sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Filosofando: A Pedagogia e a Pedagogia Espírita (Entrevista com Cosme Massi)

Uma entrevista com Cosme Massi ao programa “Filosofando” que debate sobre a pedagogia e a pedagogia espírita, sob o aspecto filosófico espírita.




quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Ética e Espiritismo


Ética- etimologicamente deriva da palavra grega ethos (comportamento). É a parte da Filosofia que se ocupa do valor do comportamento humano. Investiga, assim, o sentido que o homem impõe à sua conduta para ser verdadeiramente feliz.

A consciência moral e a liberdade humana estão intimamente ligadas. Por consciência moral, entende-se a capacidade que o homem tem de julgar e escolher o seu próprio caminho na vida. Já, a liberdade, refere-se à possibilidade da escolha deste ou daquele caminho. A liberdade não é algo que se forma no vazio, mas dentro das limitações impostas pelas circunstâncias. Assim sendo, o exercício da liberdade é a luta que o homem trava para ampliar ou romper esses limites.

Os grandes filósofos sempre destacaram os valores morais em suas obras. Aristóteles em A Ética a Nicômaco, desenvolve, em detalhes, o acervo dos conceitos sobre a ação humana e sua relação com as ideias elevadas de uma vida superior. Espinosa, em A Ética, encerra extensa doutrina sobre a maneira de fortalecer as virtudes e combater as paixões. Em Kant, a Ética é deixada ao sabor da própria consciência, onde a ação humana é ditada pela “boa vontade”, ou seja, pela intencionalidade do eu.

Allan Kardec em O Livro dos Espíritos, quando trata das Leis Morais, define a moral como a regra da boa conduta e portanto, da distinção entre o bem e o mal. Dá sua contribuição à formação da ética espírita. Em sua resposta à pergunta 630- como se pode distinguir o bem do mal? -, diz-nos que o bem é tudo o que está de acordo com a lei de Deus e o mal é tudo o que dela se afasta. Assim, fazer o bem é se conformar à lei de Deus; fazer o mal é infringir essa lei.

A Ética espírita é uma decorrência da Lei Natural. Contudo, o Codificador, para lhe dar um cunho de praticidade, legou-nos O Evangelho Segundo o Espiritismo, como norma de conduta. Observe que, das cinco partes das matérias contidas nos Evangelhos: os atos comuns da vida do Cristo, os milagres, as profecias, as palavras que serviram para o estabelecimento dos dogmas da Igreja e o ensinamento moral, ateve-se, exclusivamente, à última, por se tratar de um código divino onde a própria incredulidade se inclina.

O comportamento ético-espírita só pode fixar-se e expandir-se em terra fértil. Desta forma, o adepto do Espiritismo deve, em primeiro lugar, limpar, adubar e regar o “terreno interior”, a fim de criar condições favoráveis de receber a semente evangélica para, posteriormente, fazê-la frutificar cento por um.


Fonte: Curso de Introdução à Filosofia Espírita (C E Ismael)

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Filosofando: A Imortalidade da Alma e a Filosofia Espírita

Sônia Theodoro e Márcia Antoniazzi abordam o tema a imortalidade da alma segundo a filosofia, mostrando a visão de vários pensadores e filósofos e como o conceito evoluiu desde os primórdios da humanidade até os dias de hoje.



sábado, 19 de novembro de 2016

Livro: Introdução à Filosofia Espírita



Sinopse do livro:


O Espiritismo codificado por Allan Kardec partiu da pesquisa científica da fenomenologia supranormal, originando-se desta a Ciência Espírita; desenvolveu a seguir a interpretação dos resultados da pesquisa, que resultou na Filosofia Espírita; tirou, depois, as conclusões morais da concepção filosófica, que levaram naturalmente à Religião Espírita.

Muitas pessoas se atrapalham com isso e perguntam: “Como uma doutrina pode ser, ao mesmo tempo, Ciência, Filosofia e Religião?” Mas essa pergunta revela a ignorância do processo gnosiológico – a teoria e o valor do conhecimento. Porque, na verdade, o conhecimento se desenvolveu nessa mesma seqüência e em todas as formas atuais de conhecimento repete-se o processo da história evolucionária das espécies.

Nesse livro, o autor apresenta uma introdução ao estudo e compreensão do caráter filosófico da doutrina espírita embasado numa longa pesquisa de suas raízes nas coordenadas da evolução humana.

Clique aqui para download da obra completa.

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Qual é a Filosofia Espírita?



Da compreensão geral de que o Espiritismo é ou tem uma filosofia surge a necessidade de explicitá-la. Os seus adeptos reproduzem com acerto os seus aspectos filosóficos, e os separam com habilidade adquirida pelos estudos kardequianos daqueles outros científicos e religiosos. E também o caráter filosófico de uma doutrina qualquer é sempre mais discernível e menos controverso do que um seu possível elemento científico. Estas são razões pelas quais se fala numa filosofia espírita com alguma segurança.

Entretanto, a academia possui no que tange à filosofia não menos exigências e regras do que às que competem à prática das ciências. Afinal, então, o que é e como se sustenta a filosofia espírita? Tentaremos mais problematizar do que responder a este questionamento.

Do ponto de vista da filosofia como especialidade, o Espiritismo apresenta-se como filosofia popular, o que equivale a dizer, como razão argumentativa, mas não fundamentadora. Esta qualificação não precisa ser pejorativa, e mesmo algumas das melhores filosofias tiveram um cunho acentuadamente popular, como em Voltaire, Rousseau e Nietzsche. É também uma visão filosófica válida e oficial a de que a razão já está desde sempre em jogo com seus problemas específicos, e não pode ou não requer fundamentação. Ainda assim, a maior parte do que se produziu sob o título de filosofia na história humana destinava-se à fundamentação do conhecimento.

