Por Joel
Matias
Os milagres
no sentido teológico
Etimologicamente
milagre significa: admirável, coisa extraordinária, surpreendente. "Um ato
do poder divino contrário às leis da Natureza, conhecidas". Para a
religião, o milagre tem origem sobrenatural, é inexplicável, insólito, isolado,
excepcional. Se uma pessoa estiver aparentemente morta, com vitalidade latente
e a Ciência ou uma ação magnética conseguir reanimá-la, para o leigo ocorre um
milagre, mas para pessoas esclarecidas dá-se um fenômeno natural.
Muitos
fenômenos foram levados à categoria de milagres até que a Ciência revelou novas
leis, restringindo assim "o círculo do maravilhoso", que não mais
podendo se firmar no domínio da materialidade, refugiou-se no da
espiritualidade. O Espiritismo ao demonstrar que "o elemento espiritual é
uma das forças vivas da Natureza" atuando sobre o elemento material,
estando também sujeito a leis, faz com que o maravilhoso deixe de ter razão de
ser. Pode-se então dizer "que passou o tempo dos milagres".
O
Espiritismo não faz milagres
Sendo o
Espírito a alma sobrevivente à morte do corpo, sua existência é perfeitamente
natural, durante ou após a encarnação. Como o princípio espiritual e material
"reagem incessantemente um sobre o outro", formando um conjunto
harmonioso, representam duas partes de um todo, "tão natural uma quanto a
outra".
Tanto
encarnado como desencarnado o Espírito atua sobre a matéria através do
perispírito. Quando desencarnado utiliza-se de um intermediário para sua
manifestação: o médium, assim como um intérprete para quem não conhecesse
determinada língua. Tal manifestação está sujeita a leis, tanto quanto os
fenômenos elétricos, luminosos, acústicos, etc. que, enquanto não explicados
pela Ciência deram origem a inúmeras crenças supersticiosas. Um efeito físico
como o de uma mesa que se ergue e é mantida no espaço sem ponto de apoio é
explicável pela ação de um fluído magnético submetido à ação de um Espírito,
tanto quanto o gás hidrogênio contrabalança o peso de um balão que se eleva no
ar. Como os fenômenos espíritas sempre existiram através dos tempos, entraram
no domínio do sobrenatural, gerando crenças supersticiosas; explicados
racionalmente, passaram ao domínio do natural. Atua o Espiritismo no campo da
espiritualidade, demonstra o que é possível como também o que não é, deixando,
entretanto, margem aos conhecimentos reservados ao futuro.
Analisando
as manifestações da alma encarnada ou desencarnada (espírito), em que revela
sua existência, sobrevivência e individualidade, chega o Espiritismo ao
conhecimento da natureza e atributos da alma, bem como das "leis que regem
o princípio espiritual", de modo científico, evidenciando, no entanto,
aqueles acontecimentos tidos como fenômenos sobrenaturais, resultantes da
imaginação de fanáticos ignorantes ou ainda produzidos pelo charlatanismo.
A
característica dos fenômenos espíritas é de serem a maioria das vezes
espontâneos e independentes das ideias das pessoas envolvidas. Alguns podem, em
dadas circunstâncias, ser provocados por médiuns conscientes ou inconscientes, revestindo-se,
portanto, de capital importância os fenômenos espontâneos, como por exemplo, o
sonambulismo natural e involuntário, "visto não se poder suspeitar da
boa-fé dos que os obtêm".
Faz Deus
milagres?
"Não
sendo necessários os milagres para a glorificação de Deus, nada no Universo se
produz fora do âmbito das leis gerais. Deus não faz milagres, porque, sendo,
como são perfeitas as suas leis, não lhe é necessário derrogá-las".
Se realmente
existisse o Espírito do mal (Satanás) com o poder de "sustar o curso das
leis naturais" para seduzir os homens, então Deus não seria Onipotente e
lhe faltaria a soberana bondade. Todos os fatos tidos por miraculosos são
efeitos naturais causados por espíritos desencarnados ou encarnados, no uso de
sua inteligência e conhecimentos adquiridos, para o bem ou para o mal, conforme
sejam bons ou perversos. Assim o demonstra o Espiritismo, explicando os
fenômenos no campo do magnetismo, sonambulismo, êxtases, visões e aparições, percepções
a distância, curas instantâneas, levitações, comunicações com o mundo
invisível.
O
sobrenatural e as religiões
As religiões
não podem ter como fundamento o sobrenatural, sob pena de verem minadas
totalmente suas bases à medida em que fatos tidos como miraculosos recebem
explicação racional, levando-os do maravilhoso para o domínio do natural. Deve
o maravilhoso ser substituído pelo princípio espiritual, "sem o qual não
há religião possível". As bases sobre as quais se assenta o Espiritismo
são as imutáveis leis de Deus, às quais obedecem os princípios espiritual e
material.
Em lugar de fazer-se acreditar em "pedras que suam sangue", "estátuas que piscam os olhos e derramam lágrimas" o poder de Deus deve ser mostrado na infinita sabedoria que a tudo preside, na organização dos fenômenos da Natureza, na bondade e solicitude dispensada igualmente a todos, na sua previdência, no bem constatado após um mal aparente e temporário. O mal é obra do homem e não de Deus. Em vez de levar susto com as penas eternas, devem as religiões evidenciar a bondade divina, transmitindo a certeza de que se pode redimir e reparar o mal praticado. As descobertas da Ciência representam a revelação das leis divinas. Só assim serão os homens "verdadeiramente religiosos, racionalmente religiosos".
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