O Imarcescível e Verdadeiro significado Existencial
Quem não cultiva um ideal religioso encontra-se fora do Fulcro Gerador da vida
Aprendemos com André Luiz(*) que “(...) Moisés reencarnou como missionário da renovação, para dar à mente do povo a concepção do Deus Único, transferindo-a dos recintos iniciáticos para a praça pública.
Entretanto, porque a evolução dos princípios religiosos implica sempre em levantamento dos costumes, com a elevação da alma, o desbravador enfrentou batalhas terríveis do pensamento acomodado aos circuitos da tradição em que as classes se exploram mutuamente, agravando assim os próprios compromissos, para afinal receber os fundamentos da Lei, no Sinai. Desde essa hora, o conhecimento religioso, baseado na Justiça Cósmica, generaliza-se no âmago das nações, porquanto, através da mensagem de Moisés, informa-se o homem comum de que, perante Deus, o Senhor do Universo e da vida, é obrigado a respeitar o direito dos semelhantes para que seja igualmente respeitado, reconhecendo que ele e o próximo são irmãos entre si, filhos de um Pai Único. A religião passa, desse modo, a atuar, em sentido direto, no acrisolamento do corpo espiritual para a Vida Maior, através da educação dos hábitos humanos a se depurarem no cadinho dos séculos, preparando a chegada do Cristo, o Governador Espiritual da Terra.
OS Dez Mandamentos
Os dez mandamentos, recebidos mediunicamente pelo profeta, brilham ainda hoje por alicerce de luz na edificação do direito, dentro da ordem social. A palavra da Esfera Superior gravava a lei de causa e efeito para o homem, advertindo-o solenemente: consagra amor supremo ao Pai de Bondade Eterna, n’Ele reconhecendo a tua divina origem; precata-te contra os enganos do antropomorfismo, porque padronizar os atributos divinos absolutos pelos acanhados atributos humanos é cair em perigosas armadilhas da vaidade e do orgulho; abstém-te de envolver o Julgamento Divino na estreiteza de teus julgamentos; recorda o impositivo da meditação em teu favor e em benefício daqueles que te atendem na esfera de trabalho, para que possas assimilar com segurança os valores da experiência; lembra-te de que a dívida para com teus pais terrestres é sempre insolvável por sua natureza sublime; responsabilizar-te-ás pelas vidas que deliberadamente extinguires; foge de obscurecer ou conturbar o sentimento alheio, porque o cálculo delituoso emite ondas de força desorientada que voltarão sobre ti mesmo; evita a apropriação indébita para que não agraves as próprias dívidas; desterra de teus lábios toda palavra dolosa a fim de que se não transforme, um dia, em tropeço para os teus pés; acautela-te contra a inveja e o despeito, a inconformação e o ciúme, aprendendo a conquistar alegria e tranquilidade, ao preço do esforço próprio, porque os teus pensamentos te precedem os passos, plasmando-te, hoje, o caminho de amanhã.
Jesus e Religião
Entanto, com Jesus, a religião, como sistema educativo, alcança eminência inimaginável: Nem templos de pedra, nem rituais; nem hierarquias efêmeras, nem avanço ao poder humano... O Mestre desaferrolha as arcas do conhecimento enobrecido e distribui-lhe os tesouros.
Dirige-Se aos homens simples de coração, curvados para a gleba do sofrimento e ergue-lhes a cabeça trêmula para o Céu. Aproxima-se de quantos desconhecem a sublimidade dos próprios destinos e assopra-lhes a Verdade, vazada em amor, para que o Sol da esperança lhes renasça no ser. Abraça os deserdados e fala-lhes da Providência Infinita. Reúne, em torno de Sua glória que a humildade escondia, os velhos e os doentes, os cansados e os tristes, os pobres e os oprimidos, as mães sofredoras e as crianças abandonadas e entrega-lhes as bem-aventuranças celestes.
Ensina que a felicidade não pode nascer das posses efêmeras que se transferem de mão em mão, e sim da caridade e do entendimento, da modéstia e do trabalho, da tolerância e do perdão. Afirma-lhes que a Casa de Deus está constituída por muitas moradas, nos mundos que enxameiam o firmamento, e que o homem deve nascer de novo para progredir na direção da Sabedoria Divina. Proclama que a morte não existe e que a Criação é beleza e segurança, alegria e vitória em plena Imortalidade... Pelas revelações com que vence a superstição e o crime, a violência e a perversidade, paga na cruz o imposto de extremo sacrifício aos preconceitos humanos que Lhe não perdoam a soberana grandeza, mas, reaparecendo redivivo, para a mesma Humanidade que O escarnecera, desvenda-lhe, em novo cântico de humildade, a excelsitude da Vida Eterna.
