sexta-feira, 23 de setembro de 2022

O pioneiro da divulgação do Espiritismo pela internet diz como tudo começou

 


Por: Orson Peter Carrara

Espírita desde 1975, natural de Botucatu (SP), atualmente radicado na cidade de Pirassununga (SP), Raul Franzolin Neto é médico veterinário e professor universitário aposentado. Vinculado ao Grupo de Estudos Avançados Espíritas (GEAE), é seu principal editor e coordenador das Reuniões Virtuais do GEAE. Suas respostas à nossa entrevista falam dos progressos da divulgação espírita pela internet.

O que é o GEAE e quando surgiu?

O Grupo de Estudos Avançados Espíritas (GEAE) é um grupo virtual espírita que atua pela internet desde 15 de outubro de 1992. O GEAE surgiu nos Estados Unidos, quando eu estava fazendo um programa de pós-doutorado na universidade em Wooster-OH. Na época estávamos principiando o grande avanço da internet e usávamos equipamentos muito rudimentares. Não existiam páginas www nem redes sociais como temos hoje, Facebook, Twitter, Instagram etc. Tudo começou com uma mensagem que enviei na rede chamada Brasnet informando da formação do grupo interessado em debater temas sobre a vida sob a visão espírita codificada por Allan Kardec. Começamos distribuindo um boletim semanal e formando um cadastro de integrantes do GEAE. Os Boletins eram redigidos com a participação dos membros que nos enviavam mensagens com debates, textos etc. Em 1995, o GEAE criou também a primeira página espírita da internet desenvolvida por Sérgio Freitas, que estava fazendo estudos em Portugal. A nossa página atual foi reestruturada no final de 2015. Disponibilizamos a coleção completa dos Boletins (570), artigos, banco de teses, dissertações espíritas etc., e passamos a gerar um novo cadastro de membros do GEAE. Em outubro de 2017 decidimos encerrar as edições dos boletins devido ao crescente número desse tipo de comunicação eletrônica. Iniciamos um novo projeto em 2018, as Reuniões Virtuais do GEAE, que ocorrem a cada duas semanas. O site do GEAE pode ser acessado em: www.geae.net.br

O que orientou sua fundação e quais os critérios estabelecidos?

Fomos orientados pela equipe espiritual para iniciar um trabalho muito importante, que é a divulgação do Espiritismo pela via eletrônica de computadores, a rede internacional (internet) e outras. Seguimos sempre os critérios estabelecidos pela codificação espírita e o próprio Kardec, dedicação, seriedade, respeito ao próximo e uso constante do crivo da razão nos diversos temas abordados e publicações.

De conteúdo tão rico e variado, como tem sido a repercussão?

O trabalho do GEAE é apenas uma pequena gota de contribuição ao projeto Terra Regenerada. Nossa página sempre foi bem acessada. Lembro-me de uma vez que recebi uma carta de um senhor já idoso de Ribeirão Preto, que me solicitou cópias dos Boletins impressos para acompanhar o GEAE, pois não tinha acesso ao computador. Outro me enviou mensagem dizendo que estava lendo todos os Boletins desde o primeiro número. Manifestações como essas foram apoios fundamentais para a continuidade do trabalho. No movimento espírita acredito que o GEAE já é conhecido. O querido irmão Divaldo Pereira Franco conhece o trabalho do GEAE e, inclusive, nos brindou em 1997 com uma entrevista eletrônica exclusiva. Em meados de 2000 trocamos alguns e-mails que foram muito confortantes.

Tendo sido pioneiro na internet, como foi essa experiência?

Essa experiência foi incrível, principalmente no início, no qual, após plantar uma semente, ela criou fortes raízes e colhemos bons frutos. Mas tivemos momentos de turbulências causadas por preconceitos e dificuldades devido ao envolvimento profissional dos editores. Com meu retorno ao Brasil em 1993, as edições ficaram a cargo de um grande amigo que conheci nos EUA, o único que tive a felicidade de conviver presencialmente por alguns meses e nunca mais. O José Cid assumiu as edições dos Boletins e quando retornou ao Brasil em 1996, montamos um Conselho Editorial. Logo em seguida, O Carlos Alberto Iglesia Bernado assumiu as edições por longo tempo. Juntaram-se também ao GEAE o Ademir Xavier, o Antonio Leite e o Alexandre Fontes da Fonseca, que criaram o Boletim em inglês, The Spiritist Messenger. Foram publicados 113 boletins em inglês, de 1997 a 2009. Tivemos também algumas edições em espanhol, Mensajero Espirita, editado pelo Carlos. Vivenciamos momentos felizes compartilhados com muita gente.

