Muitas pessoas dentro do movimento espírita não dão o devido valor às Escrituras Sagradas (Bíblia). Isso porque apegam-se mais à letra do que ao espírito dos ensinos, como faziam os antigos religiosos, e como fazem muitos que professam outras religiões contemporâneas.
Porém, esta atitude preconceituosa contraria o que diz Allan Kardec, que deixa claro, no primeiro capítulo de "O Evangelho Segundo o Espiritismo", a importância do Velho e do Novo Testamento Bíblicos para que a Doutrina Espírita pudesse nos ser revelada.
"Não penseis que vim revogar a Lei ou os profetas: não vim revogar, vim para cumprir" (Mateus, V: 17 e 18)
Nesta passagem, Jesus deixa claro também que seus ensinamentos estariam baseados nos 10 Mandamentos da Lei de Deus, que foram trazidos ao homem por Moisés.
As leis trazidas por Moisés tinham dois aspectos: o humano e o divino.
O aspecto humano eram as leis feitas por ele para comandar cerca de 600 mil pessoas libertadas da escravidão e que seriam guiadas pelo deserto à chamada "terra prometida". Por isso, foi necessária a instituição de penas severas, pois o povo há 3700 anos era bem rebelde. Foi assim que foi instituída a Pena de Talião (olho por olho, dente por dente), visando controlar os ímpetos dos que quisessem dificultar o convívio entre mais de meio milhão de homens.
Já o aspecto divino são os Dez Mandamentos, que nada mais são do que o resumo da moral divina, e Moisés foi o escolhido para começar, aos poucos, a implantar esta ideia no seio do povo hebreu e Jesus, na passagem citada, reafirma a importância destes mandamentos, afirmando que veio para cumpri-los.
"Encontramos nesta Lei o princípio dos deveres para com Deus e para com o próximo, que constitui a base da Doutrina de Jesus Cristo" (Allan Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo 1).
Já Allan Kardec inclui os Dez Mandamentos e o Evangelho de Jesus como as duas primeiras grandes revelações feitas ao homem. Jesus e Moisés foram os maiores médiuns de que temos notícias, com seus efeitos físicos e curas sobre os quais a Doutrina hoje nos esclarece, através da compreensão dos fluidos, suas modificações e o poder da fé na administração dos mesmos.
Os Dez Mandamentos e a Atualidade – Uma Visão Espírita
Amar a Deus sobre todas as coisas x Materialismo
Somos levados a desprezar as coisas religiosas em benefício dos prazeres terrenos. O amor a Deus passou a ser visto como piegas e muitos de nós estamos somente interessados em buscar o que impressiona os olhos, e não o que faz bem ao espírito. Amar a Deus não significa ficar glorificando-O o dia todo, mas sim praticar seus ensinos, fazendo ao próximo o que desejamos para nós mesmos.
Não usar o nome de Deus em vão x Comércio Religioso
Assistimos vez por outra, hoje em dia, cenas deprimentes em que falsos religiosos comercializam os céus. Há promessas de quem der mais dinheiro, ou comprar artefatos supostamente sagrados, conseguirá o Reino de Deus.
Há pessoas que abusam da boa fé alheia, distorcendo inclusive o que está escrito na Bíblia, enganando os ignorantes. É importante analisarmos o que nos é prometido, em nome de Deus, pois não há dinheiro ou promessas vãs que nos tragam a paz, mas sim nossa mudança sincera e a busca da caridade.
Guardar um dia para a religião x Ociosidade
Quantos de nós deixamos de frequentar a casa religiosa, seja de qual religião for, por preguiça? Temos desculpas mil, como: o capítulo da novela, o jogo de futebol com os amigos, a festa a qual fomos convidados, o cansaço do dia etc. Porém, quando passamos por dificuldades, lá vamos nós, correndo à casa religiosa, pedindo ao dirigente, pastor ou padre que resolvam nossos problemas!
Precisamos ter uma frequência regular à religião para que nossa vida mental esteja sempre equilibrada e quando vierem os problemas, estejamos fortalecidos para enfrentá-los. Não precisamos ter o dia todo voltado para atos religiosos. O importante é que semanalmente entremos em contato com os ensinos cristãos, que nos renovarão os ânimos e nos darão maior fé no futuro.
Honrar pai e mãe x Desagregação familiar
Os nossos jovens hoje dão pouco valor à família, isso muitas vezes acontece porque os pais dão maus exemplos, sendo desatentos com a implantação no seio do lar de atos que possam unir os familiares.
O diálogo sempre será importante, por pior que seja o assunto. Pais e filhos precisam ter uma convivência nem muito disciplinadora, nem muito liberal, mas que encontrem o equilíbrio, onde deveres e direitos convivam em harmonia.