São mentes analíticas e interessadas na fundamentação das certezas a de Platão, a de Descartes, a Locke e a de Kant, alguns, portanto, dos maiores filósofos. Segundo estes a atividade filosófica não se faz propriamente sem o esforço exaustivo de sua própria crítica, de modo que qualquer filosofia digna do nome ou vai até as últimas consequências ou compra um método que já o tenha feito. Os bons filósofos populares o são por seu interesse prático (moral ou político), sem que dispensem o concurso de uma boa base metodológica. E se Kardec foi um bom filósofo popular, o que acreditamos razoável afirmar, devemos encontrar em sua prática os princípios de algum ou alguns filósofos mais analíticos, para não dizer sistemáticos (nome que à época não soava bem).

O primeiro indício de que Kardec não é um filósofo sistemático está em ele lançar mão de múltiplos conceitos e axiomas sem os justificar. Esta atitude pode significar, como dito, tanto o descompromisso com a filosofia quanto uma adoção prévia de métodos filosóficos bem estabelecidos. E não há a mais remota dúvida de que os conceitos e axiomas pressupostos por Kardec correspondem à visão eclética do saber filosófico de princípios do século XIX. Em primeiro lugar porque todos estes pressupostos pertencem à ala ortodoxa da filosofia francesa, requerendo assim pouca ou nenhuma exposição sistemática; em segundo lugar porque estas conquistas em especial eram classificadas como conquistas da ilustração e todos os autores da época estavam habituados a assumir os elementos deste grande edifício eclético e enciclopédico como ponto de partida. Pensadores tão importantes como Benjamin Constant, Madame de Staël e Tocqueville jamais se preocupam, assim como Kardec, em fundamentar o conceito de razão, ou analisar a constituição metafísica da liberdade. Ao invés disto eles os tomam do poço da filosofia iluminista e os aplicam com habilidade de filósofos práticos aos seus interesses.

Para elencar alguns dos pressupostos essenciais da classe ilustrada francesa e/ou europeia dos anos 1800 a 1840 podemos citar resumidamente:

1-A fundamentação do pensamento por Descartes, com a respectiva separação entre o princípio pensante do princípio material, a constituírem os modos de ser.
2-A ideia platônica de que a matemática corresponderia ao modus operandi da natureza. Noção renascentista que foi solidificada por Galileu, Bruno e Descartes.
3-O atomismo de Diderot, que copiando Demócrito e Epicuro postulou todas as leis da física como consequências das leis que regem as partículas elementares.
4-A noção de liberdade como direito garantido por Deus, uma ideia cristã que se desenvolveu em séculos de teologia e filosofia, casando-se com as noções gregas de liberdade e culminando no axioma da liberdade humana conforme Locke, Voltaire e Rousseau.
5-A positividade da experiência como fundamento do saber, desenvolvida por Comte e imediatamente diversificada e adaptada por inúmeros pensadores e cientistas.

Poderíamos citar outros pontos, mas isto só aumentaria o volume de uma defesa que consideramos suficientemente estabelecida.

Está claro ao filósofo contemporâneo que a segurança de algumas destas pressuposições foi duramente abalada, durante o próprio século XIX e especialmente no XX. O item mais controverso hoje é o da equivalência entre matemática e natureza, ainda defendida com certa ingenuidade por muitos físicos e francamente proibida pela filosofia da ciência. O que se pode dizer hoje com sobriedade filosófica é que haja alguma correspondência entre as leis que postulamos matematicamente e o funcionamento da natureza, mas precisar a exatidão desta correspondência seria considerado uma postura dogmática.

Basta, contudo, o conhecimento do contexto histórico para lembrar que a nova filosofia responsável por questionar as certezas iluministas é de matriz alemã, e não estava plenamente acessível aos franceses da primeira metade do século XIX. Apesar de estar entre os poucos falantes de alemão da sociedade francesa da época, Allan Kardec provavelmente compartilhava da crença geral de seu povo a respeito dos germanos: a de se tratarem de um povo grosseiro recém chegado às raias da civilidade e que ensaiava suas forças intelectuais numa filosofia prolixa, mas essencialmente infrutífera.

O posterior sucesso da filosofia alemã com todo o seu aparato crítico, a restauração da metafísica pelo Idealismo e as reviravoltas teológicas marcou para sempre a face da filosofia, um fenômeno que a vaidade francesa ainda digere com atraso.

A filosofia sistemática viu sua tocha ser cedida da França para a Alemanha, e desta para o mundo globalizado do pós-guerra. Resta saber em que medida isto depõe contra as filosofias práticas e populares.

Neste particular uma comparação entre Kardec e os outros filósofos populares franceses é indispensável. A maioria deles, exatamente por ser popular, sofreu minimamente com a transformação da filosofia sistemática, e a popularidade dos pensadores políticos e religiosos, dos psicólogos e moralistas franceses continuou tão irretorquível sob a luz dos sistemas alemães como quando em seu terreno natural do Iluminismo autóctone.

Redefinidos os fundamentos dos conceitos de razão e liberdade, sobre bases mais críticas e rigorosas, continuaram a viger na esfera prática as conclusões e intuições sóbrias que a análise social e psicológica francesa ou inglesa haviam efetuado em dois ricos séculos de modernidade.

A filosofia atual se esforça por refinar a fundamentação metafísica e epistemológica da razão, de Deus, da liberdade e da relação entre sujeito e objeto, etc., mas no campo prático e popular a maioria dos postulados iluministas continua a viger como moeda válida de interpretação dos fenômenos naturais e sociais. Em muitos aspectos, mudaram os caminhos, mas permaneceram os resultados da filosofia. É bem mais ingênuo ver algo de “errado” em Platão, por incompatibilidade de seus métodos com os recentes, do que dispensar os métodos recentes na apreciação de trabalhos filosóficos pregressos; e a história da filosofia continua a ser fonte de inspiração principal para os que pretendem reelaborá-la com vistas ao futuro.

