“Um dos exemplos mais brilhantes da vida e do sentido de uma
personalidade, como a história no-lo conservou, constitui a vida de Cristo”
(Carl Gustav Jung)
Jesus exemplificou a vivência do ser humano Integral. Ele,
que foi o mais inteligente e esclarecido ser que até hoje habitou a Terra. A
sua mensagem inovadora atravessou dois milénios e ainda não foi totalmente
compreendida. Porquê? Porque ainda não entendemos que é no nosso inconsciente
que reside o alimento da nossa alma. Jesus mostrou como ir pescar ao outro lado
da vida. O futuro está em saber fazê-lo.
A mensagem de Jesus é simples e baseada no amor e na
inclusão. Ela esclarece sobre a continuidade da vida, sobre o poder do perdão e
do uso da caridade como instrumentos de evolução. Jesus ilustrou que é no nosso
querer e crer, que alcançamos a verdadeira saúde, a harmonia a que chamamos de
felicidade. Para isso temos de saber lidar com a nossa sombra, aquela que
transportamos no nosso inconsciente como resultado do que fomos sendo ao longo
de vidas sucessivas.
Lidar com a sombra é enfrentar os nossos defeitos, sem os
reprimir ou rejeitar. É aceitá-los à medida que nos vamos melhorando. É
vivermos a sua catarse, e assim irmos buscando em nós o Céu e nos libertarmos
do Inferno, que não está algures, mas sim no nosso íntimo. E assim vamos ao
encontro da harmonia que nos é proporcionada pelo equilíbrio físico, emocional,
social, económico, e, naturalmente, centrada na lucidez psíquica.
Esta proposta retira todas as ordens de grandeza de uns em
relação a outros afirmando o Pai, Deus e a Sua vontade, como a única Lei acima
do ser humano. Uma proposta que revoluciona o seu tempo e para sempre o
pensamento do Homem [1].
Jesus começa por sedimentar a sua mensagem junto dos mais
humildes, onde a necessidade de consolo e de cuidados era maior, mas também
onde a fé tinha melhores condições para germinar. Estas almas eram humildades,
drenadas de paixões materiais exacerbadas e de orgulhos humanos desmedidos.
Porém, e apesar de ser este o seu foco, Jesus não negligenciou ninguém, pois
também se sentou com o rico, que é igualmente doente (da alma), se não sabe
cuidar das suas responsabilidades para com a abundância.
Ainda assim, Jesus não chegou a todos, pois, muitos se
fecharam na sua ignorância espiritual, na altivez intelectual e na perspetiva
materialista das suas vidas, fruto do orgulho, do egoísmo e, quantas vezes, do
próprio neuroticismo. Estes ignoraram o convite à mensagem amorosa e à ação de
responsabilidade individual e de uns para com outros.
A crença na existência de um Deus Todo-Poderoso,
soberanamente justo e bom era uma das novidades da mensagem do Cristo. Porém,
quando esta foi explicada ao povo de Israel, este duvidou. Em particular, a sua
mensagem não alcançou as proximidades do inconsciente dos judeus fariseus,
ainda que estes aguardassem o prometido Messias. Estes não quiseram “aquele”
Messias e não creram na sua mensagem. Primeiro, porque Jesus era carpinteiro,
andava descalço e habitualmente fazia-se acompanhar de pobres.
Segundo, porque afirmava que todos eram iguais perante Deus,
o que contrariava a orgulhosa ideia daqueles Judeus, que se achavam escolhidos
para receber o Messias. Perante isto, os fariseus não conseguiram humildar-se
para perceber Jesus. Não conseguiram entender que a sua mensagem não vinha
descaracterizar a de Moisés, a quem eram devotos, nem a dos Profetas, que
seguiam, mas sim acrescentar um novo entendimento aos saberes deixados por
aqueles. Na verdade, este novo entendimento ia para lá da crença judaica no Deus
terrível, ciumento, que se vingava do culpado na pessoa do inocente e que feria
os filhos pelas faltas dos pais.
Além do orgulho Judeu, Jesus deparou-se com duas outras
dificuldades. Uma relativa ao patriciado romano, invasor daquele território,
escravagista, segregador, déspota, racista e crente que a Lei de César era a
única que reinava acima de todos os povos. A outra, que abarca todas as
anteriores, a imaturidade espiritual do povo daquele tempo e naquela região.
Pois, poderia ser expectável que naquela época já houvesse mais esclarecimento
espiritual relativamente ao tempo de Moisés (1400 anos antes de Cristo).
A mensagem de Jesus referia-se a um Deus “clemente,
soberanamente justo e bom, cheio de mansidão e misericórdia, que perdoava ao
pecador arrependido e que dava a cada um segundo as suas obras” [2]. Jesus
descrevia assim a lei de Causa e Efeito que assiste à vida e ilustrava o
percurso de atenuação da dor (efeitos) face à mudança de comportamentos ao
longo do percurso reencarnatório do espírito – afinal não há penas eternas, se
cessa a causa cessa o efeito.
