domingo, 16 de novembro de 2014

Carlos Baccelli em Entrevista


Nessa entrevista ao Blog do Alex, de Alex Guimarães, Carlos Alberto Baccelli relata mais um pouco da história de sua vida e atuação junto a doutrina espírita.


ALEX - Baccelli, você nasceu em berço espírita?
BACCELLI - Não. Embora os meus pais não fossem assíduos frequentadores da Igreja, sou de formação católica. Fui batizado e fiz a Primeira Comunhão. Desde criança, muito me impressionavam as imagens dos santos nos templos e sempre gostei de observar o colorido dos vitrais. Em mim, havia certa vocação para o sacerdócio que nesta encarnação, não cultivei.

ALEX - E quando se tornou espírita?
BACCELLI - A partir dos 17 de idade, comecei a ler obras espíritas. Eu criava passarinhos, e um senhor, nosso vizinho, de nome Sinésio Santino de Oliveira que, além de ser passarinheiro, era ouvires e alfaiate, vivia me convidando para ir ao Centro. Ele se curara de alcoolismo no "Bittencourt Sampaio" e, assim, vivia doutrinando a turma...Tanto insistiu, que, um dia, fui a uma reunião da Mocidade e nunca mais deixei de frequentar a casa. Os primeiros livros que ele me emprestou para ler foram de Kardec e León Denis. Recordo-me até hoje do esforço que fiz para ler "A Gênese"!

ALEX - Como você começou a psicografar?
BACCELLI - A vontade em escrever, em mim, era latente. As idéias vinham em cachoeira. Devo dizer, no entanto, que a proximidade com Chico Xavier me inibia. Como atrever-me á tanto? E depois, a turma de espiritas com a qual convivia em Uberaba era muito crítica: um médium não podia revelar tendência para a psicografia que estava querendo imitar o Chico... Muitos médiuns promissores não foram adiante por conta dessa tola comparação! O médium para ser médium precisa ser um pouco ousado. Foi assim: eu estava em meu quarto, deitado, quando subitamente me vi dominado por aquela vontade súbita de escrever... Levantei-me, fui para uma mesinha, peguei lápis e papel; aí o espirito Irmão José escreveu sua primeira páginas por meu intermédio.

ALEX - E você sentia assédio de espíritos obsessores?
BACCELLI - Sim, a coisa foi apertando aos poucos. Certa vez, acordei com a figura de um obsessor ao lado de minha cama, tentando me asfixiar! Pude vê-lo, como um monge de cabeça raspada, rosto afilado, olhos encovados, e senti a pressão de suas mãos na minha garganta. As perseguições espirituais duraram muito tempo. Eu pensava que estivesse doente e tinha medo de desencarnar. Os espiritos obsessores queriam que eu desistisse de ser espírita! Interessante: diz-se que muita gente chega á Doutrina pela dor e fica pelo amor... Comigo foi diferente: cheguei pelo amor e fiquei pela dor!

ALEX - E quais eram os sintomas e as maiores dificuldades encontradas quando você era obsediado?
BACCELLI - O coração acelerava, as mãos transpiravam com frequência, tinha uma estranha sensação de vertigem, prestes a cair a qualquer momento, até quando fazia palestras no "Bittencourt Sampaio", tinha a sensação de queda imenente, eu falava escorado na mesa... Quem também me auxilou muito, nesta fase, foi Antusa Martins. Eu ia tomar passes com ela, que atendia num pequeno casebre de madeira, nos fundos de sua casa. Eu a conheci através da Mocidade. Ela dizia que deveria ter paciência, que era assim mesmo, que tudo haveria de passar... E me mandava trabalhar! Como era surda-muda, a palavra "trabalho" era uma das poucas que ela conseguia pronunciar. Antusa devido ás suas faculdades mediúnicas, era uma surda-muda diferente, sua clarividência era extraordinária! A mediunidade lhe compensava as limitações físicas. Ela saía do corpo com extrema facilidade, tinha uma espécie de raio X nos olhos - quando se concentrava, nos enxergava o corpo por dentro, descrevendo o problema que acometia os órgãos enfermos...