Revivescencia do Cristianismo
Erige-se, desde então, o Evangelho em código de harmonia, inspirando o devotamento ao bem de todos até o sacrifício voluntário, a fraternidade viva, o serviço infatigável aos semelhantes e o perdão sem limites. Iniciam-se em todo o orbe imensas alterações: a crueldade metódica cede lugar à compaixão; os troféus sanguinolentos da guerra desertam dos santuários; a escravidão de homens livres é sacudida nos fundamentos para que se anule de vez; levanta-se a mulher da condição de alimária para a dignidade humana; a filosofia e a ciência admitem a caridade no governo dos povos; o ideal da solidariedade pura começa a fulgir sobre a fronte do mundo... Moisés instalara o princípio da justiça, coordenando a vida e influenciando-a de fora para dentro. Jesus inaugurou na Terra o princípio do amor, a exteriorizar-se do coração, de dentro para fora, traçando-lhe a rota para Deus.
Eis que o Cristianismo grandioso e simples ressurge agora no Espiritismo, induzindo-nos à sublimação da vida íntima, para que nossa alma se liberte da sombra que a densifica, encaminhando-se, renovada, para as culminâncias da Luz”.
É no sentimento religioso que vamos encontrar o imarcescível e verdadeiro significado existencial, com o qual lograremos vencer as nocivas pressões internas do “Self”e as variegadas injunções externas adversas.
Segundo Joanna de Ângelis(**), “(...) A descoberta do significado da vida é de relevante magnitude, porque dá sentido à luta e aos desafios que surgem frequentemente, convidando o indivíduo ao avanço e ao crescimento interior. Esse sentido existencial é uma forma de religiosidade que deve possuir um alto significado motivador para que o indivíduo não desfaleça nos empreendimentos evolutivos.
(...) Se não cultiva um ideal religioso encontra-se fora do Fulcro Gerador da vida, e, desse modo, desfalece com mais facilidade, por encerrar na anóxia cerebral e, portanto, na morte orgânica todos os objetivos existenciais, o que não deixa de ser um grande engano. Há, mesmo, nesse tópico, indivíduos que, em se vinculando aos ideais de engrandecimento humano, tornam-nos sua religião, na qual se realizam e desenvolvem outros contingentes de forças físicas, morais e psíquicas que os auxiliam nos enfrentamentos, tornando-os heróis internos, em si mesmos, vencedores de alto significado. (...) O esforço para encontrar-se o significado existencial deve ser contínuo, porquanto, a sua falta, o seu não conhecimento, pode produzir transtornos internos que dão surgimento a processos psiconeuróticos.
Pessoas inteligentes, lúcidas, estoicas, bem situadas financeiramente, amadas, quando perdem o sentido da vida e tombam nesse vazio existencial, que a religião sempre preenche oferecendo metas transpessoais, sentindo-se inúteis, desenvolvem transtornos neuróticos que necessitam ser superados, reencontrando a razão de ser da vida, a utilidade de viver, as imensas possibilidades que lhe estão ao alcance para se tornarem felizes e plenas.
São, portanto, valores subjetivos, como a oração, a meditação, a reflexão, a calma e o trabalho em favor da renovação pessoal, que conseguem preencher emocionalmente, reestruturando o indivíduo em relação à existência humana.
Essa viagem silenciosa é intemporal, não podendo ser realizada em determinado período de tempo, através de objetivos imediatos, mas por meio de experiências psíquicas e emocionais que transcendem a consciência atual, oferecendo-lhe meta segura mais adiante.
A necessidade da religião ressalta pelo significado profundo de que se reveste, oferecendo compensação e equilíbrio após a vilegiatura carnal.
Então, o significado existencial incorpora-se ao consciente atual e estimula as funções do pensamento, que passarão a trabalhar pela qualidade de vida e não apenas pela conquista de coisas que poderiam pressupor a totalidade externa das aquisições.
(...) Uma identificação religiosa do indivíduo, trabalhará em favor da mudança das ambições desmedidas para a conquista do necessário, daquilo que produz poder e prazer, mas que não se transforma em gozo neurotizante de funestas consequências.
O ser humano deve aprender a ser feliz conforme as circunstâncias, introjetando e vivendo a compreensão da sua transitoriedade física e da sua Eternidade espiritual”.
Provavelmente, por ter logrado os luminíferos acumes da paz, por viver religiosamente, pautado nos sadios costumes cristãos, segundo essas luminosas indicações de Joanna de Ângelis, é que Sanson(***), apenas passados dois dias de sua desencarnação, exorou: “(...) Vivei sabiamente, santamente, pela caridade e pelo amor, e tereis feito jus a impressões e delícias que o maior dos poetas não saberia descrever”.
Referências
(*) XAVIER, F. Cândido. Evolução em Dois Mundos. 7.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1983, cap. XX.
(**) FRANCO, Divaldo. Triunfo Pessoal. Salvador: LEAL, 2002, cap. 9.
(***)KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. 51.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2003, 2ª parte, cap. I, item 8.
Artigo publicado no Jornal Espírita O Imortal, abril 2013.
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