Entrevista sobre a prece com o diretor da Revista Cristã de Espiritismo.
Quando fazemos uma prece muito cansados, no final de um dia de trabalhos exaustivos, estando sonolentos, ela teria sua emissão vibratória comprometida?
– Não. Vamos lembrar que a alma, ou seja, o espírito encarnado, participa do contato espiritual por dois meios. Um deles pelo seu corpo carnal, o outro pela sua existência como espírito, que é imortal. O corpo carnal sofre as vicissitudes da matéria grosseira pela qual é revestido.
O espírito não sofre cansaço, como o corpo. A prece, a elevação do pensamento a Deus, como nos dizem os amigos espirituais, é uma capacidade própria do espírito, não do corpo. Partindo desse princípio, mesmo que o corpo esteja fatigado, o espírito, sustentado pela consciência tranquila que carrega pelos atos que pratica, terá seu poder de elevação vibracional não ligado ao cansaço físico, mas à sua disposição espiritual.
Por que muitos acham que para orar precisa ter uma fórmula, uma receita, para que ela chegue até ao Pai?
É natural. Vem da ideia que fazíamos de Deus. No começo, imaginávamos um Deus dentro dos fenômenos da Natureza. Evoluímos e passamos a ver Deus como uma personalidade vingativa. Jesus veio nos trazer a ideia de um Deus de amor. A Doutrina Espírita complementa nos mostrando um Deus infinito em todos seus atributos. Não é fácil abandonarmos uma ideia que nos acompanhou durante séculos.
Por isso, muitos de nós ainda estamos presos às fórmulas. Abençoada doutrina espírita que demonstra ser mais importante o que vai no coração, do que as fórmulas, repetições e adorações exteriores.
André Luiz nos fala em suas obras de departamentos em cidades espirituais como Nosso Lar, especializados em recepção e atendimento de preces dos encarnados.
No caso de preces com potencial vibratório muito alto, feitas por irmãos mais evoluídos, estas se dirigiriam por afinidade magnética a esferas mais elevadas ainda?
Com certeza! Somos ligados pela lei de afinidade. O maior exemplo é Jesus, que orava diretamente a Deus. Logo, quanto maior a nossa vibração, mais longe chega o nosso pensamento. É oportuno lembrar que devemos desenvolver a ideia de conversarmos com Deus, não no sentido dos peditórios, das reclamações, mas sim na absoluta certeza que estamos envolvidos por ele de forma que, quanto mais o buscarmos, mais o acharemos. É um longo trabalho a ser desenvolvido por todos nós.
As preces “prontas” que aprendemos, como “Pai Nosso” e “Ave Maria”, podem ter a mesma eficácia junto à espiritualidade do que as que fazemos individualmente, como uma conversa íntima com Deus ou Jesus?
Tudo depende do sentimento. As preces “prontas” servem, principalmente, para nos ajudar a ordenar e direcionar nosso pensamento. Ainda somos espíritos que encontramos muita dificuldade na concentração, no relaxamento, de forma que é preferível recitar uma prece pronta do que deixar o pensamento voar e se perder. O que conta - os espíritos não nos cansam de advertir - é o sentimento. Logo, nos preocupemos primeiro em sentir, para depois optar pela prece pronta ou por aquela que vem do nosso coração.
Por qual mecanismo a prece que fazemos vai até o Pai?
Todos nós estamos mergulhados no fluido cósmico universal. É este fluido o meio pelo qual o pensamento se propaga. O que vai dar qualidade ao pensamento é a nossa boa intenção, sinceridade e bons sentimentos.
Quanto mais conseguimos reunir estas condições, mais potência a nossa prece terá, pois maior influência terá sobre o fluido cósmico.
Alguns irmãos de outras religiões costumam fazer preces “barulhentas”. O resultado dessas preces é o mesmo das feitas em silêncio?
Novamente, lembramos que o que conta é o sentimento. Se ainda, por ignorância, um irmão necessita do barulho, por achar que só assim Deus o ouvirá, mas houver sinceridade, boa intenção e bons sentimentos, certamente, que este irmão será ouvido. Lembramos em Fronteiras da Loucura, de Manoel Philomeno de Miranda, de uma prece de uma católica que pede a ajuda de Bezerra de Menezes, orando de joelhos.
Sabemos que não é necessário estar de joelhos para uma prece ser atendida. E, normalmente, teríamos a tendência de recriminar tal gesto. Mas o que Philomeno nos mostra é que os valores de quem pedia, a sinceridade de uma prece que veio do coração, chegou diretamente ao conhecimento de Bezerra de Menezes, que veio, pessoalmente, interceder pela pedinte.
Recentemente foram feitas pesquisas importantes afirmando que a fé e a prece realmente curam as pessoas, provocando diversas reações orgânicas no cérebro físico e no organismo em geral. Do que se origina esse alcance da prece, até mesmo na cura de males do corpo físico?
A doutrina espírita nos mostra o homem como um ser integral, onde as doenças residem no espírito.
