quinta-feira, 7 de julho de 2011

A Arte Poética da Trova através da Psicografia de Chico Xavier


Parnaso de Além Túmulo é lançado pela Federação Espírita Brasileira (FEB) em 9 de julho de 1932; nesta obra, além de vários imortais desencarnados e assinantes de poemas na forma de sonetos e versos livres, comparecem compositores de trovas e de quadras, quais: o portenho Antônio Nobre; o juiz forense Belmiro Belarmino de Barros Braga, denominado por Alves Cerqueira de "Rouxinol Mineiro"; o vassourense Casimiro Cunha.

A diferença entre quadras e trovas é o modo de composição ou a forma poética: a trova compõe-se de quatro versos setissilábicos (de sete sílabas), de sentido completo e aonde pelo menos o final do segundo e quarto versos são rimados; a quadra compõe-se de vários versos, distribuídos em quadras, não tendo cada quadra sentido completo em relação às demais nem necessariamente coordenação das rimas.

Notável é o fato de que, às vezes, mesmo quando o poeta opta por compor quadras, pode-se dar independência a várias quadras e, nesse caso, tornam-se trovas porque cada composição de quatro versos setissilábicos possui sentido completo, com pelo menos o final do segundo e quarto versos rimando. É o que se pode conferir em o Parnaso... Nas 26 composições de Antônio Nobre (16/08/1867 - 18/03/1900) agrupadas com o título "Quadras de um poeta morto"; nas dez trovas agrupadas sob o título de "Bilhetes" e nas seis trovas agrupadas sob o título de "Quadras" de Belmiro Braga (7/01/1872 - 31/3/1937); em Casimiro Cunha (14/04/1880 - 7/11/1914) encontram-se sete trovas agrupadas sob o título "Pensamentos espíritas", uma trova das duas quadras agrupadas com o título "Sombra e Luz", uma trova da composição agrupada de onze quadras sob o título "Ao meu caro Quintão", duas trovas da composição agrupada em seis quadras sob o título "Espiritismo", seis trovas da composição de oito quadras agrupadas sob o título "Aos companheiros da Doutrina".

Vale ainda destacar um fato revolucionário na obra poética de estréia aonde se pode pesquisar a qualidade ímpar da mediunidade psicográfica de Chico Xavier: o Parnaso, lançado em 1932, é obra coletiva, tanto do ponto de vista da autoria quanto das formas variadas de se fazer Arte Poética.

Conquanto demonstrando sua individualidade inquestionável, os poetas comparecem juntos e lançam obra temática única: além de ser uma antecipação mediúnica no modo de se publicar livros em prosa ou em verso é um golpe sobre a vaidade das estréias individuais consagrando autores e, também, sobre a suposta supremacia de uma forma poética diante da outra.

Uma revolução é o Parnaso: os autores da obra são vários e estavam supostamente mortos; o escritor da obra é, na verdade, o seu médium - a mão material da qual se servem aqueles autores para continuarem escrevendo suas poesias, em seus diversos modos.

Ainda vale destacar cinco finalidades básicas da obra Parnaso:

- atestar a certeza da imortalidade do espírito após a morte física;

- afirmar a individualidade do espírito após a morte do corpo;

- demonstrar a não ociosidade da vida após a morte;

- ratificar o mesmo "modo de dizer" do Espírito, ou seja, o seu estilo, embora o "modo de ver" seja diferente uma vez que se desvencilhou dos laços materiais e assumiu a integral personalidade que o distingue além do fato óbvio de desenvolvimento na erraticidade;

- evidenciar a relação comunicativa entre o mundo espiritual e o mundo corporal.

Após o lançamento de o Parnaso, e notadamente a partir dos anos da década de 1940, parece haver o testemunho de um planejamento espiritual para a divulgação da Arte Poética da Trova através da psicografia de Chico Xavier; se não há tal planejamento, há pelo menos uma notável preferência dos poetas para se expressarem pela trova.

A expressão poética da arte, notadamente na forma de trova, torna-se um sucesso editorial na bibliografia mediúnica de Chico Xavier; em 1994, por exemplo, a FEB lançava a 15ª. Edição de o Parnaso, totalizando naquele momento 83 mil exemplares vendidos.

No prefácio de 1964 para a obra mediúnica Trovadores do Além, Elias Barbosa afirma que os poetas desencarnados acompanham passo a passo às tendências da literatura na Terra: parece-me, pelo menos quanto à obra trovadoresca psicografada por Chico Xavier, que se dá o contrário: a literatura no mundo corporal ecoa um planejamento antecipado, um movimento poético iniciado no mundo espiritual.

O movimento trovadoresco no Brasil tem como marco inicial à publicação em 1907 do livro Descantes, sob a coordenação de Ademar Tavares e mais outros estudantes da cidade do Recife, entre os quais estão Belmiro Braga, Soares Bulcão, Franclin Coutinho, Heitor Beltrão. Todos estes poetas trovadores comparecem mediunicamente pelo lápis de Chico Xavier dando continuidade à sua escrita e ao seus peculiares estilos após a morte do corpo físico.

No ano de 1948, iniciou-se na Bahia movimento trovista liderado pelo cordelista Rodolfo Coelho Cavalcante, fundador do Grêmio Brasileiro de Trovadores (GBT), organização que presidiu o trovismo nacional até o ano de 1966.

No GBT o trovismo era passível de modificação, considerando trova qualquer tipo de antiga, tanto a quadra comum quanto às cantorias de feira, ao som de viola e as estórias de cordel.

A partir de 1951, o odontólogo e poeta carioca Gilson de Castro (1916-1977) conhecido pelo pseudônimo de Luiz Otávio inicia pesquisa sobre os trovadores brasileiros, razão porque a Arte Poética da Trova vai ganhando popularidade em jornais, livros e revistas.

Luiz Otávio lança em 1956 a antologia Meus Irmãos, os Trovadores com 2000 trovas e mais de seiscentos poetas, sistematizando as regras de composição da trova, até hoje seguidas pela União Brasileira dos Trovadores (UBT); em 1960, contando com a colaboração de J. G. de Araújo Jorge, Luiz Otávio lançou o I Jogos Florais de Nova Friburgo; em 1963 o antologista Álvaro Faria lança a obra Trovadores Brasileiros.

Em 21 de agosto de 1966, no Rio de Janeiro, foi fundada a UBT com o objetivo de congregar a quase totalidade dos trovadores ativistas: sua sede e foro estava na cidade do Rio de Janeiro, oficialmente instalados em primeiro de março de 1967 em todo território nacional por Seções (nos Estados) e por Delegacias (nos Municípios).

A criação da União Brasileira dos Trovadores nasce das divergências conceituais sobre a trova e o jogo das vaidades acadêmicas dividindo poetas do Nordeste com o Grêmio Brasileiro dos Trovadores e poetas do Sul e Centro-Oeste.

Ao se iniciar e se constituir o movimento nacional trovadoresco a partir do final dos anos de 1940, a Arte Poética da Trova já está sistematizada e nacionalmente divulgada na obra mediúnica de Chico Xavier através de vários poetas desencarnados.


Carlos Roberto Fernandes


Trecho do artigo" Ciência e política na arte poética de Chico Xavier", de Carlos Roberto Fernandes publicado no portal "A Serviço do Espiritismo".


Imagem do Portal Filmes.etc.br

Nenhum comentário:

^