sábado, 29 de março de 2025

Sois deuses


 

Por Maria de Lurdes Duarte

“Conhece-te a ti mesmo”, assim ensinava Sócrates (470 a.C.-399 a.C.). Alguns séculos depois, Jesus afirmava “Vós sois deuses” (João 10:34) e ainda “Conhecereis a verdade e ela vos libertará” (João 8:32). No século XIX, a uma pergunta de Kardec sobre a necessidade da reencarnação, os Espíritos respondem, “Todos são criados simples e ignorantes e se instruem através das lutas e tribulações da vida corporal (…)”.

Vale a pena atentarmos nestas afirmações que, se bem entendidas, têm grandes implicações no modo como encaramos a nossa própria essência e nos dispomos a crescer aos mais diversos níveis: espiritual, emocional, moral, social, intelectual.

Somos obra divina. O Pai, em sua imensa sabedoria e misericórdia, desde sempre tem estado em criação constante. Cada um de nós é uma das suas obras. Não fomos criados perfeitos, sábios, moralizados. Não fomos criados nem bons nem maus. Isso contraria a crença de alguns de que Deus nos criou bons e, em contacto com a Terra, degeneramos. Uma espécie de anjos caídos. Essa ideia contraria absolutamente o princípio de que Deus, para ser Deus, tem de ter bondade, misericórdia, sabedoria, presciência… e todas as outras perfeições que lhe conhecemos e as que nem imaginamos, todas elas no grau mais absoluto, sob pena de que um outro as poderia vir a ter em maior grau. Com que finalidade criaria Deus seres perfeitos e os colocaria em situações que os fariam andar para trás, perdendo tudo o que lhes tinha dado no momento da criação? Onde estaria a perfeição da obra divina? Podemos até questionar: Onde estaria a perfeição do Criador?

Pelo contrário, a ideia de que somos uma obra original, simples, ignorante, com todo as potencialidades para evoluir, crescer de forma quase ilimitada, chegar, como fruto do nosso trabalho incessante, à perfeição que nos é dado necessário alcançar, essa sim, parece-nos uma ideia que nada repugna à razão.

Mas, apesar de simples e ignorantes, não partimos do zero absoluto no momento em que fomos criados. Somos como a pequena semente que muito pouco se parece com a árvore que lhe deu vida, mas traz em si tudo o que precisa para vir a ser uma árvore portentosa, cheia de vida e vigor. Cada pequena semente, de acordo com a espécie de que provém, tem em si os germes daquilo que virá a ser, quando chegar a hora da germinação, e crescer até se transformar numa obra perfeita de acordo com a sua natureza, se lhe for permitido desenvolver-se envolta nas condições que lhe são necessárias.

Nós somos a semente do anjo em que nos tornaremos. Temos em nós os germes da sabedoria, da bondade, do belo, do bom, e de todas as virtudes que poderemos desenvolver, ao longo das reencarnações sucessivas em mundos materiais e do que poderemos aprender durante as estadias intermédias na erraticidade. Algumas destas virtudes, por enquanto nem antevemos quais poderão ser. São inerentes a estados evolutivos que ainda não são os nossos, mas dos quais, por vezes, temos tímidos vislumbres, que poderemos considerar como apelos do Alto a chamar-nos para novos rumos, para que não estacionemos numa felicidade enganadora, mas confortável.

Quando Jesus reafirma o que já anteriormente podíamos encontrar no antigo testamento (Salmo 82:6) “Sois deuses”, refere-se às potencialidades da alma que, quando desenvolvidas devidamente, nos farão empreender feitos e conquistas de uma sublimidade que nem suspeitaríamos nos estados menos avançados da escalada evolutiva. Estes feitos e conquistas a que nos referimos não são de cariz material, não são as conquistas da riqueza, nem as conquistas sobre povos. Não são os feitos do heroísmo que nos leva à luta exterior contra pessoas, países, povos. Mas não são feitos menos heroicos, antes pelo contrário. São a conquista do bem e da sabedoria, conseguida nas lutas interiores que empreendemos contra os vícios, as más tendências, os maus instintos, a ignorância, o egoísmo.

Esta luta exige de nós um constante esforço de reflexão que leve ao autoconhecimento. “Conhece-te a ti mesmo”, preconizava Sócrates, esse grande percursor do Cristianismo, logo também do Espiritismo. Ou seja, conhece-te a ti mesmo, reflete sobre as tuas ações, perscruta os teus desejos e pensamentos mais íntimos. Analisa os teus dons, investiga sobre o que te faz verdadeiramente feliz, descobre como dar pequenos passos de cada vez, mas avança. “Vigia as próprias manifestações”, como diz André Luiz, no pequeno, mas profundo, livrinho Conduta Espírita (1960), da psicografia de Waldo Vieira. Usa nisso toda a força da tua vontade. Ela é a alavanca para as subidas mais íngremes e dolorosas. Por mais difícil que nos parece o caminho, uma vontade firme é a força motriz que não nos deixa desistir ou ficar para trás.