Qual é, então, a base filosófica do Espiritismo, se o ecletismo espiritualista francês e o positivismo que o constituíram estão agora em cheque? Precisamente a mesma base que continuou a sustentar as outras filosofias práticas e populares após a substituição da Ilustração francesa, seu ecletismo e positivismo, pela filosofia crítica alemã.

Procurai então os defensores de Pascal, Voltaire, Rousseau, Staël e Tocqueville, e achareis o caminho para sustentar em linguagem atualizada aqueles mesmos pressupostos que fomentam o método kardequiano. E os caminhos para esta revisão técnica da filosofia espírita podem ser muitos, como muitas são as correntes mais recentes. O pragmatismo de James, a filosofia liberal e crítica de Popper e mesmo uma forma revisada da analítica existencial de Heidegger, como foi intentado por Herculano Pires, podem ser boas soluções.

Particularmente acho que a forma mais apropriada seja a da Metafísica da Subjetividade, uma variante eclética que se apropria de praticamente todas as outras correntes contemporâneas numa forma ao mesmo tempo clássica e crítica da metafísica, permitindo a validade dos conceitos-chave de Deus, imortalidade, razão e liberdade.

Humberto Schubert Coelho

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Filosofando: A Filosofia Espírita da Existência

Programa Filosofando, do CEFEORG - Centro de Estudos Filosóficos Espíritas, abordando o tema da filosofia da existência sob o olhar da filosofia espírita.



sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Sócrates e Platão: Precursores do Espiritismo


O objetivo central deste estudo é mostrar que a ideia espírita é tão velha quanto o próprio tempo. Já na Antiguidade podemos perceber o clarão dessas verdades eternas. Perguntaríamos: quem foi Sócrates? E Platão? Em que as ideias de Sócrates e Platão se assemelham às do Espiritismo?

A religião empresta as primeiras explicações a respeito da criação do homem e do cosmos: é clássico o relato bíblico sobre Adão e Eva, o primeiro casal a habitar a Terra. A China milenar, com sua filosofia de vida, discute normas de comportamento: no taoísmo há diversas noções sobre a arte de viver. A Grécia, palco da filosofia, elabora o pensamento: o logo e o ratio estão sempre em ação.

Antes de Sócrates, as indagações dos primeiros filósofos referem-se ao Cosmo. Questiona-se se o elemento primordial da vida é água, o ar, o fogo ou a Terra. A vinda de Sócrates muda o eixo da filosofia: o homem volta-se para dentro de si mesmo, através da maiêutica, do conhecimento de si mesmo.

Platão, discípulo de Sócrates, dá continuidade ao método socrático, aperfeiçoando-o. Depois de Platão surgiu Aristóteles. E assim poderíamos ir arrolando os diversos filósofos até chegarmos à época atual.

BIOGRAFIAS RESUMIDAS

SÓCRATES

Nascimento/morte: (470/399 a. C.)
Filiação: mãe – Fenarete (parteira), pai – Sofronisco (escultor)
Profissão: (escultor?)
Filosofia: “Conhece-te a ti próprio”, apoiado pela maiêutica.

PLATÃO

Nascimento/morte: (427/347 a C.)
Filiação: pai: Ariston, mãe Perictione (pertencia a uma das mais nobres famílias atenienses).
Nome: Aristocles, mas devido a sua constituição física, recebeu o apelido de Platão, que em grego significa de ombros largos.
Filosofia: teoria das ideias, ou como se desenvolve o conhecimento.
Obras escritas: A República, As Leis, O Político.

PRINCÍPIOS COMPARADOS (DOUTRINA)

DEUS

Para Sócrates, Deus é uma inteligência onipresente, onisciente, onipotente, absolutamente invisível ao homem. Deriva a prova da existência de Deus da finalidade do mundo. A ordem cósmica (o providencial de acontecer) é obra de um Espírito inteligente e não do acaso.

Para o Espiritismo, Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas a coisas. Seus atributos são: eterno, imutável, imaterial, único, todo-poderoso e soberanamente justo e bom. Para crer em Deus é suficiente lançar os olhos às obras da sua Criação. Não há efeito sem causa. Se o efeito é inteligente a causa também o é.

ALMA

Para Sócrates, a alma participa da natureza divina e é dada por Deus ao homem; a vida não depende do corpo, depende da alma; através da união da alma ao corpo, a alma se macula, e só reconquista sua pureza pela libertação do corpo.

Para Platão o homem é a união da alma e do corpo. A alma é a essência do corpo, e tem a natureza das ideias. Alma é o princípio do movimento e da vida, portanto imortal.

Classifica-a em:
Alma racional – alma-cabeça;
Alma passional – alma-peito;
Alma apetitiva – alma-ventre.

Para o Espiritismo, a alma é o Espírito encarnado. Para progredir no mundo material, une-se ao princípio vito-material do gérmen, e sofre todas as limitações que a matéria impõe ao Espírito imortal.

REENCARNAÇÃO

Para Platão, se a alma, quando penetra o corpo, não busca manter sua pureza, quando morre o corpo, não retornará ao mundo das ideias, mas estará sujeita à transmigração para outro corpo de homem ou animal (metempsicose), segundo as predileções que tenha manifestado.

Para o Espiritismo, a alma, quando não atinge sua evolução espiritual completa, entra no mundo espiritual denominado de erraticidade, e espera por uma nova oportunidade de voltar a este mundo. A reencarnação num corpo material é uma consequência da impureza da alma.

PRINCÍPIOS COMPARADOS (MORAL)

JUSTIÇA

Sócrates e Platão tratam constantemente da purificação da alma.

