Senhor, muito obrigado, pelo que me deste, pelo que me dás!
pelo ar, pelo pão, pela paz!
Muito obrigado, pela beleza que meus olhos vêem no altar da
natureza. Olhos que contemplam o céu cor de anil, e se detém na terra verde,
salpicada de flores em tonalidades mil! Pela minha faculdade de ver, pelos
cegos eu quero interceder, por aqueles que vivem na escuridão e tropeçam na
multidão, por eles eu oro e a Ti imploro comiseração, pois eu sei que depois
dessa lida, numa outra vida, eles enxergarão!
Senhor, muito obrigado pelos ouvidos meus. Ouvidos que ouvem
o tamborilar da chuva no telheiro, a melodia do vento nos ramos do salgueiro, a
dor e as lágrimas que escorrem no rosto do mundo inteiro. Ouvidos que ouvem a
música do povo, que desce do morro na praça a cantar. A melodia dos imortais
que a gente ouve uma vez e não se esquece nunca mais. Diante de minha
capacidade de ouvir, pelos surdos eu te quero pedir, pois eu sei, que depois
desta dor, no teu reino de amor, eles voltarão a ouvir!
Muito obrigado Senhor, pela minha voz! Mas também pela voz
que canta, que ensina, que consola. Pela voz que com emoção, profere uma
sentida oração! Pela minha capacidade de falar, pelos mudos eu Te quero rogar,
pois eu sei que depois desta dor, no teu reino de amor, eles também cantarão!
Muito obrigado Senhor, pelas minhas mãos, mas também pelas
mãos que aram, que semeiam, que agasalham. Mãos de caridade, de solidariedade.
Mãos que apertam mãos. Mãos de poesias, de cirurgias, de sinfonias, de
psicografias, mãos que numa noite fria, cuida ou lava louça numa pia. Mãos que
a beira de uma sepultura, abraça alguém com ternura, num momento de amargura.
Mãos que no seio, agasalham o filho de um corpo alheio, sem receio. E meus pés
que me levam a caminhar, sem reclamar. Porque eu vejo na Terra amputados,
deformados, aleijados...e eu posso bailar!!... Por eles eu oro, e a ti imploro,
porque eu sei que depois dessa expiação, numa outra situação, eles também
bailarão.
Por fim Senhor, muito obrigado pelo meu lar! Pois é tão
maravilhoso ter um lar... Não importa se este lar é uma mansão, um ninho, uma
casa no caminho, um bangalô, seja lá o que for! O importante é que dentro dele
exista a presença da harmonia e do amor! O amor de mãe, de pai, de irmão, de
uma companheira... De alguém que nos dê a mão, nem que seja a presença de um
cão, porque é tão doloroso viver na solidão! Mas se eu ninguém tiver, nem um
teto para me agasalhar, uma cama para eu deitar, um ombro para eu chorar, ou
alguém para desabafar..., não reclamarei, não lastimarei, nem blasfemarei.
Porque eu tenho a Ti! Então muito obrigado porque eu nasci! E pelo teu amor,
teu sacrifício, tua paixão por nós, Muito obrigado Senhor!
Amélia Rodrigues
Por Divaldo Pereira Franco