O que é o perispírito? Qual a sua origem e natureza? Quais são as suas propriedades e funções? É ele a sede da memória e da sensibilidade? É o molde do corpo físico? À luz da Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, tentaremos, resumidamente, responder a essas questões.
Definição, Origem e Natureza
O perispírito é uma condensação do fluido cósmico universal em torno de um foco de inteligência, ou Alma. É o envoltório semimaterial do Espírito e o laço que une o Espírito à matéria do corpo. Portanto, nos Espíritos desencarnados o perispírito forma o corpo fluídico que eles possuem, enquanto nos Espíritos encarnados ele é o órgão semimaterial que une o corpo físico ao Espírito, sendo, dessa forma, o órgão de transmissão de todas as sensações. Se diz que o perispírito é semimaterial porque pertence à matéria pela sua origem (Fluido Universal) e à espiritualidade pela sua natureza etérea. Por sua natureza e em seu estado normal o perispírito é invisível, porém, ele pode sofrer modificações que o tornem perceptível e até tangível, ou seja, possível de ser visto e tocado.
O Espírito extrai seu perispírito dos elementos contidos nos fluidos ambientes de cada mundo, de onde se deduz que os elementos constitutivos do perispírito variam conforme os mundos. A natureza do perispírito está sempre em relação ao grau de adiantamento moral do Espírito, portanto, conforme seja mais ou menos depurado o Espírito, seu perispírito se formará das partes mais puras ou mais grosseiras do fluido peculiar ao mundo onde ele venha encarnar.
Propriedades
O perispírito não se acha encerrado nos limites do corpo, como numa caixa. Pela sua natureza fluídica, ele é expansível, irradia para o exterior e forma em torno do corpo uma atmosfera que o pensamento e a força de vontade podem dilatar com maior ou menor intensidade. A Ciência comprova isso através de fotografias se utilizando da máquina Kirlian.
Sendo o perispírito dos encarnados de natureza idêntica a dos fluidos do mundo espiritual, ele os assimila com facilidade, como uma esponja se embebe de um líquido. Atuando esses fluidos sobre o perispírito, este, a seu turno, reage sobre o organismo material com que se acha em contacto molecular. Se os eflúvios são de boa natureza o corpo ressente uma impressão salutar; se são maus, a impressão é penosa. Se são permanentes e enérgicos, os eflúvios maus podem ocasionar desordens físicas; não é outra a causa de certas enfermidades.
Em virtude de sua natureza etérea, o Espírito propriamente dito não pode atuar sobre a matéria grosseira, sem intermediário, isto é, sem o elemento que o ligue à matéria. Esse intermediário, que é o perispírito, é o princípio de todas as manifestações espíritas e anímicas, pois possibilita ao Espírito atuar sobre a matéria.
O perispírito é o intermediário pelo qual se processa a transferência dos fluidos, da energia, nos processos de curas e passes espirituais.
Funções
O perispírito é o organismo que personaliza e individualiza o Espírito e o identifica quanto à aparência. A alma após a morte jamais perde sua individualidade. Ela comprova essa individualidade, apesar de não mais possuir o corpo material, através de um fluido que lhe é próprio, haurido na atmosfera do seu planeta e que guarda a aparência de sua última encarnação: seu perispírito. É através dele que um ser abstrato como é o Espírito se torna um ser concreto, definido e apreensível pelo pensamento.
Órgão sensitivo do Espírito:
O perispírito é o órgão de transmissão de todas as sensações do Espírito. O corpo recebe uma sensação que vem do exterior, o perispírito que está ligado a esse corpo transmite essa sensação e o Espírito, que é o ser sensível e inteligente a recebe. E vice-versa: quando o ato é de iniciativa do Espírito, o perispírito transmite e o corpo executa.
Princípio das Comunicações:
Para atuar na matéria, o Espírito precisa de matéria. Como já foi dito, em virtude de sua natureza etérea, o Espírito, propriamente dito, não pode atuar sobre a matéria grosseira sem um intermediário que o ligue a essa matéria. Esse intermediário, que nós chamamos de perispírito, nos faculta a chave de todos os fenômenos espíritas de ordem material. Portanto, o perispírito é o órgão de manifestação utilizado pelo Espírito nas comunicações com o plano dos espíritos encarnados.