Platão nos diz que para cada parte da alma há uma virtude:
Alma racional – sabedoria;
Alma passional – coragem, fortaleza;
Alma apetitiva – temperança.

A justiça engloba todos esses tipos de alma – requisitos essenciais para a harmonia do ser e, por conseguinte, para a felicidade. Quem pratica uma injustiça deve ser punido e a pena, a expiação, é a purificação (catharsis), ou seja, a libertação do mal anterior.

Para o Espiritismo, a Lei de Amor, Justiça e Caridade é a mais importante das leis naturais, porque resume todas as demais e dá-lhe suporte. O Código da Vida Futura segundo o Espiritismo pode ser resumido em: arrepender-se, sofrer e reparar o mal (injustiça).

RIQUEZA

Para Sócrates e Platão, a riqueza é um grande perigo. Todo homem que ama a riqueza não ama nem a si, nem o que está em si. O apego aos bens materiais é perda da alma.

Para o Espiritismo, a riqueza é uma prova mais difícil do que a pobreza, porque pode provocar o apego aos bens materiais, e dificultar o acesso aos bens espirituais.

MÁXIMAS

Sócrates e Platão: “É pelos frutos que se reconhece a árvore”.
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Espiritismo: encontra-se textualmente repetida nos Evangelhos;

Sócrates e Platão: “A virtude não se pode ensinar; ela vem por um dom de Deus àqueles que a possuem”.

Espiritismo: evoca os esforços para conquistá-la.

Sócrates e Platão: “É uma disposição natural, em cada um de nós, aperceber-se bem menos dos nossos defeitos que dos de outrem”.

Espiritismo: o Evangelho diz: “Vedes o argueiro no olho do vosso vizinho, e não vedes a trave que está no vosso”.

CODIFICAÇÃO DO ESPIRITISMO

Sócrates, quando ensina nas praças públicas, lança as sementes da maioridade terrestre, o formoso ideal da fraternidade e da prática do bem.

Jesus, cinco séculos depois, vem ensinar o “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”.

Depois de Jesus tivemos os contributos de São Francisco de Assis, Santo Agostinho, Descartes, Kant, Espinosa, Barret, Crookes e outros.

Em 31 de março de 1848 originou-se um marco importante na história do Espiritismo: o Fenômeno de Hydesville.

Em 18/04/1857, com o lançamento de O Livro dos Espíritos, Kardec fornece ao mundo o embrião da Doutrina dos Espíritos.

Nos 145 anos que se sucederam à codificação, muitas obras espíritas vieram à luz para elucidar os vários aspectos da Doutrina.

Esses pensadores e médiuns espíritas não só complementaram obra magnífica de Allan Kardec como também procuraram divulgá-la mais de acordo com as necessidades de compreensão dos homens da atualidade.

Fonte: Ceismael

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
BRUN, J. Sócrates. Lisboa, Dom Quixote, 1960. (Coleção Mestres do Passado, n.º 9).
KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed., São Paulo, IDE, 1984.
KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed., São Paulo, FEESP, 1995.
SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed., São Paulo, Matese, 1965.

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Filosofando (Entrevista com Cosme Massi)

O programa “Filosofando”, do CEFEORG - Centro de Estudos Filosóficos Espíritas, entrevista o escritor, palestrante e estudioso da ciência e filosofia espíritas, Cosme Massi, acerca do tema “Allan Kardec e o Espiritismo”, esclarecendo questões fundamentais da doutrina espírita sob o aspecto filosófico.




segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Qual é a Utilidade do Aspecto Filosófico do Espiritismo


O Espiritismo apresenta-se na condição de filosofia desveladora do que até hoje era tido por mito indecifrável: a origem e o destino dos Espíritos

A filosofia é a procura da verdade, não a sua posse, como disse Jaspers, filósofo alemão contemporâneo, concluindo que: “fazer filosofia é estar a caminho; as perguntas em filosofia são mais essenciais que as respostas e cada resposta transforma-se numa nova pergunta”.

Perguntar, perguntar e perguntar! .... Não foi o que Kardec fez?!... E não é isso que aconselham os Espíritos Superiores? [1]

Para penetrarmos com segurança as fronteiras e meandros da Filosofia Cristã Espírita, acompanhemos o lúcido esclarecimento do confrade Victor Leonardo da Silva, que pinçamos do “Jornal Espírita”, órgão de divulgação da Federação Espírita do Estado de São Paulo, edição do mês de novembro/2000:

“(...) Desde tempos remotos, o Ser humano sempre tentou explicar os fenômenos da Natureza através de causas não naturais. Usava seus parcos conhecimentos aliados ao pensamento mágico. Disso decorreu a criação de mitos para a explicação de fenômenos naturais como chuva, trovão, terremoto, vento etc.

Por volta do Século V antes de Cristo, a Grécia tinha várias colônias na Ásia Menor (atual território da Turquia). Nessas cidades, havia pessoas de várias culturas, como gregos, judeus, babilônicos, egípcios, medas, persas... Os pensadores gregos, que aí viviam, notaram que, para um mesmo fenômeno, havia diversas explicações, conforme a cultura. Eles concluíram então que tais explicações, para serem verdadeiras, tinham que se basear em elementos “naturais”. Esse raciocínio levou-os a abandonar os mitos e a entender a realidade através de causas produzidas pela Natureza. Deveria haver um princípio primitivo arché originando todas as coisas.

Como visão de mundo, é plausível a aceitação da ideia de um Deus criador

O primeiro pensador foi Tales, da cidade de Mileto, que atribuía à água a causa de tudo. Apareceram outros que apontaram o fogo, a terra e o ar como causa. Empédocles e Aristóteles adotaram esses quatro elementos juntos. Houve outros que idealizaram um arché teórico como as homoeomerias, o apeíron e o átomo.