Léon Denis, na sua obra O Problema do ser, do destino e da dor (terceira Parte: As potências da alma), incita-nos da seguinte forma:

Almas humanas que percorreis estas páginas, elevai os vossos pensamentos e resoluções à altura das tarefas que vos tocam. As vias para o Infinito abrem-se, semeadas de maravilhas inexauríveis, diante de vós. A qualquer ponto que o voo vos leve, aí vos aguardam objetos de estudo com mananciais inesgotáveis de alegrias e deslumbramentos de luz e beleza. Por toda a parte e sempre, horizontes inimagináveis suceder-se-ão aos horizontes percorridos. (Léon Denis, 1908)

E, mais adiante, no mesmo capítulo da obra, acrescenta: “A inteligência humana não pode descrever os futuros que pressente, as ascensões que antevê (…). A alma, em suas intuições profundas tem a sensação das coisas infinitas, de que ela participa, e às quais aspira (…). Dia virá em que a alma engrandecida dominará o tempo e o espaço.”

Joanna de Ângelis, na sua obra Dias Gloriosos, da mediunidade de Divaldo Franco, alerta-nos também para a necessidade de empreendermos uma busca constante, focando-se no muito que há ainda para conhecer e evoluir quando empreendermos a nossa vontade no bom aproveitamento das potencialidades que estão latentes em nós: “No que diz respeito às questões espirituais, o imenso campo se desdobra, rico de paisagens que aguardam ser conquistadas, não estando ninguém, no mundo, em condições de estabelecer paradigmas e definições últimas, por lhe escaparem possibilidades para tanto (Joanna de Ângelis, 1998).

A mesma autora espiritual, na obra Jesus e o Evangelho, acrescenta:

A crescente luta do Espírito é direcionada para a perfeição relativa que lhe está destinada. Rompendo, a pouco e pouco, as couraças que lhe obstaculizam alcançar a meta, desvestindo-se dos equipamentos grosseiros, que são heranças das experiências iluminativas por cujo trânsito se movimentou, investe os melhores recursos quando alcança o nível de consciência lúcida para fazer brilhar a sua luz (Joanna de Ângelis, 2000).

Somos deuses destinados a grandes coisas. Quanto mais evoluímos, mais antevemos as venturas que nos estão destinadas. Exatamente como quem percorre uma estrada e quanto mais avança nela, mais perto vê a meta e mais se esforça por chegar, empreendendo nisso todos os esforços, superando-se. Também no campo da evolução espiritual, quanto mais subirmos na escala espírita, mais seremos capazes de antever novos horizontes e mais saberemos empreender nisso toda a nossa vontade, porque saberemos usar as potencias da alma. Conhecimento atrai conhecimento. Evolução atrai evolução. Reafirmamos, com Léon Denis, que a vontade é a maior de todas as potências, porque funciona como esse íman que atrai até nós as forças do bem que nos auxiliarão sempre a atingir as metas a que nos propomos no campo espiritual.

Concluímos esta singela reflexão com a tão bela afirmação do Mestre Jesus: O Reino de Deus está dentro de vós” (Lucas 17:20).

Bibliografia:

Novo Testamento: João 10:23; Lucas 17:20

O Problema do ser, do destino e da dor, Léon Denis.

Dias Gloriosos, pelo Espírito Joanna de Ângelis, pela mediunidade de Divaldo Franco.

Jesus e o Evangelho, pelo Espírito Joanna de Ângelis, pela mediunidade de Divaldo Franco.

Conduta Espírita, pelo Espírito André Luiz, pela mediunidade de Waldo Vieira.

Antigo Testamento, Salmos 82:6.

Maria de Lurdes Duarte reside em Arouca, Portugal, onde mantém o blog "Caminhos da imortalidade", que o leitor pode acessar clicando neste link: Caminhos da imortalidade

quinta-feira, 27 de março de 2025

Planeta jovem


 

Por Nilton Moreira

A Terra, muito embora tenha sido formada há bilhões de anos, conforme consta nos livros de maior credibilidade, é relativamente um planeta que podemos classificar como jovem!

No começo, quando o Criador disse “haja a luz”, tratava-se de um corpo incandescente que viajou pelo espaço milhares e milhares de anos, até que certo ponto começou a se solidificar nas camadas mais externas.

Embora a superfície da Terra nos primeiros tempos tenha-se solidificado, até hoje mantém o orbe em seu núcleo a consistência da origem, em que a matéria é líquida e efervescente, pastosa, cujo conteúdo por vezes tem necessidade de emergir do núcleo, e o faz através das mais diversas erupções vulcânicas existentes nos mais diversos cantos do mundo.