Não matar x Vingança
Matar não é só tirar a vida, mas sim ter o sentimento de vingança dentro do coração. Quantos de nós temos uma vida triste devido à mágoa que povoa nosso coração?
O perdão deve fazer parte da vida do cristão, principalmente do espírita que sabe que com o fim da vida material o Espírito permanece e o ódio é levado para o além, trazendo aos envolvidos dores e remorsos.
A pena de morte é um ato de extrema brutalidade, quem a acata acaba, no mínimo, comparando-se ao infrator. Que a justiça do homem seja severa e educativa, mas que não traga para si o direito de tirar a vida alheia, que só a Deus é permitido.
Não fornicar x Prazer irresponsável
O interesse pelo sexo faz o homem muitas vezes perder a razão. Os Mandamentos não condenam o prazer que o sexo proporciona, mas alerta para os desequilíbrios que a irresponsabilidade sexual pode nos trazer.
Não furtar x Levar vantagem em tudo
O roubo também existe quando lesamos indiretamente o próximo, levando vantagens onde outro terá perdas. No mundo capitalista em que vivemos, dizer que o que negocia conosco precisa levar vantagem é o mesmo que dizer que somos tolos. Porém, o tolo aos olhos do homem podem ser os escolhidos aos olhos de Deus. Lembre que tudo o que fazemos de bom ou ruim, voltará para nós mesmos. É a Lei de Ação e Reação de que nos fala a Doutrina.
Portanto, que todos que são comerciantes, ou que de alguma forma podem trazer prejuízos financeiros ou morais ao próximo, que se guiem pela justiça. Na Lei de Deus, o ditado popular onde "bom negócio é quando todas as partes ganham" também é válido.
Não dizer falso testemunho x Língua venenosa
Mentir é um hábito inerente da imperfeição humana. Temos um gosto especial para aumentar o que contamos a respeito do próximo, principalmente se for algo que o denigra. É a tal da fofoca. Um grande sábio da antiguidade, o filósofo Sócrates, disse que: "Somos donos das palavras que omitimos e escravos das que proferimos".
Lembre-se que não devemos fazer ao outro o que não gostaríamos que nos fizessem, portanto se estivermos envolvidos em uma calúnia, da qual nós sejamos a vítima, não nos sentiríamos bem. Por que, então, fazer isso à outra pessoa?
Não desejar a companheira (o) do Próximo x Adultério
Novamente o sexo em questão. As paixões que presenciamos, que vêm destruir famílias, são estimuladas inclusive pelo que vimos em novelas, filmes e programas de TV, onde muitas vezes deixar a família em busca da "felicidade" é visto com naturalidade.
O que acontece é que a mídia, em toda a sua história, aproveita-se dos desejos humanos para angariar audiência. E quando vemos nossos desejos secretos, que estávamos controlando serem apoiados, sentimo-nos incentivados e acabamos por praticá-los. Esse é um dos motivos que fazem o adultério aumentar em nossa sociedade.
Todos nós temos o direito de buscar satisfações, mas nossos direitos terminam quando atingimos ao próximo, ou seja, quando nossos atos trazem angústia e decepção.
Não cobiçar as coisas alheias x Inveja e ambição desmedidas
Desejar melhoras materiais, conforto e lazer não é condenável. O que se deve evitar é a inveja de quem já conquistou estas facilidades. Todos nós podemos e devemos buscar uma situação material estável, mas que isso não seja motivo de angústia e revolta. A vida não é só constituída de prazeres terrenos, pelo contrário, a matéria não nos traz estabilidade, pois é cercada de bons e maus momentos.
O que precisamos é buscar o equilíbrio espiritual, e com isso, todo o restante nos será acrescentado, como disse Jesus, pois estaremos abertos a novas conquistas, materiais e espirituais, e teremos condições de escolher os melhores caminhos que nos trarão o que almejamos".
"Porque o Reino de Deus não consiste em palavras, mas em virtude" (Paulo, I Epístola aos Coríntios, IV: 20)
De nada adiantará dizermos que conhecemos os Dez Mandamentos, o Evangelho de Jesus e a Doutrina Espírita se não colocarmos em prática o que aprendemos com estas três revelações que Deus nos enviou. Como disse o apóstolo Paulo, palavras de nada adiantam se não forem calcadas em virtudes, ou seja, a prática das mesmas. Jesus aguarda que nós, de nossa parte, procuremos dar o primeiro passo em busca da melhoria íntima, para que então ele também possa agir em nossas vidas e nos trazer a paz que tanto procuramos.
Fonte: Roteiro da Palestra “A Lei e seus Mandamentos”, do Grupo Espírita Apóstolo Paulo.
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