terça-feira, 4 de maio de 2021

A Mansão do Caminho, de Divaldo Pereira Franco

 


Idealizada pelo médium Divaldo Pereira Franco e pelo saudoso Nilson de Souza Pereira, a Mansão do Caminho é um gesto concreto de caridade, fraternidade e amor

Por: Cris Oliveira

A Mansão do Caminho fica no bairro Pau da Lima, um dos cinco mais populosos de Salvador (BA). Fundada em 15 de agosto de 1952, é o que podemos chamar de gesto concreto de caridade, fraternidade e amor, idealizado por Divaldo Pereira Franco e Nilson de Souza Pereira, o Tio Nilson.

Ao cruzar o grande portão azul que dá acesso ao local tem-se uma pequena amostra dos prédios e ruas asfaltadas e sinalizadas, indicando que há muito o que explorar no espaço, que mais parece um bairro planejado.

Logo na entrada, uma frase de Joanna de Ângelis, a mentora espiritual de Divaldo, que chega aos 94 anos como um dos médiuns mais respeitados do Brasil e reconhecido em várias partes do mundo, resume o significado daquela obra social: "Ama, e coroarás as horas de luz; serve, e adornarás o coração de intérmina ventura."

A grandiosa estrutura atende milhares de pessoas. Seus vários prédios, área verde de floresta nativa, ginásio de esportes, recantos e ruas ocupam uma área de 78 mil metros quadrados. O local é aberto aos visitantes, sendo necessário agendar antecipadamente. São tantos os interessados em conhecer o espaço que existe um setor específico para receber as pessoas ou grupos. As visitas, diárias, são guiadas por voluntários. Minha dica é: reserve ao menos duas horas e tenha disposição para andar.

A Mansão do Caminho é um departamento do Centro Espírita Caminho da Redenção, fundado em 7 de setembro de 1947, que fica vizinho ao complexo e tem entrada independente, por outra rua.

Os trabalhos sociais do centro espírita tiveram início em 1948, voltado ao atendimento de idosos e portadores de doenças incuráveis e degenerativas. No início, os voluntários da chamada "Caravana Auta de Souza" partiam em busca de doações, seja de cestas básicas, roupas, sapatos ou medicamentos. E, depois, levavam até as casas dos mais necessitados. Hoje, tanto as doações como o acompanhamento dessas pessoas estão concentrados na sede da instituição.

Parte dos atendidos frequenta a Mansão uma ou duas vezes por semana, e recebe uma cesta básica diferenciada, com ovos, leite e aveia. Também participam de uma palestra ecumênica e almoçam no local.

Vale destacar que o complexo conta com uma cozinha geral, atualmente terceirizada, e refeitório, onde almoçam os funcionários, voluntários e também os visitantes que quiserem, pagando uma taxa de R$ 10. São servidas entre 500 e 800 refeições por dia. Apenas as crianças da creche têm cozinha e refeitórios separados, coordenados por nutricionistas.

Outra atividade que também marcou o início dos trabalhos fraternos de Divaldo foi o orfanato, os lares-famílias, que em mais de 40 anos recebeu cerca de 650 crianças e jovens. O trabalho educacional foi readaptado em 1987. Atualmente, além de ações assistenciais, a Mansão do Caminho oferece serviços de saúde e educação.

A estrutura abriga ainda a casa onde mora Divaldo, que fica em frente ao Recanto de Joanna. Tem também o memorial dedicado ao médium, que resistiu em ter um lugar que abrigasse sua história e inúmeras homenagens.

Há ainda os espaços dedicados aos cursos profissionalizantes, como de tapeçaria, onde as pessoas aprendem a gerar sua própria renda. Isso sem falar da biblioteca que leva o nome de Joanna de Ângelis e abriga mais de 7 mil títulos espíritas, alguns deles obras raras.

Educação

No segmento educacional, são atendidas crianças de cinco meses até aproximadamente 15 anos, desde a creche até o nono ano do ensino fundamental.

Na creche, são três ciclos: a Manjedoura recebe bebês de cinco meses a dois anos e meio, sendo que conta com enfermaria no andar superior, onde as crianças podem ser atendidas por pediatra; o Jardim da Infância Esperança abriga crianças de dois anos e meio a quatro anos; e na Alvorada Nova ficam as crianças dos quatro aos seis anos. Tudo funciona com o auxílio profissional de pedagogas, nutricionista, psicopedagoga, psicólogo e assistente social.