O procedimento das erupções se assemelha às nossas panelas de pressão, que em certo momento necessitam expandir gazes pela válvula, que se assemelha aos vulcões.

Mas, de acordo com a categoria de mundos e que é mencionada pelo Mestre Jesus, quando disse existirem várias moradas na Casa do Pai, sendo a casa o Universo e as moradas os mundos que são habitados pelas espécies peculiares a cada local, a Terra ocupa a segunda categoria na escala, isto é, um planeta de provas e expiações.

Provas sim, porque temos que enfrentar problemas que são específicos deste mundo, como a maldade, as moléstias e a pouca evolução moral, já que ainda conservamos o orgulho, a inveja, preconceito, e tantos outros adjetivos negativos.

Expiações, porque a Terra é um grande presídio, pois não temos como sair dela antes de cumprirmos as penas que geramos ao longo das existências, passadas ou presente.

Tudo na Terra está em modificação. Quando o livro A Gênese se fala em sinais dos tempos podemos constatar que existe uma realidade no que diz respeito a transformações. A Terra não está inerte em sua vida desde que foi criada. Assim como seu núcleo se movimenta, expandindo o magma, a superfície também se transforma, tanto geograficamente, como politicamente e moralmente, o que faz com que acontecimentos de várias ordens aconteçam.

Certamente é na dor que vamos sentindo a necessidade de modificações, e isso faz parte da evolução. A cada acontecimento que gera tristeza, insegurança, inquietude, vamo-nos questionando quanto ao motivo disso tudo e chegamos à conclusão de que temos que evoluir na direção do Pai, para assim possibilitarmos a evolução do planeta e não sermos um entrave ao progresso.

terça-feira, 25 de março de 2025

Onde você estiver

 


Por Waldenir A. Cuin

“Bem-aventurados os misericordiosos, eles alcançarão misericórdia”.  Jesus (Mateus, 5:7.)

Onde você estiver, seja um digno representante da Providência Divina na distribuição de ações e procedimentos que possam servir de alavanca e estimulo aos que caminham ao seu lado.

Onde você estiver, verifique a possibilidade de concatenar uma conversação saudável, no desejo sincero de melhorar o ambiente em que se encontra.

Onde você estiver, seja, mesmo que de improviso, a paz que estanca a revolta e devolve a tranquilidade onde minutos antes se vivenciava a intriga e o conflito.

Onde você estiver; promova a felicidade dos irmãos que respiram sob o pesado clima do desespero, e que retêm no coração as vibrações negativas da tristeza que gerarão mais tarde as doenças que dizimam vidas e aniquilam a esperança.

Onde você estiver, procure, dentro do possível, cultivar sentimentos tão nobres que possam originar a alegria, destruindo a melancolia inoportuna e deletéria.

Onde você estiver, no contexto de suas possibilidades, improvise o trabalho, pois toda ocupação útil se caracteriza como labor e mente ocupada estará sempre contra a intromissão de ideias negativas e infelizes.

Onde você estiver, seja um polo disseminador de otimismo, grassando o alento entre aqueles que se movimentam no círculo de suas influências.

Onde você estiver, posicione-se na condição do portador da boa palavra, utilizando a voz como suave ferramenta de divulgação dos valores edificantes da vida.

Onde você estiver, use de paciência para contagiar os que o observam, pois podemos dar exemplo de calma que acalma os outros ou demonstrações de agressividade que tornam os outros também agressivos.

Onde você estiver, nunca se esqueça de aplaudir as boas ações e os gestos que coadunam com os princípios de boa índole que servem de base para o crescimento moral das criaturas.

Onde você estiver, seja fiel aos ensinamentos evangélicos, procurando dentro do máximo possível deixar nítido seu desejo de vivenciá-los na prática para o seu bem-estar e o dos outros.

Onde você estiver, se preciso permaneça em silêncio mesmo ante o vozerio de quem ataca, pois aquele que sai vitorioso, numa contenda verbal, no futuro, via de regra, volta para se desculpar.

Onde você estiver, faça o possível para que as pessoas não sofram, mas se elas preferirem o sofrimento deixe-as seguir, pois a vida, sábia como é, tem mecanismos próprios para socorrê-las no tempo certo.

Onde você estiver, distribua muito amor, mesmo entre o fogaréu do ódio, pois dentro das Leis de Deus o mal nunca superou o bem.

Onde você estiver, agindo assim, será sempre bem-aventurado, pois já conta com a misericórdia, e todo aquele que é bom, segundo as Leis de Deus, receberá ainda mais bondade e viverá, incontestavelmente, na paz e na felicidade.

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