De suas lembranças dessa iniciativa o que sobressai?

Cerca de um ano antes de viajar aos Estados Unidos, recebi uma orientação espiritual através de minha psicografia de que a viagem seria muito importante e que eu iria conhecer pessoas envolvidas com Espiritismo. Minha expectativa era então muito grande e estava ansioso para a viagem. Depois de me estabelecer na cidade em pouco tempo fiquei decepcionado, pois não havia nenhuma casa espírita e não conheci ninguém que pudesse falar sobre Espiritismo. Depois de 6 a 7 meses já acreditava que havia ocorrido um problema de comunicação mediúnica. Entretanto, após cerca de oito meses nos EUA, recebi uma mensagem de um amigo brasileiro que me orientou a me cadastrar na rede Brasnet formada por pesquisadores, professores e estudantes que viviam no exterior. Após algumas semanas acompanhando intensos debates veio a feliz intuição de enviar uma mensagem na rede com a criação do GEAE e, para minha surpresa, a mensagem foi muito bem recebida. Assim, percebi claramente que a orientação espiritual não se referia a pessoas presenciais e sim a pessoas virtualmente. Não poderia imaginar isso, pois não conhecia a internet antes de viajar.

Atualmente como avalia o uso da net na difusão espírita?

A respeito desta pergunta refleti que já havia escrito algo sobre isso para um boletim impresso com o tema “As possibilidades do Espiritismo pela internet” e pensei: - Devo ter um exemplar guardado desse artigo e vou dar uma olhada. O que aconteceu? Não o encontrei. Então consultei o famoso Google, e lá está o texto completo em alguns segundos. Assim, ao pensarmos num grande projeto espiritual para a mudança evolutiva da Terra, não há nada mais importante do que a comunicação entre os povos de forma eficiente.

O Espiritismo é chamado a atuar na internet de maneira a contribuir para o novo tempo e crescerá cada vez mais. Junto à internet há também milhares de informações paralelas e as fake news. Mas isso também sempre existiu na humanidade. Somente a verdade triunfará! E o Espiritismo como consolador prometido avançará sempre!

Considera que o movimento espírita tem-se utilizado dessa poderosa ferramenta de comunicação virtual para o trabalho de divulgação?

Quando iniciamos o GEAE era uma grande novidade ver o Espiritismo eletrônico. Muita apreensão e expectativa. Hoje, o Espiritismo avança a passos largos, como deve ser. São milhares e milhares de grupos existentes e surgem novos dia a dia em todo o planeta. Kardec certamente está muito feliz em ver tão grandioso trabalho se espalhar tão rapidamente pelo mundo. Não mais como ele fazia ao ler carta por carta, conversas por conversas, escritas na ponta de pena sob a luz de vela. Como foi tudo tão difícil naquela época e ele (o Espiritismo) triunfou! O movimento espírita já está entrando fortemente no mundo virtual, mas muito ainda há que expandir. Reuniões virtuais com debates e apoio em todas as partes do globo serão comuns em futuro breve. As ferramentas de tradução simultânea já estão ganhando espaço e logo o idioma não será mais problema de comunicação entre os povos. Considero que até as federações, como a FEB, devem ampliar a participação de grupos virtuais em seus estatutos para melhor atender à demanda mundial.

Algo marcante que gostaria de destacar para o leitor?

Não deixe de acompanhar o Espiritismo pela internet e aproveite essa grande oportunidade. Mas faça isso com prudência, equilíbrio e não deixe de viver o seu dia a dia. A vida exige um equilíbrio entre corpo, espírito e vida espiritual. O nosso corpo físico deve ser preservado o máximo possível. Assim, deve-se controlar o estresse, viver em sociedade, desenvolver atividades físicas e acompanhamento de saúde. Como espírito, utilizar o tempo com ações úteis e usar da reflexão constante conforme as experiências vividas. A vida espiritual é o nosso objetivo primário. É onde viveremos eternamente após nos livrarmos da matéria. Promover a fraternidade, a caridade e o crescimento pessoal é o nosso grande desafio.

