Se a matéria existe desde toda a eternidade, como Deus, ou foi criada por Ele em dado momento, só Deus o sabe. Há uma coisa, todavia, que a razão deve indicar: é que Deus, modelo de amor e caridade nunca esteve inativo. Por mais distante que logremos imaginar o início de Sua ação, não conseguiremos concebê-Lo ocioso, um momento que seja.
Define-se geralmente a matéria como sendo - o que tem extensão, o que é capaz de nos impressionar os sentidos, o que é impenetrável, ou ainda, matéria é tudo o que tem massa e ocupa um lugar no espaço, ou seja, possui volume, ex.: madeira, ferro, água, areia, ar, etc. Do nosso ponto de vista, como encarnado, estas definições são exatas, porque só podemos falar do que conhecemos. Mas a matéria existe em estados que ignoramos. Pode ser, por exemplo, tão etérea e sutil que nenhuma impressão nos cause aos sentidos. Contudo, é sempre matéria. Para os espíritos, porém, não o seria. A definição que podemos dar da matéria é de que ela é o laço (1) que prende o Espírito; é o instrumento de que este se serve e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce sua ação. Deste ponto de vista, pode dizer-se que a matéria é o agente, o intermediário com o auxílio do qual e sobre o qual atua o Espírito.
O espírito (alma) é o princípio inteligente do Universo (2).
Não é fácil analisar a natureza íntima do espírito, com a nossa linguagem, por não ser palpável, entretanto, para os Espíritos desencarnados é alguma coisa. É útil frisar que coisa nenhuma é o nada e o nada não existe.
A inteligência é um atributo essencial do espírito, porém, ambos se confundem num princípio comum, de sorte que, para nós, parecem que são a mesma coisa.
O espírito e a matéria são distintos um do outro, mas, a união de ambos é necessária para o espírito intelectualizar a matéria.
Essa união é igualmente necessária para a manifestação do espírito, (Aqui deve-se entender por espírito o princípio da inteligência, abstração feita das individualidades que por esse nome se designam.) porque não temos uma organização apta a perceber o espírito sem a matéria, ou seja, nossos sentidos não são apropriados para perceber o espírito.
Poder-se-á conceber o espírito sem a matéria e a matéria sem o espírito pelo pensamento.
Há então dois elementos gerais do Universo: a matéria e o Espírito e acima de tudo Deus, o criador, o pai de todas as coisas. Deus, espírito e matéria constituem o princípio de tudo o que existe, a trindade universal. Mas ao elemento material tem que se juntar o fluido universal, que desempenha o papel de intermediário entre o Espírito e a matéria propriamente dita, por demais grosseira para que o espírito possa exercer ação sobre ela. Embora, de certo ponto de vista, seja lícito classificá-lo com o elemento material, ele se distingue deste por propriedades especiais. Se o fluido universal fosse positivamente matéria, razão não haveria para que também o espírito não o fosse. Está colocado entre o espírito e a matéria; é fluido, como a matéria, e suscetível, pelas suas inumeráveis combinações com esta e sob a ação do espírito, de produzir a infinita variedade das coisas de que apenas conhecemos uma parte mínima. Esse fluido universal, ou primitivo, ou elementar, sendo o agente de que o Espírito se utiliza, é o princípio sem o qual a matéria estaria em perpétuo estado de divisão e nunca adquiriria as qualidades que a gravidade lhe dá. Esse fluido é suscetível de inúmeras combinações. O que chamamos fluido elétrico, fluido magnético, são modificações do fluido universal, que não é, propriamente falando, senão matéria mais perfeita, mais sutil e que podemos considerar independente.
Um fato patente domina todas as hipóteses: vemos matéria destituída de inteligência e vemos um princípio inteligente que independe da matéria. A origem e a conexão destas duas coisas nos são desconhecidas. Se promanam ou não de uma só fonte; se há pontos de contato entre ambas; se a inteligência tem existência própria, ou se é uma propriedade, um efeito; se é mesmo, conforme a opinião de alguns, uma emanação da Divindade, ignoramos. Elas se nos mostram como sendo distintas; daí o considerarmo-las formando os dois princípios constitutivos do Universo. Vemos acima de tudo isso uma inteligência que domina todas as outras, que as governa, que se distingue delas por atributos essenciais. A essa inteligência suprema é que chamamos Deus.
in O Livro dos Espíritos, Cap. II, Elementos Gerais do Universo, Livro primeiro, qq. 21 à 28. Obra codificada por Allan Kardec
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