Durante a Idade Média, o Cristianismo, que recebera influência religiosa do Judaísmo, precisou adaptar-se à Filosofia Grega para se firmar no mundo greco-romano. Santo Agostinho acrescentou a Patrística a essas duas doutrinas como filosofia, pois acha que, uma vez que elas têm influência religiosa, não explicam a realidade somente por causas naturais. Essa explicação da realidade é uma visão de mundo [cosmovisão ou Weltanschauung]. Como visão de mundo, é plausível a aceitação da ideia de um Deus criador. Por isso, elas são admitidas pela maioria, que não é materialista, como filosofias.

O Espiritismo seria a terceira filosofia cristã. Ele teria sido revelado a fim de dar uma nova visão de mundo à Humanidade que se prepararia para ingressar na fase de regeneração. Normalmente, O Livro dos Espíritos é apontado como o de conteúdo filosófico na codificação feita por Kardec. Na realidade, toda a Codificação apresenta seus aspectos filosóficos. A primeira parte desse livro, que é estendida no livro A Gênese, apresenta a Metafísica, a Teodiceia, a Antropologia Filosófica e a Cosmologia espíritas. A segunda parte, aprofundada em O Livro dos Médiuns, expõe novamente a Antropologia Filosófica e a Cosmologia espíritas. A terceira parte, pormenorizada em O Evangelho segundo o Espiritismo, fornece noções da posição filosófica do Espiritismo sobre Ética, Teoria do Conhecimento, Filosofia Espírita da Educação, Filosofia do Direito, Filosofia Econômica, Filosofia Social, Filosofia da História. A quarta parte, que fala das penas e gozos futuros, estando desenvolvida no livro O Céu e o Inferno, aborda características da Teodiceia espírita.

Afirmamos que, para ser cristão, não há obrigatoriedade de adotar o trinitarismo

A Codificação Espírita possui um vasto conteúdo filosófico que pode muito bem ser aproveitado por essa Humanidade sem fé e esperança...

Os cristãos tradicionais afirmam que o Espiritismo não é uma doutrina cristã por não aceitar o trinitarismo (incompreensível e ilógica teoria originária na Índia e introduzida pelos Pais da Igreja no Cristianismo, na qual se crê que Deus é constituído de três pessoas chamadas de Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo). Lembremo-nos de que o trinitarismo é estranho, tanto à Filosofia Grega como ao Judaísmo, doutrinas que fundamentaram o Cristianismo. O trinitarismo foi introduzido na Grécia durante a fase helenística pelo filósofo neoplatônico Amônio Sacas, que vivera quinze anos na Índia, de onde trouxera esse conceito. No início da Era Cristã, havia duas correntes opostas: a liderada pelo bispo Arius [arianismo], que admitia Deus único e uno; e a dos neoplatônicos [trinitarismo], que admitia também Deus único, porém, trino. Quando Constantino resolveu adotar o Cristianismo como a religião oficial de seu império, visando ao fim político de evitar sua fragmentação, convocou o Concílio de Niceia, em 325, e resolveu essa querela inclinando-se para a posição neoplatônica, visto que muitos de seus nobres, dos quais dependia politicamente, esposavam tal doutrina. Por isso, afirmamos que, para ser cristão, não há obrigatoriedade de ser trinitarista. Em toda a obra de Kardec há constante referência ao Cristianismo e recomendações para segui-lo. A existência do livro O Evangelho segundo o Espiritismo, que interpreta as parábolas e as boas novas, é uma prova suficiente de sua fidelidade aos ensinamentos do Cristo, que é o Modelo e Guia mais perfeito e singular que já existiu. O que não aceitamos é que os outros grupos cristãos julguem como autênticas apenas suas interpretações. Destarte, podemos então afirmar, sem sombra de dúvida, que o Espiritismo é a Terceira Filosofia Cristã, que veio completar e explicar as duas anteriores”.

Se hoje existe o Catolicismo, isso se deve única e exclusivamente a Constantino

Não fica difícil concluirmos que, se hoje existe o Catolicismo e não o Arianismo, isso se deve única e exclusivamente a Constantino e suas manobras políticas que visavam ao fortalecimento e unificação de seu império...

Finalizemos com as sábias palavras de Vianna de Carvalho[2]:

“(...) A busca da verdade tem sido intérmina, laboriosa, complexa... Qual Fênix, ressurge a verdade das cinzas onde parece haver-se consumido, apresentando-se mais vigorosa e brilhante a cada renascimento, no incessante intento de permanecer no mundo.

Foi o que sucedeu com Allan Kardec ao apresentar o Espiritismo, numa síntese de ciência que comprova a imortalidade, a reencarnação, a vida estuante antes do berço e depois do túmulo; na condição de filosofia equacionadora dos enigmas que perturbam as mentes e o comportamento dos seres, e como religião destituída de fórmulas, de mística, de rituais, ensejando a identificação do homem com a sua realidade em permanente ligação com o seu Criador.

No momento das investigações em torno do micro e do macrocosmo, do desdobramento das doutrinas científicas, nelas o Espiritismo se apoia para a confirmação dos seus postulados doutrinários. Partindo do fato, que a si mesmo se explica, expõe conteúdos de filosofia otimista que dão sentido à existência terrenal, no conjunto harmônico da vida; remontando à Biologia, à Antropologia, à Embriogenia, à Física nuclear e às doutrinas psíquicas, complementa-as com os seus esclarecimentos, que constituem a causalidade dos acontecimentos, contribuindo com valores sociológicos enriquecidos, capazes de modificarem a constituição e a estrutura da coletividade humana.

