A capacitação permanente é um dos requisitos fundamentais para que um evangelizador espírita consiga desincumbir-se a contento da sublime tarefa que abraçou. Capacitação aqui significa desenvolver e aperfeiçoar capacidades, desenvolver as que se encontram latentes e aperfeiçoar as que já estejam afloradas.
Capacitamos-nos quando estudamos com regularidade, continuidade e recolhimento o Espiritismo, conforme a proposta do Codificador, na introdução ao estudo da Doutrina Espírita, de O Livro dos Espíritos. Igualmente, quando participamos de encontros que ensejam reflexões e estímulos para mudanças, ouvimos os evangelizadores mais experientes e nos abrimos para aprender com os mais novos. Outro aspecto dessa capacitação, que é primordial, e sem o qual o anterior ficará comprometido, é a própria transformação moral do evangelizador, pois serão seus exemplos, mais do que suas palavras e práticas pedagógicas, que irão sensibilizar os evangelizandos.
A expressão evangelizador espírita é proposital e serve para distinguir quem evangeliza à luz do Espiritismo daqueles que evangelizam à luz de outra denominação religiosa que se apoie ou diga se apoiar no Cristianismo. Não se trata de um preciosismo, mas de uma distinção definidora de postura.
Significa ler e interpretar o Evangelho pela ótica da Doutrina Espírita, isto é, com racionalidade, lógica, retirando o espírito da letra, com respeito à diversidade cultural, étnica, econômica, social, religiosa, sexual, por meio de práticas libertadoras onde o Espírito reencarnado seja convidado a ampliar seu campo de consciência, se conhecendo e se solidarizando com as necessidades do seu próximo.
Outra distinção relevante é aquela que nos conduz a pensar que evangelizar com o Espiritismo é diferente de evangelizar para o Espiritismo.
Quando evangelizamos com o Espiritismo estamos baseando nosso planejamento e tudo o que ele comporta (conteúdos, concepção de ensino e de aprendizagem, critérios de avaliação, metodologia, fins, objetivos, recursos, grau de participação dos evangelizandos e seus respectivos pais etc.) na visão de mundo, de ser humano e de evolução que o Espiritismo engloba. Nesse caso, a proposta educativa espírita define os nossos objetivos e se constitui no eixo, no norte mesmo de tudo que venhamos a incluir ou excluir em nossa prática evangelizadora.
É próprio dessa perspectiva, trabalharmos visando a formação do homem de bem, do cidadão consciente, com visão crítica, política, cultural, mas com tudo isso alicerçado e permeado pelo Evangelho segundo a interpretação espírita. Nessa ótica, não se deve perder de vista que a família e a escola são agentes que se associam ao nosso trabalho, ora convergindo ora divergindo, mas atuando decisivamente na formação daqueles que estamos evangelizando.
Quando pensamos em evangelizar para o Espiritismo, definimos uma visão e uma postura estreita, onde os objetivos podem se restringir a formar futuros trabalhadores para as casas espíritas, pessoas que pensem na Doutrina como um fim e não como um meio de aperfeiçoamento intra e interpessoal.
Nesse caso, o foco é formar espíritas e, caso alcancemos esse objetivo de caráter tão estreito, esse seria o principal indicador de êxito da nossa ação evangelizadora.
Interessante também pensar que nem todo educador é um evangelizador, mas todo bom evangelizador espírita há de ser um genuíno e verdadeiro educador.
A competência para essa sublime tarefa também pode vir com o tempo, com o aprendizado recolhido dos êxitos e fracassos e ainda que traga experiências reencarnatórias relevantes, o evangelizador espírita não estará dispensado da tarefa de ampliar seus conhecimentos e melhorar-se moralmente.
Allan Kardec aponta em nota da questão 917 de O Livro dos Espíritos, três importantes e acessíveis requisitos que todo evangelizador pode e deve adquirir. Diz o Codificador que a educação é a chave do progresso moral, é uma arte que nos permite manejar os caracteres ou características dos educandos e que é preciso para entendê-la, assim como entendemos e manejamos as inteligências, da presença de tato, muita experiência e profunda observação.
Sabemos que a experiência vem com o tempo, da mesma maneira que o tato e a profunda observação. Para isso é importante que o evangelizador queira evangelizar evangelizando-se, que se identifique com esse tipo de tarefa, goste de estudar, tenha curiosidade em aprender e tenha também uma razoável autoestima, de modo que consiga convencer (esclarecer) e converter (tocar o coração) dos seus evangelizandos.
A presença de uma boa autoestima facilitará o trabalho de conduzir os evangelizandos a uma autoaceitação do que são e como são, instrumentalizando-os com coragem e conhecimentos para as transformações necessárias que vieram fazer.
Parafraseando Allan Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo, quando escreve sobre Os bons espíritas, no capítulo XVII, item 4, diremos que se reconhece o verdadeiro evangelizador por sua vontade em manter-se permanentemente atualizado e pelos esforços constantes que emprega em aplicar a si o que ensina aos seus evangelizandos.
Cezar Braga Said
Fonte: Mundo Espírita - FEP (Federação Espírita do Paraná)
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