A Sua mensagem dizia ainda que não havia “o Deus de um único
povo privilegiado, o Deus dos exércitos, presidindo aos combates para sustentar
a sua própria causa contra o Deus dos outros povos; mas, o Pai comum do género
humano, que estende a sua proteção sobre todos os seus filhos e os chama todos
a si” [idem].
Jesus também afirmava que não havia “o Deus que recompensa e
pune só pelos bens da Terra, que faz consistir a glória e a felicidade na
escravidão dos povos rivais e na multiplicidade da progenitura”. Ao contrário
de tudo isto e do que muitos ainda hoje creem, e independentemente do seu
conhecimento e credo, Jesus afirmou que só há um Deus, o de todos os homens, e
que a “verdadeira pátria não é neste mundo, mas no reino celestial, lá onde os
humildes de coração serão elevados e os orgulhosos serão humilhados.” [idem]
E é neste contexto, em que o poder espiritual está entregue
aos judeus e o material aos romanos, que a Providência decide enviar o Messias
para divulgar a Boa Nova (o Evangelho) ao coração da ignorância reinante. De
facto, esta é a mais extraordinária mensagem de inovação que há registo.
No entanto, e como frequentemente acontece com a inovação,
as novas ideias são, primeiro, desacreditadas, depois tidas como uma ameaça e
posteriormente como evidentes. E é assim, pela ignorância humana, que o
cristianismo (na ascensão da sua mensagem e ensinamentos, não do “clubismo”)
continua a fazer o seu percurso a caminho do “evidente”, embora ainda envolto
em adornos criados por religiosos, ou em anátemas criados por céticos. Em ambos
se intelectualiza o que é da expressão do coração, do sentimento e que se
exterioriza do inconsciente pelo desenvolvimento do Self do indivíduo, logo,
dificilmente aceite pela imposição de uns ou mensurável pela proveta de outros.
“Como lhe
apresentassem um paralítico deitado em seu leito, Jesus, notando-lhe a fé,
disse ao paralítico: Meu filho, tem confiança; perdoados te são os teus
pecados.” (…) “O paralítico se levantou imediatamente e foi para sua casa.” (“A
Génese”, Allan Kardec, Cap. XV, nº 14).
Todavia, é importante notar que Jesus não curou todos, não
fez milagres, mas curou, fazendo uso da mediunidade e, por conseguinte, do
campo magnético radiante do seu Espírito.
Jesus é hoje considerado por muitos psicólogos e terapeutas
como o “Melhor Psicólogo ou Psicoterapeuta” que já existiu [1]. De facto,
“sendo Jesus o ser mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para lhe servir de
guia e modelo”, conforme responderam os Espíritos a Allan Kardec, na questão nº
625, de “O Livros dos Espíritos”, é natural, que o seu conhecimento a respeito
do ser humano ultrapassasse tudo quanto se pode imaginar a esse respeito
[idem].
Jesus penetrava o imo do paciente com o Seu psiquismo
superior, encontrando aí com facilidade as causas dos conflitos e problemas que
o afligiam. Usando o seu saber sobre o espírito e o conhecimento da
mediunidade, libertava o paciente da sua aflição, consolando-o, interrogando-o
sobre o querer e o crer, ou seja, tornando o indivíduo agente da sua cura —
note-se o Seu conhecimento sobre a relação entre construção de pensamento,
exercício da vontade e ação destes sobre o corpo celular.
Em suma, estimulando-o a não voltar a equivocar-se, para que
nada de pior lhe acontecesse [idem]. Além do mais, conhecia a Lei de Causa e
Efeito, pelo que sabia à priori quem estava em condições de se recuperar – daí
não ter curado todos, pois nem todos estavam no mesmo estado face à lei de
causa e efeito (dado o processo de expiação em que se encontravam, ou seja,
perante débitos contraídas no passado).
Jesus fez tudo aquilo e muito mais e em pouco tempo. E mesmo
nos instantes antes e após a morte do seu corpo, entrega novas e poderosas
lições sobre o perdão, o livre arbítrio e a lei de causa e efeito (com
repercussões até hoje). E é pelo Evangelho de João, a partir das palavras do
Cristo, que ficamos a saber que haveria de vir um Consolador: o Espiritismo.
Fonte: Artigo portal invisibillis
Referências
[1] FRANCO, Divaldo, pelo Espírito Joanna de Ângelis,
Refletindo a Alma: A Psicologia Espírita de Joanna de Ângelis, LEAL, 4ª edição,
2016.
Título: Refletindo a Alma, a Psicologia de Joanna de Ângelis
[2] XAVIER, Francisco Cândido, orientado pelo Espírito
Emmanuel, Paulo e Estevão. FEB, 2004. (*)