Algo mais que gostaria de acrescentar?

No nome do grupo há a palavra “avançados”. Já fomos questionados sobre o porquê disso, que poderia ter uma conotação de orgulho. Do tipo: vocês são mais avançados que os outros? Não, todos nós somos aprendizes em busca da verdade. Quando decidi criar o grupo na Brasnet estava prestes a lançar algo com o nome Espiritismo numa rede formada por muitas pessoas em aperfeiçoamento profissional no exterior. Recebemos a intuição de formar um grupo que se destacaria pela seriedade, responsabilidade e dedicação ao Espiritismo. Depois identificamos que o termo avançado significa também o progresso, a transformação, representando a evolução eterna de cada um, conforme a Lei do Progresso definida em O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec. Enfim, a humildade é o grande avanço moral do espírito e para tanto, buscamos todos os meios para atingi-la.

Suas palavras finais.

Quero agradecer ao amigo Orson Peter Carrara pela oportunidade de compartilhar um pouco as atividades do GEAE com o movimento espírita brasileiro e mundial através deste importante meio de comunicação virtual.  Atualmente estamos avançando muito no Espiritismo pelo mundo. Divaldo tem sido o grande divulgador e em cada país e local que visita com uma conferência acaba deixando a semente para criação de novos grupos. No GEAE temos alguns endereços do que chamamos World Spiritist Movement (WSM) com federações americanas, europeias etc. Dessa forma, podemos vislumbrar o caminho que o Espiritismo tem a percorrer. A internet veio para unir todos os povos sob a bandeira da fraternidade universal. É um longo trabalho. Primeiro, a doutrina espírita foi lançada ao mundo em 1857. Depois aparece o maior meio de comunicação mundial, a informática. Com a internet, o Espiritismo se tornará o amparo espiritual da nova humanidade. Creio que agora é momento de os espíritas avançarem mais com atuações em todas as áreas, sempre com o princípio da fraternidade universal.

Finalmente, gostaria de destacar a pergunta 798 d’O Livro dos Espíritos:

“O Espiritismo se tornará uma crença comum ou será apenas a de algumas pessoas? - Certamente ele se tornará uma crença comum e marcará uma nova era na História da Humanidade, porque pertence à Natureza e chegou o tempo em que deve tomar lugar nos conhecimentos humanos. Haverá, entretanto, grandes lutas a sustentar, mais contra os interesses do que contra a convicção, porque não se pode dissimular que há pessoas interessadas em combatê-lo, umas por amor-próprio e outras por motivos puramente materiais. Mas os seus contraditores, ficando cada vez mais isolados, serão afinal forçados a pensar como todos os outros, sob pena de se tornarem ridículos.”

 

quarta-feira, 21 de setembro de 2022

A Vida em outros mundos

Uma entrevista com Daniel Dallagnol, estudioso e propagador da doutrina kardecista codificada por Allan Kardec no programa “A Vida em foco” mostra a visão espírita sobre a vida em outros orbes. Assista também em “O Espiritismo Esclarece”, Com Cosme Massi como podemos diferenciar mente de alma e no final em “Espiritualidade em Gotas” o paranaense Alberto Almeida faz um convite a reflexão sobre o tema Esmola.


 

segunda-feira, 19 de setembro de 2022

A Cultura da Paz, por Divaldo Franco

 

O filme sobre sua vida estava em cartaz em Santos ao mesmo tempo em que Divaldo Franco era ouvido por milhares de pessoas simpáticas ao espiritismo que lotavam o Mendes Convention Center. Um dos vários grandes momentos da película, ao vê-lo aos prantos por conta das dificuldades impostas ao seu destino, o espírito conselheiro e orientador de Joanna de Angelis lhe disse: "Quem se dedica a enxugar as lágrimas dos outros, não tem tempo para chorar". Nos apenas cinco minutos concedidos a cada repórter na coletiva, Divaldo Franco mostrou o quanto é importante seu trabalho e que todo o reconhecimento ainda não faz jus a sua trajetória. Confira:

Diário - O senhor chorou muitas vezes?

