segunda-feira, 19 de setembro de 2022

A Cultura da Paz, por Divaldo Franco

 

O filme sobre sua vida estava em cartaz em Santos ao mesmo tempo em que Divaldo Franco era ouvido por milhares de pessoas simpáticas ao espiritismo que lotavam o Mendes Convention Center. Um dos vários grandes momentos da película, ao vê-lo aos prantos por conta das dificuldades impostas ao seu destino, o espírito conselheiro e orientador de Joanna de Angelis lhe disse: "Quem se dedica a enxugar as lágrimas dos outros, não tem tempo para chorar". Nos apenas cinco minutos concedidos a cada repórter na coletiva, Divaldo Franco mostrou o quanto é importante seu trabalho e que todo o reconhecimento ainda não faz jus a sua trajetória. Confira:

Diário - O senhor chorou muitas vezes?

Divaldo Franco - Muitas vezes engoli muitas lágrimas para poder consolar quem estava com sofrimento maior do que o meu. Essa frase de Joana de Angelis confortou-me muito. Toda vez que eu sofria um ataque por conta de ficar conhecido, como é natural, me deixava abater. Então, ela me dizia: "Olha, não há tempo. Se você se abater, quem vai confortar os infelizes?" Então, eu enxugava as lágrimas e avançava.

Diário - O senhor deve ter inúmeros exemplos.

Divaldo Franco - Tem um episódio na minha vida em que soube de um homem que cometeu o suicídio ao se atirar sob um trem. O repórter escreveu a situação com muitos detalhes e eu fiquei impressionado. Durante muitos anos, eu orei por este homem. Eu o via e orava. No entanto, houve um momento que passei por uma grande provação, superior às minhas forças. Perdi 16 quilos em um mês, o entusiasmo e pela primeira vez, chorei. No entanto, senti uma mão em meu ombro e me assustei. Aí, ouvi uma voz inesquecível que me disse: "Se tu choras, o que será de nós, a quem tu consolas". Olhei e vi um espírito de pé e era ele, o suicida. Ele ainda me disse: "Tu oras por mim sem me conhecer". Ele me contou tudo, inclusive o motivo de sua decisão e pediu para que eu não chorasse. Eu lhe disse que também tinha direito (de chorar) e ele me disse: "Não tem. Tu te preparas-te para enxugar as lágrimas".

Diário - O senhor interferiu na produção do filme?

Divaldo Franco - Não. Só participei de uma cena final. Não fui consultado em nada. Os realizadores foram muito gentis comigo. A escolha de algumas locações em Santos me honra muito.

Diário - Como o senhor analisa os sofrimentos atuais?

Divaldo Franco - Eles nos convidam a cada vez mais fazer o bem. De termos um objetivo vivo e real. O Brasil e o mundo estão precisando de pessoas otimistas. Estamos cansados de guerras. Tentamos a traição, o crime, a difamação. Não seria a hora de tentarmos o amor? Temos que contribuir com a obra de Deus e a misericórdia de Cristo.

Diário do Litoral - O senhor não descansa?

Divaldo Franco - As minhas alegrias são o trabalho. Dediquei toda a minha vida à fraternidade, alegria de viver. Sou uma pessoa muito simples, desde minhas origens. Estamos vendo um mundo muito áspero. O processo sociológico, feito pela tecnologia e ciência, está fazendo com que o indivíduo tenha uma vida vazia, sem metas, sem objetivos. A ciência atingiu o macro e o micro cosmo, que solucionou os enigmas do pensamento, mas que não consolou o coração.

Diário - Está faltando amor?

Divaldo - Ele vem sendo pervertido lentamente. A libido passou a ser mais do que uma necessidade. As pessoas estão vivendo atormentadas. Cristo nos demonstra que a felicidade é amar. Temos que ter um objetivo essencial. O grande psiquiatra austríaco Viktor Emil Frankl dizia que a vida que não tem meta é uma vida sem sentido. No entanto, estamos vendo que as metas hoje são imediatas e sem significado. Temos que dar um grito e dizer que é bom poder amar, estimular alguém, dar e dar-se. Eu respeito muito a frase rotariana "aquele que não vive para servir, não serve para viver", mas acho pessimista. Eu diria: aquele que não vive para servir ainda não aprendeu a viver. É fantástico amar, amar a natureza, respeitar os valores e os direitos alheios. Compreender que cada um é um, que tem o direito à liberdade, mas não penetrando na do outro.

Diário - São materialistas?

Divaldo - Ter para comprar, gozar e frustrar-se. Descobrir o vazio e cair na melancolia, na depressão. E, como solução final, o suicídio. Essa pandemia já mostra que já são 360 milhões de depressivos crônicos no mundo. Uma falência da cultura. A verdadeira cultura é que leva à paz. A cultura da paz é importante. Lembro de Madre Tereza de Calcutá, que dizia: se você quer a paz no mundo, vá para casa e seja pacífico no seu lar. Vejo que a solução, do ponto de vista técnico, é a educação. Alan Kardec dizia que o melhor instrumento contra o materialismo e a crueldade é a pedagogia. A vida não está cara, somos nós que a encarecemos. Prazer é instinto, felicidade é emoção. Vamos lembrar que o próprio Alan Kardec nos ensinou que a base do espiritismo é: "Fora da caridade não há salvação".

Fonte: Diário do Litoral

 

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