Por Clóvis
Holanda
Desde que entramos em isolamento e a pandemia da Covid-19 se consolidou no Brasil, tenho escutado líderes de religiões e filosofias, que refletem de forma holística sobre este momento. Conversei com Luciano Klein, historiador, sócio efetivo do Instituto do Ceará e presidente da Federação Espírita do Estado, que apresenta a visão da filosofia espírita a respeito do que vivemos hoje no mundo. Seguem trechos.
Luciano Klein |
Como o
espiritismo vê um momento como estes que estamos atravessando?
Luciano
Klein: É um momento evidente de transição pela qual passa a Terra. Períodos
assim ensejam lições profundos acerca das nossas relações com os valores
éticos, morais, das criaturas humanas, como também em relação ao nosso apego às
questões de ordem material. Certamente é um momento que permite à criatura
humana tirar as lições necessárias ao enriquecimento de seu patrimônio
espiritual.
Individualmente,
à luz da crença espírita, estamos, portanto, diante de um convite à evolução
humana, espiritual?
Luciano
Klein: Certamente, tudo na natureza está em processo permanente de metamorfose e
evolução, individual e coletiva. Estamos no limiar de um novo século, que é
também o início do terceiro milênio. Certamente muito vai acontecer. Visto por
um outro lado, quando já se acreditava nesta mudança, muitos esperando
inclusive uma hecatombe de proporções mundiais com armas atômicas, estamos
tendo a oportunidade, embora dolorosa, de termos a cada um, na intimidade do
lar, reaprendermos a conviver com os próximos mais próximos. Se tivermos a
necessária calma, tiramos as lições importantes.
Que outros
períodos da história podem ser comparados a este e qual a mensagem coletiva que
passagens assim deixam?
Luciano
Klein: Sempre houve ao longo da história da humanidade momentos em que
pandemias se deram, quase sempre após grandes conflitos ou guerras. No Egito
Antigo, segundo a tradição bíblica com Moisés, temos aquela enfermidade que
ceifou a vida física de muitas crianças. Retirada a parte alegórica, nos mostra
que epidemias eram recorrentes. Na Idade Média temos a célebre peste negra,
durante o período final das cruzadas, que ceifaria a vida de praticamente um
terço da população europeia, provocada por uma pulga que vivia na pelagem do
rato medieval. Provocou muita dor e sofrimento. Na triste forma democrática de
ser, a morte àquele tempo não fazia distinções, levava nobres, servos, crentes,
descrentes, animais. Mais recentemente, no século passado, tivemos a chamada
gripe espanhola, que também se alastrou pelo mundo, levando a vida de muitas
pessoas. Agora temos a terrível pandemia.
Em vídeo
recente, o conhecido médium Divaldo Franco, informa que desde setembro os
"amigos espirituais" já sinalizavam para um momento de crise na
Terra. Os espíritas já aguardavam o que vivemos hoje?
Luciano
Klein: Divaldo Franco tem sido para nós um arauto da esperança. Porque com a
serenidade que lhe é peculiar e uma vida intensamente dedicada ao espiritismo,
que ele abraçou desde a juventude, vem nos trazendo alento ao porvir. Em se
tratando de uma mediunidade limpa, clara, segura como a de Divaldo, com certeza
é possível que estas informações ele já tivesse recebido do mundo espiritual,
como também nós sabemos e Allan Kardec já fazia alertas neste sentido, na
última obra da codificação, que é a obra Gênese, lançada em 1868, que essas
mudanças planetárias são seguidas de dor e sofrimento, em razão, às vezes, da
nossa não observância em relação às diretrizes que devemos seguir, que são as
preconizadas por Jesus de Nazaré. A necessidade do amor, da fraternidade. Por
não fazermos opção por este caminho, por não investirmos na ciência, na
tecnologia, no auxílio aos necessitados, em vez de estarmos gastando bilhões de
dólares na confecção de armas de destruição em massa. Certamente o mundo seria
outro e enfermidades como essa estaríamos enfrentando de outra maneira.
Os
sofrimentos e as perdas são processos necessários à vida terrena? Como o
espiritismo vê essa vivência coletiva?
Luciano
Klein: Vivemos num mundo classificado pelos espíritos superiores como sendo de
provas e expiações. Mundos desta estirpe, por não seguirmos as diretrizes
seguras ao encontro consigo mesmo, do equilíbrio interior, da implantação do
reino dos céus, que se estabelece primordialmente na intimidade do coração, por
não atentarmos à necessidade de sermos fraternos uns com os outros, por sermos
irresponsáveis na relação com a natureza, a vida nos dá as respostas. Às vezes
de forma dolorosa. Isso faz parte de uma lei de causa e efeito. Não que Deus
seja um juiz implacável, punidor, não. Deus na concepção espírita é o amor,
demonstrado pelo próprio Jesus na relação com seus contemporâneos. Sofrimentos
e dores fazem parte desta maturação.
Uma mensagem
aos leitores:
Luciano Klein: Nós não podemos perder a esperança. Na visão espírita, Jesus é o governador do nosso planeta. Diferente dos governantes terrestres, que muitas vezes enxergam as questões relacionadas à vida e ao homem de forma enviesada, ele não. Ele tem uma visão plena, perfeita, em relação à criatura humana. E se a embarcação na qual estamos, chamada planeta Terra, está sob a sua condução, devemos seguir com confiança. Nunca perdermos a capacidade de crer. E termos a certeza, como dizia Heráclito, um velho filósofo grego, que tudo passa, tudo flui. Relembrando um trecho da música de Nelson Mota, interpretada por Lulu Santos, "nada do que foi será, de novo, do jeito que já foi um dia. Tudo passa, tudo sempre passará, porque a vida vem em ondas como o mar, neste infinito ir e vir".
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