Divaldo Franco - Muitas vezes engoli muitas lágrimas para poder consolar quem estava com sofrimento maior do que o meu. Essa frase de Joana de Angelis confortou-me muito. Toda vez que eu sofria um ataque por conta de ficar conhecido, como é natural, me deixava abater. Então, ela me dizia: "Olha, não há tempo. Se você se abater, quem vai confortar os infelizes?" Então, eu enxugava as lágrimas e avançava.

Diário - O senhor deve ter inúmeros exemplos.

Divaldo Franco - Tem um episódio na minha vida em que soube de um homem que cometeu o suicídio ao se atirar sob um trem. O repórter escreveu a situação com muitos detalhes e eu fiquei impressionado. Durante muitos anos, eu orei por este homem. Eu o via e orava. No entanto, houve um momento que passei por uma grande provação, superior às minhas forças. Perdi 16 quilos em um mês, o entusiasmo e pela primeira vez, chorei. No entanto, senti uma mão em meu ombro e me assustei. Aí, ouvi uma voz inesquecível que me disse: "Se tu choras, o que será de nós, a quem tu consolas". Olhei e vi um espírito de pé e era ele, o suicida. Ele ainda me disse: "Tu oras por mim sem me conhecer". Ele me contou tudo, inclusive o motivo de sua decisão e pediu para que eu não chorasse. Eu lhe disse que também tinha direito (de chorar) e ele me disse: "Não tem. Tu te preparas-te para enxugar as lágrimas".

Diário - O senhor interferiu na produção do filme?

Divaldo Franco - Não. Só participei de uma cena final. Não fui consultado em nada. Os realizadores foram muito gentis comigo. A escolha de algumas locações em Santos me honra muito.

Diário - Como o senhor analisa os sofrimentos atuais?

Divaldo Franco - Eles nos convidam a cada vez mais fazer o bem. De termos um objetivo vivo e real. O Brasil e o mundo estão precisando de pessoas otimistas. Estamos cansados de guerras. Tentamos a traição, o crime, a difamação. Não seria a hora de tentarmos o amor? Temos que contribuir com a obra de Deus e a misericórdia de Cristo.

Diário do Litoral - O senhor não descansa?

Divaldo Franco - As minhas alegrias são o trabalho. Dediquei toda a minha vida à fraternidade, alegria de viver. Sou uma pessoa muito simples, desde minhas origens. Estamos vendo um mundo muito áspero. O processo sociológico, feito pela tecnologia e ciência, está fazendo com que o indivíduo tenha uma vida vazia, sem metas, sem objetivos. A ciência atingiu o macro e o micro cosmo, que solucionou os enigmas do pensamento, mas que não consolou o coração.

Diário - Está faltando amor?

Divaldo - Ele vem sendo pervertido lentamente. A libido passou a ser mais do que uma necessidade. As pessoas estão vivendo atormentadas. Cristo nos demonstra que a felicidade é amar. Temos que ter um objetivo essencial. O grande psiquiatra austríaco Viktor Emil Frankl dizia que a vida que não tem meta é uma vida sem sentido. No entanto, estamos vendo que as metas hoje são imediatas e sem significado. Temos que dar um grito e dizer que é bom poder amar, estimular alguém, dar e dar-se. Eu respeito muito a frase rotariana "aquele que não vive para servir, não serve para viver", mas acho pessimista. Eu diria: aquele que não vive para servir ainda não aprendeu a viver. É fantástico amar, amar a natureza, respeitar os valores e os direitos alheios. Compreender que cada um é um, que tem o direito à liberdade, mas não penetrando na do outro.

Diário - São materialistas?

Divaldo - Ter para comprar, gozar e frustrar-se. Descobrir o vazio e cair na melancolia, na depressão. E, como solução final, o suicídio. Essa pandemia já mostra que já são 360 milhões de depressivos crônicos no mundo. Uma falência da cultura. A verdadeira cultura é que leva à paz. A cultura da paz é importante. Lembro de Madre Tereza de Calcutá, que dizia: se você quer a paz no mundo, vá para casa e seja pacífico no seu lar. Vejo que a solução, do ponto de vista técnico, é a educação. Alan Kardec dizia que o melhor instrumento contra o materialismo e a crueldade é a pedagogia. A vida não está cara, somos nós que a encarecemos. Prazer é instinto, felicidade é emoção. Vamos lembrar que o próprio Alan Kardec nos ensinou que a base do espiritismo é: "Fora da caridade não há salvação".

Fonte: Diário do Litoral

 

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