Ao longo do tempo, a figura extraordinária de Jesus tem suscitado as mais diversificadas elaborações de temas. Perto de 65 mil livros já foram escritos sobre ele, sem contar as reportagens, poemas, artigos, pesquisas etc. E percebemos que o tema é inesgotável.
A época que Jesus escolheu para vir à Terra era realmente difícil. Os povos se digladiavam em guerras que pareciam intermináveis e o povo de Israel, que iria lhe receber, encontrava-se sob dominação romana. As notícias a respeito de sua chegada não são tão conhecidas pelas pessoas como deveriam ser, muitos acreditam que somente o Velho Testamento traz as profecias sobre isso. Porém, na realidade, à medida em que velhos povos vão sendo retirados do ostracismo do passado, descobre-se que já se falava de um ser especial que viria e os velhos templos traziam referências ao fato.
Todos o reconheceram. Quando dizemos todos, não nos referimos aos homens em si, porque estes não o identificaram, mas falamos daqueles que tiveram oportunidade de encontrá-lo, pessoas pertencentes a várias camadas sociais que, inspiradas pelo mundo espiritual ou pela personalidade notável de Jesus, reconheceram-no imediatamente. Não tiveram dúvida alguma a respeito do filho de Deus.
Jesus deixou um código de respeito a Deus e às criaturas de uma forma geral. Suas palavras ressoam com força e vigor na alma de muitos, mas, ainda assim, vários de seus ensinamentos profundos permanecem quase inatingíveis pela maioria das pessoas, talvez porque não parem para analisá-los.
Ao estudarmos a assertiva de que “os mansos herdarão a Terra”, isso pareceria uma coisa inadmissível, já que vemos a violência se multiplicar e os violentos parecerem vitoriosos, além de lembrarmos de homens poderosos do passado, que dominaram territórios, subjugaram e escravizaram povos, mas se perderam nas páginas da história, como Átila, Alarico, Alexandre e Júlio César. Só que isso não é a expressão da verdade.
Pensemos, por exemplo, em um Francisco de Assis, imortal em sua mansuetude, pureza e bondade, bem como reconhecido em todos os quadrantes de nosso planeta, para depois ouvirmos Jesus falando que “os mansos herdarão a Terra”. Ou seja, ao lembrarmos de figuras extraordinárias no campo do bem, que tiveram, como únicas posses, um coração gentil e um cérebro voltado para a construção do amor na Terra, observamos que as palavras de Jesus continuam atuais.
Quando Jesus diz que “é o caminho, a verdade e a vida”, o que fica para nós é que seus convites estão mais atuais do que nunca. Diante de tanta violência, tanto orgulho e personalismo, temos de pensar no gentil chamado que Ele nos fez, pedindo que “amemos uns aos outros como eu vos amei” .
Jesus deixou um código de respeito a Deus e às criaturas de uma forma geral. Suas palavras ressoam com força e vigor na alma de muitos, mas, ainda assim, vários de seus ensinamentos profundos permanecem quase inatingíveis pela maioria das pessoas.
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- Jesus é um espírito que já era perfeito antes da fundação do mundo. Não seria um modelo muito distante da nossa realidade para tentarmos alcançar ?
Não, não é tão distante assim. Segundo Emmanuel, a Terra realmente foi organizada por Jesus e por um grupo de Espíritos afins. A lei de amor aqui estabelecida é dele e toda a Terra está envolta nela, respiramos isso em todas as nossas reencarnações.
- Por que as religiões tradicionais insistem em transformar Jesus em Deus se ele nunca disse sê-lo, mas sempre que era o “mensageiro”, o “filho”, o “enviado”?
Exatamente para mantê-lo distante. As pessoas o glorificam, idolatram e ficam temerosas de segui-lo.
Porém, o Espiritismo apresenta o Jesus real, o amigo, o condutor, o pastor amado. E nós somos as suas ovelhas.
- Mas há a necessidade de ser perfeito par a poder ter participado da formação do sistema?
- Segundo O LIVRO DOS ESPÍRITOS, o Espírito perfeito não está mais sujeito à reencarnação e nem há condições par a tal. Será que isso não é mais uma tentativa de endeusar Jesus?
É uma questão de semântica, podemos utilizar a palavra que a gente quiser, Espírito puro, perfeito. Na Terra, os Espíritos que estão sujeitos à reencarnação são os errantes, ou seja, todos nós. Temos necessidade desse retorno, mas isso não quer dizer que apenas nós reencarnamos na Terra. Os missionários reencarnam na Terra por amor e não são mais espíritos errantes. São nomes como Siddhartha Gautama, o Buda, Krishna, Confúcio, Gandhi, entre outros, que, assim como Jesus, também não estavam sujeitos à reencarnação, mas vieram mesmo assim.
