quinta-feira, 10 de março de 2011

Tempos Novos


Por Juvanir Borges de Souza


A lei do progresso aplica-se a toda a criação divina.

A Humanidade terrestre, compreendendo os Espíritos encarnados e desencarnados, em todos os tempos, juntamente com o mundo em que habitam, subordinam-se à evolução decorrente daquela lei.

O progresso é uma das leis naturais que a Doutrina dos Espíritos revelou, juntamente com outras, expostas na Parte Terceira de O Livro dos Espíritos. As leis naturais ou divinas são as regras e ordens estabelecidas pelo Criador para toda a criação, delas resultando a harmonia universal. Com a Revelação Espírita torna-se possível compreender que a Providência Divina está presente em toda parte, regendo a tudo na Natureza através de leis sábias e perfeitas.

Diante das leis de Deus, ainda incompreendidas pela maior parte da população terrena, apresentam-se inaceitáveis as idéias místicas, as crendices, os caprichos e tudo o que se torna inconciliável com o poder divino e com sua bondade e sabedoria.

Com um mínimo de observação e de conhecimento da história humana, verifica-se que a Humanidade transpôs diversas etapas em evolução.

Sem dúvida, convivemos em um mundo atrasado, onde são comuns os interesses injustificáveis e escusos, a criminalidade desenfreada, as guerras, as violências, a miséria que atinge contingentes consideráveis da população, a ignorância que impõe tantas limitações aos seres humanos, ao lado de outros males e sofrimentos individuais e coletivos.

Mas, de outro lado, se compararmos as condições da vida humana de séculos e milênios anteriores com as que predominam nos dias atuais, verificamos, sem dificuldade, que houve grande progresso em todos os sentidos, refletindo-se nas organizações sociais, nas leis humanas, nos descobrimentos científicos, nas artes em geral e no bem-estar da população.

A simples comparação entre o lado progressivo alcançado pela população terrena e as condições negativas que ainda subsistem no seio da Humanidade demonstra a necessidade de conjugar as conquistas no campo material com as realizações de ordem moral.

As primeiras decorrem da aplicação da inteligência humana na busca de conhecimentos, como tem ocorrido nos domínios das ciências, da tecnologia e de todas as conquistas no terreno da vida material. As de natureza moral são aquisições mais difíceis para o homem.

Transformar-se um ser egoísta, orgulhoso, ou indiferente à fraternidade, à solidariedade e ao amor aos seus semelhantes é obra individual das mais difíceis para o Espírito que se deixou dominar por interesses imediatistas, por crenças desviadas das realidades e por instituições estagnadas no passado.

Conhecendo essas dificuldades, próprias de um mundo atrasado, Jesus, o Cristo de Deus, na sua missão excepcional de há dois mil anos, preocupou-se especialmente em proporcionar aos homens de sua época, e principalmente aos que nascessem e renascessem no futuro, os ensinos morais, que Ele resumiu no amor, o sentimento-síntese que se opõe ao egoísmo, ao orgulho e suas conseqüências.

Prometendo enviar, no futuro, o Consolador, que ficaria para sempre com os homens, o Cristo procurou prevenir os desvios que pudessem ocorrer com relação à sua Mensagem em favor do aperfeiçoamento moral dos homens.

O Consolador Prometido já se encontra no mundo, relembrando os ensinos do Mestre e trazendo novos conhecimentos, especialmente no que se refere à vida futura nos mundos espirituais, para os seres que passam pelas encarnações na Terra e as relações permanentes entre os Espíritos encarnados e os desencarnados.

O nosso mundo está, assim, apto a novo círculo de progresso, tanto na parte física quanto na moral, pela evolução dos Espíritos que o habitam. Ao lado da evolução do homem pelas conquistas materiais, progride a Humanidade pelo cultivo da inteligência, do senso moral, e pelo abrandamento ou supressão dos costumes bárbaros de épocas passadas.

Resta, então, o contingente daqueles que, utilizando seu livre-arbítrio, desprezam todas as oportunidades de uma transformação para melhor, apegando-se aos velhos costumes, aos crimes, à indiferença e à insensibilidade diante do sofrimento alheio.

Os retardatários que se escravizam a velhos modos de vivência, os niilistas, egoístas e insensíveis, ainda representam elevada percentagem dos habitantes do nosso mundo.

Chegados os tempos novos das transformações positivas, os recalcitrantes, os que não aproveitaram as sucessivas reencarnações para progredir, os que desdenharam de todas as oportunidades para melhorar suas individualidades serão transferidos para mundos que condizem com suas condições de rebeldia e atraso, onde aguardarão suas transformações morais e espirituais.

É uma das formas estabelecidas pelas leis naturais para atender à liberdade na escolha de cada um, sem prejudicar os que aderem ao progresso, acompanhando as transformações naturais de um mundo que busca novo e melhor estágio.

