quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Amor, Paixão e Desejo segundo O Livro dos Espíritos


Em "O Livro dos Espíritos", de Allan Kardec, na questão 939, os Espíritos esclarecem: "Há duas espécies de afeição: a do corpo e da alma, e toma-se frequentemente uma pela outra. A afeição da alma, quando é pura e simpática, é durável; a do corpo é passageira. Eis por que muitas vezes os que pensavam se amar com um amor eterno se odeiam quando acaba a ilusão." A paixão é a afeição do corpo que nos fala a citação de "O Livro dos Espíritos".

A paixão é desejo, instinto, sensação. É a necessidade possessiva de algo, tornando secundário o que não seja a conquista do objetivo traçado. É como se duas metades finalmente se estivessem a encontrar. Juntas, essas metades sentem-se uma só e separadas parece que lhes falta o essencial.

Quando alguém se apaixona é como se encontrasse tomado por uma ilusão, parecendo ter atingido o pico do Everest quando ainda está a iniciar a árdua escalada. Julga-se completo e inteiramente feliz, mesmo que tudo à sua volta esteja desfeito, não conseguindo perceber carências de qualquer espécie, nem necessidades de evolução ou aperfeiçoamento.

Apaixonarmo-nos é uma experiência fantástica, mas tem um problema: Se a sensação e o prazer forem o seu único carburante e não for acompanhada de uma qualidade de sentimentos que a substancie, a paixão é efémera e temporária! Isto é problemático porque muita gente é viciada em paixão e, não compreendendo este fato, vive constantemente à procura de alimentar a fantasia e a ilusão.

Nós vivemos numa época que privilegia o simplismo. Tudo é bom se for simples, rápido e acessível. Neste contexto social, a paixão é ótima porque é fácil, fugaz e até descartável; pelo contrário, o amor é péssimo pois é difícil, dá trabalho e exige comprometimento. A paixão é preguiçosa, não requer um esforço extraordinário. Mas sem esse mesmo esforço e dedicação não é possível vivenciar o verdadeiro amor, porque o amar é trabalhoso, exige vontade, compromisso e construção contínua.

Amar alguém não significa a existência de sacrifícios de qualquer espécie. Quem faz sacrifícios não ama porque a existência do sacrifício implica a ideia de que é um ato que não desejamos fazer e apenas o fazemos contrariados. Uma mãe que passa meses num hospital a acompanhar o seu filho doente não está a fazer qualquer sacrifício, mas antes a amar com todo o seu Espírito.

Dadas as circunstâncias, não existe outro lugar do mundo onde essa mulher preferisse estar. Ignora as suas necessidades e interesses, não por sacrifício, mas porque é essa a sua vontade. Quem, por vontade própria e por dedicação, decide exceder os seus limites por alguém, está a vivenciar verdadeiro amor.

Não temos de amar, mas nós escolhemos amar. Amar é sermos capazes de, por alguém, darmos um pouco mais de nós, expandir a nossa alma. O verdadeiro amor nos casais românticos, manifesta-se: Pelo desejo de união; pelo apreço pela companhia; pelo respeito pela individualidade do seu parceiro; na vontade de, pelo outro, exceder os próprios limites; no trabalho conjunto pela sua evolução intelectual, moral e espiritual; e no desejo de transformar essa união num laço de afinidade para toda a eternidade. A conclusão da investigação em análise na notícia vem ao encontro desta nossa reflexão.

O amor existente num casal romântico, pedra basilar num relacionamento que se pretende firme e duradouro, é fruto de incontáveis evoluções da espécie humana e do nosso Espírito, e está em permanente sublimação. Os instintos e as sensações, predominantes noutros tempos e épocas, dão agora lugar ao sentimento. Não significa isto que estas características tenham desaparecido, já que elas são naturais no ser humano, antes requerem controle e equilíbrio para que possam ser utilizadas em nosso proveito físico e da nossa evolução espiritual.


Carlos Miguel Pereira, CECA – Centro Espírita Caridade por Amor

Nenhum comentário:

^