1811- 1896) que sustentava não se reconhecer como autora do belo romance A Cabana do Pai Tomás que teria sido escrito por um espírito que se serviu dela, mas não lhe revelou o nome, preferindo manter-se incógnito. Seria interessante lembrar aqui a importância deste romance para por fim à escravidão negra nos Estados Unidos.

Um segundo caso não menos interessante é o do escritor escocês Sir Walter Scott (1771-1832 ) que escreveu o seu belo romance Ivanhoé em estado de semiconsciência. Também ele não estava certo de ter sido o verdadeiro autor deste livro pois, depois de tê-lo escrito completamente, não se lembrava da maioria das passagens do romance que lhe pareceram estranhas.

Ivanhoé é um belo romance sobre a Idade Média que se tornou filme em 1952, tendo por atores principais Robert Taylor, Elizabeth Taylor e Joan Fontaine. A direção foi de Richard Thorpe.

O terceiro caso é o do poeta inglês William Blake ( 1757-1827) que ao prefaciar o seu poema épico intitulado Jerusalém escreveu revelando grande honestidade intelectual: “ Não posso me envaidecer de ser o autor desta obra na qual fui apenas secretário, os seus autores verdadeiros estão na Eternidade” e ajuntou: “Escrevi este poema sob pressão. Às vezes, escrevia vinte ou trinta versos sem premeditação e contra a minha vontade.”

É na expressão contra a minha vontade que está a informação de que se tratava de fato de uma obra mediúnica, uma vez que havia uma outra vontade que era superior à de quem escrevia.

Um outro livro que possui o status de obra mediúnica, ditada ou inspirada é As Dores de Werther, escrito pelo poeta alemão Johann Wolfgang Goethe ( 1749- 1832). Este livro teria sido criado em estado de transe ligeiro. Goethe teria confessado que havia escrito este livro quase que de modo inconsciente, como se estivesse em estado de sonambulismo e de ter se maravilhado com a sua leitura depois da obra pronta. Era como se estivesse lendo o livro pela primeira vez.

David Herbert Laurence ( 1885-1930), prolífico escritor inglês, nos conta que escreveu toda a sua obra em estado de inconsciência e o escritor John Gals Worrthy (1867-1906) em uma de suas conferências, revelou como escrevia seus livros: ” de repente, a minha pena se movia, por um impulso e, em outro segundo acontece um impulso maior; e, depois disto, a escrita fica fluente e eu escrevo por uma hora ou duas.”

Robert Louis Stevenson ( 1850-1894) autor do famoso romance o Médico e o Monstro sonhava regularmente no intervalo de suas escritas com a matéria que deveria escrever.

Houve também casos de obras literárias, filosóficas, cientificas e históricas, conseguidas mediunicamente por autores muito modestos intelectualmente. Algumas dessas obras não possuem grande valor e outras notáveis pelo estilo e pelo conteúdo. A mais antiga delas, senão a primeira intitula-se A Vida Terrestre de Nosso Senhor Jesus Cristo e de sua Bendita Mãe, escrita pela freira alemã Anna Catherine Emmerich, publicada em 1883.

Nos Estados Unidos, em 1852, surgiu uma obra chamada Peregrinação, escrita por Thomas Payne. Em 1854, veio à luz um outro livro que se intitulava Arcanos da Natureza, obra cientifica escrita por um simples agricultor com 17 anos chamado Hudson Tuttle. Este trabalho foi apreciado e valorizado por homens de ciência como Darwin e Büchner.

O interessante e inexplicável é o fato de que nos Arcanos, existem citações de obras cientificas estrangeiras, muitas delas raras que o autor não poderia conhecer em virtude de sua escassa bagagem cultural. Semelhante a esta obra é o livro de Andrews Jackson Davis, Princípio da Natureza, cujo médium era um jovem, à época, tão ignorante quanto Hudson Tuttle.

Mais tarde, Davis que possuía faculdade mediúnica de cura, formou-se em medicina para poder exercer a sua faculdade dentro da lei. Nos anos do século XX, a Senhora John H. Curran escreveu, sob o domínio de uma personalidade desencarnada que se identificou como Patient Worth, poemas, em inglês medieval de grande pureza, entre os quais se destaca o poema Telka.

Na França, por volta de 1850, uma adolescente de 14 anos por nome Hermance Dufeaux, escreveu dois livros chamados respectivamente: Joana D’Arc e As Confissões de Luiz XI, ditadas pelos próprios protagonistas. É interessante ressaltar que as particularidades históricas como datas e fatos principais estão exatas. Ainda em França, entre 1928 e 1931, foi publicada uma outra obra mediúnica intitulada As Cartas de Pedro com um profundo conteúdo moral.

Na Inglaterra, entre 1870 e 1880, o Reverendo William Stainton Moses publicou uma série de cartas mediúnicas que suscitaram grande interesse.

Em 1876, um homem inculto por nome David Duguid escreveu um romance que se chamou Hafed, O Príncipe Persa que foi recebido mediunicamente. Dois anos mais tarde, este mesmo médium lançou um outro livro cujo título era Hermes, O Discípulo de Jesus que estava recheado de informações históricas que, por certo, Duguid não conhecia.

Entre 1893 e 1897, o jornalista William T Stead, leva ao público em sua revista chamada Bordland, uma obra por nome As Cartas de Júlia, que teria sido ditada por sua colega Julia Ames que há pouco havia desencarnado. Estas cartas foram publicadas em um volume com o título de After Death ou Depois da Morte.

Entre 1918 e 1927, com grande ressonância, o arqueólogo Frederich Blegh Bond, publicou Contos de Glastonbury, que conta a história dessa famosa Abadia que serve de matéria para os contos a Lenda do Rei Arthur e a Demanda do Santo Graal. O livro teria sido ditado por monges do século XI e XIV entre os quais se encontra o monge Johannes Briyant que viveu em Glastonbury entre 1497 a 1534.

Em 1830, surgiram três livros de origem mediúnica escritas pelo médium Geraldine Cummings que possuíam os seguintes títulos: Os Escritos de Cleofas, Paulo de Atenas e os Grandes Dias de Éfeso. Estes livros teriam por finalidade contar a vida das primeiras comunidades cristãs.

Entre os livros escritos e assinados por autores desencarnados encontra-se o romance The Romance of Edwin Drood, publicado em 1874. O autor seria o célebre romancista inglês Charles Dickens e o médium um mecânico americano chamado R. P. James.

O texto foi examinado por diversos críticos literários que o consideram autêntico em razão de sua semelhança com o estilo de Dickens. Neste caso, aconteceu um fato digno de nota: um estudioso da obra de Dickens descobriu, entre as cartas do romancista, um capítulo inteiro destinado a ser incluído no romance mediúnico ao qual a narrativa de James não fazia a menor referência. Achou-se, então, estranho que o autor espiritual houvesse se esquecido deste capitulo, ao escrever a sua novela. De nosso ponto de vista, este fato não inviabiliza a origem mediúnica desta novela, ao contrário, a confirma.

José Carlos Leal

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