Por José
Passini
A palavra
natal, como se sabe, significa nascimento. Assim, pode-se dizer terra natal,
significando terra onde nasceu alguém. Emprega-se a palavra também para
significar dia do aniversário, do natalício. Entretanto, quando escrita com
maiúscula, a palavra significa, para os cristãos, o nascimento de Jesus. Nesse
caso, dizemos O Natal, ou o dia de Natal.
A maioria da
Humanidade cristã comemora o Natal sem atentar no que significou, para a Terra,
o nascimento de Jesus. A Sua vinda foi anunciada século após século, por vários
profetas. O povo hebreu esperava ansiosamente pelo Messias. Esperava-O como se
espera um libertador, um guerreiro que, segundo pensava a maioria, viria
libertar o povo de Israel do domínio romano. Imaginavam muitos que o Messias
seria um homem rico e poderoso, que viria à frente de exércitos, que venceria
os romanos, devolvendo-lhes os sofrimentos e as humilhações impostos aos
Judeus, anos a fio.
Contrastando
com as expectativas, a vinda de Jesus não se revestiu do luxo e da pompa de um
palácio, nem de demonstrações exteriores de poder. Pelo contrário, as primeiras
paredes que o abrigaram foram as de um estábulo e o seu berço foi a humilde
palha de uma manjedoura. O seu poder manifestou-se na firmeza de Suas
convicções, na força da Verdade e na exemplificação profunda do Amor.
Sabe-se que
o Seu nascimento se deu nessas circunstâncias não por estarem Seus pais em
condições de penúria. José, conquanto fosse um carpinteiro pobre, tinha com que
pagar uma pousada, pois conforme relatam o Evangelho de Lucas (2:7) e Irmão X
(Francisco Cândido Xavier, Antologia mediúnica do Natal, ed. FEB, cap. 50), o
casal procurou algumas hospedarias, mas a cidade, em vista do recenseamento,
estava repleta de viajantes e não havia aposentos disponíveis. Pode parecer que
Jesus nasceu em meio humilde por essa condição meramente circunstancial, de não
terem Seus pais encontrado vaga em nenhuma hospedaria de Belém. O Seu
nascimento num estábulo pode ter sido circunstancial, mas a condição de pobreza
já estava programada, visto ter escolhido a família de um carpinteiro.
Desde o Seu
nascimento, Jesus deixou mensagens da mais profunda significação na História
humana. Começou por mostrar que o verdadeiro poder não se manifesta de modo
visível senão àqueles que têm olhos de ver, pois emana do Espírito imortal e
não da matéria transitória. Começando a vida num berço pobre, entre pessoas
comuns, demonstrou a força imensa da simplicidade e da humildade.
Trinta e
três anos mais tarde, para a grande massa popular de Jerusalém, naquela
sexta-feira de triste memória, Jesus foi um derrotado, vencido ao peso da
iniquidade e dos interesses materiais do sacerdócio judaico. Entretanto, como
previsto pelo profeta, Sua passagem pela Terra seria a de um vencedor: O seu túmulo
passará como o de um malvado e a sua morte como a de um ímpio. Mas, desde o
momento em que oferecer a sua vida, verá nascer uma posteridade e os interesses
de Deus hão de prosperar em suas mãos. (Emmanuel/Francisco Cândido Xavier, A
Caminho da Luz, ed. FEB, cap. 12). E Emmanuel completa, na obra já citada,
Começava a era definitiva da maioridade espiritual da Humanidade terrestre, de
vez que Jesus, com a sua exemplificação divina, entregaria o código da
fraternidade e do amor a todos os corações.
Por essas
palavras do Benfeitor, vemos que a passagem de Jesus pela Terra não foi a de
mais um missionário, mas constituiu-se num marco luminoso na História da
evolução humana, foi algo de tal significação que chegou a mudar a contagem do
tempo, em antes e depois de Cristo.
