Por Eder Andrade
Observamos junto à humanidade,
independente do país, nacionalidade ou crença, um traço muito forte que acaba
unindo os homens na hora da dor, a falta de uma fé, resiliência ou resignação.
As filas nas portas dos hospitais e prontos-socorros crescem a cada dia e,
acompanhando as reportagens pelos meios de comunicação, somos levados a
perceber a grande dificuldade das pessoas enfrentarem a prova ou expiação com
uma fé raciocinada, fruto de um testemunho pessoal, construído ao longo da vida
pelo exercício de uma espiritualidade para, no momento do testemunho, dar uma
prova de seu amadurecimento do senso moral, para a nuvem de Espíritos que nos
cercam no decorrer dessa existência física.
A compreensão da imortalidade da
alma e da transitoriedade da matéria é um atributo conquistado individualmente
por cada um de nós ao longo das sucessivas encarnações, que pode até ser
ensinado ou compartilhado, quando as pessoas tiverem olhos de ver e ouvidos de
ouvir a Boa Nova, a Terceira Revelação! Ensinamento esse que ajudará, na
capacitação do Espírito imortal, a melhor lidar com a ideia de que a vida não
começa no berço e não termina no túmulo e dessa forma estamos estagiando num
corpo de carne para evoluir, e que um corpo infantil pode ser ocupado por um
Espírito imortal milenar, com muitas encarnações, e o aparente sofrimento nada
mais é do que uma prova que o espírito precisa passar, assim como seus
familiares, numa programação preestabelecida pela espiritualidade, envolvendo todas
as pessoas da mesma família, numa mesma cultura e mesma nacionalidade.
Espíritos solicitam junto às
esferas mais elevadas passar por provas duríssimas em uma nova existência
corpórea, para corrigirem falhas e acelerarem sua evolução moral aqui no plano
terreno em um corpo doente, numa condição de pobreza e miséria, renascendo em
regiões onde a guerra e a destruição subtraem a esperança da expectativa de
vida das pessoas, isso sem falar na fome e nas doenças que assolam o mundo que
vivemos.
– “...Muito se pedirá àquele a
quem muito se houver dado e maiores contas serão tomadas àquele a quem mais
coisas se haja confiado.” (Lucas, cap. XII, v v. 47 e 48.)
A permanência na condição de
vigília, ao longo da encarnação, deveria ser usada pelo Espírito para se
capacitar de conhecimentos nobres, no engrandecimento da sua evolução moral,
fato que nem sempre acontece, pois, o homem está mais preocupado com sua
sobrevivência material ou infelizmente se deixando arrastar pelos convites
frívolos, transitórios ou passageiros do mundo dos encarnados, fato que nos
reporta à passagem bíblica de João!
“Estou no mundo, mas não sou do
mundo.” (João 17:14)
O mundo de regeneração que
desejamos construir será um movimento coletivo de todos nós, onde, nós
encarnados, daremos aos benfeitores espirituais um testemunho silencioso de
humildade e resiliência, não de passividade, mas conhecimento da verdade,
sabendo que em um planeta de provas e expiações existirão muitas dificuldades
que vão desafiar nossa fé e colocar em prova nossa capacidade de perseverar no
bem, pois muitos trabalham em favor do semelhante, mas esse número ainda é
muito pequeno, diante das mazelas que podemos testemunhar nas mídias sociais.
Grandes bolsões de miséria convivem com bairros de luxo, nas capitais do país.
Cabe a cada um de nós promovermos
nossa reforma íntima e transformação moral, independente daqueles que nos
acompanham seguirem no mesmo ritmo, pois essa proposta de transformação reflete
o desejo da maturidade moral alcançado pelo espírito, quando sente e percebe
que deve se modificar e dar um testemunho de transformação àqueles que o
acompanham, pois quando estamos diante da verdade, nossa bagagem moral vai
pesar nas escolhas que realizamos em nosso favor, nos lembrando da passagem do
cego de Jericó:
“...E Jesus, falando, disse-lhe:
“Que queres que te faça? E ele respondeu: — Senhor, que eu veja”. — (Lucas,
capítulo 18, versículo 41.)
