quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Cristianismo segundo a Doutrina Espírita


 

Por Louis Neilmoris


E qual o formato do Cristianismo segundo o Espiritismo?


Sendo de uma nova ordem de concepções, a Doutrina Espírita precisou se servir de novos verbetes para configurar suas proposições. Assim foi que o codificador criou termos como espiritismo, espírita, perispírito, mediunidade e distinguiu espírito de Espírito. Entretanto, para não gerar mais conflitos e confusões, Allan Kardec eximiu-se de engendrar novas derivações para outros termos complexos, tais como alma, religião e cristianismo se bem o poderia ter feito.


O fato é que para a Doutrina dos Espíritos alma, religião, cristianismo e outros vocábulos tradicionais não estão mais bem configurados para os efeitos modernos do Espiritismo. Por isso, é impossível se responder se sua filosofia é ou não uma religião apenas com um sim ou um não. É que precisaríamos discorrer sobre a acepção de religião, para não há mais comum acordo acerca do seu significado concreto e definitivo.


De igual maneira, para atestarmos que o Espiritismo é compatível com a Doutrina do Cristo, precisaríamos nominá-la com outro termo, uma vez que o empregado vulgarmente cristianismo não é condizente com o formato que os espíritas entendem como apropriado para se referir verdadeiramente ao modelo cristão.


Isso é importante para evitar ambiguidade. Pegue-se o exemplo do que ocorreu à época de Kardec: a série de manifestações espirituais do Século XIX desencadeou um surto de denominações filosóficas e religiosas agrupadas numa expressão comum: Moderno Espiritualismo, ou Neoespiritualismo. Ao inaugurar seus estudos acerca daqueles fenômenos, o mestre lionês cuidou de especificar o seu ramo particular com um novo rótulo, a fim de que ficasse bem definido. Foi então que o denominou espiritismo. E na introdução de O LIVRO DOS ESPÍRITOS ele bem determina que a ciência que criara era também espiritualista, como aquelas outras doutrinas similares, mas que, especificando o gênero espírita, automaticamente demarcava um escopo bem traçado, de modo que apartava os demais espiritualistas dos espíritas:


Para designar coisas novas são necessárias palavras novas. Assim exige a boa compreensão, para evitar a confusão que ocorre as palavras têm vários sentidos. Os termos: espiritual, espiritualista, espiritualismo têm uma definição bem definida, e acrescentar a eles nova significação, para aplicá-los à Doutrina dos Espíritos, seria multiplicar os casos de numerosas palavras com muitos significados. De fato, o Espiritualismo é o oposto do materialismo. Aquele que acredita haver em si alguma coisa além da matéria é espiritualista.


Entretanto, isso não quer dizer que creia na existência dos Espíritos ou em suas comunicações com o mundo visível. Em vez das palavras espiritual, espiritualismo, nós usamos, para indicar a crença nos seres espirituais, os termos espírita e Espiritismo, cuja forma lembra a origem e o sentido da raiz da palavra e que, por isso mesmo, apresentam a vantagem de ser perfeitamente compreensíveis, deixando ao vocábulo espiritualismo a significação que lhe é própria.

 
Diremos, pois, que a doutrina espírita ou o Espiritismo tem por princípio as relações do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível. Os adeptos do Espiritismo serão os espíritas, ou, se quiserem, os espiritistas.

Voltando à questão da definição da mensagem do Cristo para medirmos a participação do Espiritismo nessa crença , vamos brincar de Kardec: vamos rejeitar o termo cristianismo, pois o modo como ele tem sido empregado pela tradição não figura a Boa Nova de Jesus.


A seguir, vamos denominar a doutrina cristã como Cristonismo.


Portanto, o Cristonismo é a doutrina fundamentada no ensino do Cristo nos moldes defendidos pelos espíritas. Avançando na brincadeira, até acrescentaríamos que os seguidores dessa nossa doutrina seriam chamados de cristianistas.


Em prosseguindo nossa tesa e o mais importante , carecemos conceituar os fundamentos do Cristonismo, ou seja, a visão espírita da mensagem do Cristo; o que é ser verdadeiramente cristão, ou Cristianista. E onde mais poderíamos buscar a definição senão no próprio idealizador dessa Boa Nova? Vamos beber da fonte de Jesus, segundo as seguintes passagens bíblicas:


Os fariseus, tendo sabido que Jesus tapara a boca aos saduceus, reuniram-se; e um deles, que era doutor da lei, propôs-lhe esta questão para tentá-lo: “Mestre, qual o mandamento maior da lei?” Ele respondeu: “Ame o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito; este o maior e o primeiro mandamento. e aqui está o segundo, semelhante a esse: ame o teu próximo, como a ti mesmo. Toda a lei e os profetas se acham contidos nesses dois mandamentos. (MATEUS, 22: 34 a 40)


“Façam aos homens tudo o que querem que eles façam a vocês, pois é nisto que consistem a lei e os profetas”.
Jesus (Idem, 7:12)


“Tratem todos os homens como gostariam que eles os tratassem”.

E havendo qualquer dúvida interpretativa sobre estas máximas, poder-se-ia recorrer imediatamente a O EVANGELHO SEGUNDO ESPIRITISMO, capítulo XI - “Amar o próximo como a si mesmo”.

O modelo espírita lê a mensagem de Jesus sem misticismos, sem ritualismo e sem burocracia.

Não mais as exigências litúrgicas e nem cultos externos. O procedimento é simples: sempre praticar a caridade para com tudo e com todos. Isto resume tudo.

Esta simplicidade passa longe do formalismo das religiões tradicionais, portanto, diferenciando-se do convencional Cristianismo.

Mas não é de nossa pretensão estabelecer novos termos. Então, esqueçamos os artifícios anteriores e passemos a concluir a peleja mediante o que se nos apresenta tal como é:

A Doutrina Espírita é sim cristã, considerando a mais pura proposta de Jesus que é a de amor a Deus e caridade ao próximo, pelos mesmos critérios que gostaríamos que fôssemos tratados por todos. Quem proceder fora dessa conceituação é que se diferencia do autêntico Cristianismo.

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