O Espiritismo mantém a certeza da vida aqui e nas esferas que gravitam no cosmo

Baseada na moral do Cristo, assim como dos Seus predecessores, especialmente Sócrates e Platão, torna-se a religião cósmica do Amor, que alberga todos os seres sencientes irmanando-os ante a Paternidade Divina e Única. Pairando, racional e demonstrável, nos céus tumultuados do século das luzes, alcança a atualidade, cada vez mais clara e vigorosa, face às conquistas crescentes da investigação científica em várias áreas, que a demonstram e lhe confirmam a legitimidade.

Quando o homem com as suas bólides espaciais busca estudar os astros do arquipélago estelar que nos cerca, o Espiritismo, confirmando as Moradas da Casa do Pai, conforme a lúcida e feliz expressão de Jesus sobre a pluralidade dos mundos habitados, mantém a certeza da transcendentalidade da vida, não apenas nas sombras do abençoado planeta terrestre, mas, também, noutras esferas que gravitam no cosmo, cantando hinos de louvor ao Criador do Universo.

Assim, a verdade lentamente desvelada em fragmentos, através dos séculos, pelas várias Doutrinas Espiritualistas, no Espiritismo esplende e triunfa, cantando a glória de Deus e convidando o espírito humano ao crescimento, à libertação, à plenitude”.

ROGÉRIO COELHO

Referências:
(1) Do livro: Filosofando – Introdução à Filosofia – Ed. Moderna – 2ª edição, revista e atualizada.
(2) KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 88. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2006, questões 833 e 837.

sábado, 5 de novembro de 2016

A Filosofia Espírita

Vídeo clássico da série Informação Espírita que expõe e elucida os principais pontos filosóficos da doutrina, tendo como base O Livro dos Espíritos. Apesar do baixo padrão de qualidade de som e imagem, vale a pena ser conferido.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Filosofia e Espiritismo



0 que é Filosofia?

É comum ouvir-se de pessoas que não aceitam o Espiritismo a afirmação de que a Filosofia Espírita não existe. Conhecido professor brasileiro de Filosofia chegou a declarar numa entrevista à imprensa brasileira que "O Livro dos Espíritos" nada tem de filosófico. A mesma coisa acontece com o Marxismo. Papini esforçou-se, em toda a sua vida, para provar que Marx era um economista, e portanto, não devia ser confundido com um filósofo. Como se um economista não pudesse e até mesmo não precisasse de filosofar. Sartre, pelo contrário, considera o Marxismo como a única Filosofia do nosso tempo. As opiniões são contraditórias, mas isso não nos deve impressionar, pois opiniões não passam de palpites, de pontos de vista individuais, sujeitos às idiossincrasias de cada um. E Pitágoras, o criador do termo Filosofia, já afirmava que a Terra é a morada da opinião. Mais tarde, Descartes advertiu que o preconceito e a precipitação, dois vícios comuns da espécie humana, prejudicam o juízo e impedem a descoberta da verdade.

Um filósofo, um professor de filosofia, um pensador honesto e até mesmo uma simples criatura de bom-senso não podem negar a existência da Filosofia Espírita, a menos que não saibam o que essa palavra significa. Muito menos negar a natureza filosófica de "O Livro dos Espíritos", que é um verdadeiro tratado de Filosofia. Veja-se, por exemplo, como Yvonne Castellan, que não é espírita, encara esse livro em seu estudo sobre o Espiritismo. Consulte-se o "Dicionário Técnico e Científico de Filosofia", de Lalande. E leia-se o admirável ensaio de Gonzales Soriano, desafiadoramente intitulado "El Espiritismo es la Filosofia".

São muitas as definições de Filosofia, mas a que subsiste como essencial é ainda a de Pitágoras: "Amor da Sabedoria". Daí a exatidão daquele axioma: "A Filosofia é o pensamento debruçado sobre si mesmo." Eis a descrição perfeita de um ato de amor: a mãe se debruça sobre o filho porque o ama e deseja conhecê-lo. A sabedoria é filha do pensamento, que a embala em seus braços, alimentando-a e fazendo-a crescer. Assim, o objeto da Filosofia é ela mesma, não está fora, no exterior, mas dentro dela. Podemos defini-lo como a relação entre o pensamento e a realidade. Essa a razão de Gonzales Soriano afirmar que o Espiritismo é a Filosofia. Razão, aliás, que ele demonstra filosoficamente em seu livro. O Espiritismo é, segundo sua definição, "a síntese essencial dos conhecimentos humanos aplicada à investigação da verdade." É o pensamento debruçado sobre si mesmo para reajustar-se à realidade.

O que é Espiritismo?

Respondida a pergunta sobre Filosofia devemos tratar ligeiramente da natureza do Espiritismo. E nada mais necessário do que isso, porque nada mais desconhecido em nosso mundo do que ele. Fala-se muito em Espiritismo, mas quase nada se sabe a seu respeito. Kardec afirma, na introdução de "O Livro dos Espíritos," que a força do Espiritismo não está nos fenômenos, como geralmente se pensa, mas na sua "filosofia", o que vale dizer na sua mundividência, na sua concepção da realidade. Mas de onde vem essa concepção? Como foi elaborada?

Os adversários do Espiritismo desconhecem tudo a respeito e fazem tremenda confusão. Os próprios espíritas, por sua vez, na sua esmagadora maioria estão na mesma situação. Porquê? E fácil explicar. Os adversários partem do preconceito e agem por precipitação. Os espíritas em geral fazem o mesmo: formularam uma ideia pessoal da Doutrina, um estereótipo mental a que se apegaram. A maioria, dos dois lados, se esquece desta coisa importante: o Espiritismo é uma doutrina que existe nos livros e precisa ser estudada. Trata-se, pois, não de fazer sessões, provocar fenômenos, procurar médiuns, mas de debruçar o pensamento sobre si mesmo, examinar a concepção espírita do mundo e reajustar a ela a conduta através da moral espírita.