Com o
Cristo, o próprio conceito humano de religião mudou completamente. Não mais
aquela religião mística, contemplativa, ritualística, cheia de oferendas e
fórmulas repetitivas no interior dos templos. Religião, conforme Seus
ensinamentos e, principalmente Seus exemplos, passou a ser, para aquele que lhe
entendeu as lições, um novo modo de viver, de se relacionar com o próximo, em
todos os ambientes, em todos os momentos. Ensinando que Deus está presente em
todo o Universo, alargou os limites dos templos, transformando o mundo num
templo imenso.
Jesus, com
simplicidade e humildade, mudou milenares conceitos religiosos, a começar pela
ideia errônea que se tinha a respeito de Deus, substituindo o conceito Deus
temor por Deus amor. Repetiu antigos conceitos de fé a respeito da justiça de
Deus, mas em frases de luminosa beleza, colocou a misericórdia acima da
justiça, apresentando Deus não mais como aquele soberano inflexível, e sim como
Pai amoroso e bom. A bondade e a humildade eram tidas como atributos dos
fracos, daqueles que não sabiam lutar, sendo, por isso, os humildes desprezados
pelos fortes e poderosos. Jesus veio mostrar a força da humildade, pois Ele, a
criatura mais humilde e mansa que a Terra conheceu, abalou para sempre os
conceitos de força e de poder, deixando lições que sobreviveram e ganharam
adeptos com o passar dos séculos, apesar dos esforços daqueles que quiseram
sufocá-las.
Ensinou,
consolou, amparou, curou, libertou do mal pobres e ricos, fracos e poderosos,
com a mesma naturalidade e solicitude amorosa. Soube contrapor-se ao mal com
sinceridade e firmeza, sem arrogância ou revolta, mesmo nos momentos mais
difíceis do Seu testemunho. Como diz Emmanuel, na obra já citada, combateu
pacificamente todas as violências oficiais do judaísmo, renovando a Lei Antiga
com a doutrina do esclarecimento, da tolerância e do perdão. Espalhou as mais
claras visões da vida imortal, ensinando às criaturas humanas que existe algo
superior às pátrias, às bandeiras, ao sangue e às leis humanas. Viveu essas
verdades, enfrentando sereno e calmo a farsa do Seu julgamento, a zombaria, os
flagelos, a cruz e a morte. Coroando Sua passagem pela Terra, deixou o marco da
Imortalidade gloriosa ao ressurgir no esplendor do Seu corpo espiritual,
mostrando aos discípulos a vitória da vida sobre a morte.
Da palha da
manjedoura à ressurreição gloriosa, Sua passagem pela Terra foi um marco
luminoso.
Nasceu sobre
a palha simples de um estábulo, mas mudou o próprio calendário terrestre.
Transformou
aparentes derrotas em marcos luminosos para a evolução humana.
Condutor da
evolução humana, não apenas apontou o caminho a ser seguido, mas, como Mestre
perfeito, o trilhou, Ele próprio, à frente.
De Sua
origem humilde, elevou-se como um gigante do Bem, cujas palavras amorosas
ressoam até hoje.
É o
aniversário desse Missionário Maior, enviado por Deus à Terra, que comemoramos
no dia de Natal. Por termos consciência do valor da mensagem que Ele nos
deixou, é que devemos, nesta época do ano, meditar sobre como lhe oferecemos
essa comemoração. O que temos a oferecer ao Mestre? É de senso comum que as
lições bem aproveitadas agradam aos mestres.
Estaremos
demonstrando a Jesus que somos discípulos aplicados?
Podemos
apresentar-lhe algum progresso desde o último Natal?
Quanto
crescemos em tolerância, bondade, paciência, benevolência, caridade?
Será que
essas festas ruidosas, com bebidas, com excesso de comida, de doces, de presentes
estariam ao gosto de Jesus, que primou sempre pela sobriedade e pelo
equilíbrio?
Como nos
sentiríamos, se o Sublime Aniversariante viesse à nossa mesa participar da
festa que, afinal, é em Sua homenagem? Justo festejemos com alegria, com boas
refeições, na companhia de familiares e amigos queridos, num clima de
tranquilidade e paz.