A admissão da influência dos
Espíritos no Plano físico passa pela aceitação de que há Espíritos e que estes
sobrevivem à morte do corpo físico. “A dúvida relativa à existência dos
Espíritos tem como causa principal a ignorância acerca da sua verdadeira natureza.
[…] Seja qual for a ideia que se faça dos Espíritos, a crença neles
necessariamente se baseia na existência de um princípio inteligente fora da
matéria.” (1)
Desde que se admite a existência
da alma e sua individualidade após a morte, é preciso que se admita, também:
1°, que a sua natureza é diferente da do corpo, visto que, separada deste,
deixa de ter as propriedades peculiares ao corpo; 2°, que goza da consciência
de si mesma, pois é passível de alegria ou sofrimento, sem o que seria um ser
inerte e de nada nos valeria possuí-la. Admitido isto, tem-se que admitir que
essa alma vai para alguma parte. Que vem a ser feito dela e para onde vai?
Segundo a crença vulgar, a alma vai para o céu, ou para o inferno. Mas, onde
ficam o céu e o inferno? Antigamente se dizia que o céu era em cima e o inferno
embaixo. Porém, o que são o alto e o baixo no Universo, uma vez que se conhece
a redondeza da Terra e o movimento dos astros, movimento que faz com que em
dado instante o que está no alto esteja, doze horas depois, embaixo, e o
infinito do espaço, através do qual o olhar penetra, indo a distâncias
consideráveis? É verdade que por lugares inferiores também se designam as
profundezas da Terra. Mas, que vêm a ser essas profundezas, desde que a
Geologia as investigou? […] Não podendo a doutrina da localização das almas
harmonizar-se com os dados da Ciência, outra doutrina mais lógica lhes deve
marcar o domínio, não um lugar determinado e circunscrito, mas o espaço
universal: é todo um mundo invisível, no meio do qual vivemos, que nos cerca e
nos acotovela incessantemente. Haverá nisso alguma impossibilidade, alguma
coisa que repugne à razão? De modo nenhum; tudo, ao contrário, nos diz que não
pode ser de outra maneira. (2)
Assim sendo, ensina a Doutrina
Espírita que, após a morte do corpo físico, o Espírito sobrevive à morte deste,
mantém sua individualidade e passa a viver em outra dimensão, no mundo
espiritual; desta forma os “[…] os Espíritos são apenas as almas dos homens,
despojadas do invólucro corpóreo.” (3)
1. A EXISTÊNCIA DOS ESPÍRITOS
Trata-se, na verdade, de antiga
discussão filosófica, evidenciada ao longo dos séculos. O significado
predominante na Filosofia moderna e contemporânea é o de que Espírito é alma
racional ou intelecto:” “Penso logo existo”, no dizer de Renée Descartes
(1596-1650). Nestas condições, não se cogita analisar se há sobrevivência do
Espírito após a morte. Da mesma forma, procedem os estoicos (17) ao afirmarem
que Espírito é “Pneuma ou sopro animador, também conhecido como “aquilo que
vivifica”. (4)
A ideia foi defendida por Immanuel
Kant (1724-1804) e por Charles de Montesquieu (1689-1755) † , respectivamente, em suas obras Crítica do
juízo e o Espírito das leis. (4)
Kant e John Locke (1632-1704)
admitiam que o Espírito é o ser dotado de razão, mas se revelaram céticos em
relação à possibilidade de sobrevivência do Espírito, por acreditarem ser
impossível demonstrá-la. (4)
Algumas correntes filosóficas
pregam que Espírito é “matéria sutil ou impalpável, força animadora das coisas:
(4) “ Este significado, derivado do estoicismo, foi resgatado durante a
Renascença, sobretudo por Agrippa, De occulta philosophia - Google Books - e
Paracelso. (4)
Nos poemas órficos do século VI
a.C., criados e declamados pelos adeptos do orfismo, †
encontra-se a concepção da psique que entra no homem, ao nascer, trazida
pelo sopro do vento. O orfismo era culto religioso-filosófico difundido na
Grécia, a partir dos séculos VII e VI a.C., ligado ao culto de Dionísio e que
se acreditava instituído por Orfeu. Caracterizava-se principalmente pela crença
na imortalidade, conquistável por meio de cerimônia, ritos purificadores e
regras de conduta moral que propiciavam a libertação da alma das sucessivas
transmigrações (passagem da alma de um corpo a outro). (5)
O Espiritualismo, manifestado em
diferentes interpretações, aceita a existência e a sobrevivência do Espírito.
As ideias espiritualistas nem sempre são concordantes com os ensinamentos espíritas,
sendo que algumas fazem oposição. Por exemplo, o conceito panteísta de que,
após a morte do corpo físico, a alma se integra ao grande todo divino. Nesse
sentido, o Espírito perderia a sua individualidade, representando uma partícula
de Deus que, com a morte, retorna à fonte criadora, assim como as gotas de água
se integram no oceano. Para a Doutrina Espírita, o Espírito sobrevive à morte
do corpo físico, mantendo a sua individualidade e as aquisições evolutivas.
As concepções materialistas não
aceitam a alma, ou entendem que o que se atribui a ela não passa de
propriedades do organismo humano. Os autores contemporâneos que adotam esta
posição podem admitir muitas variações em torno do tema. Uns insistem que as
faculdades humanas são produtos do organismo e de sua hereditariedade, outros
valorizam mais a influência das experiências culturais na constituição do
espírito humano e outros admitem a construção da subjetividade na vida social,
mas todos eles entendem que as faculdades do indivíduo se extinguem com a morte
do corpo. (6)
REFERÊNCIAS
1. KARDEC, Allan. O Livro dos médiuns. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 1ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Primeira parte, Capítulo I, item 1, p. 21-22.
2. Idem: Item 2, p. 22-23.
3. Idem ibidem: p. 24-25.
4. ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia - Google Books. Tradução de Alfredo Bosi e Ivone Castilho Benedetti. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 354.
5. SANCHEZ, Wladimyr. A influência dos Espíritos no nosso dia a dia. 1ª ed. São Paulo: USE, 2000. Capítulo 1, p.18.
6. SAMPAIO, Jáder. http://www.espirito.org.br/portal/artigos/geae/sobre-o-conceito.html
Fonte: EADE — Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita
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