Quando oramos fervorosamente, entramos em sintonia com os bons espíritos que nos assistem, além de passarmos a respirar em uma atmosfera menos densa, possibilitando que nos impregnemos dos bons fluidos que terão ação benéfica em nosso próprio organismo. Orar fervorosamente e ter fé só não basta. É preciso que nos esforcemos, verdadeiramente, pela reforma íntima, nos propiciando assim a manutenção da verdadeira saúde. Já dizia Platão: “Mente sã em corpo são. ” Nunca é demais lembrar Jesus, quando nos ensina: “Orai e vigiai. ”
Partindo do princípio do “Pedi e obtereis”, o que é conveniente pedirmos em nossas preces?
Estamos encarnados em um planeta de provas e expiações. Sabemos que o progresso é infinito. Logo, se precisamos encarnar para progredir, devemos pedir força, coragem, proteção para superarmos as provas e expiações. Já passamos do tempo de acreditarmos que podemos ser carregados no colo, ou nos milagres que caem do céu. Abençoada doutrina espírita que nos liberta desses conceitos tão primitivos.
Como encarar as promessas que tem como pagamento grandes sacrifícios físicos?
É a ideia de que Deus precisa de trocas, de sacrifícios materiais; e da nossa ignorância com relação às suas leis. Não é por acaso que a primeira pergunta de O Livro dos Espíritos nos fala sobre Deus. É preciso que busquemos, cada vez mais, conhecer a Deus e a suas leis, pois só assim saberemos o que realmente o agrada.
Se Deus conhece as nossas necessidades, qual a utilidade de se pedir nas nossas preces?
Pelo simples fato de que não somos conduzidos por uma fatalidade. Nós somos artífices do nosso progresso. Temos livre-arbítrio. Orar a Deus é demonstrar humildade, reconhecimento de sua paternidade, aprendendo, assim, a utilizarmos positivamente o nosso livre-arbítrio.
Embora realmente Deus conheça nossas necessidades, os benefícios não caem do céu. É preciso que aprendamos a ir buscá-los. A prece sincera, junto à disposição de uma transformação moral, é caminho para essa busca.
Existe alguma postura física (ajoelhados, mãos postas etc.) ou lugar mais conveniente para fazermos nossas preces?
A doutrina espírita nos ensina que não. Para compreendermos isso é preciso que estejamos maduros.
Se fizermos preces por outrem, não tendo este o merecimento, a prece atingirá seu objetivo?
A semeadura é nossa, mas a colheita é de Deus. A nossa obrigação é interceder pelo próximo. Somente Deus poderá avaliar o merecimento, o momento, enfim, a ajuda ao necessitado. Uma coisa podemos garantir: quando oramos pelo próximo, com desejo sincero de ajudar, mal não faremos.
Pode-se orar pelos suicidas?
Os suicidas são dos que mais necessitam do nosso carinho, onde a prece é um verdadeiro bálsamo para quem sofre. Existem vários casos de espíritos sofredores no livro “O Céu e o Inferno”, onde esses espíritos, além de, muitas vezes, solicitarem uma prece, dão testemunho de que uma prece sentida traz alívio indescritível. Logo, nos parece sensato orar pelos suicidas, onde, para isso, é preciso bastante desprendimento da nossa parte. Yvonne Pereira tinha esse desprendimento, pois chegava, pelas notícias que recebemos de amigos pessoais dela, a recortar dos jornais os obituários dos suicidas para orar por eles.
Fale sobre o poder da prece sobre os espíritos endurecidos em reuniões de desobsessão, se possível contando algum fato ligado ao assunto.
Na literatura de André Luiz, somos advertidos que, para casos como esse, não basta a intenção, é preciso que quem ore tenha conquistado uma cota maior de amor. Lembramos de Jesus quando diz: “O amor cobre a multidão dos pecados. ” Na maioria dos casos em que trabalhamos na desobsessão, não conseguimos uma transformação do espírito muito obstinado. Neste caso, fica a semente plantada pois, por mais imperfeitos que sejamos, já buscamos esta cota maior de amor ao próximo. Chegará o tempo em que estaremos na condição de conquistar através deste amor.
O que caracterizaria uma boa prece ou uma má prece?
Devemos entender que Deus não se perturba, não se aborrece, não se entristece, pois sabe exatamente o nosso nível evolutivo. Uma boa prece é caracterizada pelo desejo do nosso progresso, pelo desejo de suportarmos as vicissitudes da vida, pela humildade com que conversamos com o Pai, no reconhecimento do seu infinito amor, enfim, quando nos harmonizamos com a Lei. Eu não diria que exista uma má prece, mas uma prece menos eficaz, quando por ignorância, por egoísmo, por orgulho pedimos, quais crianças, aquilo que não é o melhor para nós, tais como os benefícios materiais, sem maiores esforços, ou a resolução dos problemas, também, sem que queiramos dar nossa cota de trabalho.
Fonte: Revista Cristã de Espiritismo
Nenhum comentário:
Postar um comentário