A escola Jesus Cristo recebe alunos do 1º ao 9º ano. Ao todo são aproximadamente 1.500 alunos. Convênios municipais e estaduais auxiliam na manutenção dos serviços.

E se educação e cultura andam juntas, os adolescentes têm ainda acesso às atividades culturais oferecidas no centro cultural da Mansão do Caminho, o Centro Socioassistencial Integrado Ana Franco. Ouvir as vozes em coral, em meio ao verde que cerca o prédio, traz uma agradável sensação de paz e integração com a natureza.

Saúde

No Centro de Parto Normal Marieta de Souza Pereira, são realizados cerca de 65 partos mensais. A estrutura oferece partos na banheira, maca e de cócoras. E, nos casos em que o trabalho de parto se inicia, mas a gestante acaba precisando de uma cesárea, uma UTI móvel a leva para o hospital onde possa ser feito o procedimento.

O Centro de Saúde José Carneiro de Campos faz o atendimento ambulatorial dos alunos, funcionários e demais assistidos pela instituição. No local, além do clínico médico para pessoas de todas as idades, tem o acompanhamento de gestantes e atendimento odontológico, sendo que grande parte dos profissionais de saúde atendem de forma voluntária. O Laboratório José Bezerra de Menezes também integra a estrutura de saúde.

Manutenção

A maior parte do trabalho é mantida pela venda dos livros de Divaldo, que doou todos os direitos à Mansão do Caminho, onde está instalada a Livraria Leal. É possível adquirir vários títulos, entre livros, revistas, CDs e DVDs. Eles também podem ser encontrados em livrarias de todo o País, ou mesmo pela loja online.

São aproximadamente 200 títulos psicografados, a maioria deles traz as reflexões e histórias de Joanna de Ângelis, mas outros espíritos também já deixaram suas mensagens via Divaldo. Praticamente a metade dos títulos já foram traduzidos para 15 idiomas. São mais de 7,5 milhões de livros vendidos. Outra maneira de colaborar com os trabalhos do local é fazendo doações diversas.

Pouco se fala sobre o papel de Tio Nilson, mas ele foi fundamental para coordenar a obra que fundou junto com o amigo Divaldo. Eles se conheceram em 1945, quando Divaldo dava aula de datilografia na Escola Nossa Senhora do Carmo, onde Nilson se matriculou.

Enquanto Divaldo viajava, divulgando a doutrina espírita e vendendo seus livros, Nilson era responsável por manter tudo funcionando e em plena expansão. Hoje, ele está no plano espiritual, de onde continua olhando para a Mansão do Caminho.

Uma rio-pretense na Mansão do Caminho

Ver de perto e percorrer as ruas da Mansão do Caminho é algo que recomendo aos que passarem pela capital baiana. O lugar é estimulante e deixa claro que, quando se quer fazer algo pelo próximo, sempre é possível. Sentar em um dos bancos do Recanto de Joanna e refletir sobre o nosso papel aqui é emocionante.

A coordenadora do Setor de Visitas, Maria Anita Rosas Batista, juntamente com o seu marido, Gilberto, foram muito receptivos e atenciosos. Por um capricho do destino, ela nasceu em São José do Rio Preto, onde viveu até os 6 anos, e conta que foi torcedora do América.

Foi longo o caminho até trabalhar ao lado de Divaldo, de quem é uma das biógrafas, já que assina "O jovem que escolheu o amor", livro que conta a história do médium desde o nascimento.

"Eu conheci o Divaldo em 1981 e me tornei espírita depois desse encontro. Tinha ido até Uberaba porque haviam me convidado para visitar Chico Xavier, e, quando eu cheguei lá, tinha esse homem sentado em uma das mesas. Eu o vi com uma luz como se fosse um luar, uma aura iluminada. Mas eu nem sabia o que era aquilo. Então me disseram se tratar de Divaldo, mas o foco de todos era o Chico. Passados dois meses, fui chamada para assistir a uma palestra em Campinas, nessa época eu morava em São João da Boa Vista. Chego lá, era Divaldo. Foi então que comecei a estudar, ler os livros e frequentar o centro espírita", explica.

Mas como foi parar na Mansão do Caminho? "Em 1995, viemos aqui (em Salvador) com os manuscritos do livro para o Divaldo olhar. Em 1996, voltei para buscar as fotos que iriam compor o livro, e, em 1998, viemos e acabamos ficando. O Gilberto começou a ajudar na Livraria Leal. E foi em 2003 que o Divaldo me convidou para cuidar desse setor que ele estava fundando, e estou aqui até hoje", conclui.

Fonte: Diário da Região

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