terça-feira, 29 de dezembro de 2020

A Fé e a Caridade

 


Por Adriana Barreiros 

Fé, diferente de crença, expressa o sentimento do homem em relação à razão da vida, às relações entre os homens e seu Criador. Ter fé é identificar dentro de nós algo maior que nós mesmos e nosso mundo, responsável por tudo que há ao nosso redor e por nós inclusive. É reconhecer-se criatura e confiar no Criador. 

Sem ela, a vida perde seu sentido mais amplo, o altruísmo, a caridade, o desejo do progresso e do bem-estar alheios se esvaem, cedendo lugar às satisfações imediatistas, aos prazeres efêmeros, ao egoísmo e ao materialismo. 

O espírito protetor que nos trouxe esta mensagem, item 13 do capítulo XI do Evangelho Segundo o Espiritismo, nos diz que sem a fé não seria possível haver a verdadeira caridade. Esta só pode ser exercida pela “abnegação, pelo sacrifício constante de todo o interesse egoísta…” 

As pessoas sem religião, sem este vínculo com o Criador, não compreendem que somos todos irmãos e necessitados uns dos outros para vencer as tribulações da vida. Se não reconhece a Deus, não vê muito além de suas próprias necessidades, podendo até ter impulsos de generosidade, porém, não a ponto de ser abnegado ou resignado. 

Se nos ocupamos somente de nossa felicidade, onde o espaço para a caridade? Atropelamos as necessidades alheias para satisfazer as nossas próprias, não fazemos concessões em prol do outro e, muitas vezes, pagamos o preço da desarmonia entre os que estão ao nosso redor. 

A prática do bem, para a pessoa que tem fé, está acima da materialidade e suas ofertas tentadoras. Precisamos lutar contra o egoísmo, promovendo o bem ao próximo, abafando o orgulho, olhando para o outro e vendo nele um irmão e não alguém inferior. 

Me recordo de uma canção dos anos idos de não sei quando, uma canção americana chamada “he ain’t heavy, he’s my brother”. Esta música é belíssima em letra e melodia e fala de uma pessoa que carrega a outra, por uma longa estrada, com muitas curvas, com muitas dificuldades e ao ser questionado se o homem que ele carregava não era pesado, ele responde: ele não é pesado, ele é meu irmão! 

Estes atos que praticamos para o bem do próximo, exigindo de nós o sacrifício e a entrega, são a demonstração da fé viva em nós. 

Quando indagados a respeito das dificuldades do homem dominar suas más inclinações, os Espíritos superiores responderam a Allan Kardec, que sempre se pode conseguir a libertação quando a pessoa tem em si uma vontade firme e poderosa. Vontade é fé. 

A fé pode e deve ser multiplicada, pois é uma alavanca que pode nos ajudar em muitas realizações. Muitos desses que buscam os centros espíritas para pedirem ajuda, estão doentes da fé. A fé pode ser desenvolvida por vários fatores. E quem quiser ser forte em termos espirituais, com naturais consequências na vida material, deve procurar desenvolver essa potencialidade que dormita em nosso coração. 

Alguns procedimentos podem ser tomados para que a fé seja fortalecida. O primeiro deles, é ter paciência. Sim, pois a fé não se conquista do dia para a noite, ela vem como resultado de outras providências igualmente morosas para o Espírito. O estudo deve ajudar aquele que deseja desenvolver sua fé a compreender os mecanismos inteligentes da vida. 

A experiência encarnatória segue orientada por um plano traçado por Deus em torno do próprio Espírito. Entender que a vida flui naturalmente e que não adianta violentá-la, desejando alguém ser uma coisa que não pode ser. 

Agir com moderação, quando avançar, dando tempo para que as pedras do grande jogo a que se está incluído possam ser movidas convenientemente. Outra providência indispensável é a oração. Com ela, protegemo-nos da influência dos maus Espíritos e abrimos nosso coração para a inspiração dos anjos e dos nossos guardiães invisíveis. 

Sem orarmos diariamente, em particular, a vida toma um aspecto sombrio. Torna-se semelhante a um vidro embaçado pelo vapor, que nos tira a clara visão de tudo. Orando, desligamo-nos um pouco das coisas materiais e nos voltamos para nossa própria natureza: a espiritual. 

A prece é uma experiência pessoal, que precisa se desenvolver na intimidade do ser. 

A humildade é amiga da fé. O orgulhoso, o soberbo, aquele que pensa em si ou em sua glória não pode estar imbuído da verdadeira fé. 

Sempre que nossas preocupações estiverem voltadas para nossa personalidade, estamos no caminho contrário ao de amar ao próximo como a nós mesmos, conforme assevera Jesus. Simplicidade no viver. 

Paulo de Tarso, ao referir-se ao conjunto de valores do coração, denominando-o “caridade”, assim se expressa: “A caridade tudo sofre, tudo espera, tudo crê. Não folga com a injustiça, mas folga com a Verdade”. Como se vê, é um estado especial, particular daquele que crê em Deus, na Vida Eterna e na Promessa de Jesus. 

A fé, quando desenvolvida, pode ser um grande instrumento da prática do Bem. Com ela, podemos estender as mãos abençoando os que sofrem, doentes, obsedados, perdidos. 

Busquemos a fé verdadeira, e ela nos levará ao exercício inevitável da caridade. 

Centro Espírita Léon Denis

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