Enxergar, para o cego Bartimeu,
não era apenas ver, mas compreender o que se passava de fato com os homens,
perceber o contexto reencarnatório em que estava inserido e que o aparente
sofrimento teria um fim com a revelação de que a vida continuava e as condições
de sofrimento não poderiam ser eternas. Lembrando que o Cristo exortou a todos,
quando disse:
“Vinde a mim, todos os que estais
cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e
aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso
para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e meu fardo é leve". (Mateus
11:28-30)
Deveríamos tomar como exemplo as
atitudes dos Espíritos, amadurecidos moralmente, que solicitam do alto
reencarnações duras e necessárias para conseguir avançar moralmente e não
facilidades ou privilégios momentâneos, mas perseverança e fé para levar
adiante nossas vidas, cumprindo nossas programações reencarnatórias com a
consciência da transitoriedade do corpo de carne em que nos encontramos
ancorados e que um dia vai deixar de existir, nos liberando ao retorno ao mundo
espiritual. Lembrando sempre que o autoconhecimento das verdades espirituais
será um importante esclarecimento para a nossa libertação das amarras ao corpo
físico.
A cada um segundo as suas obras,
no Céu como na Terra. — Tal é a lei da Justiça Divina. (O Céu e o Inferno, 1ª
parte, cap. 5 – n. 4.)
Somos obrigados a reconhecer que
existe uma “condição comum” a todos os encarnados que pode se apresentar de
forma coletiva ou individual, o testemunho ou prova pelo qual estão passando,
que vem exigindo uma demonstração de compreensão do contexto reencarnatório em
que nos encontramos. Tanto o homem abastado como o pobre acabam dando um
testemunho silencioso, refletindo em sua bagagem espiritual. Os conhecimentos
amealhados em outras existências físicas podem e serão fundamentais para lidar
com a dor, uma maturidade de senso moral, patrimônio inalienável do espírito,
uma conquista que muitos deram testemunho pelo próprio sofrimento, porém que,
na grande maioria das vezes, passam desapercebidos por muitos de nós.
Tendo Jesus entrado em Cafarnaum,
chegou-se a ele um centurião e rogou-lhe: Senhor, o meu criado jaz em casa
paralítico, padecendo horrivelmente. Disse-lhe: eu irei curá-lo. Mas o
centurião respondeu: Senhor, eu não sou digno de que entres em minha casa; mas
dize somente uma palavra e o meu criado há de sarar. (Mateus, VIII, 5-13.)
“O verdadeiro homem de bem é
aquele que pratica a lei de justiça, de amor e caridade, na sua maior pureza.
Se interroga a sua consciência sobre os próprios atos, pergunta se não violou
essa lei, se não cometeu o mal, se fez todo o bem que podia, se não deixou
escapar voluntariamente uma ocasião de ser útil, se ninguém tem do que se
queixar dele, enfim, se fez aos outros aquilo que queria que os outros fizessem
a ele”.
Tanto encarnados como
desencarnados na mesma faixa vibratória e evolutiva, quando desejam, se
encontram com dilemas muito parecidos. Para progredir, se faz necessário
renunciar aos arrastamentos materiais, expandindo sua consciência para perceber
a realidade espiritual que os cerca, nos dois planos da vida, exercitando a
prática da caridade e do amor ao próximo, pois o grande mérito individual na
prática do bem e da caridade está no grau de dificuldade em realizar essa
tarefa, pois, segundo Allan Kardec, não há mérito em se fazer o bem, sem
trabalho, e quando nada custa. Isso sem falar no grande movimento de reforma
íntima ou de transformações das emoções, os quais precisamos realizar. Ressignificando
os acontecimentos em nossas vidas, como incidentes que aconteceram para o nosso
crescimento e, se abusamos do nosso livre-arbítrio, prejudicando a vida do
nosso próximo em algum momento desta ou de outra encarnação, teremos de reparar
ou corrigir. Responsabilidade nossa, dever nosso, que um dia vira à tona e
teremos de acertar contas com a nossa consciência.
Referências:
1) Francisco Cândido Xavier; Pão Nosso. Pelo Espírito de Emmanuel. FEB.
2) Francisco Cândido Xavier; Caminho, Verdade e Vida. Pelo Espírito de Emmanuel. FEB.
3) Allan Kardec; O Céu e o Inferno. FEB.
4) Allan Kardec; O Evangelho segundo o Espiritismo. FEB.
5) Allan Kardec; O Livro dos Espíritos. FEB.
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