Sede da Memória e Sensibilidade
É comum encontrarmos alguns autores espíritas que confundem alguns atributos do Espírito como sendo do perispírito. A sede da memória é um deles. Segundo Kardec, o Espírito é quem possui a sede da memória, pois ele é o ser inteligente, pensante e eterno. Sem o Espírito, o perispírito é uma matéria inerte privada de vida e sensações. É importante lembrar que os Espíritos ao passarem de um mundo para outro, mudam de perispírito de acordo com a natureza dos fluidos ambientes. Se no perispírito residisse a sede da memória, o Espírito a perderia cada vez que tivesse que mudar a constituição íntima de seu envoltório fluídico.
A mesma coisa se dá quando nos referimos à sede da sensibilidade. É o Espírito quem ama, sofre, pensa, é feliz, triste, ou seja, é nele que residem todas essas sensações ou faculdades. O perispírito é apenas o órgão que transmite todas essas sensações, portanto, é um instrumento a serviço do Espírito. Logo, segundo Kardec, é incorreto dizer que é no perispírito que ficam marcadas ou gravadas certas memórias ou atos do Espírito durante sua vida. Como já vimos, o perispírito é matéria, não pensa nem tem memória. Isso são atributos do Espírito.
Molde do Corpo Físico
"Quando o Espírito tem de encarnar num corpo em vias de formação, um laço fluídico, que mais não é do que uma expansão do seu perispírito, o liga ao gérmen que o atrai por uma força irresistível desde o momento da concepção. Sob a influência do princípio vito-material do gérmen, o perispírito, que possui certas propriedades da matéria, se une, molécula a molécula, ao corpo em formação, donde o poder dizer-se que o Espírito, por intermédio de seu perispírito se enraíza, de certa maneira, nesse gérmen, como uma planta na terra...:" No desencarne ocorre exatamente o contrário: o perispírito se desprende molécula a molécula, conforme se unira e ao Espírito é restituída a liberdade. Assim, não é a partida do Espírito que causa a morte do corpo e, sim, a morte do corpo é que determina a partida do Espírito.
Finalmente, em "O Livro dos Espíritos, pergunta n. 356”:
P - “Entre os natimortos alguns haverá que não tenham sido destinados à encarnação de Espíritos?"
R - “Alguns há, efetivamente a cujos corpos nunca nenhum Espírito esteve destinado. Nada tinha que se efetuar para eles. Tais crianças só vêm por seus pais."
Pergunta n. 356-A:
P - “Pode chegar a termo de nascimento um ser dessa natureza?"
R - “Algumas vezes, mas não vive."
Ora, se existem corpos físicos aos quais nunca nenhum Espírito esteve destinado, obviamente não havendo Espírito, não haveria perispírito para servirem de modelos. E como conseguiram as células se multiplicarem e darem ao final uma conformação humana a esse corpo físico se não havia o perispírito para servir de molde? Isso nos leva à conclusão de que o perispírito não é o molde ou forma do corpo humano.
O molde, a forma ou modelo se encontra nos fatores genéticos e hereditários de cada ser, herdados do material genético doado pelos seus pais. "O corpo procede do corpo, mas o Espírito não procede do Espírito." O Livro do Espíritos, perg. 207 e ainda em João 3:6, Jesus disse: "O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é Espírito."
Enfatizamos ainda que o Espírito se utiliza do perispírito como um laço fluídico para se ligar ao corpo em formação, corpo este que se desenvolve conforme os fatores genéticos e hereditários de cada ser herdado, como já foi dito, do material genético doado pelos seus pais. ("A Gênese", cap. XI - item 18).
Sendo o Espírito o arquiteto e condicionador do seu corpo de manifestação, juntamente com as Leis Naturais, não há que se falar que o perispírito seja o molde do corpo físico e, sim, o perispírito, em cada encarnação, que se modela para o corpo físico.
Elio Mollo
BIBLIOGRAFIA:
Obras da Codificação Espírita de Allan Kardec (O Perispírito) de Rubens P. Meira; Novo Testamento João, 3:6.
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