A Terra – compreendendo também as esferas espirituais que lhe pertencem –, como mundo de regeneração será habitada por Espíritos encarnados e desencarnados que já superaram as inclinações para o mal.

As gerações atuais serão sucedidas por outras constituídas de seres propensos ao bem, enquanto os rebeldes, inclinados ao mal, serão encaminhados para outros mundos.

Tudo ocorrerá de forma natural, com a diferença de que uma parte dos Espíritos, sujeitos às reencarnações na Terra, transmigrarão para outros mundos, nos quais continuarão suas experiências vivenciais, sujeitas às mesmas leis divinas, justas e perfeitas.

Segundo as revelações dos Espíritos Superiores, já estamos vivendo a época de transição da Terra, de mundo de expiação e provas para mundo de regeneração.

Esse período estender-se-á pelo tempo necessário ao cumprimento das leis divinas, sem prejuízo para os Espíritos de diferentes condições evolutivas.

Pode ocorrer, por exemplo, que determinado Espírito, que se mostrou rebelde até a atual reencarnação, desperte agora para o bem, movido por novas experiências, ou por um conhecimento que ignorava.

Nesse caso, deixa de ser um elemento de perturbação para incorporar-se ao contingente dos que merecem a oportunidade de viver e progredir em um mundo melhor, e então não necessitará transferir-se para um plano de sofrimentos e provas.

Esse e outros exemplos, que podem ocorrer com muitos Espíritos, mostram a previsão e a sabedoria das leis divinas e a razão da longa duração dos períodos de transição.

O progresso intelectual realizado pelos habitantes deste orbe, até a atualidade, é inegável e está evidente. Passaram-se milhares de anos nos quais as buscas de conhecimento foram compensadas por descobertas de várias naturezas: científicas, tecnológicas, de melhorias nos usos e costumes, na saúde e no bem-estar das criaturas.

Mas todo esse acervo de conhecimentos aplicados à vida humana não evitou que o homem fosse dominado pelo egoísmo, pelo orgulho e pela indiferença com relação aos sofrimentos alheios. A violência e os bolsões de misérias, para só citar dois flagelos espalhados por todo o mundo, comprovam que o progresso intelectual, dirigido e aplicado à vida material, não traz a verdadeira felicidade nem para os indivíduos, nem para as coletividades.

Para a conquista da felicidade faz-se necessário e indispensável o progresso moral da Humanidade, porque é através dele que o homem refreia suas paixões mais variadas, para partilhar com seus semelhantes a paz, a fraternidade, a solidariedade, o amor.

Só com o progresso moral, que o Cristo sintetizou no amor a Deus e ao próximo, os indivíduos e os povos anularão seus preconceitos de raças, de castas, de superioridade, de seitas e de religiões, proscrevendo as guerras e as violências e substituindo-as pelo entendimento, pela compreensão e pela cooperação, na solução dos problemas.

O progresso moral, ao lado das conquistas intelectuais, beneficiará toda a Humanidade, que não mais se dividirá por raças e por crenças variadas que impõem seus interesses, mas se voltará para as verdades eternas, patrimônio que será cultivado e aceito por todos como base e fundamento da fraternidade, sem oposições incentivadas pela ignorância e pela presunção de superioridade.

Para atingir esse ideal, que nos dias atuais parece distante, impossível, já que ele pressupõe uma mudança essencial nos sentimentos das massas humanas, apegadas às mais diferentes religiões, crenças e filosofias de vida, inconciliáveis por tradição, torna-se evidente que há de desaparecer o radicalismo inconseqüente e injustificável.

As gerações que se apegam aos extremismos serão as que deixarão o nosso mundo, para possibilitar o entendimento dos que aspiram ao progresso moral, ao cultivo de idéias e ideais mais justos e à aceitação das verdades eternas.

Deixando a Terra, os radicais levarão consigo seus apegos e erros concepcionais, possibilitando assim a regeneração do nosso mundo pelo trabalho útil e pelo idealismo calcado nos valores verdadeiros derivados do amor fraternal, que possibilitarão a ascensão da Humanidade a uma nova fase, mais feliz.

Quanto mais nos aproximarmos dos novos tempos, maior entendimento e compreensão haverá entre as raças e os povos, como também entre as religiões.

A incredulidade e o materialismo, deparando-se com a realidade do Espírito eterno, com a vida que se desdobra para além da morte do corpo físico, com a prática da caridade e da tolerância por toda parte, terão amplas oportunidades de rever suas idéias e posicionamentos, para se renderem à realidade dos fatos.

As novas gerações vão se deparar cada vez mais com os novos ensinamentos. O Espiritismo, como o Consolador, representando idéias novas em perfeita consonância com a realidade ainda não percebida pela maior parte da Humanidade, encontrará nos tempos novos e nos homens do futuro aqueles Espíritos que estão à procura da verdade.

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