Assim, temos alguns dados: o Espiritismo é uma doutrina sobre o mundo, dá-nos a sua interpretação e nos mostra como nos devemos conduzir nele. Mas como nasceu essa doutrina, em que cabeça apareceu pela primeira vez? Dizem que foi na de Allan Kardec, mas não é verdade. O próprio Kardec nos diz o contrário. Os dados históricos nos revelam o seguinte: o Espiritismo se formou lentamente através da observação e da pesquisa científica dos fenômenos espíritas, hoje parapsicologicamente chamados de fenômenos paranormais. Os estudos científicos começaram seis anos antes de Kardec, nos Estados Unidos, com o famoso caso das irmãs Fox em Hydesville. Quando Kardec iniciou as suas pesquisas na França, em 1845, já havia uma grande bibliografia espírita, com a denominação de neo-espiritualista, nos Estados Unidos e na Europa. Mas foi Kardec quem aprofundou e ordenou essas pesquisas, levando-as às necessárias consequências filosóficas, morais e religiosas.

O "Livro dos Espíritos" nos oferece a súmula do trabalho gigantesco de Kardec. Mas se quisermos conhecer esse trabalho em profundidade temos de ler toda a bibliografia kardeciana: os cinco volumes da codificação doutrinária, os volumes subsidiários e mais os doze volumes da Revista Espírita, que nos oferecem o registro minucioso das pesquisas realizadas na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. E precisamos nos interessar também pelos trabalhos posteriores de Camille Flammarion, de Gabriel Dellane, de Ernesto Bozzano, de Léon Denis (que foi o continuador e o consolidador do trabalho de Kardec).

Veremos, assim, que Kardec partiu da pesquisa científica, originando-se desta a Ciência Espírita; desenvolveu a seguir a interpretação dos resultados da pesquisa, que resultou na Filosofia Espírita; tirou, depois, as conclusões morais da concepção filosófica, que levaram naturalmente à Religião Espírita. É por isso que o Espiritismo se apresenta como doutrina de tríplice aspecto. A Ciência Espírita é o fundamento da Doutrina. Sobre ela se ergue a Filosofia Espírita. E desta resulta naturalmente a Religião Espírita. Muitas pessoas se atrapalham com isso e perguntam: "Como uma doutrina pode ser, ao mesmo tempo, Ciência, Filosofia e Religião?" Mas essa pergunta revela a ignorância do processo gnoseológico. Porque, na verdade, o conhecimento se desenvolveu nessa mesma sequência e em todas as formas atuais de conhecimento repete-se o processo filogenético.

No Espiritismo, porém, esse processo aparece bem preciso, bem marcado por suas fases sucessivas, entrosadas numa sequência lógica. Podem alguns críticos alegar que Kardec não partiu da pesquisa, mas da crença. Alguns chegam a afirmar que foi assim, que ele já acreditava nas comunicações espíritas antes de iniciar o seu trabalho de investigação. Mas essa afirmação é falsa, a suposição é gratuita. Basta uma consulta às anotações íntimas de "Obras Póstumas" e às biografias do mestre para se ver o contrário. Quando lhe falaram pela primeira vez em mesinhas falantes, Kardec respondeu como o fazem os céticos de hoje: "Isso é conversa para fazer dormir em pé". Só deixou essa atitude cética depois de constatar a realidade dos fenômenos. Então pesquisou, aprofundou a questão e levou-a às últimas consequências, como era, aliás, de seu hábito, do seu feitio de investigador. Charles Richet lhe faz justiça (embora discordando dele) em seu Tratado de Metapsíquica.

Encarando a obra de Kardec pelo seu aspecto científico, sem os preconceitos que têm impedido a sua justa avaliação, ela nos parece inatacável. Alega-se que o seu método de pesquisa não era científico, mas foi ele o primeiro a explicar que não se podiam usar na pesquisa psíquica os métodos das ciências físicas. O desenvolvimento da Psicologia provaria mais tarde que Kardec estava com a Razão. Hoje, as pesquisas parapsicológicas o confirmam. No tocante ao aspecto filosófico, o desenvolvimento atual das investigações mostram a posição acertada do Espiritismo como doutrina assistemática, "livre dos prejuízos de espírito de sistema", como declara "O Livro dos Espíritos", utilizando a conjugação dos métodos indutivo e dedutivo para o esclarecimento da realidade em seu duplo sentido: o objetivo e o subjetivo. A Filosofia Espírita se apresenta como antecipação das conquistas atuais do campo filosófico e abertura de perspectivas para o futuro.

A Tradição Filosófica

A Filosofia Espírita se apresenta naturalmente integrada na tradição filosófica. Foi por isso que Kardec colocou, sobre o título de "O Livro dos Espíritos", a indicação: "Filosofia Espiritualista". Em "O Evangelho Segundo o Espiritismo" ele indica Sócrates e Platão como precursores do Cristianismo e do Espiritismo, sendo este o desenvolvimento histórico daquele. Mas podemos ir mais longe, demonstrando as múltiplas relações da Filosofia Espírita com as mais significativas escolas filosóficas do passado. Na verdade, a Filosofia Espírita se apresenta, para o investigador imparcial, como o delta natural em que desemboca no presente toda a tradição filosófica.

