Debalde se procura humanamente conceituar a Música, porquanto, seja de ordem espiritual e espiritual, não há como circunscrevê-la às teorias. Afinal, música é para ser sentida e não explicada.
O termo Música vem da expressão grega musike techne, a arte das musas. As musas, pela mitologia grega, eram cada uma das nove deusas que inspiravam as ciência e artes e para contentar as divindades, só mesmo algo tão excelso.
Singelamente poderíamos dizer que ela é “a arte de combinar sons de acordo com o tempo”, mas por trás da sentença acima estão infinitos elementos a serem considerados, tais como as propriedades da combinação: altura (variação de sons graves e agudos), duração do som e dos intervalos (silêncios), intensidade (volume) e timbre (identidade sonora que distingue os instrumentos, as vozes e demais fontes que reproduzem som).
As impressões também se alternam de acordo com as partes envolvidas (compositores, intérpretes, apreciadores) e da aplicação (entretenimento, informação, louvor, anarquia, etc.), de onde parte as definições também exprime um pouco as teses. Um tecnomúsico (trabalhador do ramo musical) a define tal qual ele é; já um historiador explora mais a árvore da evolução ao longo do tempo; o antropólogo mergulha na relação que a música tem com o caráter folclórico e cultural dos povos, e assim por diante.
* * *
Sem a pretensão de encerrar a definição conceitual, mas rechear o termo poeticamente, digamos, alguns pensadores dissertaram sobre a primeira das Artes. Vejamos algumas citações:
O escrito francês Victor Hugo, por exemplo, definiu: “A música está em tudo. Do mundo sai um hino. A música é o barulho que pensa.”
“Sempre tive a impressão de que a música fosse apenas o extravasamento de um grande silêncio”, escreveu Marguerite Yourcenar, escritora belga. E sobre o rompimento desse silêncio — agora metaforizado pela solidão —, o poeta e dramaturgo inglês Robert Browning disse: “Quem ouve música, sente a sua solidão de repente povoada.”
No conceito do pintor e escultor Georges Braque, “O vaso dá uma forma ao vazio e a música ao silêncio.”
Alguns pensadores atentaram-se à Música como uma forma de linguagem sublime. “A música exprime a mais alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende.” — ajuntou o filósofo alemão Arthur Schopenhauer. Seguindo esse raciocínio, ela estaria acima do formalismo linguístico, como anota Ernst Hoffmann: “A música começa onde acaba a fala”. Por isso, “Milhares de pessoas cultivam a música; poucas, porém, têm a revelação dessa grande arte.”, como disse Ludwig Beethoven — considerado por muitos o mais genial músico de todos os tempos.
O formalismo da elocução é deixado de lado, quando na hora de avaliar a arte musical: “Adoro sob todas as formas de linguagem a música, porque ignoro ainda a ignomínia da gramática e da filosofia.”, segundo o cientista Paolo Mantegazza.
A faceta do misterioso parece ser o atrativo primordial da arte que estamos tratando. Oscar Wilde dizia: “A música é o tipo de arte mais perfeita: nunca revela o seu último segredo“. Desta forma, Samuel Johnson aduziu: “A música é um método de empregar a mente sem ter o trabalho de pensar em absoluto.”
Confúcio, célebre pensador chinês, questionava se o homem era capaz de compreender essa língua musical: “Como é que um homem sem as virtudes que lhe são próprias pode cultivar a música?”
Por sua vez, o italiano Massimo Azeglio ponderou: “Não seria a música uma língua perdida, da qual esquecemos o sentido e conservamos apenas a harmonia?”
Marcel Proust propôs: “A música pode ser o exemplo único do que poderia ter sido — se não tivesse havido a invenção da linguagem, a formação das palavras, a análise das ideias — a comunicação das almas”.
Contudo – e, sobretudo –, vê-se que excelsitude musical: “O homem que não tem a música dentro de si e que não se emociona com um concerto de doces acordes é capaz de traições, de conjuras e de rapinas”, escreveu William Shakespeare. Até mesmo o materialista e ateu Friedrich Nietzsche se rendeu aos seus encantos com fervorosa defesa: “Sem a música, a vida seria um erro.”
Miguel de Cervantes, pai do célebre personagem “Dom Quixote”, sentenciou: “Onde há música não pode haver coisa má”.
“A música tem encantos para serenar o coração mais selvagem”, ouviu-se de William Congreve, poeta inglês.
Quando Victor Hugo disse “A música é o verbo do futuro”, colocou nas entrelinhas o que declara Beethoven: “A música é o vínculo que une a vida do espírito à vida dos sentidos. A melodia é a vida sensível da poesia”, como que ratificado por Leonid Pervomaisky: “Pouco importam as notas na música, o que conta são as sensações produzidas por elas”.
O libanês filósofo Khalil Gibran anteviu: “A música é a linguagem dos Espíritos”, copilando Aristóteles: “A música é celeste, de natureza divina e de tal beleza que encanta a alma e a eleva acima da sua condição”.
Em tom como que de oração, lembremos Miguel Unamuno, poeta espanhol: “Entre as graças que devemos à bondade de Deus, uma das maiores é a música. A música é tal qual como a recebemos: numa alma pura, qualquer música suscita sentimentos de pureza“.
“Quando se ouve boa música fica-se com saudade de algo que nunca se teve e nunca se terá”, tem-se de Samuel Howe.
Johann Goethe, pensador alemão confessou: “O ritmo tem algo mágico; chega a fazer-nos acreditar que o sublime nos pertence”.
Aqui, este autor arrisca uma pérola: “A Música é vibração que entra pelos ouvidos e sai pelos olhos lacrimosos”.
Ery Lopes
Texto extraído do livro “A Música segundo o Espiritismo”, de Ery Lopes
Nenhum comentário:
Postar um comentário