quarta-feira, 20 de julho de 2011

O Poeta Rodrigues de Abreu
















Encontro Divino

Quando o aprendiz desditoso
Contemplou toda a luz
Que o Mestre lhe trazia,
A Terra transformou-se
Aos seus olhos em pranto.

Renovado e feliz
Reconheceu que a lama
Era adubo sublime;
Notou em cada espinho
Uma vara de flores
E descobriu que a dor,
Em toda parte, é dádiva celeste.

Assombrado.
Viu-se, enfim, tal qual era
Um filho de Deus-Pai
Ligado em si à Humanidade inteira.

Descortinou mil sendas para o bem
No chão duro que lhe queimava os pés.
Encontrou primaveras
Sob o frio hibernal
E antegozou colheitas multiformes
Na sementeira frágil e enfermiça.

Deslumbrando,
Sentiu nas flores, estrelas mudas,
Nas fontes, bênçãos do céu exiladas no solo,
E nas vozes humildes da natureza
O cântico da vida
A Bondade Imortal.

Abrira-se-lhe n’alma o Grande Entendimento...
Não conseguiu articular palavra
À frente do mistério.
Somente o pranto
De alegria profunda
Orvalhou-lhe o semblante em êxtase divino.

E, desde então,
Passou a servir sem cessar,
Dentro de indevassável silêncio,
Qual se o Mestre e ele se bastassem um ao outro,
Morando juntos para sempre,
À maneira de duas almas
Vivendo num só corpo
Ou de dois astros
A brilharem unidos,
Em pulsações de luz,
No Coração do Amor.


Rodrigues de Abreu*

Do livro "Nosso Livro", de Francisco Cândido Xavier, por Espíritos diversos.



(*)Benedito Luis Rodrigues de Abreu, nasceu em Capivari em 27 de setembro de 1897, aos sete ano passou a morar em Piracicaba, onde começou os estudos em "escola de sítio". Aos 12 anos foi para São Paulo com a família, passou a morar primeiro no Brás, depois na Vila Buarque. Neste bairro passou a trabalhar em uma farmácia com entregas à domicílio, até ser internado no "Liceu Coração de Jesus", para aprender uma profissão.

Em maio de 1918 voltou com a família para Capivari onde trabalhou na Caixa de Crédito Agrícola. O contato com a poesia aconteceu no colégio. Rodrigues de Abreu aprendeu métrica lendo Simões Dias e sua primeira composição, de acordo com amigos foi: "O Famélico". Para esta obra se inspirou no "Pedro Ivo" de Castro Alves.

As obras mais antigas do poeta capivariano foram descobertas pelo professor Carlos Lopes de Mattos (in: "Vida, Paixão e Poesia de Rodrigues de Abreu", gráfica e editora do Lar/ABC do Interior, 1986). Elas eram intituladas: "O Caminho do Exílio" e "A Virgem Maria", ambas publicadas na revista "Ave Maria", em novembro e dezembro de 1916.

Em Capivari os poemas dele eram publicados nos jornais locais "Gazeta de Capivari" e "O Município". Além de poeta, Abreu era orador talentoso, grande ator e desportista. Foi centro-avante do "Capivariano F.C.", para o qual compôs o hino oficial.

Ele fundou o "Grêmio Literário e Recreativo de Capivari", grupo que encenou "Capivari em Camisola", escrita por Epaminondas de Almeida, na parte em prosa e por Rodrigues de Abreu nas passagens em versos.

O seu livro de estréia deveria ter sido "Folhas", que foi submetido à apreciação de Amadeu Amaral, que se referiu assim à obra: "Depois de Olavo Bilac e Martins Fontes, é o melhor livro de estréia que tenho visto". Contudo, devido a dificuldades de publicá-lo e levado pelo interesse de seu primeiro editor (Amadeu Castanho, redator da "Gazeta de Piracicaba") de publicar o que o jovem escritor desejasse, antes de "Folhas" surgiu "Noturnos", de junho de 1919, mas que tudo indica seja de junho de 1921.

Trabalhou com Amadeu Amaral em "A Cigarra", em São Paulo, em 1921 e em 1922 foi para Bauru. Dois anos depois teve que ser internado em Campos do Jordão, devido à tuberculose.
É nessa época que lança "A Sala dos Passos Perdidos" e passa a assinar "Rodrigues de Abreu" por sugestão de Amaral.

Em 1925 mudou-se para São José dos Campos, viveu até abril de 1927.


Fonte da Biografia: Trecho extraído do livro "Noturnos e outros Poemas" / Portal São Francisco

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