Essa convergência, porém, não se faz de súbito, não é um "arranjo", como pretendem os adversários gratuitos do Espiritismo. Podemos ver "com os olhos" o processo de convergência delinear-se na própria História da Filosofia. Dos pitagóricos (com sua simbiose espiritual traduzida na doutrina da metempsicose) aos jônicos (com sua busca da origem única, da substância originária), aos eleatas (com a procura do Ser em seu sentido absoluto), até Plotino (o neoplatonismo investigando a "alma-viajora"), passando pela contribuição da doutrina de forma e matéria, de Aristóteles (antecipação da teoria espírita do períspirito), chegamos ao Renascimento. E é nesta fase que a confluência se define: primeiro com a rebelião de Abelardo, preparando o advento de Descartes; depois, com este, o pai do pensamento moderno, que escreveu o "Discurso do Método" sob inspiração do Espírito da Verdade; a seguir com Espinosa, que fez da "Ética" um livro precursor (em estrutura, substância e ligações históricas) de "O Livro dos Espíritos".

A tradição filosófica é o terreno vasto e profundo em que podemos descobrir as raízes da Filosofia Espírita. Mas, como vimos, essa tradição se prolonga até o mundo moderno que começou no Renascimento e veio findar na guerra de 1914-18. E depois, no mundo contemporâneo, reencontramos as conotações filosóficas do passado. No mundo moderno podemos lembrar as figuras centrais de Hegel e Kant, o primeiro com sua dialética da ideia (evolução do princípio espiritual através da matéria) e o segundo com sua teoria do númeno e do fenômeno e sua crítica da razão (correspondentes à teoria espírita da alma e matéria e a crítica da fé em Kardec). Na atualidade as principais escolas filosóficas apresentam relações evidentes com a Filosofia Espírita. Estudaremos essas relações no prosseguimento deste trabalho. Mas convém destacar desde logo o paralelismo da corrente filosófica característica do pensamento atual com o Espiritismo. Paralelismo tanto mais evidente quanto se apresenta no tempo e no espaço (contemporaneidade), no método de abordagem dos problemas filosóficos (o enfoque ontológico existencial), e na procura da compreensão racional (humana e não teológica) da problemática da existência. E a corrente das Filosofias da Existência, que surgiu na mesma época do Espiritismo; na Europa, na mesma posição assistemática (Kierkegaard e sua aversão aos sistemas), com o mesmo processo de abordagem do problema do Ser (através do ser humano na existência) e a mesma busca de transcendência na interpretação da natureza humana ou essência do ser.

Mas acontece com o Existencialismo o que Kardec assinalou no tocante às ciências materiais: o paralelismo com o Espiritismo vai até o limite da conceituação da "existência". Depois desse limite o Espiritismo prossegue sozinho, investigando e aprofundando o problema das relações interexistenciais, que abre as possibilidades de comprovação das antigas intuições sobre as existências múltiplas do ser. No Espiritismo essas intuições, que desde a antiga metempsicose egípcia, adotada pelos pitagóricos, até a ressurreição judaica e a teoria católica de ressurreição da carne se mantiveram no plano sobrenatural, transformam-se em conceitos racionais comprovados pela experiência e a investigação científica.

Chegamos assim a um ponto de contato da Filosofia Espírita com o panteísmo de Espinosa, que é o da negação do sobrenatural. A Filosofia Espírita não é panteísta, o que está explícito em "O Livro dos Espíritos". Mas isso não impede que haja entre Espinosa e Kardec a concordância no tocante ao sobrenatural. Para a Filosofia Espírita o sobrenatural, segundo a concepção vigente até nossos dias, é apenas "o natural ainda não conhecido", pois tudo quanto existe pertence à Natureza e tudo quanto estiver além da Natureza não é acessível ao nosso conhecimento (posição paralela à do criticismo kantiano). Esse conceito de Natureza no Espiritismo é um dos pontos mais significativos da Filosofia Espírita e a coloca numa posição de vanguarda perante o pensamento contemporâneo. Quando as ciências atuais se viram obrigadas a adotar a expressão "paranormal", como substitutiva da expressão "sobrenatural", nas investigações sobre a natureza humana, nada mais fizeram do que seguir a orientação firmada pelo pensamento espírita há mais de um século.

Como se vê, desta simples exposição inicial, é inegável a natureza de síntese da Filosofia Espírita. Ela representa um daqueles momentos de confluência de todas as conquistas culturais do homem para um delta comum, a que se refere Arnold Toynbee nos seus estudos sobre o desenvolvimento das civilizações. Ernst Cassirer, filósofo alemão contemporâneo, em seu ensaio "A Tragédia da Cultura"; analisa o processo de evolução cultural do homem através das civilizações sucessivas, demonstrando que as conquistas essenciais de cada época são transmitidas à outra por meio de concretizações, de formas sintéticas de expressão. O Espiritismo, como afirmaram Kardec, Léon Denis, Sir Oliver Lodge, Gustave Geley, e Gonzales Soriano, entre outros, é a síntese cultural do nosso tempo. A Filosofia Espírita sintetiza em sua ampla e dinâmica conceituação todas as conquistas reais da tradição filosófica, ao mesmo tempo que inicia o novo ciclo dialético da nova civilização em perspectiva.


Autor: José Herculano Pires

Fonte: Introdução à Filosofia Espírita

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Especial do Mês


“Espiritismo, síntese da nobre caminhada do ser humano em busca de sua natureza real, sua Ciência é o instrumento eficaz que estimula o Espírito à sua autodescoberta; sua Filosofia o conduz à reflexão profunda; sua Religião em Espírito e Verdade revela-lhe a natureza divina de co-criador e participe do Universo.

Quando assim compreendido, permeia visões de Vida, amplia horizontes, eleva sentimentos, faz fluir, como as ondas suaves de um rio, as virtudes latentes e desconhecidas de seu mundo interior...”

Espiritismo e Filosofia é o especial desse mês do Manancial de Luz, que traz uma reunião de textos e vídeos que abordam e discutem o aspecto filosófico da doutrina espírita e sua influência no pensamento e na formação do novo homem, ante o limiar da era de regeneração.
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