ALEX - Você também chegou á trabalhar com ela?
BACCELLI - Sim, durante quase 3 anos fiz parte de sua equipe de médiuns passistas. Depois, no entanto, estudante de Odontologia que eu era, os horários na Faculdade foram apertando e me impediram de prosseguir. Mas nunca deixei de visitá-la. Quando chegava para vê-la, fora do horário habitual de visitas, ela sorria e, com gestos, descrevia o percurso que eu havia feito até sua casa. Nos dias em que não estava atendendo a multidão que a procurava ( a fila se estendia pelo corredor e saía pela rua), ela ficava confeccionando tapetes com retalhos, que vendia, com o intuito de obter recursos para comprar leite para as crianças de uma creche próxima.

ALEX - E quando você começou á frequentar o Grupo Espírita da Prece?
BACCELLI - Assim que Chico para lá se transferiu, em 1975. Durante algum tempo, permaneci frequentando a "CEC" (eu ainda era o Secretário) e o "GEP" (eu já namorava a Márcia); que de imediato, em companhia do pai Dr.José Thomaz, seguiu Chico ao "Grupo Espírita da Prece".

ALEX - E como foi a sua primeira psicografia por lá?
BACCELLI - Eu havia publicado um artigo na "Revista Internacional de Espiritismo - RIE"... onde eu comentava que Chico havia-nos dito, a mim e a outros amigos, que, ao tempo de Kardec, se acreditava na "Sociedade Espírita de Paris", que o Espirito da Verdade fosse João Batista. Acrescentei que, na mesma oportunidade, Chico nos falara sobre uma possível encarnação de Kardec como sendo Platão, que ao lado de Sócrates, havia sido um dos precursores da idéia cristã e do espiritismo. Ah, para quê! Um confrade de Uberaba, extremamente contestador, de imediato, escreveu, nas páginas da mesma revista, um artigo de fúria contra mim, no qual, inclusive, me chamava de jesuíta - foi das menores que disse ao meu respeito. Ao ler aquilo, Chico ficou contrariado e, com o intuiuto de tomar a minha defesa e dar uma resposta ao "fraterno" articulista, que sempre aparecia por lá, me convidou para psicografar á mesa do "Grupo Espirita da Prece". Interessante: a primeira página que psicografei ao lado de Chico foi uma mensagem de Irmão José...

ALEX - Você perguntou a Chico sobre a verdadeira identidade de Irmão José?
BACCELLI - Certa vez perguntei. Ele, então, me respondeu: "Ele me parece uma figura de um profeta, saindo das páginas do Antigo Testamento..." Com o tempo, vim a saber que ele havia sido José de Chipre, que convertido ao Cristianismo, adotou o nome de Barnabé.

ALEX - E quais outros espíritos se comunicaram por seu intermédio nesta época?
BACCELLI - Alexandre de Jesus, Odilon Fernandes, Eurícledes Formiga e outros com menor frequência; o próprio André Luiz, algumas vezes.

ALEX - E seu primeiro livro mediúnico em parceria com Chico foi á convite do próprio Chico?
BACCELLI - Exatamente, o que me causou grande alegria e espanto. Ele me disse que ali estava a pedido de Emmanuel e que eu deveria separar algumas páginas psicografadas por mim, a fim de serem avaliadas e revistas pelo nosso Benfeitor Espiritual.

ALEX - Ao todo sabemos que em parceria com Chico, foram escritos 10 livros, você poderia listá-los?
BACCELLI - "Fé" (1984), "Esperança e Vida" (1985), "Juntos Venceremos" (1985), "Crer e Agir" (1985), "Sementes de Luz" (1986), "Tende Bom Ânimo" (1987), "Palavras da Coragem" (1987), "Brilhe Vossa Luz" (1987), "Páginas de Fé" (1988) e "Confia Sempre" (1989).

ALEX - O que você acha mais dificil na Doutrina?
BACCELLI - Vivênciá-la! A minha luta cotidiana é por harmonizar o discurso com a prática. Creio, infelizmente, que muitos espíritas não atentam para a necessidade de renovação íntima - como alguns adeptos de outras crenças religiosas, continuam a crer que "se justificarão apenas pela fé que professam".

ALEX - E você Baccelli, se considera tranquilo ou ansioso?
BACCELLI - Em nível de consciência, tranquilo, mas ansioso pelo cumprimento do dever. Gostaria de ter a serenidade de Chico Xavier, que não usava relógio, mas tudo conseguia atender a tempo e a hora.


Trechos da entrevista a Alex Guimarães.

Nenhum comentário:

^