- Humilde como todo bom espírito deve ser, Jesus poderia ter dito a frase “eu sou o caminho, a verdade e a vida” na primeira pessoa? Não teria ele dito isso sobre o Pai que o enviou e, posteriormente, a frase ter sido alterada pela insistência em se dizer que Jesus é Deus?
Não existe nenhum tipo de vaidade nessa frase, porque Jesus realmente é o caminho, toda a sua vida foi um roteiro de como deveríamos proceder, o mapa que ele deixou na Terra. Então, é ele o caminho e todos eles levam a algum lugar, que, no caso, é Deus. Assim, fica bem demonstrado que Jesus não é Deus, porque se ele é o caminho, então, o objetivo é outro.
- Se tomarmos como base a hipótese ou o fato de que Jesus era perfeito na época que voltou à carne, por que temos uma pequena variedade de comportamentos nele, como os “vendilhões do templo”, que revela uma certa fúria, ou o “por que me abandonaste” dito a Deus na cruz, mostrando alguma fraqueza, ao mesmo tempo em que apresentava uma mansuetude no geral?
A respeito da perfeição dele na época da construção da Terra, não é uma hipótese, porque se Jesus trabalhou na organização da vida terrena, já possuía os valores relativos ao nosso entendimento. Quanto à questão dos vendilhões do templo, não podemos levar ao pé da letra o que está escrito. Recordando o fato de que Jesus falava em aramaico, uma língua muito pobre em vocábulos, e que o que temos hoje representa uma síntese, feita por São Jerônimo, de todos os escritos que foram recolhidos sobre ele, então não podemos falar em fúria.
Sobre a fraqueza, na verdade, Jesus recitava um salmo de Davi naquele momento, era a hora da prece. Portanto, não existe variedade de comportamento nele, Jesus era austero sem subjugar as pessoas, era respeitado e amado, como são as grandes almas voltadas para o bem.
Temos relatos sobre a infância de Jesus até por volta dos 12 anos de idade e, em seguida, encontramos um período não esclarecido de sua vida, que vai até próximo dos 30 anos.
- Existem relatos escritos sobre estes “anos desaparecidos”? O que ele ter ia feito nesse período?
O evangelho realmente só se refere a Jesus na infância e em sua última aparição, aos 12 anos, no templo de Jerusalém. Depois, ele reaparece como homem feito. Todos os relatos que são feitos do período do desaparecimento são hipotéticos.
O que sabemos a respeito é o que os Espíritos nos dizem, isto é, que Jesus levou uma vida normal.
- Há alguma informação no sentido de que Jesus voltar á a encarnar, como afirmam outras religiões?
Não há nenhuma notícia de que Jesus voltará a encarnar, mas ele prometeu que prepararia um lugar para todos e que era o caminho que conduziria para esse local.
- Que conclusão podemos tirar do fato de Jesus ter ressuscitado depois de três dias?
Trabalhando na organização do planeta, Jesus conhecia as leis que o regem.
Se hoje nós temos médiuns que se desmaterializam e voltam a se materializar, equivalendo a dizer que há uma desagregação molecular, ou também fenômenos de transporte, com a matéria transpondo-se através de matéria, sem que haja ainda uma explicação de nossa ciência para isso, Jesus podia manipular a matéria conforme a sua vontade. Aliás, foi o que aconteceu em Nazaré. Ele estava sendo pressionado pela multidão para um precipício, então simplesmente desapareceu e ressurgiu junto aos discípulos, que estavam atrás dela. Sem contar quando caminhou sobre as águas, no fenômeno de levitação. E se Jesus podia curar cegos, aleijados e leprosos ou expulsar Espíritos, poderia fazer o que quisesse com seu próprio corpo.
- Jesus precisou contar com o apoio de Espíritos desencarnados durante o tempo em que esteve aqui na Terra?
Ele é o Senhor dos Espíritos, então, todos nós o servimos. Vendo dessa forma, ele precisa da gente, não é? Portanto, cada vez que você é convocado para ser atencioso com alguém, ser gentil com seus pais e irmãos, alimentar um faminto ou atender um enfermo, você está a serviço de Jesus.
Entrevista com Ana Guimarães, do livro Jesus e o Espiritismo, de Victor Rebelo.
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